sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Ruínas da “sinagoga de Jesus” intrigam arqueólogos

Durante milênios, o nome de Maria Madalena lembra aos cristãos de uma prostituta. Porém, a Bíblia nunca disse que essa seguidora de Jesus fazia comércio sexual. Relata apenas que ela fora possuída por sete demônios e que foi a primeira pessoa a ver o Cristo ressuscitado.

Nos últimos anos, escavações arqueológicas em Magdala, cidade da qual deriva o “sobrenome” de Maria revelaram o que arqueólogos acreditam ser uma sinagoga do primeiro século, que o próprio Jesus teria visitado. Uma grande mudança para esta pequena aldeia na costa noroeste do mar da Galileia e junto ao Monte Arbel.

Judeus e cristãos se uniram na tentativa de resgatar mais a história desta que é considerada por alguns estudiosos como a “sinagoga de Jesus”, pois alguns especialistas acreditam que Cristo de fato esteve ali durante seus anos na terra.  Novas polêmicas sobre o assunto foram mencionadas na edição do último domingo do jornal israelense Haaretz.

Magdala fica na antiga Galileia, distando apenas sete quilômetros da antiga Cafarnaum, uma das cidades onde Jesus se estabeleceu durante o tempo de seu ministério público, e seguramente alguma vez se encontrou ali para pregar e ensinar. Nos primeiros anos do cristianismo, a maioria dos cristãos eram judeus convertidos que continuavam frequentando as sinagogas. Segundo historiadores, essa realidade só mudou perto do ano 70, após a destruição do templo de Jerusalém. Só então houve uma separação mais clara, pois os cristãos passaram a ter seus próprios lugares de reunião e de culto.

A cidade de Magdala tem algumas característica únicas, sendo um dos mais bem conservados sítios arqueológicos de Israel. No ano 67, a cidade foi sitiada pelos romanos comandados pelo general Tito, que a tomou após uma batalha sangrenta e três anos mais tarde invadiu Jerusalém, numa batalha que ocasionou a destruição do Templo de Salomão.

As escavações na região de Magdala são lideradas pela arqueóloga judia Dina Avshalom-Gorni e a arqueóloga muçulmana Arfan Najar, ambas da Autoridade de Antiguidades de Israel, além, de Marcela Zapata, da Universidade Anáhuac do Sul, da Cidade do México
Desde 2004 a instituição católica os Legionários de Cristo vem construindo nas proximidades o “Centro Magdala”, que funcionará como igreja, hotel para os peregrinos e um museu com ênfase nas mulheres da Bíblia. O padre Juan Solana, diretor do centro, explica que isso se justifica pois Maria Madalena é a mulher mais mencionada no Novo Testamento depois de Maria, mãe de Jesus.


Maria, a seguidora de Jesus, pode ter sido uma moradora influente na cidade, explica a estudiosa Mary R. Thompson. As novas escavações que revelaram as ruinas desse local de culto poderão confirmar isso. Trata-se da mais antiga sinagoga da Galileia, uma dos poucas do país datadas do primeiro século da era cristã.

As ruinas do local mostram que era um pequeno salão, de 11 x 11 metros, que devia reunir cerca de 100 pessoas. Nele foram encontradas vários painéis e inclusive uma rara moeda datada do ano 29 d.C. Sem dúvida, seu maior achado foi uma pequena mesa de pedra, com quatro pés e uma série de relevos, incluindo um menorá [candelabro de sete hastes]. Trata-se do primeiro registro de um menorá encontrado fora de Jerusalém.

De acordo com Najar, a mesa de pedra tem furos na parte superior que serviam de apoio para uma estrutura de madeira, onde os rolos da Torá eram colocados para leitura. Isso pode ensinar muito como a Torá era lido nas sinagogas antigas.
As estruturas das paredes, com as seis colunas que sustentavam o teto, estavam cobertos com afrescos pintados em sete cores diferentes. A escavação revelou que a sinagoga foi renovado entre os anos 40 e 50, e abandonada antes de 68 d.C., época da Grande Revolta dos judeus contra os romanos.  Um dos aspectos mais curiosos é que os restos da estrutura foram encontrados a cerca 50 centímetros abaixo do solo, e nenhuma outra cidade aparentemente foi sido construída sobre a antiga vila de pescadores durante os últimos dois milênios.


Segundo a arqueóloga Dina Gorni, “o achado foi uma espécie de milagre… estávamos apenas escavando aqui como medida de precaução antes que se iniciasse um projeto de construção [do centro Magdala]. Acreditamos que era um local especial… Esta comunidade queria fazer um local religioso diferente. Eles fizeram muitos investimentos para as decorações, e um altar com uma pedra especial”. Por isso, a mesa que ficaria no centro do altar da sinagoga passou a ser chamada de “pedra de Magdala”.

Embora as escrituras não relatem que Jesus tenha ido até Magdala, o padre Solana diz que a descoberta pode sugerir isso. “Do ponto de vista judaico, a posição é clara. Trata-se de uma sinagoga do século primeiro, lindamente decorada, com peças de arte e um altar como nunca foi encontrado em qualquer outra sinagoga da época. Do ponto de vista cristão, não podemos duvidar de que Jesus esteve ali por algum tempo. As primeiras comunidades cristãs se reuniam nas sinagogas. Eles eram judeus observantes”, defende.
Existem vários aspectos distintivos dessa sinagoga: ficava fora do centro, reunia poucas pessoas em comparação com as outras casas de culto da cidade, a riqueza da decoração e a presença de um menorá que só era usado na capital. Tudo isso corrobora com a ideia de que a sinagoga pertenceria a uma pequena “seita do exterior”, que daria grande importância à vida espiritual comunitária. Seria eles membros da primeira sinagoga de judeus convertidos ao cristianismo? “É provável que as pessoas que usaram esta sinagoga foram testemunhas da multiplicação dos pães e outros milagres descritos nos quatro Evangelhos”, esclarece o vídeo promocional em MagdalaCenter.com.

O antigo historiador Josefo referia-se a Magdala como a cidade de Tarichae, que em grego significa, em tradução livre, “o lugar de salgar peixe”. Um nome apropriado, considerando uma das descobertas interessantes em Magdala. Trata-se de um complexo único, com quatro pequenas piscinas. Mais do que uma aldeia de pescadores, a cidade pode ter sido a primeira de Israel a desenvolver a piscicultura, onde os peixes criados nas piscinas eram salgados e preparados para serem vendidos nas aldeias vizinhas.

Essa descoberta arqueológica é de grande interesse para o mundo judeu, como comprovam as duas visitas de Shuka Dorfmann, diretor da Autoridade de Antiguidades de Israel, que descreveu a descoberta como extraordinária, única, e que deverá ser estudada em toda sua profundidade. 

Com informações Haaretz e The World.

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