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segunda-feira, 21 de julho de 2025

01. Cristianismo e a Revolução Russa

Diário de um Servo 

A relação entre a Revolução Russa de 1917 e o cristianismo (majoritariamente a Igreja Ortodoxa Russa) foi marcada por um conflito ideológico profundo, perseguição e, eventualmente, uma ressurreição gradual após o colapso da União Soviética.

O Cristianismo antes da Revolução

Antes de 1917, a Igreja Ortodoxa Russa estava intrinsecamente ligada ao Estado czarista. Ela funcionava como um pilar de apoio ao regime, legitimando o poder do imperador e exercendo uma enorme influência sobre a sociedade russa. A Igreja possuía vastas propriedades e tinha um papel central na educação e na vida pública. Essa aliança milenar entre a Igreja e o Estado tornava-a um alvo óbvio para os revolucionários bolcheviques.

O Comportamento da Igreja e a Reação do Estado

Com a ascensão dos bolcheviques ao poder, o cristianismo foi imediatamente confrontado com o ateísmo de Estado, um princípio fundamental da ideologia marxista-leninista. A religião era vista como o "ópio do povo", uma ferramenta de controle que impedia a conscientização e a libertação da classe trabalhadora. O novo governo revolucionário tinha como objetivo final a erradicação da religião, e sua abordagem foi brutal e multifacetada.

 * Separação entre Igreja e Estado: Em 1918, um decreto foi emitido para separar a Igreja do Estado e a escola da Igreja. Isso significou o confisco de todas as propriedades da Igreja, incluindo edifícios religiosos, que se tornaram propriedade do povo. A Igreja perdeu sua capacidade de funcionar como uma entidade com direitos jurídicos.

 * Perseguição e Terror: O período inicial da revolução e o subsequente "Terror Vermelho" foram devastadores para a Igreja. Clero e fiéis foram submetidos a torturas, prisões, exílio e execuções em massa. Milhares de padres e bispos foram mortos ou enviados para campos de trabalho forçado (gulags). O Estado soviético realizou campanhas de propaganda para ridicularizar a religião, destruir igrejas e proibir a circulação da Bíblia. A perseguição foi tão feroz que a Igreja Ortodoxa Russa esteve à beira da aniquilação.

 * Táticas de Controle: As táticas do Estado soviético variavam ao longo do tempo. Em alguns momentos, a repressão era mais intensa, enquanto em outros, a política se tornava mais branda. Por exemplo, durante a Segunda Guerra Mundial, Stálin relaxou a perseguição e permitiu que a Igreja operasse novamente, a fim de mobilizar o apoio popular contra a invasão nazista. No entanto, essa tolerância era apenas tática e não ideológica, com a Igreja sendo efetivamente transformada em um braço do Estado comunista.

A Igreja na Rússia Pós-Soviética

Com a dissolução da União Soviética em 1991, houve uma notável ressurreição do cristianismo na Rússia. A liberdade religiosa foi restabelecida e a Igreja Ortodoxa Russa, em particular, experimentou um renascimento.

 * Reafirmação de Poder: A Igreja Ortodoxa Russa emergiu do período soviético como a principal instituição religiosa do país, recuperando grande parte de sua influência e autoridade. Muitas igrejas destruídas foram reconstruídas, e a religião voltou a ser uma parte visível da vida pública russa.

 * Nova Aliança com o Estado: Atualmente, a Igreja tem uma relação complexa e poderosa com o Estado russo. Ela é vista pelo governo de Vladimir Putin como um pilar da identidade nacional e um símbolo da herança cultural russa. Essa parceria, embora não seja a mesma de antes de 1917, tem sido fundamental para o governo, pois a Igreja apoia as políticas internas e externas do Kremlin. Por sua vez, o Estado russo concede privilégios e protege os interesses da Igreja, que tem uma posição de destaque em relação a outras denominações religiosas.

 * Desafios Atuais: Apesar de seu poder e popularidade, a Igreja Ortodoxa Russa na Rússia de hoje enfrenta desafios. Há acusações de corrupção, críticas à sua forte aliança com o governo e tensões com outras comunidades religiosas. Além disso, a recente guerra na Ucrânia criou divisões, com alguns cristãos russos se manifestando contra o conflito e sofrendo repressão por isso.

A história da Igreja e da Revolução Russa é um testemunho da resiliência da fé em face da perseguição e da complexa dinâmica entre religião e poder político. A Igreja Ortodoxa, que foi perseguida e quase aniquilada, hoje está de volta ao centro do poder russo, embora com um novo conjunto de desafios.