sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Ser pacifista exige coragem Mel Frykberg


Jerusalém, Israel, 22/10/2010, (IPS) - O ex-capitão da Força Aérea Israelense Yonatan Shapira, outrora fervoroso sionista que perdeu vários familiares no Holocausto, hoje é tachado de psicopata e criticado por muitos compatriotas devido à sua oposição à ocupação dos territórios palestinos. Yonatan, de 38 anos, foi demitido de seu trabalho, insultado em público e até ameaçado de morte na seção de cartas do leitores nos jornais. Foi chamado de traidor, acusado de agredir oficiais das forças de segurança e foi interrogado por funcionários da agência de inteligência interna, a Shabak.

Israel costuma ser muito criticado pelo tratamento cruel contra os palestinos e pelo racismo inerente de sua sociedade, mas existe um crescente grupo de cidadãos que paga um alto preço por defender os direitos humanos e criticar a política do governo. Yonatan ocupou as primeiras páginas de vários jornais internacionais por integrar a tripulação do Irene, barco da organização Judeus pela Justiça que tentou, em setembro, romper o bloqueio contra o território palestino de Gaza e foi interceptado por comandos israelenses.

Havia numerosos israelenses e vários sobreviventes do Holocausto no barco. “Os oficiais separaram meu irmão mais novo, Itimar, e eu do resto dos passageiros. Era óbvio que procuravam por mim. Me aplicaram choques elétricos no ombro e um perto do coração, após terem tirado meu colete salva-vidas para facilitar a tortura”, disse Yonatan à IPS. Depois de confiscarem os equipamentos de filmagem, os passageiros foram levados a uma delegacia de Ashdod para interrogatório. Yonatan foi acusado de atacar um oficial, embora testemunhas neguem essa versão. Foi a segunda vez que o acusaram do mesmo ato.

No começo deste ano foi agredido por soldados israelenses durante um protesto contra o confisco de terras na aldeia palestina de Nabi Saleh, perto da cidade de Ramalá, na Cisjordânia. As imagens de vídeo provam que não foi assim. O que mais enraiveceu a segurança de Israel foi o que se conhece como Carta dos Pilotos, de 2003. Na época, Yonatan era capitão da Força Aérea de Israel, que idolatra seu exército. A carta escrita por ele foi assinada por outros 30 pilotos. “Os signatários abaixo não estão dispostos a continuar fazendo parte de ataques indiscriminados contra os palestinos nos territórios ocupados. Declaramos nossa rejeição a participar do que acreditamos serem atividades ilegais e imorais”, dizia a carta.

“Ouvi muitas histórias de brutalidade e assassinatos desnecessários. Mas o que realmente levou o assunto à carta foram os comentários do então comandante Dan Haluz sobre o bombardeio indiscriminado de um edifício em um bairro densamente povoado na cidade de Gaza, em 2002”, recordou Yonatan. No atentado com bomba contra a residência de Saleh Shehade, um comandante do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), morreram 15 pessoas, entre elas muitas crianças, e outras 150 ficaram feridas. “O que teria sentido quando o avião lançou a bomba foi um ligeiro tremor do aparelho”, respondeu Halutz ao ser consultado sobre seus sentimentos a respeito da morte de tantos civis.

Três meses depois da Carta dos Pilotos, o irmão mais velho de Yonatan, Zhoar, que pertenceu à unidade de elite Sayaret Matkal, assinou a Carta dos Comandos, que diz, mais ou menos, a mesma coisa. O irmão mais novo, Itimar, foi detido pelas forças de Defesa de Israel (FDI) por se negar a ir para a frente de batalha em 2006, na guerra contra o Líbano. “Nossa opinião mudou de forma drástica durante a segunda Intifada Palestina, que eclodiu em 2000, quando testemunhamos atos criminosos e manobras para encobri-los por parte das forças armadas. Minha mãe se tornou uma ativista política. Agora, passa muito tempo na Cisjordânia”, disse Yonatan à IPS.

A família de Yonatan se distanciou de suas raízes sionistas. “Meu pai foi comandante de esquadrão das FDI e participou das guerras de 1967 e 1982. Eu costumava lamentar não ter nascido antes para ter participado da guerra da independência em 1948”, afirmou. “Agora, creio que Israel é um Estado racista que ataca os palestinos nos territórios ocupados e discrimina os árabes israelenses. Com meus amigos, chegamos à conclusão de que a única forma de salvar este país de si mesmo é apoiando a campanha internacional Boicote, Desinvestimento e Sanções”, acrescentou Yonatan.

“O atual governo é o mais extremista e direitista que Israel já teve em toda sua história. Já não basta tentar mudá-lo de dentro. É preciso pressionar como se fez com o regime sul-africano do apartheid”, insistiu. A tendência direitista de Israel nos últimos anos se deve, segundo Yonatan, à dificuldade de apresentar-se como vítima do conflito com os palestinos, afirmou.

“foi criado sobre a base de sua condição de vítima e continuou usando essa alegação como ferramenta política diante das críticas, mas estas ganham força”, disse. O Estado judeu “tem duas opções: admitir as injustiças cometidas contra os palestinos e assumir sua responsabilidade ou continuar fazendo o papel de vítima e consolidar seu comportamento racista”, ressaltou Yonatan. Envolverde/IPS (FIN/2010) 
Esse é o grupo responsável pelo Culto Jovem da IBA: Bora Adorar.

domingo, 17 de outubro de 2010

Bora Adorar 02.10.10

Bora Adorar é um culto jovem que se realiza no primeiro sábado de cada mês na Igreja Batista do Alecrim. Louvor, oração, pregação da palavra, testemunho e muita comunhão são alguns dos elementos que constituem este culto.

sábado, 16 de outubro de 2010

Reino unido ou dividido: o imperialismo nos tempos bíblicos.


No livro de 1Reis temos o relato pormenorizado da divisão do Reino de Israel num contexto internacional de crise entre os grandes impérios dos tempos bíblicos. Esse relato expõe claramente a fragilidade política do Estado israelense demonstrado pela falta de habilidade política do jovem Roboão.

A unidade do Reino estava ameaçada. Os anos de glória de Salomão ocorreram a custo da exploração de toda a nação. No livro de Samuel 8.11-19 temos um leve relance do que era o direito de um rei e este poderia ser agravado como aconteceu no período de Salomão (1Reis 12.4-11) e que desejava fazer Roboão.

No desenrolar do relato bíblico somos apresentados a um segundo personagem da trama: Jeroboão (1Reis 12.2-3). A casa do faraó guardava a sete chaves esse trunfo político a ser usado num momento propício. Israel era um aliado necessário no conflituoso cenário político dos tempos bíblicos. Nesta época estava começando a se delinear as áreas de influência dos grandes impérios do Oriente Próximo: Egito e Mesopotâmia.

Ter o controle sobre os pequenos Estados da região era imprescindível para a sobrevivência política do Egito. Em 1Reis 11.14-40, temos:
a.       O faraó deu proteção a Hadade príncipe dos edomitas e um dos inimigos de Salomão. Hadade pode gozar dos cuidados e amizade do faraó a ponto de se casar com a irmã de Tafnes esposa do rei egípcio (v.19).
b.       O faraó também protegeu a Rezom, filho de Eliada, que tinha fugido de seu senhor Hadadezer, rei de Zobá (v.23).

c.       O faraó por fim protegeu Jeroboão, filho de Nabate, efrateu de Zaredá, servo de Salomão (v.26).
Todos esses “benefícios” seriam requeridos dos seus protegidos quando bem parecesse a Sisaque, rei dos egípcios (1Reis 11.40). Note os senhores que o faraó tinha em suas mãos valiosas moedas política que lhes dava o poder de barganha com Salomão ou Hadadezer, contudo pareceu bem ao senhor do Egito guardá-las para serem usadas mais tarde. Essa poupança política é explicada pelo clima de paz e equilíbrio que o Egito desfrutava junto aos seus vizinhos. Quando lemos em 1Reis 9.24, é nos revelado que Salomão era casado com a filha do faraó. Portanto, existia claramente uma aliança política entre os Israelitas e os Egípcios.

Mas quem é mesmo esse Jeroboão?

·         Seu nome em hebraico é Yarob´am. É provável que o seu nome seja derivado de Yarbeh´am, “que ele / o deus / aumente o povo.”
·         Era filho de Nebate (seu pai era um oficial do exército de Salomão) e Zerua ou Sarva (era viúva quando deu à luz) da cidade de Zaredá, do Vale do Jordão (1Reis 11.26).
·         Era um homem industrioso e hábil. Salomão, conhecedor de suas aptidões, fê-lo intendente dos tributos de toda casa de José (1Reis27,28).
·         Foi alvo de uma profecia – 1Reis 11.39, que logo chegou aos ouvidos do rei que intentou matá-lo (1Reis 11.40).
·         Por fim, pediu refúgio ao faraó do Egito para se proteger de Salomão, rei de Israel.

A força política de Jeroboão não passou despercebida pelos seus iguais. Em 1Reis 12.3, ele foi convidado a participar do conselho que iria se apresentar a Roboão. Inicialmente parece que os líderes das 10 tribos de Israel não desejavam a divisão do reino, mas tão somente aliviar a opressão imposta por Salomão. Contudo, ao nos deter nas entrelinhas do texto vemos claramente essa possibilidade como um plano B. vejamos:
a.       Os príncipes de Israel conheciam a profecia de Aias (1Reis 11.30-39) e as circunstâncias que levaram Jeroboão ao Egito (v.40).
b.      O chamaram para fazer parte das negociações com o rei Roboão (1Rreis 12.3).

c.       A semelhança do faraó egípcio não o denunciou a Roboão para barganhar vantagens políticas.
d.      Esperaram a resposta do rei e nesse meio tempo consolidaram o plano B, visto que negativados em suas proposições dão inicio a divisão do Reino de Israel.

Por outro lado Roboão fez o esperado, demonstrando total imaturidade política e completa falta de sabedoria responde grosseiramente ao conselho tribal e contribui definitivamente para o fim da unidade política do império israelita (1Reis 12.6-15). A resposta do conselho foi também contundente (v.16):

“Vendo, pois, todo o Israel que o rei não lhe dava ouvidos, tornou-lhe o povo a responder, dizendo: Que parte temos nós com Davi? Não há para nós herança no filho de Jessé. Às tuas tendas, ó Israel! Provê agora a tua casa, ó Davi. Então Israel se foi às suas tendas.”

Aqui temos algumas lições a aprender:

1.       A opressão não congrega, separa.
2.       A desobediência nos afasta das bênçãos divinas.


Todo projeto de nação que havia sido sonhado pelos patriarcas e executado por Davi não subsistiu a Roboão. No verso 21, temos o filho de Salomão organizando suas tropas para atacar os israelitas a fim de recuperar as províncias rebeldes, mas foi advertido por Deus a desistir do seu propósito (v.24).

“21. Vindo, pois, Roboão a Jerusalém, reuniu toda a casa de Judá e a tribo de Benjamim, cento e oitenta mil escolhidos, destros para a guerra, para pelejar contra a casa de Israel, para restituir o reino a Roboão, filho de Salomão. 24. Assim diz o Senhor: Não subireis nem pelejareis contra vossos irmãos, os filhos de Israel; volte cada um para a sua casa, porque eu é que fiz esta obra. E ouviram a palavra do Senhor, e voltaram segundo a palavra do Senhor.”

Aqui cabe um questionamento: Para Israel qual era o melhor projeto: Reino unido ou dividido? Se dividido em que isto ajudaria Israel em seu papel de nação sacerdotal?

As respostas para essas perguntas são difíceis, pois ambos os soberanos no decorrer da história desagradaram profundamente ao Senhor. Jereboão por conveniências políticas tratou logo de afastar Israel de Javé e desta forma acelerar o fim da nação.

Lemos em 1Reis 12.27-28, seguinte relato:

27 Se este povo subir para fazer sacrifícios na casa do Senhor, em Jerusalém, o coração deste povo se tornará a seu senhor, a Roboão, rei de Judá; e me matarão, e tornarão a Roboão, rei de Judá. 28  Assim o rei tomou conselho, e fez dois bezerros de ouro; e lhes disse: Muito trabalho vos será o subir a Jerusalém; vês aqui teus deuses, ó Israel, que te fizeram subir da terra do Egito.

A decisão aqui era de pura sobrevivência política. Em nome da manutenção de uma coroa renuncia a sua fé e seu Deus. Lógico que o Senhor não deixaria passar em branco tal loucura. Em 1Reis 13.1-10, fica claro sua indignação contra as manobras políticas de Jeroboão e antes que chegasse o fim dos seus dias adverte sobre o mal que ele mesmo trouxera sobre sua casa (1Reis 14.8-17). Depois destes fatos Jeroboão reinou por 22 anos sobre Israel (1Reis 14.20).

Na profecia de Aias estamos diante do êxodo de Israel para as terras assírias que se realizou no ano 722 a.C.. Jeroboão toma consciência disto em seus dias. O velho equilíbrio de forças chega ao fim, as ambições imperialistas tomam conta do cenário internacional.

Quanto ao reino de Israel ocorre o mesmo distanciamento do Senhor e as mesmas conseqüências. Nos versos 23 e 24, temos evidencias deste afastamento:

·         Edificaram altares nas colinas, colunas e postes sagrados sobre todo monte e debaixo de toda árvore frondosa. Além disso, havia prostitutos na terra de Judá.

O primeiro golpe sofrido por Judá está registrado em 1Reis 14.27. A incursão do faraó Sisaque no quinto ano de reinado de Roboão é sintomática do que estava por acontecer dois séculos depois. Diz o relato bíblico:


25 “Ora, sucedeu que, no quinto ano do rei Roboão, Sisaque, rei do Egito, subiu contra Jerusalém, 26 E tomou os tesouros da casa do Senhor e os tesouros da casa do rei; e levou tudo. Também tomou todos os escudos de ouro que Salomão tinha feito.E em lugar deles fez o rei Roboão escudos de cobre, e os entregou nas mãos dos chefes da guarda que guardavam a porta da casa do rei.

Roboão governou Judá por 17 anos (1Reis 21) e durante todo esse tempo houve guerra entre ele a Jeroboão. A partir de Roboão todos os demais reis de Judá (Abias 1Rs 14.31; Asa 1Rs 15.8; Josafá 1Rs 15.24; Jeorão 2Cr 21.1; Acazias 2Rs 8.25; Atalias (rainha) 2Rs 8.26; Joás 2Rs 11.2; Amazias 2Rs 14.1; Uzias ou Azarias 2Rs 14.21; Jotão  2Rs 15.5; Acaz 2Rs 15.38; Ezequias 2Rs 16.20; Manasses 2Rs 21.1; Amon 2Rs 21.19; Josias 1Rs 13.2; Joacaz ou Salum 2Rs 23.30; Joaquim 2Rs 23.34; Jeoaquim ou Jeconias 2Rs 24.6; Zedequias ou Matanias 2 Rs 24.17) enfrentaram as ameaças dos grandes reinos da época quer sejam egípcios, assírios ou caldeus. No ano de 548 a.C., era a vez de Judá ir ao cativeiro, porém não era mais para o Egito ou Assíria, mas Babilônia.

Voltando ao questionamento anterior sobre a divisão ou unidade do reino de Israel e que propósito haveria em tudo isso, tenho o seguinte entendimento:


·         O reino unido não passaria despercebido pelos grandes impérios. A sobrevivência de pequenos estados era mais provável.
·         A divisão do reino também era favorável a manutenção da fé verdadeira, visto que a fé do soberano era também do seu povo.
·         O cativeiro tem sido um instrumento eficaz na disciplina dos servos de Deus.
·         A soberania de Deus. Só Ele na verdade sabe dos reais motivos da divisão do reino de Israel.
·         
 Por fim, Jeroboão, Roboão são personagens bem parecidos. Ambos rejeitaram as orientações divinas por interesses outros, ambos colocaram seus reinos na rota de colisão com a justiça divina e conseqüentemente com a opressão estrangeira.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O evangelho de Judas: pequena reflexão.

Estava assistindo o canal channel nesta semana quando foi surpreendido com um documentário sobre o livro de Judas. Para alguns estudiosos do assunto esse livro põe abaixo algumas verdades bíblicas. Em seu livro Judas relata a traição a Jesus como algo necessário, inevitável, uma verdadeira missão da qual ele se entrega com toda convicção. Para isso afirma ser portador de uma mensagem secreta ou acordo feito com o próprio Cristo que lhes pede que o denuncie. É contra seu desejo que Judas se envolve nessa trama e de vítima passa para a história como algoz.

Essa afirmativa procura sustentação na própria construção da imagem de Judas ao longo dos evangelhos. De figura de pouca expressão no livro de Marcos (o mais antigo, portanto, mas próximo do evento e como tal destituído de influências ideológicas) esse personagem ganha ares diabólicos na medida em que novas publicações são criadas.  Um exemplo disto é o evangelho de João.

Em João 13.22-30, Judas é encarado como um completo opositor ao cristianismo e como tal filho do diabo. Em defesa desse argumento alguns judeus afirmam que a imagem de Judas trabalhada no livro de Marcos é esvaziada de conteúdo maléfico comuns nas narrativas de João e demais evangelistas.

Essa evolução na composição da imagem de Judas tem uma explicação razoável. Para alguns pesquisadores os lideres cristãos da época procuraram a todo custo agravar essa imagem a fim de salvar a nova fé da influência do judaísmo. O cristianismo não poderia mais ficar na condição de fé apêndice do judaísmo, mas ganhar sua autonomia para a qual foi criado.

No meu entender vejo aqui a velha e perigosa construção mental da distorção histórica e teológica que no passado foi posto em prática por judaizantes dentro das igrejas cristãs. Como no passado tem um objetivo: beneficio de um grupo.

No tempo de Paulo os judaizantes disseminaram entre os irmãos que o sacrifício de Cristo não era suficiente para que o crente alcançasse a salvação, mas os cristãos deveriam também circuncidasse se submetendo a lei de Moisés. Somente assim, a salvação estava garantida.

Aqui temos uma tentativa de isentar Judas e os judeus de qualquer culpa na paixão de Cristo. Se traí-lo era uma missão, na verdade Judas é um homem coerente e que se dirigiu unicamente pelo senso do dever. Nesse sentido chega a ser mais fiel que os demais que não foram dignos de tal passo. E mais, quem matou cristo foram os romanos e não os seus irmãos. Nesse sentido fica clara a intenção de jogar para os gentios o clímax dos conflitos internos do judaísmo.

O suicídio de Judas ocorre de acordo com essa mesma lógica. Ele fez tal ação por pura obediência ao seu Senhor e não resistiu ao vê-lo condenado a morte e, portanto desistiu de viver. Nessa mesma lógica se encontra os crimes de morte cuja motivação passional é o amor. Aqui fica a ressalva: quem ama não mata. Judas não conseguindo se arrepender, mas cheio de remoço deu cabo a sua vida. É neste momento que termina o livro de Judas, sem, contudo trata da paixão de Cristo.

Diante de documentário como este nossa fé é posta a prova. Ainda hoje Cristo é visto por muitos como um mero mestre (judaísmo) ou espírito elevado (Islã). É combatido por todos e tudo, contudo, continua inigualavelmente Senhor e Salvador de todos os pecadores que arrependidos buscam sua face e é achado pelo mestre.

Apocalipse 3. 20 - Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A presença judaica no Brasil - 03

HERANÇA
A pequena Venha-Ver, fundada em 1811 por cristãos-novos, guarda vestígios de sua origem judaica
Cidade no RN preserva tradição judaica
ANDRÉA DE LIMA

da Agência Folha, em Venha-Ver Uma pequena cidade perdida no interior do Rio Grande do Norte guarda vestígios da origem judaica de sua população, cujos fundadores, em 1811, eram descendentes de cristãos-novos -judeus convertidos à fé cristã.

Mesmo cristãos, os habitantes de Venha-Ver (440 km a oeste de Natal) revelam em hábitos cotidianos uma tradição particular, transmitida há séculos de geração a geração. A maioria dos habitantes, porém, não tem consciência da origem de seus ancestrais.

Os sinais mais evidentes da tradição judaica encontrados na pequena cidade pela Agência Folha são a fixação de cruzes em formato hexagonal na porta de entrada das casas, o enterro dos corpos em mortalhas brancas e os sobrenomes típicos de cristãos-novos. Os costumes de retirar totalmente o sangue da carne animal após o abate e de colocar seixos sobre os túmulos também podem ser relacionados à ascendência judaica dos habitantes.

Os judeus colocam seixos sobre as sepulturas com o significado de que o morto não será esquecido. Em Venha-Ver, pôr um seixo sobre o túmulo significa uma oração à pessoa ali enterrada. O próprio nome da cidade é uma provável fusão da palavra "vem" (do verbo vir, em português) com o termo hebraico "chaver" (pronuncia-se ráver), que significa amigo, companheiro. Ou seja, Venha-Ver seria uma corruptela de "Vem, Chaver".

Esses foram parte dos indícios relatados pelo rabino Jacques Cukierkorn em sua tese de rabinato (equivalente a mestrado) sobre a ascendência judaica entre a população do Rio Grande do Norte.
A preservação de tradições centenárias entre a comunidade de Venha-Ver foi facilitada pelo isolamento do município, situado no extremo oeste do Rio Grande do Norte, nas fronteiras com Ceará e Paraíba. Só se chega ali por uma sinuosa estrada de terra.

Batentes

Para o rabino Cukierkorn, as cruzes de Venha-Ver têm sua origem na mezuzá -pequena caixinha com uma reza que os judeus fixam nos batentes das portas.
Muitas delas têm formato hexagonal, como a Estrela de David, símbolo da fé judaica.
A população explica as cruzes nas portas de suas casas como uma proteção contra o mal, o demônio, a ventania e os raios. Os judeus fixam a mezuzá nos batentes para demarcar a proteção divina sobre a casa. Na pequena localidade, os cadáveres são envolvidos em mortalhas para serem conduzidos até a sepultura. É o que determina a tradição judaica.

Esse costume é explicado pelos habitantes de Venha-Ver como algo passado de pai para filho. Há um preconceito contra o uso de caixão -recentemente introduzido nos funerais locais. Cukierkorn vê, na forma de tratar a carne animal, a presença das regras da culinária "kasher" -determinadas pelo judaísmo. Logo após o abate de um animal em Venha-Ver, os pedaços de carne são dependurados com uma corda sobre um tronco de árvore, para que todo o sangue escorra.
Depois disso, a carne é salgada -prática usual entre os judeus ortodoxos.

Cristãos-novos

Os sobrenomes mais comuns da população branca de Venha-Ver (parte da comunidade, de fixação mais recente, tem origem negra) são Carvalho, Moreira, Nogueira, Oliveira e Pinheiro, notadamente de cristãos-novos, conforme estudo do professor de antropologia José Nunes Cabral de Carvalho (1913-1979), fundador da Comunidade Israelita do Rio Grande do Norte.

A repressão religiosa desencadeada pela Inquisição, particularmente nos séculos 15 e 16, fez com que uma ampla população judaica tenha sido forçada a se converter ao cristianismo em Portugal, Espanha e também no Brasil, alterando sua fé religiosa, sobrenome e comportamento social.

A presença judaica no Brasil – 02

Fonte: História: Revista da Biblioteca Nacional, Ano 5, nº58, julho, 2010.

A partir de 1497 os primeiros cristãos novos vindos da Península Ibérica chegam a Recife. O fluxo migratório aumenta na medida em que os anos passam. Em 1542, Diogo Fernandes e Pedro Álvares Madeira montam o engenho Camaragibe. Em 1591, é a vez de James Lopes da Costa e o engenho da Várzea.

Em pouco tempo os judeus foram ocupando o mercado recifense ora como mercadores, ou rendeiros na cobrança dos dízimos ou responsáveis por empréstimos. Contudo, o grande fluxo dessa imigração ocorre mesmo é no período da invasão holandesa (1630-1654). A dominação holandesa se espalhou do rio São Francisco ao Maranhão o que permitiu a penetração dos judeus em boa parte da região nordestina. Nesse período os grupos não católicos gozavam de relativa autonomia religiosa. Esse direito era assegurado a todos os credos pelo Regimento do Governo das Praças conquistadas concedido pelos Estados à Cia das Índias Ocidentais (Haia, 13 de outubro de 1629).

A partir da consolidação do sistema colonial flamengo no Nordeste brasileiro, judeus Sefarditas (Península Ibérica) e Askenazins (Polônia e Alemanha) se fixaram na região onde procuraram desenvolver seus negócios. Consta da documentação da época que a quantidade de judeus era tão expressiva que Duarte Saraiva (David Sênior Coronel) comprou um terreno para alojá-lo junto à porta de Terra, no caminho de Olinda. Foi deste empreendimento que nasceu a Rua dos judeus (Jodenstraat) e a primeira sinagoga judia da América: A Kahal kadosh Zur Israel (Santa Comunidade o Rochedo de Israel) em 1636.

Consta nos documentos da época que Isaac Aboab da Fonseca (1605-1693) foi seu primeiro rabino, bem como fundador anos posteriores da Grande Sinagoga Portuguesa em Amsterdã. O fato é que os judeus gozavam de relativa liberdade até o momento em que o Conde de Nassau deixou o Brasil. Com o retorno de Nassau aumenta a opressão holandesa sobre os brasileiros e com ela o ódio ao invasor e aos judeus amigos dos invasores. Já em 1645, temos o início da insurreição Pernambucana (Monte das Tabocas, Casa Forte, Cabo de Santo Agostinho) e notícias de inúmeras derrotas holandesas.
 
Recife é isolado e enfrenta períodos de fome até que finalmente se rende aos lusitanos (Batalhas dos Montes Guararapes - 1648-1649). 400 judeus moradores do Recife e de Maurícia (a Ilha de Antonio Vaz) voltaram para os Países Baixos. Outros permanecerão nas Américas, fundando novas colônias em ilhas do Caribe e na América do Norte.

Um destes grupos que saiu no navio Valk e fez uma primeira escala na Jamaica, onde acabou prisioneiro dos espanhóis. Depois de conseguir escapar com apoio dos franceses, rumou para nova Amsterdã a bordo do barco Sainte Catherine. Na nova terra os vinte e três adultos e crianças criam a primeira comunidade judaica de Nova York.