sábado, 16 de outubro de 2010

Reino unido ou dividido: o imperialismo nos tempos bíblicos.


No livro de 1Reis temos o relato pormenorizado da divisão do Reino de Israel num contexto internacional de crise entre os grandes impérios dos tempos bíblicos. Esse relato expõe claramente a fragilidade política do Estado israelense demonstrado pela falta de habilidade política do jovem Roboão.

A unidade do Reino estava ameaçada. Os anos de glória de Salomão ocorreram a custo da exploração de toda a nação. No livro de Samuel 8.11-19 temos um leve relance do que era o direito de um rei e este poderia ser agravado como aconteceu no período de Salomão (1Reis 12.4-11) e que desejava fazer Roboão.

No desenrolar do relato bíblico somos apresentados a um segundo personagem da trama: Jeroboão (1Reis 12.2-3). A casa do faraó guardava a sete chaves esse trunfo político a ser usado num momento propício. Israel era um aliado necessário no conflituoso cenário político dos tempos bíblicos. Nesta época estava começando a se delinear as áreas de influência dos grandes impérios do Oriente Próximo: Egito e Mesopotâmia.

Ter o controle sobre os pequenos Estados da região era imprescindível para a sobrevivência política do Egito. Em 1Reis 11.14-40, temos:
a.       O faraó deu proteção a Hadade príncipe dos edomitas e um dos inimigos de Salomão. Hadade pode gozar dos cuidados e amizade do faraó a ponto de se casar com a irmã de Tafnes esposa do rei egípcio (v.19).
b.       O faraó também protegeu a Rezom, filho de Eliada, que tinha fugido de seu senhor Hadadezer, rei de Zobá (v.23).

c.       O faraó por fim protegeu Jeroboão, filho de Nabate, efrateu de Zaredá, servo de Salomão (v.26).
Todos esses “benefícios” seriam requeridos dos seus protegidos quando bem parecesse a Sisaque, rei dos egípcios (1Reis 11.40). Note os senhores que o faraó tinha em suas mãos valiosas moedas política que lhes dava o poder de barganha com Salomão ou Hadadezer, contudo pareceu bem ao senhor do Egito guardá-las para serem usadas mais tarde. Essa poupança política é explicada pelo clima de paz e equilíbrio que o Egito desfrutava junto aos seus vizinhos. Quando lemos em 1Reis 9.24, é nos revelado que Salomão era casado com a filha do faraó. Portanto, existia claramente uma aliança política entre os Israelitas e os Egípcios.

Mas quem é mesmo esse Jeroboão?

·         Seu nome em hebraico é Yarob´am. É provável que o seu nome seja derivado de Yarbeh´am, “que ele / o deus / aumente o povo.”
·         Era filho de Nebate (seu pai era um oficial do exército de Salomão) e Zerua ou Sarva (era viúva quando deu à luz) da cidade de Zaredá, do Vale do Jordão (1Reis 11.26).
·         Era um homem industrioso e hábil. Salomão, conhecedor de suas aptidões, fê-lo intendente dos tributos de toda casa de José (1Reis27,28).
·         Foi alvo de uma profecia – 1Reis 11.39, que logo chegou aos ouvidos do rei que intentou matá-lo (1Reis 11.40).
·         Por fim, pediu refúgio ao faraó do Egito para se proteger de Salomão, rei de Israel.

A força política de Jeroboão não passou despercebida pelos seus iguais. Em 1Reis 12.3, ele foi convidado a participar do conselho que iria se apresentar a Roboão. Inicialmente parece que os líderes das 10 tribos de Israel não desejavam a divisão do reino, mas tão somente aliviar a opressão imposta por Salomão. Contudo, ao nos deter nas entrelinhas do texto vemos claramente essa possibilidade como um plano B. vejamos:
a.       Os príncipes de Israel conheciam a profecia de Aias (1Reis 11.30-39) e as circunstâncias que levaram Jeroboão ao Egito (v.40).
b.      O chamaram para fazer parte das negociações com o rei Roboão (1Rreis 12.3).

c.       A semelhança do faraó egípcio não o denunciou a Roboão para barganhar vantagens políticas.
d.      Esperaram a resposta do rei e nesse meio tempo consolidaram o plano B, visto que negativados em suas proposições dão inicio a divisão do Reino de Israel.

Por outro lado Roboão fez o esperado, demonstrando total imaturidade política e completa falta de sabedoria responde grosseiramente ao conselho tribal e contribui definitivamente para o fim da unidade política do império israelita (1Reis 12.6-15). A resposta do conselho foi também contundente (v.16):

“Vendo, pois, todo o Israel que o rei não lhe dava ouvidos, tornou-lhe o povo a responder, dizendo: Que parte temos nós com Davi? Não há para nós herança no filho de Jessé. Às tuas tendas, ó Israel! Provê agora a tua casa, ó Davi. Então Israel se foi às suas tendas.”

Aqui temos algumas lições a aprender:

1.       A opressão não congrega, separa.
2.       A desobediência nos afasta das bênçãos divinas.


Todo projeto de nação que havia sido sonhado pelos patriarcas e executado por Davi não subsistiu a Roboão. No verso 21, temos o filho de Salomão organizando suas tropas para atacar os israelitas a fim de recuperar as províncias rebeldes, mas foi advertido por Deus a desistir do seu propósito (v.24).

“21. Vindo, pois, Roboão a Jerusalém, reuniu toda a casa de Judá e a tribo de Benjamim, cento e oitenta mil escolhidos, destros para a guerra, para pelejar contra a casa de Israel, para restituir o reino a Roboão, filho de Salomão. 24. Assim diz o Senhor: Não subireis nem pelejareis contra vossos irmãos, os filhos de Israel; volte cada um para a sua casa, porque eu é que fiz esta obra. E ouviram a palavra do Senhor, e voltaram segundo a palavra do Senhor.”

Aqui cabe um questionamento: Para Israel qual era o melhor projeto: Reino unido ou dividido? Se dividido em que isto ajudaria Israel em seu papel de nação sacerdotal?

As respostas para essas perguntas são difíceis, pois ambos os soberanos no decorrer da história desagradaram profundamente ao Senhor. Jereboão por conveniências políticas tratou logo de afastar Israel de Javé e desta forma acelerar o fim da nação.

Lemos em 1Reis 12.27-28, seguinte relato:

27 Se este povo subir para fazer sacrifícios na casa do Senhor, em Jerusalém, o coração deste povo se tornará a seu senhor, a Roboão, rei de Judá; e me matarão, e tornarão a Roboão, rei de Judá. 28  Assim o rei tomou conselho, e fez dois bezerros de ouro; e lhes disse: Muito trabalho vos será o subir a Jerusalém; vês aqui teus deuses, ó Israel, que te fizeram subir da terra do Egito.

A decisão aqui era de pura sobrevivência política. Em nome da manutenção de uma coroa renuncia a sua fé e seu Deus. Lógico que o Senhor não deixaria passar em branco tal loucura. Em 1Reis 13.1-10, fica claro sua indignação contra as manobras políticas de Jeroboão e antes que chegasse o fim dos seus dias adverte sobre o mal que ele mesmo trouxera sobre sua casa (1Reis 14.8-17). Depois destes fatos Jeroboão reinou por 22 anos sobre Israel (1Reis 14.20).

Na profecia de Aias estamos diante do êxodo de Israel para as terras assírias que se realizou no ano 722 a.C.. Jeroboão toma consciência disto em seus dias. O velho equilíbrio de forças chega ao fim, as ambições imperialistas tomam conta do cenário internacional.

Quanto ao reino de Israel ocorre o mesmo distanciamento do Senhor e as mesmas conseqüências. Nos versos 23 e 24, temos evidencias deste afastamento:

·         Edificaram altares nas colinas, colunas e postes sagrados sobre todo monte e debaixo de toda árvore frondosa. Além disso, havia prostitutos na terra de Judá.

O primeiro golpe sofrido por Judá está registrado em 1Reis 14.27. A incursão do faraó Sisaque no quinto ano de reinado de Roboão é sintomática do que estava por acontecer dois séculos depois. Diz o relato bíblico:


25 “Ora, sucedeu que, no quinto ano do rei Roboão, Sisaque, rei do Egito, subiu contra Jerusalém, 26 E tomou os tesouros da casa do Senhor e os tesouros da casa do rei; e levou tudo. Também tomou todos os escudos de ouro que Salomão tinha feito.E em lugar deles fez o rei Roboão escudos de cobre, e os entregou nas mãos dos chefes da guarda que guardavam a porta da casa do rei.

Roboão governou Judá por 17 anos (1Reis 21) e durante todo esse tempo houve guerra entre ele a Jeroboão. A partir de Roboão todos os demais reis de Judá (Abias 1Rs 14.31; Asa 1Rs 15.8; Josafá 1Rs 15.24; Jeorão 2Cr 21.1; Acazias 2Rs 8.25; Atalias (rainha) 2Rs 8.26; Joás 2Rs 11.2; Amazias 2Rs 14.1; Uzias ou Azarias 2Rs 14.21; Jotão  2Rs 15.5; Acaz 2Rs 15.38; Ezequias 2Rs 16.20; Manasses 2Rs 21.1; Amon 2Rs 21.19; Josias 1Rs 13.2; Joacaz ou Salum 2Rs 23.30; Joaquim 2Rs 23.34; Jeoaquim ou Jeconias 2Rs 24.6; Zedequias ou Matanias 2 Rs 24.17) enfrentaram as ameaças dos grandes reinos da época quer sejam egípcios, assírios ou caldeus. No ano de 548 a.C., era a vez de Judá ir ao cativeiro, porém não era mais para o Egito ou Assíria, mas Babilônia.

Voltando ao questionamento anterior sobre a divisão ou unidade do reino de Israel e que propósito haveria em tudo isso, tenho o seguinte entendimento:


·         O reino unido não passaria despercebido pelos grandes impérios. A sobrevivência de pequenos estados era mais provável.
·         A divisão do reino também era favorável a manutenção da fé verdadeira, visto que a fé do soberano era também do seu povo.
·         O cativeiro tem sido um instrumento eficaz na disciplina dos servos de Deus.
·         A soberania de Deus. Só Ele na verdade sabe dos reais motivos da divisão do reino de Israel.
·         
 Por fim, Jeroboão, Roboão são personagens bem parecidos. Ambos rejeitaram as orientações divinas por interesses outros, ambos colocaram seus reinos na rota de colisão com a justiça divina e conseqüentemente com a opressão estrangeira.

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