segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Coração domável

 Andei pelo mundo sem rumo

Acreditei no acaso, no improviso 

Levei borduada, curtir feridas

Cabeça dura, coração indomável


Meu coração era meu guia

Surdo me fiz aos sábios conselhos 

Fiz da minha força a razão de ser

Não parei até que fui provado


Conheci Jesus no pior momento 

A angústia já me sufocava

Fui resgatado pelas mãos divinas

Salvo por um amor inexplicável


Hoje meu coração é domável

Da ansiedade livrou meu ser

Tenho esperança na vida

Espero feliz pelo amanhecer


Jerônimo Viana M. Alves

12.10.20




domingo, 11 de outubro de 2020

Generosidade

 Por Roberto Vieira

“1982- O Hotel Majestic colocou Mario Quintana no olho da rua.

A miséria havia chegado absoluta ao universo do poeta.

Mario está só. Encontrava o império dos homens  sem sentimentos.

O porteiro joga um agasalho que tinha ficado no quarto.

“Toma, velho!”

Mario recita ao porteiro: A poesia não se entrega a quem a define.

Mario estava só.

Cadê os passarinhos?

A sarjeta aguardava o ancião.

Paulo Roberto Falcão soubera do acontecido.

Chega em frente ao hotel e observa aquela cena absurda, triste.

Estaciona e caminha até o poeta com as malas na calçada.

“Sr. Quintana, o que está acontecendo?”

Mario ergue os olhos e enxuga uma lágrima, destas que insistem em povoar os olhos dos poetas.

Quisera não fossem lágrimas, quisera eu não fosse um poeta, quisera ouvisse os conselhos de minha mãe e fosse engenheiro, médico, professor.

Ninguém vive de comer poesia.

Mario lhe explica que o dinheiro acabou.

Está desempregado, sem família, sem amigos, sem emprego.

Restaram apenas essas malas nas ruas de Porto Alegre.

Mario observa Falcão colocando suas malas dentro do carro em silencio.

E em silencio, Falcão abre a porta para Mario e o convida a sentar.

No silencio de duas almas na tarde fria de Porto Alegre o carro ruma na direção do infinito.

Falcão para o carro no Hotel Royal, desce as malas, chama o gerente e lhe diz:

“O Sr. Mario agora é meu hóspede!”

“Por quanto tempo, Sr. Falcão?”

Falcão observa o olhar tímido e surpreso do poeta e enquanto o abraça comovido, responde:

“POR TODA ETERNIDADE”. ( o hotel pertencia ao Falcão ).


O poeta faleceu em 1994.