O estudo de Romanos 4, que se concentra na justificação pela fé, é um dos textos mais importantes de toda a Bíblia. Neste capítulo, o apóstolo Paulo usa a vida de Abraão, o pai da fé, para demonstrar que a salvação não é alcançada por meio de obras da lei, mas sim pela fé em Deus.
O Contexto Histórico e Teológico
No tempo de Paulo, os cristãos judeus e os não judeus (gentios) debatiam sobre o papel da Lei de Moisés na salvação. Os judeus, em sua maioria, acreditavam que a circuncisão e a obediência à Lei eram essenciais para ser justo diante de Deus. Paulo, por outro lado, argumenta que a salvação é um presente gratuito de Deus, disponível a todos, independentemente da etnia ou das obras que tenham feito. Ele usa o exemplo de Abraão para provar seu ponto.
A Justificação de Abraão (Romanos 4:1-8)
Paulo inicia a discussão com uma pergunta: "Que diremos, pois, que Abraão, nosso pai, achou segundo a carne?" (v. 1). Ele imediatamente responde que Abraão não foi justificado por suas obras. Se fosse assim, ele teria do que se gabar. No entanto, as Escrituras afirmam: "Abraão creu em Deus, e isso lhe foi atribuído para justiça" (v. 3). Essa frase é uma citação de Gênesis 15:6 e é o ponto central do capítulo.
Paulo diferencia claramente a recompensa do trabalho (que é devida) da justificação pela fé (que é uma dádiva). Ele usa o exemplo de Davi, que fala sobre a bênção do homem a quem Deus "atribui justiça sem obras" (vv. 6-8). Isso demonstra que a justificação pela graça de Deus, por meio da fé, é um tema presente no Antigo Testamento.
A Prioridade da Fé sobre a Circuncisão (Romanos 4:9-12)
Para os judeus, a circuncisão era um sinal crucial da aliança com Deus. Paulo, no entanto, inverte a ordem cronológica para mostrar que a justificação de Abraão aconteceu antes de ele ser circuncidado. Ele foi justificado pela fé (Gênesis 15) e só depois, 14 anos mais tarde, recebeu o sinal da circuncisão (Gênesis 17).
Isso tem implicações profundas: a circuncisão não era a causa da justificação, mas sim um selo ou sinal da justiça que ele já tinha pela fé. Essa verdade torna Abraão o pai de todos os que creem, sejam eles circuncidados (judeus) ou não circuncidados (gentios), mostrando que a justificação pela fé é universal.
A Promessa de Deus e a Lei (Romanos 4:13-17)
Paulo continua seu argumento, afirmando que a promessa de que Abraão herdaria o mundo não foi dada pela Lei, mas pela justiça da fé. Ele explica que, se a herança dependesse da Lei, a fé se tornaria inútil e a promessa seria anulada, pois a Lei traz a ira de Deus e não a vida.
A fé é o caminho para que a promessa seja baseada na graça de Deus. Isso garante que a promessa seja firme e para todos os descendentes de Abraão: não apenas para aqueles que seguem a Lei, mas também para os que têm a fé de Abraão.
A Fé Inabalável de Abraão (Romanos 4:18-25)
Nesta seção, Paulo descreve a qualidade da fé de Abraão. Apesar de sua idade avançada e da infertilidade de Sara, ele creu contra a esperança de que seria o pai de muitas nações, como Deus havia prometido. Sua fé não vacilou. Ele deu glória a Deus e estava plenamente convicto de que Deus era capaz de cumprir o que havia prometido.
Paulo, então, faz a ligação direta entre a fé de Abraão e a fé do cristão. A Escritura não foi escrita apenas por causa de Abraão, mas também por nossa causa. Nossa fé é atribuída para justiça, assim como a dele. E a nossa fé se baseia em Jesus Cristo, que foi entregue por nossos pecados e ressuscitado para nossa justificação.
Principais Conclusões de Romanos 4
A Justificação é pela Fé, não pelas Obras: Ninguém é considerado justo diante de Deus por obedecer à Lei ou por qualquer outra ação humana.
Abraão é o Exemplo e o Pai da Fé: Sua vida prova que a salvação sempre foi pela fé, antes mesmo da Lei ser dada e da circuncisão ser instituída.
A Salvação é Universal: Por ser baseada na fé e não em rituais ou etnia, a salvação está disponível para todos os povos.
Nossa Fé se Conecta à de Abraão: Assim como Abraão creu na promessa de Deus de dar vida, nós cremos na promessa de Deus de nos justificar por meio de Jesus, que foi ressuscitado.
Em suma, Romanos 4 nos mostra que a graça de Deus é o fundamento da salvação, e a fé é a nossa resposta a essa graça. É um capítulo que desmonta o orgulho humano e estabelece a justificação como um presente gratuito e maravilhoso de Deus.
Diário de um servo.