quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Imagem de Cristo nos documentos históricos

Como era Jesus fisicamente? Não há relatos bíblicos suficientes para se ter uma idéia de Sua aparência. Há somente uma profecia de como ele seria quando estivesse sofrendo na cruz (Isaías 52.14 e 53.2-3). Porém, políticos e historiadores do primeiro século descreveram não só a Sua aparência bem como o Seu comportamento, confirmando o que está escrito no Novo Testamento. Os registros dos romanos são parecidos e não mencionam dEle ser "bonito" ou "feio", apenas descrições de formas e cores.

Entre várias personalidades da Roma antiga estão Públio Lêntulo, Pôncio Pilatos e Cornélio Tácito que deixaram registros sobre a presença de Cristo na Galiléia. O historiador Titus Livius viveu no tempo de Lêntulo e de Pilatos e deixou registros sobre seus atos que estão disponíveis para leitura (traduzidos para o inglês) em http://www.dominiopublico.gov.br.


A Epístola de Publius Lentullus (Públio Lêntulo) ao Senado

Esta descrição foi retirada de um manuscrito da biblioteca de Lord Kelly, anteriormente copiada de uma carta original de Públio Lêntulo em Roma. Era costume dos governadores romanos relatar ao Senado e ao povo coisas que ocorriam em suas respectivas províncias no tempo do imperador Tiberio César. Públio Lêntulo, que governou a Judéia antes de Pôncio Pilatos, escreveu a seguinte epístola ao Senado relativo ao Nazareno chamado Yeshua (Jesus), no princípio das pregações:

"Apareceu nestes nossos dias um homem, da nação Judia, de grande virtude, chamado Yeshua, que ainda vive entre nós, que pelos Gentios é aceito como um profeta de verdade, mas os seus próprios discípulos chamam-lhe o Filho de Deus - Ele ressuscita o morto e cura toda a sorte de doenças. Um homem de estatura um pouco alta, e gracioso, com semblante muito reverente, e os que o vêem podem amá-lo e temê-lo; seu cabelo é castanho, cheio, liso até as orelhas, ondulado até os ombros onde é mais claro. No meio da cabeça os cabelos são divididos, conforme o costume dos Nazarenos. A testa é lisa e delicada; a face sem manchas ou rugas, e avermelhada; o nariz e a boca não podem ser repreendidos; a barba é espessa, da cor dos cabelos, não muito longa, mas bifurcada; a aparência é inocente e madura; seus olhos são acinzentados, claros, e espertos - reprovando a hipocrisia, ele é terrível; admoestando, é cortês e justo; conversando é agradável, com seriedade. Não se pode lembrar de alguém tê-lo visto rir, mas muitos o viram lamentar. A proporção do corpo é mais que excelente; suas mãos e braços são delicados ao ver. Falando, é muito temperado, modesto, e sábio. Um homem, pela sua beleza singular, ultrapassa os filhos dos homens".

A carta de Pontius Pilate (Pôncio Pilatos) para Tiberius Caesar (Tibério César) 

Este é um reimpresso de uma carta de Pôncio Pilatos para Tibério César que descreve a aparência física de Jesus. As cópias estão na Biblioteca Congressional em Washington, D.C. É bem provável que tenha sido escrita nos dias que antecederam a crucificação.

PARA TIBÉRIO CÉSAR: 

"Um jovem homem apareceu na Galiléia que prega com humilde unção, uma nova lei no nome do Deus que o teria enviado. No princípio estava temendo que seu desígnio fosse incitar as pessoas contra os romanos, mas meus temores foram logo dispersados. Jesus de Nazaré falava mais como um amigo dos romanos do que dos judeus. Um dia observava no meio de um grupo um homem jovem que estava encostado numa árvore, para onde calmamente se dirigia a multidão. Me falaram que era Jesus. Este eu pude facilmente ter identificado tão grande era a diferença entre ele e os que estavam lhe escutando. Os seus cabelos e barba de cor dourada davam a sua aparência um aspecto celestial. Ele aparentava aproximadamente 30 anos de idade. Nunca havia visto um semblante mais doce ou mais sereno. Que contraste entre ele e seus portadores com as barbas pretas e cútis morenas! Pouco disposto a lhe interromper com a minha presença, continuei meu passeio mas fiz sinal ao meu secretário para se juntar ao grupo e escutar. Depois, meu secretário informou nunca ter visto nos trabalhos de todos os filósofos qualquer coisa comparada aos ensinos de Jesus. Ele me contou que Jesus não era nem sedicioso nem rebelde, assim nós lhe estendemos a nossa proteção. Ele era livre para agir, falar, ajuntar e enviar as pessoas. Esta liberdade ilimitada irritou os judeus, não o pobre mas o rico e poderoso. 

Depois, escrevi a Jesus lhe pedindo uma entrevista no Praetorium. Ele veio. Quando o Nazareno apareceu eu estava em meu passeio matutino e ao deparar com ele meus pés pareciam estar presos por uma mão de ferro no pavimento de mármore e tremi em cada membro como um réu culpado, entretanto ele estava tranqüilo. Durante algum tempo permaneci admirando este homem extraordinário. Não havia nada nele que fosse rejeitável, nem no seu caráter, contudo eu sentia temor na sua presença. Eu lhe falei que havia uma simplicidade magnética sobre si e que a sua personalidade o elevava bem acima dos filósofos e professores dos seus dias. 

Agora, ó nobre soberano, estes são os fatos relativos a Jesus de Nazaré e eu levei tempo para lhe escrever em detalhes estes assuntos. Eu digo que tal homem que podia converter água em vinho, transformar morte em vida, doença em saúde; tranqüilizar os mares tempestuosos, não é culpado de qualquer ofensa criminal e como outros têm dito, nós temos que concordar - verdadeiramente este é o filho de Deus. 

Seu criado mais obediente,
Pôncio Pilatos"


Outra descrição de Jesus foi encontrada em "O Volume Archko" que contém documentos de tribunais oficiais dos dias de Jesus. Esta informação confirma que Ele veio de segmentos raciais que tiveram olhos azuis e cabelos dourados (castanhos claros). No capítulo intitulado "A Entrevista de Gamaliel" está declarado relativo ao aparecimento de Jesus (Yeshua):

"Eu lhe pedi que descrevesse esta pessoa para mim, de forma que pudesse reconhece-lo caso o encontrasse. Ele disse: 'Se você o encontrar [Yeshua] você o reconhecerá. Enquanto ele for nada mais que um homem, há algo sobre ele que o distingue de qualquer outro homem. Ele é a "cara da sua mãe", só não tem a face lisa e redonda. O seu cabelo é um pouco mais dourado que o seu, entretanto é mais queimado de sol do que qualquer outra coisa. Ele é alto, e os ombros são um pouco inclinados; o semblante é magro e de uma aparência morena, por causa da exposição ao sol. Os olhos são grandes e suavemente azuis, e bastante lerdos e concentrados....'. Este judeu [Nazareno] está convencido ser o messias do mundo. [...] esta é a mesma pessoa que nasceu da virgem em Belém há uns vinte e seis anos atrás..." 

O Volume de Archko, traduzido pelos Drs. McIntosh e Twyman do Antiquário Lodge, em Genoa, Itália, a partir dos manuscritos em Constantinopla e dos registros do Sumário do Senado levado do Vaticano em Roma (1896) 92-93

Esta é uma citação de Flavio Josefo, em suas escritas históricas do primeiro século intituladas, "Antiguidades dos Judeus" Livro 18, Capítulo 2, seção 3:

"Agora havia sobre este tempo Jesus, um homem sábio, se for legal chamá-lo um homem; porque ele era um feitor de trabalhos maravilhosos, professor de tais homens que recebem a verdade com prazer. Ele atraiu para si ambos, muitos judeus e muitos Gentios. Ele era o Cristo. E quando Pilatos, à sugestão dos principais homens entre nós, o tinha condenado à cruz, esses que o amaram primeiramente não o abandonaram; pois ele lhes apareceu vivo novamente no terceiro dia, como os profetas divinos tinham predito estas e dez mil outras coisas maravilhosas relativas a ele. E a tribo de cristãos, assim denominada por ele, não está extinta neste dia".


Cornélio Tácito, historiador romano

Cornélio Tácito foi um historiador romano que viveu entre aproximadamente 56 e 120 DC. Acredita-se que tenha nascido na França ou Gália numa família aristocrática provinciana. Ele se tornou senador, um cônsul, e eventualmente o governador da Ásia. Tácito escreveu pelo menos quatro tratados históricos. Por volta de 115 DC, publicou Anais nos quais declara explicitamente que Nero perseguiu os cristãos para chamar atenção para longe de si do incêndio de Roma em 64 DC. Naquele contexto, ele menciona Cristo que foi posto a morte por Pôncio Pilatos:

Christus: Anais 15.44.2-8

"Nero fixou a culpa e infligiu as torturas mais primorosas em uma classe odiada para as suas abominações, chamados pela plebe de cristãos. Cristo, de quem o nome teve sua origem, sofreu a máxima penalidade durante o reinado de Tibério às mãos de um de nossos procuradores, Pôncio Pilatos, e uma superstição mais danosa, assim conferidas para o momento, novamente falida não só na Judéia, a primeira fonte do mal, mas até mesmo em Roma..." 


Fonte: Arqueologia Bíblica.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A BENÇÃO DE SE TER UM AMIGO LEAL E VERDADEIRO



Há amigos mais chegados do que um irmão (Provérbios 18.24). E é verdade. A vida de todos nós está agitada demais, uma loucura, tolhendo a convivência humana, os bons papos, um cafezinho com os amigos permeado de risadas gostosas. E o que é pior: fez nascer uma espécie de cultura absolutamente maluca! O estar junto, ouvir o outro, e ser ouvido são valores extraordinários e imprescindíveis. Há amigos mais chegados que um irmão. Lembre-se que isso é uma bênção, não um ônus! Portanto, saia agora mesmo de seu casulo e experimente o valor de uma grande amizade! Há força e vida nos relacionamentos significativos que nos permitimos construir.


Relacionamento é uma palavra de ordem vinda da Trindade. Deus não fez o homem para que estivesse só, mas nos deu pessoas para serem nossos amigos, verdadeiros presentes, capazes de amizades sinceras, despretensiosas, dádivas do Alto!

Que Deus, no meio de tantas pessoas freqüentadoras da IBA, nos dê pelo menos um amigo! E se você for escolhido dentre tantos, aceite isso como um grande privilégio! Jesus tinha amigos, procurou-os, teve um Pedro, um Tiago, um João, com quem andava junto! E é Ele quem quer que tenhamos amigos. Que grande verdade é esta: “O homem que tem muitos amigos pode congratular-se, mas há amigo mais chegado do que um irmão” (Provérbios 18.24). Que tal, vamos provar desta bênção?

Fonte: Boletim IBA

domingo, 30 de janeiro de 2011

Salmo 87 - Dos filhos de Corá



Esse é mais um dos salmos reais composto pelos filhos de Corá. A cidade de Jerusalém é exaltada diante dos demais santuários israelense [v.2 - Betel, Siquém e Siló]. A preferência do Todo Poderoso por Jerusalém está no fato do rei Davi ter trazido para Sião a Arca da Aliança [6.12-19].

A importância desta cidade ultrapassa as fronteiras de Israel [v.4], deixando para trás outros grandes centros urbanos como o Egito personificado no monstro Raabe [Dragão, monstro marinho – Jó 9.13; 26.12], Babilônia, Filistia, Tiro e Etiópia. Em síntese, esse era todo o mundo conhecido de então. Portanto, Jerusalém é colocada no centro do mundo antigo. Outra observação que fazemos é que nessa lista encontram-se os piores inimigos de Israel.

No verso 5, o salmista faz uma citação messiânica específica a Jesus Cristo, que aquele ali nascido seria reverenciado por tudo o mundo. Sabemos pela própria palavra que Cristo nasceu em Belém, mas seu nome chegou aos quatro cantos do mundo a partir de Jerusalém.

No verso 6, temos a imagem de Deus registrando todos os povos [Ne 12.22-23; Ez13.9; Lc 2.1-3]. Os nascidos de todos os povos ao serem registrados no livro de Deus conquistam automaticamente a cidadania de Jerusalém, desta forma essa cidade torna-se a pátria universal de todos os homens. Por fim, o salmista encerra sua poesia [v.7] confessando Jerusalém como seu lar.

“Todos os cantores, saltando de júbilo, entoarão: todas as minhas fontes são em ti”

A imagem de Jerusalém permanece forte até hoje. Inúmeros foram os povos que tentaram destruí-la, dos que me lembro cito: caldeus, assírios, persas, gregos e romanos, só para citar os povos do mundo antigo. Contudo, ela permanece inteira até nossos dias. É sem dúvida uma obra de Deus desenhada para um povo específico os filhos de Abraão e de todos aqueles que pela fé em Jesus Cristo tornaram co-herdeiro com Cristo Jesus nosso Senhor.

Efe 3:6 – “a saber, que os gentios são co-herdeiros e membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho;”

sábado, 29 de janeiro de 2011


Irmãos de fé: Eu, Medeiros e Raimundo.
Natal 29/02/11

Queda de Mubarak mudaria radicalmente a relação entre o mundo árabe, Israel e potências como os EUA


Egito, que enfrenta os maiores distúrbios de sua história recente, é o país mais poderoso da região. Por isso, qualquer explosão ali terá maior repercussão

Cecília Araújo

Os protestos que tomam conta do Egito há quatro dias trazem preocupação sobre as consequências da tensão que domina o mundo árabe. O país é um dos dois únicos estados árabes que tem relações com Israel - o outro é a Jordânia. Além disso, depois de Israel, é o país da região que mais recebe ajuda americana - quase 2 bilhões de dólares por ano. É esperado, portanto, que a repressão seja mais eficiente no país, do que em qualquer outro da região. Por outro lado, qualquer explosão que tenha sucesso ali ganhará maior repercussão, principalmente levando em conta a proximidade entre o Egito e seus fortes aliados: Israel e Estados Unidos. Se todo este processo ainda culminar com queda do presidente, Hosni Mubarak, há 30 anos no poder, as mudanças nas alianças podem ser mais profundas. 
Os distúrbios do Egito são os mais graves da história recente do país e reivindicam o fim da lei de emergência, que vigora desde a morte do ex-presidente Anwar Sadat, e a realização de eleições parlamentares. “As manifestações têm se mostrado sérias o suficiente para serem entendidas como indicadoras do começo do fim da era Mubarak”, afirma Amin Saikal, diretor do Centro de Estudos Árabes e Islâmicos da Universidade Nacional da Austrália. Segundo ele, os próximos dias vão dizer sobre o futuro do ditador no país. "Ou ele vai ceder à oposição ou impor regras militares mais fortes”, acrescenta Saikal.
Caso Mubarak seja derrubado do poder, as consequências devem ser profundas, principalmente por estremecer o vínculo entre Egito e Israel, um aliado importante. As relações entre os países são boas há mais de 30 anos - o Egito foi o primeiro país árabe a assinar um acordo de paz com os israelenses, em 1979. Agora, Israel teme uma revolução e uma possível tomada de poder pelo grupo radical Irmandade Muçulmana – o que também desperta receio por parte dos Estados Unidos. “Nesse momento, entretanto, qualquer intervenção de outros países pode ser muito perigosa, por isso EUA e Israel estão sendo cautelosos”, pondera Edgard Leite, professor de história da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e especialista em Oriente Médio.
Além dos EUA, a queda do ditador também deve afetar a maneira em que Irã influencia o Oriente Médio, podendo provocar ainda o crescimento e a propagação de um islã militante e anti-Ocidente e, portanto, mudar a vida de 80 milhões de egípcios ou ainda se espalhar a outras nações que enfrentam protestos menores, como a Argélia e a Jordânia. “Nenhum estado quer estar na posição de ser forçado a negociar com organizações que propagam o terror”, pondera Asaf Romirowsky, especialista em Oriente Médio e membro do grupo americano Middle East Forum.
Embora mantendo a cautela, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, defendeu nesta sexta-feira o fim da censura à internet e à telefonia no país, pedindo ainda que o governo do Egito não use a força para reprimir os protestos. "Os egípcios deveriam viver em uma sociedade democrática com respeito aos direitos humanos. Nós acreditamos fortemente que eles deveriam se envolver em reformas econômicas, políticas e sociais", declarou. A União Europeia também se posicionou a favor de reformas no Egito, indicando mudanças urgentes no país e a liberação imediata dos manifestantes detidos.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Tempo de Deus


Leitura bíblica: 2 Pedro 3.8-9

Nosso tempo cronológico é diferente do tempo de Deus, que é eterno e não possui nenhuma limitação temporal. Quando Moisés diz que não sabe o nome de Deus, o Senhor responde: “Eu sou o que sou” [Êx 3.14]. Em Deus não há passado e nem Futuro: Ele é eternamente, sem mudança ou envelhecimento: “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e para sempre” [Hb 13.8].

“Jesus lhes disse: Para mim ainda não chegou o tempo certo; para vocês qualquer tempo é certo” [Jo 7.6]

No texto acima Pedro se reporta ao texto de Salmos 90.4 e faz um jogo de palavras: um dia de Deus corresponde a mil anos dos homens; mil anos de Deus são iguais a um dia dos homens. Enquanto ficamos ansiosos e pensamos que Deus demora, Ele está sendo paciente. 

Ele vive pressionado pelo relógio! Não há como calcular seu tempo – e aqui lembro o texto de Isaias 55.9: “Assim como os céus são mais altos do que a terra, também os meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os seus pensamentos”.

Enquanto Jesus não volta para a consumação da História, o que podemos fazer em nosso tempo? Se amamos a Deus, devemos procurar viver de uma forma que o agrade. No livro do profeta Miquéias, encontramos o que o Senhor deseja que façamos: “Ele mostrou a você, ô homem, o que é bom e o que o Senhor exige: pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente como o seu Deus”[Mq 6.8].

Podemos andar com Deus todos os dias obedecendo ao Senhor em nosso tempo. Quando nosso tempo aqui na terra terminar, experimentaremos como é o tempo de Deus – a eternidade. Se você vai passá-la com Deus ou longe dele [no inferno] depende sua resposta a Cristo: “Quem crê no filho tem a vida eterna: já quem rejeita o filho de Deus não verá a vida, mas a ira de Deus permanece sobre ele” [Jo 3.36]. Como você quer viver neste tempo e na eternidade?

A eternidade não cabe em nosso tempo, mas você pode caber na eternidade com Deus.

Fonte: PÃO DIÁRIO – JANEIRO – DEZEMBRO – Nº 14

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Sombras Iluminadas Pregando a Cristo com Base no Antigo Testamento


Sem dúvida, a pregação do Antigo Testamento passa por uma crise muito difundida hoje; conseqüentemente, a pregação de Cristo com base no Antigo Testamento está na mesma situação. Prega-se cada vez menos sermões a respeito dessa parte da Bíblia, e aqueles que são pregados não parecem exigir o mesmo interesse ou respeito que os sermões do Novo Testamento exigem. 


Várias pesquisas têm constatado que apenas 20% dos sermões cristãos dizem respeito ao Antigo Testamento. Michael Duduit, editor da revistaPreaching (Pregação), lamentou o fato de receber “anualmente centenas de manuscritos de sermões de ministros de várias denominações protestantes... e menos de um décimo dos sermões enviados à Preaching se baseia em textos do Antigo Testamento”.1 Os relativamente poucos sermões do Antigo Testamento pregados são, com frequência, tópicos em vez de textuais ou contextuais.

Esse desequilíbrio na dieta espiritual da maioria dos cristãos é uma das principais razões dos problemas espirituais da igreja moderna e do cristão moderno. Uma pergunta desafiadora foi apresentada por Gleason Archer: “Como os pastores cristãos esperam alimentar seu rebanho com uma dieta espiritual balanceada, se negligenciam completamente os 39 livros das Escrituras Sagradas dos quais Cristo e todos os autores do Novo Testamento receberam sua própria nutrição espiritual?”2

Consideraremos brevemente oito razões que estão por trás desse infortúnio.



1. Liberalismo

Em primeiro lugar, o Antigo Testamento tem sido alvo de prolongado e contínuo ataque crítico da parte de eruditos liberais. Isso tem abalado a confiança tanto de pregadores como de ouvintes quanto a essa parte das Escrituras Sagradas.



2. Ignorância 

É quase impossível pregar sobre passagens extensas do Antigo Testamento sem um conhecimento do contexto histórico e do ambiente geográfico. Contudo, houve um tempo em que esse conhecimento era difundido em muitas igrejas, mas agora muitos ouvintes sabem pouco ou nada sobre história bíblica, e os pregadores acham difícil torná-la interessante para seus ouvintes.



3. Relevância

Além disso, os detalhes históricos e geográficos parecem distanciar o pregador e o ouvinte da realidade moderna. O fato é que estamos a aproximadamente 6.000 anos do acontecimento mais antigo registrado no Antigo Testamento e a mais de 2.000 anos de seu acontecimento mais recente. Isso abre um “intervalo de relevância” na mente de muitos pregadores e ouvintes da atualidade. Tal situação é intensificada pelo fato de o Novo Testamento deixar claro que muitas práticas do Antigo Testamento acabaram. Então, por que estudá-las?



4. Dispensacionalismo

A teologia dispensacionalista, com sua divisão rígida das Escrituras em eras e métodos de salvação diferentes, tende a relegar o Antigo Testamento a um papel inferior na vida da igreja e do cristão individual. Entretanto, é surpreendente quantos pregadores mesmo nos círculos reformados possuem um dispensacionalismo latente, que se torna óbvio em sua  opinião confusa e inconsistente da salvação no Antigo Testamento – contendo idéias que vão desde a salvação por obras, bem como a salvação pela fé nos ritos sacrificiais, até à salvação mediante uma fé geral em Deus acompanhada de uma tentativa sincera de obedecer à sua lei. Essas opiniões legalistas da salvação no Antigo Testamento produzem inevitavelmente menos pregação dessa parte das Escrituras e, certamente, menos pregação de Cristo e da sua graça com base no Antigo Testamento.



5. Prática Ruim

Temos de admitir que uma das razões por que tantas pessoas, até em igrejas reformadas e evangélicas, minimizam a Cristo no Antigo Testamento é que elas têm visto muitos maus exemplos de pregação sobre o Salvador alicerçada em textos do Antigo Testamento – exemplos que expõem toda a prática da proclamação da Palavra ao ridículo justo de um mundo zombeteiro e cínico. Contudo, a prática ruim de alguns não deveria levar à falta de prática de outros.



6. Preguiça

Pregar Cristo com base no Antigo Testamento é mais exigente do que fazê-lo com base no Novo Testamento. Preparar e apresentar sermões do Antigo Testamento centrados em Cristo, de maneira compreensível e atrativa, requer mais trabalho mental e espiritual – especialmente quando não temos prática na arte. Para um pastor ocupado na preparação de dois ou três sermões por semana, os caminhos já bem trilhados do Novo Testamento parecem mais convidativos do que Levítico, 2 Crônicas ou Naum!



7. Falta de Exemplos

Muitos pastores sinceros e dedicados querem pregar sobre textos do Antigo Testamento e sentem-se culpados por sua falha em fazê-lo. Entretanto, quando olham ao seu redor, procurando modelos de pregação que possam seguir, eles encontram poucos homens de cuja prática podem aprender. Então, na falta da prática estimulante, eles procuram princípios de interpretação que lhes ensine a prática; mas isso também está faltando.



8. Credibilidade Acadêmica

Finalmente, existe nos círculos acadêmicos (até entre os reformados e evangélicos) uma tendência de minimizar o lugar do Filho de Deus no Antigo Testamento. Cristo está sendo excluído das muitas passagens do Antigo Testamento, com a aprovação da comunidade erudita. E poucos são bastante corajosos para correr o risco e questionar essa tendência. Pouco nos surpreende o fato de que pregadores se afastam do Antigo Testamento e se dirigem ao Novo Testamento a fim de “encontrar Jesus” e “pregar a Cristo crucificado”.

Então, qual é a solução para essa crise na pregação do Antigo testamento? Como podemos lutar contra essas tendências e até invertê-las? Bem, temos de atacar em todas as frentes. Devemos combater os liberais, ensinar às nossas congregações história e geografia bíblicas, ao mesmo tempo que demonstramos a relevância permanente do Antigo Testamento. Devemos resistir tanto ao dispensacionalismo patente quanto ao latente. Temos de identificar e evitar a prática ruim, embora ela pareça bastante convidativa. Devemos estar dispostos a gastar horas, suor, trabalho árduo e lágrimas, enquanto abrimos essa terra dura e não lavrada. Temos de procurar bons modelos de pregação, valorizá-los e aprender com eles. E, na ausência desses modelos, devemos buscar princípios bíblicos de interpretação que guiem nossa prática. Finalmente, devemos, com fé, manter-nos de pé diante do tanque de guerra da comunidade acadêmica e recusar-nos a deixá-los tirar Cristo do Antigo Testamento.

No entanto, o primeiro passo é estabelecer um alicerce forte de pressuposições bíblicas para apoiar todos os nossos sermões do Antigo Testamento. E devemos começar voltando-nos ao Novo Testamento. Ora, talvez pareça estranho começar um artigo sobre “Pregando a Cristo com base no Antigo Testamento” por voltar-nos ao Novo Testamento. Entretanto, começar com o Novo Testamento é o passo mais importante de todos, se queremos pregar corretamente a Cristo com base no Antigo Testamento. Deixar de fazer isso é uma das principais razões, ou talvez a principal razão, por que temos hoje tantos sermões sobre o Antigo Testamento nos quais Cristo não é mencionado.

Muitos vêem Cristo simplesmente como o “ponto final” do Antigo Testamento, o destino do Antigo Testamento. E, de fato, Ele é isso. Contudo, Ele também é o “ponto de partida” do Antigo Testamento, Aquele com quem devemos começar quando analisamos o Antigo Testamento. Com isso, estamos dizendo que devemos começar com o ponto de vista de Cristo sobre o Antigo Testamento. Neste artigo, seguiremos o seu exemplo por considerarmos as suas palavras na estrada de Emaús (Lc 24.25-32).


O ponto de vista de Cristo sobre o Antigo Testamento

Juntemo-nos aos dois discípulos na estrada de Emaús (Lc 24.25-32) e observemos três pontos:
  1. Tolice e Ignorância
  2. Interpretação Plena
  3. Discernimento da Fé

1. Tolice e Ignorância

Você já deve estar familiarizado com o contexto desse encontro na estrada de Emaús. Cristo foi crucificado numa sexta-feira. No domingo seguinte, dois homens do seu círculo de discípulos mais amplo decidiram deixar Jerusalém e viajar para Emaús, que ficava a cerca de onze quilômetros de Jerusalém. À media que conversavam “a respeito de todas as coisas sucedidas” (v. 14) e “discutiam, o próprio Jesus se aproximou e ia com eles” (v. 15). Todavia, eles foram impedidos por Deus de reconhecê-lo naquele momento (v. 16). Jesus observou a postura deprimida e o rosto entristecido deles e perguntou-lhes qual era a causa de sua tristeza (v. 17). Eles prosseguiram fazendo um relato sobre a vida e o caráter de Cristo (v. 19), os seus sofrimentos e a sua morte (v. 20), o conseqüente desapontamento deles com Jesus (v. 21) e, devido à falta de evidências físicas, o ceticismo deles quanto aos rumores de uma ressurreição (v. 21).

Havendo escutado pacientemente a história deles até esse ponto, Cristo interveio com uma repreensão da ignorância e da descrença deles: “Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória?” (Lc 24.25-26). Jesus lhes disse que o relato deles sobre a vida e a morte de Cristo igualava-se exatamente às predições dos profetas do Antigo Testamento. Eles acreditavam em alguns escritos dos profetas – as partes que falavam da glória do Messias. Entretanto, não acreditavam em tudo que os profetas haviam falado – especialmente, os trechos referentes aos sofrimentos e à morte do Messias. Portanto, Jesus os repreendeu por sua tolice e ignorância. A palavra grega traduzida por “néscio” é anoetos, denotando um indivíduo que vê coisas a partir de um ponto de vista distorcido. Em seguida, Jesus passou a expor o ponto de vista divino sobre a sua própria morte, ao mostrar, com base nas Escrituras do Antigo Testamento, que o Messias tinha de sofrer tais coisas e, somente depois disso, entrar em sua glória.

Quanta tolice – acreditar apenas numa parte do que Deus revelou pelos profetas! Quanta ignorância – desconhecer a necessidade dos sofrimentos do Messias, apesar de tudo que foi revelado no Antigo Testamento! Matthew Henry disse:

Jesus não os culpa tanto pela lentidão deles em acreditar no testemunho das mulheres e dos anjos, como os culpa por aquilo que causava isso: a lentidão deles em acreditar nos profetas; pois, se houvessem dado aos profetas do Antigo Testamento a devida importância e consideração, estariam tão certos da ressurreição de Cristo dentre os mortos naquela manhã (sendo o terceiro dia após sua morte) como estavam certos do nascer do sol.3
Eles esperavam outra redenção gloriosa semelhante à de Êxodo, mas ignoravam o sacrifício do Cordeiro Pascal que precedeu aquela redenção. Esperavam o glorioso e final reino davídico, mas ignoravam a perseguição homicida sofrida por Davi que precedeu o reino. Esperavam o rei profetizado em Isaías 53.12, que seria vitorioso e repartiria os despojos com os poderosos, mas haviam esquecido o Servo que sofreria e levaria o pecado, em precedência a essa vitória.


2. Interpretação Plena

Havendo repreendido a tolice e a ignorância dos dois discípulos, Cristo lhes deu uma interpretação completa do Antigo Testamento à luz dos acontecimentos recentes. Observe isso! É absolutamente decisivo. Cristo usou a luz do Novo Testamento para interpretar as Escrituras do Antigo Testamento. Em outras palavras, contrariando muitas das teorias humanistas da hermenêutica e da homilética moderna, Cristo viu a si mesmo no Antigo Testamento. Ele usou a luz dos acontecimentos do Novo Testamento para pregar sobre o Antigo Testamento. Veremos isso em detalhes.

O sermão que Cristo apresentou nessa ocasião, com base no Antigo Testamento, poderia ser intitulado Fatos Concernentes a Ele Mesmo. Tinha dois pontos principais: os sofrimentos de Cristo e a glória de Cristo. Nesses pontos, observe três estágios de desenvolvimento: “Começando por Moisés”, Ele discorreu por “todos os profetas” e expôs “todas as Escrituras” (v. 27). Um pouco depois (v. 44), Lucas mencionou um incidente semelhante em que Cristo interpretou o Antigo Testamento com o benefício da luz do Novo Testamento, usando mais uma vez esses três estágios.

Entretanto, retornemos aos dois pontos principais deste sermão em que Cristo prega Fatos Concernentes a Ele Mesmo com base no Antigo Testamento – seus sofrimentos e sua glória. Como amaríamos ter esse sermão preservado para nós nas Escrituras! Que textos específicos Ele aplicou a si mesmo? Que tipos Ele explicou? O texto bíblico não nos diz. Por que o Espírito Santo omitiu deliberadamente esses detalhes? Bem, alguns estudiosos nos dizem que só devemos pregar tipos do Antigo Testamento que são especificamente identificados como tais pelo Novo Testamento. Essa restrição severa e racionalista, criada por homens, teria sido aplicada também a esse incidente, se alguns dos detalhes do sermão de Cristo nos houvessem sido revelados. Seríamos proibidos de pregar com base em qualquer versículo do Antigo Testamento que não tivesse sido especificamente mencionado por Cristo nessa ocasião. Em vez disso, o silêncio permite que a fé medite sobre o possível conteúdo das três partes do Antigo Testamento: a Lei, os Profetas e os Escritos.


a. Os sofrimentos de Cristo 

Se houve uma característica suprema do Antigo Testamento, essa foi o sangue – especificamente, o sangue de sacrifícios. As alianças com Adão, Noé, Abraão e Moisés foram todas inauguradas com sangue de sacrifícios. A aliança com Davi foi inaugurada com advertências de derramamento de sangue para os transgressores (2 Sm 7.14). Os ritos e as cerimônias religiosas do Antigo Testamento eram fartas de sangue sacrificial. O tabernáculo e o templo eram ensopados de sangue sacrificial. Se as Escrituras do Antigo Testamento eram proféticas, como realmente eram, quem poderia imaginar que o cumprimento encarnado desses tipos seria sem sangue?

Outro tema de grande importância no Antigo Testamento era o padrão de “sofrimento antes do triunfo” nos seus principais personagens: Noé, Abraão, Jacó, Moisés, Davi, Jonas. Quem vê esse padrão repetido na vida dos santos piedosos do Antigo Testamento, alguns dos quais existiram especificamente como tipos do Messias (por exemplo: Moisés, Davi), e não conclui que a vida do Messias seguiria um padrão semelhante?

Além disso, quantos salmos – o próprio enredo da vida espiritual de Israel – apresentam o ciclo de chorar durante a noite, antes de a alegria vir pela manhã (por exemplo: Salmos 22; 52-60; 69)?

Não admiramos que Cristo tenha perguntado: “Não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória?” (Lc 24.26).


b. A glória de Cristo

Cristo não teve de convencer os discípulos de que o Messias seria glorificado. Contudo, eles diferiam de Jesus em seu ponto de vista sobre o que constituía a “glória”. Não há dúvida de que a glória do Messias foi apresentada no Antigo Testamento por meio de emblemas e símbolos de glória terrena: coroas, cetros, mantos, tronos, oficiais, servos, louvor, poder militar, etc. Não havia nenhuma dessas coisas quando Cristo caminhava na estrada para Emaús. No entanto, Ele sugeriu, conforme lemos no versículo 26, que já havia entrado em “sua glória”. Portanto, grande parte do sermão de Cristo, nessa ocasião, deve ter envolvido a explicação de realidades espirituais que estavam por trás do simbolismo terreno, a fim de mostrar que seu reino não era “deste mundo”, que sua glória era primariamente espiritual e celestial, que seu trono estava “dentro deles” e suas armas mais poderosas eram a Palavra e o Espírito Santo.



3. Discernimento da Fé

É provável que nenhuma outra viagem tenha se passado tão rápido! Quando parecia que o companheiro de viagem daqueles discípulos estava para separar-se deles, nos limites de Emaús, não nos surpreendemos ao ler que o constrangeram a ficar com eles e continuar o estudo bíblico. Obtendo sucesso em persuadi-lo, sentaram-se para comer. Em seguida, “tomando ele [Jesus] o pão, abençoou-o e, tendo-o partido, lhes deu; então, se lhes abriram os olhos, e o reconheceram; mas ele desapareceu da presença deles” (vv. 30-31). Os discípulos olharam um para o outro, refletiram sobre sua viagem recente e disseram: “Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras?” (v. 32). Consideremos os três estágios dessa “ardência espiritual no coração”.


a) Jesus abriu as Escrituras

O que Cristo encontra quando abre a porta de Gênesis; depois, de Êxodo, de Levítico...? Encontra a si mesmo! Matthew Henry disse: “O próprio Jesus Cristo é o melhor expositor das Escrituras, particularmente das Escrituras concernentes a Ele mesmo”.4 Se Ele nos diz que pode ser encontrado desde o primeiro livro das Escrituras, “começando por Moisés”, então, que o encontremos ali. Negar a sua presença nesses livros é fingir ser um exegeta das Escrituras melhor do que Aquele que as inspirou!

Nesse encontro em Emaús, aprendemos os princípios mais fundamentais de interpretação do Antigo Testamento: os acontecimentos anteriores e posteriores a Cristo têm o seu significado nEle. J. C. Ryle salientou isso em seu comentário sobre esses versículos:

Ao ler a Bíblia, devemos ter em nossa mente o firme princípio de que Cristo é o assunto central de todas as Escrituras. Enquanto O mantemos diante de nossos olhos, jamais cometeremos grandes erros em nossa busca por conhecimento espiritual. Se O perdermos de vista, acharemos a Bíblia inteira um livro obscuro e cheio de dificuldades. Jesus Cristo é a chave do conhecimento bíblico.5
Graeme Goldsworthy foi ainda mais incisivo ao escrever:
Quando chegamos a compreender o Novo Testamento à luz do que vem antes, no Antigo Testamento, entendemos que é a revelação mais plena e a palavra final de Deus em Cristo que dão significado a todas as coisas. Cristo e, portanto, o Novo Testamento interpretam o Antigo Testamento.6
O Novo Testamento nos ensina a examinar o Antigo Testamento com olhos cristãos, nos ensina a estudá-lo à luz do evangelho. Goldsworthy prossegue explicando como navegar nessa exegese “para-trás-e-para-frente”:

Não começamos em Gênesis 1 e continuamos para frente até descobrirmos aonde estamos sendo levados. Em vez disso, primeiro vamos a Cristo, e Ele nos direciona a estudar o Antigo Testamento à luz do evangelho. O evangelho interpretará o Antigo Testamento por mostrar-nos seu objetivo e significado. O Antigo Testamento aumentará nossa compreensão do evangelho por mostrar-nos o que Cristo cumpre.7

Desde o nosso ponto de partida com Cristo, movemo-nos para trás e para frente entre os dois Testamentos. Nosso entendimento do evangelho é aprimorado pela nossa compreensão de suas raízes no Antigo Testamento, e, ao mesmo tempo, o evangelho nos mostra o verdadeiro significado do Antigo Testamento. Seria difícil delinear essa inter-relação entre os dois Testamentos em uma teologia bíblica escrita. Contudo, devemos tentar fazer isso por enfatizarmos a Cristo tanto como nosso ponto de partida como o alvo em direção ao qual nos movemos. Cristo é o lugar onde começamos porque nos mostra com o que realmente se preocupa a mensagem revelada do Antigo Testamento.8

Vern Poythress é, também, um forte defensor desse movimento “Novo e Antigo” na interpretação do Antigo Testamento. Ele escreveu:
Se estou certo em pensar que o Novo Testamento completa a história que Deus iniciou no Antigo Testamento, é bastante oportuno que agora eu olhe para trás, à luz da história completa, e veja o que mais posso aprender com sua primeira metade.9

b) Jesus abriu os olhos deles

Os dois discípulos não eram cegos. Eles viram Cristo com seus olhos físicos. Potanto, essa ação de abrir os olhos não significa conceder visão física, e sim visão espiritual. Além de abrir as Escrituras para eles, Cristo abriu-lhes os olhos da fé, que estavam temporariamente fechados.

Esse abrir os olhos parece estar associado com o partir o pão e o dar graças. Embora esses dois homens “do círculo de discípulos mais amplo” provavelmente não estivessem no cenáculo quando a ceia do Senhor foi instituída, talvez os outros discípulos “do círculo mais restrito” lhes falaram sobre a Ceia. De repente, eles perceberam que estavam sentados à Ceia do Senhor, quando Ele partiu o pão. É possível que tenham reconhecido a maneira como Ele se portava à mesa, maneira com a qual estavam familiarizados. Contudo, é mais provável que tenham visto as marcas dos cravos nas mãos do Senhor, quando ele partiu o pão. Não temos certeza. Tudo que sabemos é que agora viam seu companheiro de refeição sob uma luz completamente nova. E isso era obra do Senhor.


c) Jesus abriu o coração deles

Eles não o viram por muito tempo antes de desaparecer. Mas foi tempo suficiente para mudar toda a visão deles quanto ao mundo e ao seu passado recente. Enquanto refletiam sobre os privilégios espirituais desfrutados nas horas recentes, começaram a reconhecer que a fé tivera seu início na estrada e florescera à mesa. Esses sentimentos estranhos, aquele afeto incomum, a empolgação espiritual que sentiram, à medida que Jesus expunha as Escrituras, na estrada, era a fé sendo alimentada, nutrida e despertada de seu estupor. Michael Barrett resumiu isso assim:

O problema era dureza de coração. A necessidade era um estudo cristocêntrico das Escrituras do Antigo Testamento.10
Agora, eles não comparavam mais observações, e sim corações, enquanto reconsideravam o sermão de Cristo na estrada. Seu coração frio fora aquecido. Seu coração sombrio havia sido iluminado. Seu coração embaçado começara a brilhar mais uma vez. Seus planos de passar a noite naquele lugar foram desfeitos. Precisavam contar aos outros, não no dia seguinte, e sim naquela mesma noite. Eles não se preocuparam com a escuridão, com o perigo, com a distância. Retornaram imediatamente a Jerusalém, com o coração ardente, proclamando: “O Senhor ressuscitou!” (Lc 24.34).

Princípios de Interpretação
  • Cristo está presente, revelado e deve ser buscado em cada livro do Antigo Testamento, de Gênesis a Malaquias.
  • Textos do Antigo Testamento devem ser interpretados pelo acontecimento definitivo do evangelho.
  • Cristo é o ponto de partida para a interpretação do Antigo Testamento.


1 Duduit, M. The church’s need for Old Testament preaching. In: Klein, George L. (Ed.). Reclaiming the prophetic mantle. Nashville: Broadman, 1992. p. 10.
2 Archer, G. L. A new look at the Old Testament. Decision, Charlotte, p. 5, Aug. 1972.
3 Henry, M. Commentary on the whole Bible. Iowa: Word Bible Publisher, [19--]. p. 837.
4 Ibid. p. 838.
5 Ryle, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas. São José dos Campos, SP: Fiel, 2002. p. 388.
6 Goldsworthy, G. According to plan. Illinois: IVP, 1991. p. 52.
7 Ibid. p. 54-55.
8 Ibid. p. 76.
9 Poythress, V. The shadow of Christ in the law of Moses. Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 1991. p. vii.
10 Barrett, M. Beginning at Moses. Greenville: Ambassador-Emerald, 2001. p. vii.


 



Tradução: Ana Paula Eusébio Pereira
Revisão: Pr. Wellington Ferreira

Copyright ©2009 David Murray / PRTS
©Editora FIEL 2010.


Texto extraído do livro: Bright Shadows – Preaching Christ from the Old Testament no Puritan Reformed Journal. Com permissão de PRTS. 

Arqueologia


Uma equipe internacional de arqueólogos descobriu em caverna da Armênia uma unidade completa de produção de vinho, de 6.100 anos de antiguidade, a mais antiga conhecida até então. Antes disso, vestígios comparáveis a esses equipamentos de produção vinícola remontavam a 5.000 anos.
"Pela primeira vez, temos uma imagem arqueológica completa de um sistema de produção de 6.100 anos", felicitou-se Gregory Areshian, responsável pelas escavações e vice-diretor do Instituto de Arqueologia Cotsen da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, nos Estados Unidos.
Entre os objetos descobertos estavam sementes de uva, restos de grãos prensados, ramos de videira atrofiados, uma prensa rudimentar, uma cuba em argila aparentemente usada para a fermentação, cacos de cerâmica impregnados de vinho, além de taça e caneca para bebê-lo.
A descoberta foi realizada no mesmo sítio de cavernas onde foi encontrado, em junho de 2010, um mocassim de couro perfeitamente preservado datando de 5.500 anos, o que fez dele o mais velho calçado conhecido no mundo.
As cavernas ficam numa espécie de cânion situado na província armênia de Vayotz Dzor, região na fronteira do Irã com a Turquia.
Análises químicas confirmaram a data das instalações e de outros objetos, e a escavação foi financiada em parte pela National Geographic Society, segundo texto publicado na edição on-line do Journal of Archaeological Science.