segunda-feira, 8 de julho de 2013

E agora Egito ?

Os acontecimentos desta semana no Egito podem levar a mudanças em todo o Oriente Médio. Primeiramente vejamos o que aconteceu.

Há dois anos e três meses, a revolta popular no país dos Faraós, com certa ajuda americana, levou a deposição do presidente Mubarak, que continuava o regime dos antecessores militares de ha décadas. 

Em junho de 2012, realizou se o segundo turno das eleições com o surpreendente resultado no qual a Irmandade Muçulmana com pequena vantagem (51.7%) as venceu para o azar desta agremiação, que nem quis participar e, depois que um dos seus lideres carismáticos foi impugnado pela justiça, a tarefa caiu sobre o cinzento e inexpressivo Mursi. Participar das eleições obriga a tomar posições e, se sai vencedor, tem que governar, isto é, arcar com responsabilidades. É sempre mais fácil ficar fora da carroça e lançar ovos (na melhor das hipóteses) aos que viajam nela.

No ano em que governou, Mursi cometeu muitos erros que lhe trouxeram a ira popular. O Egito de 90 milhões de habitantes está muito mal economicamente e seu governo não só que não conseguiu melhorar a situação, como piorou. As reservas de moeda estrangeira, bem como os estoques de farinha e combustível, estão no vermelho. O turismo, uma boa fonte de renda, está em baixa devido a situação.

Há islamitas que perpetram atentados contra turistas ocidentais, por não agirem de acordo com a lei muçulmana e isto também afasta os turistas. O cúmulo foi a nomeação para o governo de Luxor, região turística, de um líder da Jamaã Islâmica que, em 1997, atacou turistas, matando 58 deles.

Mursi promoveu lenta, mas garantida islamizarão do país. Fez expurgos em lugares chaves do Ministério da Educação, revendo livros de estudos e colocando inspetores nomeados pela Irmandade Muçulmana para implementar sua ideologia.

Baixou lei de aposentadoria prévia dos juízes, para mandar embora 3.000 juízes e colocar outros ligados a Irmandade Muçulmana. Um meio de amedrontar os meios de comunicação foi processar jornalistas que criticam o Islã.

O presidente egípcio passou constituição baseada na tradição islâmica, que é contrária ao liberalismo e progresso do século XXI e, por cima, trouxe a ira dos militares, a espinha dorsal do regime egípcio, quando apenas um mês depois de tomar posse, fez um expurgo demitindo a cúpula militar e nomeando o general mais jovem do alto comando militar, o islamita Abdel Fatah el Sisi para ser seu ministro de Defesa e comandante do Exercito, este mesmo que agora lhe deu o ultimato e o chute para fora do governo.
Poucos dias duraram as gigantescas manifestações populares que aglomeraram milhões de pessoas em todo o país, para que o Exército tomasse atitude e derrubasse o governo que foi eleito democraticamente. Esta frase é bem problemática aos EUA.

Foi Obama que, no início de 2011, em nome da democracia, deu o último empurrão que derrubou Mubarak, seu aliado no Egito, um ato que certamente ele se arrependeu. Agora, o seu governo não pode dizer que a derrubada de Mursi é um golpe militar, pois nesse caso o Congresso impede qualquer ajuda e o Egito cai mais no abismo. Aliás, os manifestantes não necessariamente são pessoas seculares ou progressistas, eles apenas lutam pela melhoria das condições no Egito.

Entre eles se viam muitos com vestes religiosas e também a queima de bandeiras dos EUA, Qatar e Israel, que sempre gera a pergunta: por que? O povo egípcio mostrou a bandeira vermelha e expulsou Mursi. Até a manchete no importante jornal egípcio Al Aharam foi "Demita-se ou serás expulso" que em árabe rima.

O Exército apressou se em deter Mursi e cerca de 300 lideres da Irmandade Muçulmana, as TVs islâmicas foram fechadas. Lideres ocidentais manifestaram esperança para o "breve retorno da democracia ao país".
De que democracia estes lideres falam? Os países árabes não tem tradição democrática, nem sabem o que é e talvez levará muitos anos ate conseguir implementar uma certa democracia.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, qualificou o Egito como "uma ilha de estabilidade nesta turbulenta região". Muito se falou ultimamente do futuro do islã político, mas quem pergunta qual é o futuro do islã político, provavelmente não sabe o que é a religião islâmica.

O Islã não é somente uma religião, é também uma forma de vida, que entra em todos os pormenores, ditados pela religião.

O governo dos Irmãos muçulmanos, encabeçado por Mursi, foi ruim para Israel. Sim, ele manteve o acordo de paz, sabendo que se não o fizesse, faliria totalmente pela falta de ajuda econômica americana de bilhões de dólares anuais. Mas Mursi não fez nesse ano nenhum contato com o governo de Israel nem com quem o encabeça.

Desde que ele subiu ao poder, não permitiu a entrada de nenhum jornalista portando passaporte israelense ao seu pais. Com seus antecessores, o Estado Judeu tinha relações e até mútuas visitas.
Por outro lado, as relações com os órgãos de segurança e militar foram as melhores nesse período. Os comandantes militares egípcios, formados em academias militares europeias e americanas, entendem que as boas relações com Israel são do seu próprio interesse, para a segurança do Egito e para obter ajuda americana.

A derrubada de Mursi é um duro golpe ao Hamas, organização filiada a Irmandade Muçulmana e nela viu um modelo e tinha esperança. O Hamas rompeu relações do seu protetor Assad, da Síria, e onde tinham sua sede. Depois rompeu as relações com os xiitas do Hezbollah e Irã, que os financiava, e agora fica carente da "mãe", a Irmandade Muçulmana.

Esse enfraquecimento poderá levar o Hamas a fazer atos irracionais como o de promover arruaças e mortes na egípcia Península de Sinai ou mesmo contra Israel. Por outro lado, talvez por sua posição enfraquecida, Mahmud Abbas, presidente da rival Autoridade Palestina, se sentirá mais forte para tentar reaver a Faixa de Gaza e voltar governar a região unindo os palestinos, ora divididos.

Essa sensação de fortalecimento poderia, se quisesse, levá-lo retornar a mesa de negociações e finalmente tratar – e talvez assinar- um tratado de paz com Israel. Agora, depois do grande feito popular, o mais importante é saber o que trará o amanhã. Seja lá quem tomar o governo (democraticamente ou não), sua tarefa será bem árdua.

A população egípcia cresce assustadoramente e a pobreza também. Pobreza esta que chega a um ponto que não aguenta mais e ai novamente o vulcão explode e com ele pode haver terremoto na região toda.


Fonte: Jornal Alef
David S. Moran, direto de Israel 

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