sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Série: Apocalipse n°6 [2.18-29].


 

Traição por Inveja e Ciúme – O Caso de Caim e a Morte de Abel

Fonte: Diário de um Servo

A Bíblia nos apresenta a história de Caim e Abel como o primeiro registro de traição e violência entre irmãos, motivada por sentimentos de inveja e ciúme. A história está em Gênesis 4, e mostra Caim, um lavrador, e Abel, um pastor de ovelhas, apresentando suas ofertas a Deus. Deus aceita a oferta de Abel, mas rejeita a de Caim. Em vez de refletir sobre o motivo de sua oferta não ter sido aceita, Caim se encheu de fúria e inveja contra o próprio irmão. Essa inveja o levou a cometer um ato extremo: matar Abel no campo, um lugar de privacidade e falsa confiança entre os irmãos.

Motivações e Consequências

A motivação de Caim foi a inveja, o desejo por aquilo que o outro tem (a aprovação de Deus) e o ciúme, o medo de perder o que tem para o outro (o lugar de primogênito e a atenção de Deus). A traição aqui não é um engano sutil, mas um ato de violência brutal que quebrou a confiança familiar e a ordem divina. A consequência para Caim foi a maldição: ele foi expulso da presença de Deus e da sua família, tornando-se um errante na terra. A terra, que antes o nutria, agora se recusava a dar seus frutos a ele.

A Relação com Nossos Dias

Esse padrão de comportamento se repete em diversas esferas da sociedade. Líderes políticos que traem seus eleitores por inveja do sucesso alheio, empresários que sabotam concorrentes por ciúme do seu crescimento ou mesmo membros de uma comunidade que criam discórdia por não aceitarem a prosperidade de seus vizinhos. Em nível nacional, a inveja pode se manifestar na forma de políticas públicas criadas para prejudicar uma classe ou grupo específico, ou na sabotagem de iniciativas de sucesso por pura mesquinhez política. Essas atitudes corroem a confiança social, criam divisões e impedem o progresso de uma nação.

terça-feira, 5 de agosto de 2025

O Decreto de Ciro: Liberdade e o Retorno de um Povo [Judeu].

 O Decreto de Ciro, emitido por volta de 538 a.C., é um dos documentos mais significativos da história do Oriente Médio antigo. Ele não apenas pôs fim ao cativeiro babilônico de quase 70 anos para o povo judeu, mas também desencadeou uma série de eventos com profundas implicações políticas, sociais, econômicas e religiosas. 

Para o blog Diário de um Servo, vamos explorar esse decreto, sua função no plano de Deus e como ele moldou o futuro do povo de Israel.

Contexto Histórico: A Ascensão de um Império

Para entender o decreto, precisamos primeiro olhar para o cenário geopolítico da época. A Babilônia era a grande potência do momento, liderada por Nabucodonosor II, que em 586 a.C. destruiu o Templo de Jerusalém e deportou a elite judaica para a Babilônia. No entanto, o Império Babilônico era frágil.

Em 539 a.C., Ciro II, o Grande, rei da Pérsia, conquistou a Babilônia. Ciro não era um governante opressor. Sua política de governo era a de tolerância religiosa e cultural. Ele acreditava que, ao permitir que os povos retornassem às suas terras e adorassem seus próprios deuses, ele ganharia a lealdade de seus súditos e estabilizaria seu vasto império. O Decreto de Ciro é um reflexo direto dessa política.

O Conteúdo do Decreto

O decreto está registrado em textos bíblicos (2 Crônicas 36:23 e Esdras 1:2-4) e é parcialmente corroborado por um artefato arqueológico chamado Cilindro de Ciro, um documento de argila que descreve a conquista da Babilônia e a política de Ciro de restaurar templos e repatriar povos.


Cilindro de Ciro, o Grande - Museu Britânico

Em essência, o decreto fazia duas coisas cruciais:

  1. Autorizava o retorno dos judeus a Jerusalém. Ciro permitiu que os exilados voltassem à sua terra natal para reconstruírem suas vidas e seu centro de culto.

  2. Autorizava a reconstrução do Templo de Jerusalém. Mais do que apenas o retorno físico, Ciro forneceu recursos financeiros e materiais para que os judeus reconstruíssem o Templo. Ele inclusive devolveu os utensílios sagrados que Nabucodonosor havia saqueado.

As Implicações do Decreto

Implicações Políticas

O decreto de Ciro serviu como um instrumento de estabilidade política para o Império Persa. Ao permitir a restauração de um templo e um centro de culto em Jerusalém, ele criou uma província leal e agradecida na fronteira oeste de seu império. A Judeia se tornou uma espécie de estado-tampão, protegendo a Pérsia de possíveis incursões egípcias. Os judeus, por sua vez, passaram a ter uma relação de lealdade com os persas, vendo Ciro como um libertador.

Implicações Sociais e Econômicas

O retorno à Judeia não foi fácil. A terra estava desolada, e os judeus que permaneceram durante o exílio haviam se misturado com outros povos. O decreto desencadeou um movimento migratório complexo e lento. A reconstrução de Jerusalém e do Templo gerou a necessidade de mão de obra e a organização de uma nova sociedade. A liderança foi disputada entre os que retornaram e os que ficaram. Economicamente, a Judeia se tornou uma província do império persa, sujeita a impostos, mas com certa autonomia administrativa.

Implicações Religiosas e o Plano de Deus

Do ponto de vista teológico, o decreto de Ciro é visto como a concretização das profecias. Profetas como Jeremias e Isaías haviam predito que o cativeiro duraria um tempo determinado e que Deus usaria um rei estrangeiro para libertar Seu povo. O profeta Isaías chega a se referir a Ciro como "o ungido" (Isaías 45:1), mostrando que, aos olhos de Deus, esse rei pagão era um instrumento divino.

O decreto foi fundamental para a restauração da identidade judaica. O Templo era o coração da vida religiosa. Sua reconstrução não era apenas um ato de arquitetura, mas a reafirmação da aliança entre Deus e Seu povo. A libertação do cativeiro e a reconstrução do Templo foram entendidas como um sinal de que Deus estava operando para cumprir Suas promessas, preparando o terreno para a vinda do Messias.

Em suma, o Decreto de Ciro é um exemplo claro de como Deus usa a história e os poderosos da terra para cumprir Seus propósitos. Através de um decreto político de um rei pagão, o plano salvífico de Deus avançou, garantindo a sobrevivência e a restauração do povo de Israel.

Fontes Consultadas

  • Bíblia Sagrada (2 Crônicas, Esdras, Isaías).

  • A Bíblia de Estudo Arqueológica. Sociedade Bíblica do Brasil.

  • The Cyrus Cylinder. British Museum. (Disponível online em: https://www.britishmuseum.org/collection/object/W_1880-0617-1941)

  • Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABP). (Estudos e artigos sobre o período persa).

  • Site do Bible History Daily. Biblical Archaeology Society. (Artigos sobre o exílio e o retorno).

domingo, 3 de agosto de 2025

Felipe, o evangelista

 Lição da EBD

  • Atos 8:4-13, 26-40
  • Tx. Áureo: Atos 8:4

                   Enquanto isso, os que foram dispersos iam por toda parte pregando a palavra (Atos 8:4).

Introdução

  • O contexto em que trata Atos 8 é de perseguição e expansão do evangelho.
  • O cenário é Jerusalém.
  • Os capítulos 5:41, 6:3-7 tratam da perseguição da Igreja.

ü  Os apóstolos (incluindo Matias) - Atos 1:15-26.

ü  Estêvão - Atos 6:5.

 Quanto a Estêvão, um homem de Deus:

a. Fazia parte do corpo diaconal da Igreja primitiva (Atos 6:5).

b. Não era apóstolo, mas se dedicava ao ensino da palavra.

c. Era um homem poderoso na palavra (Atos 6:10).

d. Realizava muitos milagres e sinais entre o povo (Atos 6:8).

e. Mesmo sendo um gentio e diácono.

Os membros da sinagoga dos libertos (Ex-escravos):

  • Cireneus: norte da África - Líbia.
  • Alexandrinos: Egito.
  • Cilicia: sul da Anatólia - Turquia.
  • Província da Ásia.

 Levantar um falso testemunho (Atos 6:11-14):

a. Blasfêmia contra Moisés e contra Deus.

b. Falar constantemente contra o templo e a lei mosaica.

c. Ter dito que Jesus destruiria o templo e mudaria os costumes deixados por Moisés.

d. Todos esses crimes eram passíveis de morte (Levítico 24:16; Deuteronômio 13:6, 11).

  • No capítulo 7, temos o discurso de Estêvão. Ele acusa as autoridades (7:51-53).

⁵¹ Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim vós sois como vossos pais. ⁵² A qual dos profetas não perseguiram vossos pais? Até mataram os que anteriormente anunciaram a vinda do Justo, do qual vós agora fostes traidores e homicidas; ⁵³ Vós, que recebestes a lei por ordenação dos anjos, e não a guardastes. ⁵⁴ E, ouvindo eles isto, enfureciam-se em seus corações, e rangiam os dentes contra ele. ⁵⁵ Mas ele, estando cheio do Espírito Santo, fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus, e Jesus, que estava à direita de Deus; ⁵⁶ E disse: Eis que vejo os céus abertos, e o Filho do homem, que está em pé à mão direita de Deus. Atos 7:51-56

  • A morte de Estêvão foi por apedrejamento, visto que ninguém podia tocar em um herege (Levítico 24:14, 15:33; Deuteronômio 17:7).
  • Alguns homens piedosos enterraram Estêvão, lamentando (8:2).
  • Com sua morte, a Igreja em Jerusalém se dispersa. As 5.000 pessoas de Atos 4:4, saíram evangelizando. Com os irmãos ia a pregação do evangelho (8:4), só os apóstolos ficaram em Jerusalém (8:1).

I. Felipe evangeliza a cidade

1. Compreendendo os bastidores:

    • Segundo Lucas, Felipe foi à cidade de Samaria (8:5).
    • A escolha de Felipe envolveu a quebra de paradigmas (modelo).

·        Historicamente, existia uma rivalidade entre judeus e samaritanos.

    • Origem: Fim da monarquia - Século VIII a.C. (1 Reis 12:1-20).
    • Ocorreu a divisão do reino de Israel (Norte/Sul).
    • Em 722 a.C., a Assíria capturou Samaria.

ü  A Assíria repovoou a região com povos de várias nacionalidades (2 Reis 17:24-28).

ü  Tivemos o início de um culto misto em Samaria (2 Reis 17:29-41).

ü  A construção de um templo rival no monte Gerizim (João 4:20) muito tempo depois, por volta de 170 a.C., porém ainda considerado um local sagrado [Josué 8.33 - Gerizim - Monte Ebal.], já que foi citado no Pentateuco que os samaritanos consideravam o único livro sagrado. Este também era um elemento de discórdia entre judeus e samaritanos.

  • Os judeus tratavam os samaritanos como:
    • Povo híbrido na raça e religião.
    • Hereges e cismáticos.
  • A ação de Felipe (judeu helenista) deve ser imitada.
    • Precisamos amar a todos sem distinção.
    • Precisamos como Igreja alcançar os marginalizados do nosso tempo.
    • Cristo em sua época andou no meio das prostitutas, leprosos e publicanos.
    • Cada inimigo convertido tornou-se amigo.
    • O que estamos fazendo como Igreja?

 

2. Felipe prega em uma região discriminada.

“Felipe foi à cidade de Samaria e anunciava Cristo ao povo dali” (Atos 8:5).

  • A perseguição levou Felipe para longe de Jerusalém.
  • Deixou tudo para trás.
  • Ele escolhe Samaria, quem sabe, pela proximidade, ou quem sabe por saber que eles também esperavam o Messias.

A mulher respondeu: "Eu sei que virá o Messias, chamado Cristo. Quando Ele vier, nos anunciará todas as coisas" (João 4:25).

  • O resultado da sua ação foram multidões unânimes atentas à sua palavra. Alguém parou para ouvir?
  • Felipe anunciava a Cristo com grande poder (8:6, 7).
  • As palavras que as autoridades judaicas viam como ameaça, os samaritanos recebiam com alegria.

"E houve grande alegria naquela cidade" (Atos 8:8).

  1. As boas novas de Cristo chegam a Samaria através:

a.        da mensagem do evangelho,

b.       da libertação (pessoas endemoniadas)

c.        e da cura.

  1. Deus por meio das maravilhas confirmava a pregação de Felipe.

3. Felipe e Simão, o mago

  • Em meio à alegria reinante pela ação divina, havia problemas em Samaria. Simão era o seu nome.
  • Ele era um mágico famoso, tinha grande credibilidade diante do povo (8:9-10).
  • Já fazia um bom tempo que enganava o povo de Samaria com seus truques (8:11).

Observação:

    • Como o povo crédulo é fácil de ser enganado.
    • O povo tende a aceitar com menor resistência respostas simples para problemas complexos.
    • Só o evangelho tem o poder de libertar os homens destes apertos existenciais.
  • Com a chegada de Felipe a Samaria, as coisas mudaram para Simão.

"Mas, quando creram em Felipe, que lhes pregava acerca do reino de Deus e do nome de Jesus, deixaram-se batizar, tanto homens quanto mulheres" (8:12).

  • O evangelho confirmado pelas maravilhas ofusca os truques de Simão.
  • Até o mago creu, foi batizado e acompanhava Felipe (Atos 8:13).
  • Contudo, seu coração não era reto diante de Deus.

Nos versos 14-25, temos a chegada dos apóstolos vindos de Jerusalém para avaliar o mover de Deus em Samaria (Pedro e João).

¹⁴ Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João. ¹⁵ Os quais, tendo descido, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo¹⁶ (Porque sobre nenhum deles tinha ainda descido; mas somente eram batizados em nome do Senhor Jesus).¹⁷ Então lhes impuseram as mãos, e receberam o Espírito Santo.¹⁸ E Simão, vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o Espírito Santo, lhes ofereceu dinheiro,¹⁹ Dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre quem eu puser as mãos receba o Espírito Santo.²⁰ Mas disse-lhe Pedro: O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro. ²¹ Tu não tens parte nem sorte nesta palavra, porque o teu coração não é reto diante de Deus.²² Arrepende-te, pois, dessa tua iniquidade, e ora a Deus, para que porventura te seja perdoado o pensamento do teu coração; ²³ Pois vejo que estás em fel de amargura, e em laço de iniquidade. ²⁴ Respondendo, porém, Simão, disse: Orai vós por mim ao Senhor, para que nada do que dissestes venha sobre mim. ²⁵ Tendo eles, pois, testificado e falado a palavra do Senhor, voltaram para Jerusalém e em muitas aldeias dos samaritanos anunciaram o evangelho. Atos 8:14-25

  • O texto nos fala que, ao orar sobre os recém-convertidos de Samaria, os irmãos recebiam o Espírito Santo.
  • Simão, vendo isso, procura comprar o poder divino (8:17).
  • Pedro o repreende:

"Que a tua prata seja contigo para a tua destruição, pois pensaste em adquirir com dinheiro o dom de Deus. Tu não tens parte nem responsabilidade neste ministério, pois o teu coração não é correto diante de Deus. Portanto, arrepende-te dessa tua maldade e roga ao Senhor, na esperança de que te seja perdoado o propósito do teu coração, pois vejo que estás cheio de amargura e em laços de maldade" (Atos 8:20-23).

  • Simão havia usado a magia para impressionar o povo, agora queria impressioná-los com sua habilidade para conceder o Espírito Santo.
  • A palavra de Pedro deixa claro que ele:

ü  não havia sido convertido.   

ü  A fé é a única atitude aceitável para quem se aproxima de Deus (⁶ E creu ele no Senhor, e imputou-lhe isto por justiça. - Gênesis 15:6 ).

  • O retorno dos apóstolos para Jerusalém certamente foi testemunhando de Cristo às aldeias samaritanas.

Uma questão importante:

Por que os samaritanos não receberam o Espírito de Deus quando creram e foram batizados? (8:12).

  • 1. tese: O Pentecostes ocorreu em três etapas:
    • Os judeus (Atos 2)
    • Os samaritanos (Atos 8).
    • Os gentios (Atos 10:44).
    • O preconceito entre estes povos era tão grande que Deus exigiu um sinal especial de Deus.
  • 2. tese: A conversão dos samaritanos só aconteceu depois que chegaram Pedro e João. A liderança em Jerusalém enviou-os porque entendeu que alguma coisa estava errada.
  • 3. tese: O que foi recebido não foi o Espírito, mas as evidências, os sinais exteriores (que não são mencionados, mas eram marcantes).

II. Felipe evangeliza o etíope (Atos 8:26-40)

  • Os versos 1-13 se dão dentro de um contexto urbano.
  • Os versos 26-40 tratam de um ambiente rural (deserto).
  • Lição: A importância de obedecer a Deus.

"Mas um anjo do Senhor falou a Filipe: Levante-se e vai em direção ao sul, pelo caminho deserto que desce de Jerusalém para Gaza" (Atos 8:26).

1. Filipe encontrou o etíope (Atos 8:27-29)

  • O eunuco era uma pessoa de destaque na vida política da Etiópia.
  • Lucas afirma ser o administrador do tesouro real da rainha da Etiópia (8:27).
  • Ele tinha ido a Jerusalém para adorar o Senhor (27).
  • Voltava para casa em sua carruagem (puxada por bois).
  • Tinha dúvida acerca da palavra de Deus (Atos 8:28).
  • Havia um desejo enorme para conhecer melhor a Deus.
  • Diante disso, o Espírito Santo pede a Filipe para se aproximar do carro.

2. Filipe anunciou as boas-novas ao etíope (Atos 8:30-35)

  • Usado pelo Espírito de Deus, se aproxima do carro.
  • Ouve o etíope ler Isaías 53:7-8, que descreve o servo sofredor. Na época era costume ler em voz alta.
  • Como todo judeu, os samaritanos esperavam um Messias libertador político.
  • Felipe explica:

a.        que a libertação que Deus trouxe é, antes de tudo, espiritual.

b.       Os pecados podem ser perdoados porque Ele tomou sobre si o castigo que merecíamos.

c.        Estas são as boas-novas do evangelho de Jesus.

d.       Há uma transformação de vida, com efeitos em todos os nossos relacionamentos, e consequência obrigatória.

3. Felipe batizou o etíope (Atos 8:36-39)

"Seguindo pelo caminho, chegaram a certo lugar onde havia água. Então o eunuco disse: ‘Eis aqui água. O que impede que eu seja batizado?’ Filipe respondeu: ‘É lícito, se você crê de todo o coração.’ Então ele disse: ‘Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus.’ Então mandou parar a carruagem; ambos desceram à água, e Filipe batizou o eunuco. Quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe, e o eunuco não o viu mais; e este, seguindo o seu caminho, cheio de alegria. Mas Filipe foi visto outra vez em Azoto; e, seguindo viagem, evangelizava todas as cidades até chegar a Cesaréia" (Atos 8:36-40).

  • A direção do Espírito de Deus fica mais clara quando Felipe e o eunuco chegam a um raro lugar com água no deserto e, precisamente, quando o eunuco pede para ser batizado.
  • O batismo é uma ordenança que Jesus deixou (Mateus 28:19) e que simboliza nossa união com Cristo, através de Sua morte e ressurreição (Romanos 6:3-4).
  • Filipe tinha consciência da profundidade e da solidez da decisão do etíope de ser batizado. Lembrar do batismo de um endemoniado [mídia].
  • Desceram às águas, e o eunuco agora é cristão. Ele foi batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo de Deus (Atos 8:39).

4. Filipe foi retirado da presença do etíope (Atos 8:37-40)

"Quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe, e o eunuco não o viu mais; e este, seguindo o seu caminho, cheio de alegria. Mas Filipe foi visto outra vez em Azoto; e, seguindo viagem, evangelizava todas as cidades até chegar a Cesaréia" (Atos 8:39-40).

  • Filipe foi arrebatado e levado embora, de forma muito semelhante a Elias (2 Reis 2:11).
  • Foi levado para a região litorânea, primeiramente a Azoto (Asdode no Antigo Testamento) e depois a Cesaréia, onde parece que se estabeleceu (Atos 21:8).

"No dia seguinte, partindo dali Paulo, e nós que com ele estávamos, chegamos a Cesaréia; e, entrando em casa de Filipe, o evangelista, que era um dos sete, ficamos com ele" (Atos 21:8).

 

Conclusões

  • Lucas descreve no capítulo 8 dois tipos de evangelização:
    • a. Evangelização em massa.
    • b. Evangelização pessoal.
  • Em ambas as formas de evangelismo, houve conversão, batismo e alegria.
  • Precisamos pregar a mesma mensagem.

Deus seja conosco. Amém.

quarta-feira, 30 de julho de 2025

​Estudo do Salmo 37: Confiança em Meio à Injustiça

Este salmo é um cântico de sabedoria que encoraja os justos a confiar em Deus e a não se irritar com a prosperidade dos ímpios, pois o destino deles é a destruição, enquanto os justos herdarão a terra.

Salmo 37:1 - "Não te indígnes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade."

  1. Exortação à Serenidade: O salmista inicia com um chamado direto para não permitir que a indignação ou a raiva dominem o coração ao observar a aparente prosperidade dos que praticam o mal. A natureza humana tende a se frustrar e a questionar a justiça divina quando vê o iníquo prosperar.
  2. Advertência Contra a Inveja: Além da indignação, a inveja é outro sentimento perigoso que pode surgir. Comparar-se com aqueles que alcançam sucesso por meios desonestos pode levar à amargura e ao descontentamento com a própria condição.
  3. Foco na Perspectiva Divina: O verso nos convida a mudar o foco da situação presente para a perspectiva de Deus. Ele tem um plano e uma justiça que se manifestarão no tempo certo, e a nossa atitude deve ser de confiança, não de revolta.

Salmo 37:2 - "Pois eles dentro em breve definharão como a relva e murcharão como a erva verde."

  1. Natureza Transitória da Prosperidade Ímpia: O salmista utiliza uma metáfora vívida para descrever a efemeridade da prosperidade dos malfeitores. Assim como a relva e a erva verde, que são exuberantes por um curto período, mas rapidamente murcham e secam, a riqueza e o sucesso dos ímpios são passageiros.
  2. Juízo Inevitável: Este verso aponta para o juízo divino que, embora não seja imediato, é certo e inevitável. Aparentemente, eles podem prosperar, mas seu fim é a destruição, tanto nesta vida quanto na eternidade.
  3. Contraste com a Permanência dos Justos: Implicitamente, há um contraste com a permanência e a segurança daqueles que confiam em Deus, cuja herança é eterna e não está sujeita à transitoriedade da vida terrena.

Salmo 37:3 - "Confia no SENHOR e faze o bem; habita na terra e alimenta-te da verdade."

  1. Imperativo da Confiança: O comando central é "Confia no SENHOR". Esta não é uma confiança passiva, mas uma entrega ativa e deliberada a Deus, reconhecendo Sua soberania e bondade em todas as circunstâncias.
  2. Ação Virtuosa: A confiança é acompanhada de uma ação prática: "faze o bem". Nossa fé deve ser evidenciada por um comportamento justo e ético, independentemente do que os outros estejam fazendo. É um chamado a viver de forma contracultural.
  3. Estabilidade e Nutrição Espiritual: "Habita na terra" sugere permanecer firme e enraizado nos princípios de Deus, não se deixando abalar pelas adversidades. "Alimenta-te da verdade" nos exorta a buscar e nutrir-nos da Palavra de Deus, que é a fonte de sabedoria e discernimento para uma vida reta.

Salmo 37:4 - "Agrada-te do SENHOR, e ele satisfará os desejos do teu coração."

  1. Prazer em Deus: A expressão "Agrada-te do SENHOR" não significa buscar em Deus o que satisfaz nossos próprios desejos egoístas, mas encontrar alegria e satisfação Nele mesmo. É amar a Deus acima de todas as coisas e buscar a Sua vontade como prioridade.
  2. Transformação dos Desejos: Quando nos deleitamos no Senhor, nossos próprios desejos são transformados para se alinharem com os Seus. Nossas aspirações deixam de ser egocêntricas e passam a refletir o propósito e os valores divinos.
  3. Promessa de Cumprimento: Como resultado dessa transformação e deleite em Deus, Ele "satisfará os desejos do teu coração". Isso não é uma garantia para qualquer desejo caprichoso, mas sim para os desejos que Ele mesmo inspirou em nós, alinhados com a Sua vontade perfeita.

Salmo 37:5 - "Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais ele fará."

  1. Entrega Total: "Entrega o teu caminho ao SENHOR" é um convite para ceder o controle de nossa vida, nossos planos e nossas preocupações a Deus. É uma ação de abdicar do nosso próprio gerenciamento e permitir que Ele conduza.
  2. Confiança Ativa: A segunda parte, "confia nele", reitera a necessidade de uma confiança profunda e ativa. Não é apenas entregar, mas descansar na certeza de que Ele é fiel e capaz de lidar com aquilo que entregamos.
  3. Ação Divina Garantida: A promessa é clara: "e o mais ele fará". Isso significa que Deus agirá em nosso favor, de maneiras que talvez não possamos conceber, para cumprir Seus propósitos e nos guiar. Ele é o agente ativo em nossa vida.

Salmo 37:6 - "Fará sobressair a tua justiça como a luz e o teu direito, como o sol ao meio-dia."

  1. Vindicação Divina: Este verso é uma promessa de vindicação para os justos. Em um mundo onde o mal muitas vezes parece triunfar, Deus se compromete a expor a retidão de Seus filhos.
  2. Claridade Inegável: A metáfora da "luz" e do "sol ao meio-dia" enfatiza a clareza e a inegabilidade dessa vindicação. Assim como a luz dissipa as trevas, e o sol do meio-dia não deixa dúvidas sobre sua presença, a justiça de Deus será manifesta de forma irrefutável.
  3. Honra Pública: Implica que, no tempo de Deus, a verdade sobre o caráter e as ações dos justos será revelada e honrada, mesmo que no momento pareça obscurecida pelas circunstâncias ou pela malícia de outros.

Salmo 37:7 - "Descansa no SENHOR e espera nele, não te irrites por causa do homem que prospera em seu caminho, por causa do que leva a cabo os seus maus desígnios."

  1. Convite ao Descanso Espiritual: "Descansa no SENHOR" é um convite para encontrar paz e alívio das preocupações e ansiedades, entregando-as a Deus. É um estado de tranquilidade interior que vem da certeza de que Deus está no controle.
  2. Paciência Ativa na Espera: "Espera nele" complementa o descanso, indicando uma paciência ativa e expectante. Não é passividade, mas uma espera confiante no tempo e nos métodos de Deus, mesmo quando as respostas não são imediatas.
  3. Reiteração Contra a Irritação: O salmista repete a exortação para "não te irrites" com a prosperidade dos ímpios, reforçando a importância de manter a serenidade e a confiança, em vez de permitir que a injustiça alheia perturbe nossa paz interior.

Salmo 37:8 - "Deixa a ira, abandona o furor; não te impacientes; certamente, isso acabará mal."

  1. Renúncia à Ira e Fúria: O salmista faz um apelo explícito para que abandonemos a ira e o furor. Esses sentimentos negativos são destrutivos para a alma e podem levar a ações impensadas e pecaminosas.
  2. Perigo da Impaciência: A impaciência é destacada como um catalisador para a raiva e o furor. Quando não esperamos o tempo de Deus, somos mais propensos a reagir de forma precipitada e a tomar as rédeas da situação de maneira errada.
  3. Consequências Negativas: A advertência final é clara: "certamente, isso acabará mal." Ceder à ira, ao furor e à impaciência resultará em dano para nós mesmos, para nossos relacionamentos e para nossa caminhada com Deus.

Salmo 37:9 - "Porque os malfeitores serão exterminados, mas os que esperam no SENHOR possuirão a terra."

  1. Destino dos Malfeitores: Este verso reitera o juízo final sobre os ímpios. A palavra "exterminados" (ou "eliminados", "destruídos" em outras traduções) enfatiza a certeza de que a prosperidade deles é temporária e o fim é a ruína.
  2. Recompensa dos Que Esperam: Em contraste, aqueles que "esperam no SENHOR" – aqueles que confiam, descansam e aguardam pacientemente – herdarão a terra. Esta herança pode ter múltiplos significados: desfrutar da vida presente com a bênção de Deus, a possessão da terra prometida (para Israel) e, espiritualmente, a plenitude da vida no Reino de Deus.
  3. Justiça Divina Cumprida: Este verso conclui a primeira parte do salmo, enfatizando que a justiça de Deus prevalecerá. Embora possa parecer que os ímpios vencem por um tempo, a verdade é que os justos são os verdadeiros herdeiros das promessas de Deus.

Aplicação Geral do Salmo 37 (versículos 1-9):

​Em um mundo onde a injustiça muitas vezes parece triunfar e a maldade prosperar, o Salmo 37 nos oferece um antídoto poderoso contra a frustração e a inveja. Ele nos chama a desviar o olhar da aparente vantagem dos ímpios e a fixá-lo em Deus, o Justo Juiz e o Fiel Provedor.

​A mensagem central é uma exortação à confiança ativa e paciente em Deus. Não devemos nos indignar com o mal, pois a prosperidade dos ímpios é efêmera como a grama. Em vez disso, somos chamados a:

  1. Confiar e Fazer o Bem: Nossas ações devem ser guiadas pela retidão, independentemente das circunstâncias ou do comportamento alheio.
  2. Deleitar-nos no Senhor: Buscar nossa alegria e satisfação em Deus, permitindo que Ele transforme e alinhe nossos desejos com os Seus.
  3. Entregar Nosso Caminho a Ele: Ceder o controle de nossas vidas a Deus, confiando que Ele fará o que é melhor e justo no tempo certo.
  4. Descansar e Esperar: Manter a paz interior e a paciência, sabendo que Deus vindicará nossa justiça e que o destino dos ímpios é a ruína.

​A aplicação prática para nossa vida é que, em vez de nos desgastarmos com a indignação ou a inveja, devemos investir em nossa fé, obediência e relacionamento com Deus. A verdadeira prosperidade não está naquilo que o mundo oferece ou na aparente vantagem dos que praticam a iniquidade, mas na paz, na segurança e na herança que só Deus pode proporcionar àqueles que nEle confiam e esperam. Em última análise, a justiça prevalecerá e os justos herdarão a vida plena em Deus.

terça-feira, 29 de julho de 2025

Ser cristão em Israel em nossos dias

 A complexa teia de relações entre diferentes grupos religiosos em Israel, especialmente entre judeus e cristãos, é um tema sensível e muitas vezes mal compreendido. Embora a narrativa dominante possa focar em questões geopolíticas maiores, há, de fato, preocupações crescentes sobre a opressão e discriminação enfrentadas por comunidades cristãs por parte de grupos judeus radicais.

Tensão Religiosa em Israel: A Opressão de Cristãos por Grupos Judeus Radicais

A Terra Santa, berço das três grandes religiões monoteístas, é um mosaico de fé e cultura, mas também um palco de tensões e conflitos. Nos últimos anos, relatórios de organizações de direitos humanos e líderes cristãos têm acendido um alerta sobre o aumento da hostilidade e opressão dirigida aos cristãos em Israel, particularmente por parte de grupos judeus ultranacionalistas e ultraortodoxos.

A Natureza da Opressão

A opressão manifesta-se de diversas formas, desde a violência física e verbal até vandalismo de propriedades e assédio constante. Igrejas, mosteiros e cemitérios cristãos têm sido alvos frequentes de pichações, queima e profanação. Símbolos cristãos são desfigurados, e padres e fiéis são agredidos e insultados em público.

Um dos grupos mais frequentemente associados a esses atos é o chamado "Price Tag" (Preço a Pagar), um movimento extremista israelense que se originou em assentamentos da Cisjordânia. Embora suas ações fossem inicialmente direcionadas a palestinos e propriedades árabes, eles expandiram seus alvos para incluir as comunidades cristãs, especialmente em Jerusalém. Suas motivações parecem estar enraigadas em uma ideologia de supremacia judaica e um desejo de expulsar não-judeus da região.

Outros grupos ultraortodoxos, embora não diretamente envolvidos em violência, contribuem para um clima de intolerância através de discursos de ódio e segregação. Em algumas áreas, cristãos relatam serem hostilizados por sua fé, com tentativas de convertê-los ao judaísmo ou de pressioná-los a deixar seus bairros.

Contexto Político e Social

Especialistas apontam para uma interseção complexa de fatores que alimentam essa tensão. A crescente influência de partidos de direita e religiosos na política israelense, juntamente com o aumento do nacionalismo, criou um ambiente onde grupos extremistas se sentem mais à vontade para agir com impunidade.

"Há uma sensação de que esses grupos estão operando com uma permissão tácita, ou pelo menos com pouca repressão das autoridades", afirma Dra. Ana Maria Costa, socióloga especializada em conflitos religiosos na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "Isso cria um ciclo vicioso: quanto menos são punidos, mais ousados se tornam."

Além disso, a dinâmica demográfica em Jerusalém desempenha um papel crucial. À medida que comunidades ultraortodoxas se expandem, a pressão sobre as minorias, incluindo os cristãos, aumenta. A disputa por terras e espaços sagrados intensifica as fricções.

Impacto nas Comunidades Cristãs

O impacto desses atos de opressão nas comunidades cristãs é profundo. Há um sentimento crescente de medo e vulnerabilidade. Muitos cristãos, especialmente os jovens, estão considerando emigrar de Israel e dos Territórios Palestinos, o que representa uma ameaça à própria existência de algumas das comunidades cristãs mais antigas do mundo.

"Nossas igrejas e escolas estão sob ataque. Nossos jovens se sentem inseguros e não veem futuro aqui", lamentou o Padre Gabriel Haddad, líder de uma comunidade cristã em Jerusalém, em entrevista a um veículo internacional. "A indiferença da comunidade internacional e a falta de ação concreta das autoridades israelenses são desanimadoras."

Reações e Respostas

Organizações internacionais como a Human Rights Watch e a Anistia Internacional têm documentado consistentemente os ataques contra cristãos e apelado ao governo israelense para que tome medidas mais eficazes para proteger as minorias. Líderes religiosos cristãos em Israel e no exterior também têm emitido declarações conjuntas condenando a violência e exigindo justiça.

O governo israelense, por sua vez, geralmente condena os atos de violência e vandalismo, mas críticos argumentam que as ações tomadas para combater esses grupos são insuficientes. "A retórica oficial condena, mas a aplicação da lei e a punição dos agressores são inconsistentes", observa Dr. Elias Jabbour, analista político e professor de Relações Internacionais na Universidade de São Paulo (USP). "Há uma percepção de que, em muitos casos, os perpetradores são tratados com leniência."

Fontes e Leitura Adicional:

  • Human Rights Watch: Relatórios sobre liberdade religiosa em Israel e nos Territórios Palestinos.

  • Anistia Internacional: Documentação de ataques contra minorias religiosas em Israel.

  • The Times of Israel: Cobertura de notícias sobre violência contra cristãos e outras minorias.

  • Haaretz: Artigos de opinião e notícias investigativas sobre extremismo religioso em Israel.

  • Patriarcado Latino de Jerusalém: Declarações e comunicados sobre a situação dos cristãos na Terra Santa.

  • Conselho Mundial de Igrejas: Relatórios e posicionamentos sobre perseguição religiosa.

A complexidade da situação exige um olhar multifacetado e sensível. Para o eleitor brasileiro, é fundamental compreender que a narrativa de Israel é mais do que a questão israelo-palestina; ela envolve também a proteção de minorias e a garantia da liberdade religiosa para todos. A crescente opressão de cristãos por grupos radicais judeus é uma mancha na imagem de uma democracia e um lembrete das tensões profundas que ainda persistem na Terra Santa.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

O que pensam os cristão sobre Israel Histórico

 A percepção dos cristãos ocidentais sobre o Estado de Israel é complexa e multifacetada, com visões que variam desde o apoio incondicional até a crítica veemente, especialmente diante dos eventos recentes na Faixa de Gaza.

Percepção dos Cristãos Ocidentais sobre o Estado de Israel

Existem diversas correntes de pensamento entre os cristãos ocidentais em relação a Israel:

  • Cristãos Sionistas/Evangélicos Conservadores: Uma parcela significativa de cristãos evangélicos, especialmente nos Estados Unidos e no Brasil, tem uma visão teológica que interpreta a criação e a existência do Estado de Israel como o cumprimento de profecias bíblicas. Para eles, abençoar Israel (o Estado moderno) é um imperativo divino, muitas vezes levando a um apoio político e financeiro incondicional às suas ações. Essa visão pode, em alguns casos, marginalizar o sofrimento dos palestinos, incluindo os cristãos palestinos, e ignorar as complexidades políticas e humanitárias do conflito.

  • Cristãos da Teologia da Substituição/Amilenistas: Outros cristãos adotam a "teologia da substituição", argumentando que a Igreja (os seguidores de Jesus, sejam judeus ou gentios) substituiu Israel como "o povo escolhido" de Deus. Para eles, a terra prometida no Antigo Testamento agora se refere à nova comunidade da aliança em Cristo, e o Estado de Israel moderno não tem um significado teológico especial. Essa perspectiva tende a ser mais crítica às políticas israelenses e mais solidária com os palestinos.

  • Cristãos Preocupados com a Justiça e Direitos Humanos: Muitos cristãos, independentemente de sua linha teológica, são movidos por princípios de justiça, paz e direitos humanos. Eles se preocupam profundamente com o sofrimento de ambos os lados do conflito e, cada vez mais, com a situação dos palestinos. Essa preocupação os leva a criticar as ações militares de Israel e a ocupação dos territórios palestinos, buscando uma solução pacífica e justa para ambos os povos.

  • Cristãos Palestinos e suas Vozes: É fundamental destacar a perspectiva dos cristãos palestinos, que vivem no centro do conflito. Eles frequentemente se sentem esquecidos pela igreja global e sofrem as consequências da ocupação, incluindo deslocamento, discriminação e repressão. Sua voz é de sofrimento e de apelo por justiça, e eles se veem como parte do povo palestino, compartilhando seu destino e sua luta por sobrevivência, independentemente da fé.

Perspectiva de Futuro na Relação

A perspectiva de futuro dessa relação é incerta e depende de vários fatores:

  • Crescimento do Desencanto: É provável que o crescimento do desencanto com as políticas de Israel aumente em algumas esferas cristãs, especialmente com a exposição contínua do sofrimento palestino. Isso pode levar a uma reavaliação teológica e ética, desafiando a visão de apoio incondicional.

  • Maior Consciência da Situação dos Cristãos Palestinos: A situação precária dos cristãos na Terra Santa, que enfrentam declínio populacional e discriminação, pode gerar maior solidariedade por parte de cristãos ocidentais, resultando em um apoio mais vocal aos seus direitos e à busca por paz na região.

  • Polarização Contínua: No entanto, a polarização dentro do próprio cristianismo ocidental em relação a Israel provavelmente persistirá. As convicções teológicas profundas de alguns grupos evangélicos podem ser difíceis de serem alteradas, e o apoio a Israel pode continuar sendo uma parte central de sua identidade política e religiosa.

  • Busca por Soluções Pacíficas: Para muitos, o futuro da relação passará por um engajamento maior na busca por soluções pacíficas e justas que garantam a dignidade e os direitos de ambos os povos, israelenses e palestinos. Isso pode incluir o apoio a iniciativas de diálogo inter-religioso e inter-cultural.

Impactos da Chacina de Palestinos no Grupo Cristão Ocidental e no Brasil

A "chacina de palestinos" (referindo-se à violência e perdas de vidas civis nos conflitos) tem gerado impactos significativos nos grupos cristãos ocidentais e, em particular, no Brasil:

  • Divisão e Polarização Interna: O conflito intensifica a divisão dentro das comunidades cristãs. Enquanto alguns mantêm o apoio irrestrito a Israel, outros, chocados com a escala da violência e o sofrimento humano, passam a questionar essa postura e a se solidarizar com os palestinos. No Brasil, essa polarização se reflete também na política e na mídia, onde a extrema-direita frequentemente se alinha incondicionalmente com Israel, enquanto setores da esquerda defendem a causa palestina.

  • Questionamento Teológico e Ético: Muitos cristãos estão sendo forçados a reavaliar suas posições teológicas e éticas. A violência contra civis, incluindo cristãos e muçulmanos palestinos, desafia a ideia de que Deus abençoaria qualquer ação militar, independentemente das consequências humanitárias. Pastores e líderes religiosos são pressionados a abordar o tema de forma mais complexa e compassiva.

  • Crescimento da Solidariedade com os Palestinos: Há um aumento da solidariedade com o povo palestino, especialmente com os cristãos palestinos, que se veem como vítimas do conflito e buscam o apoio da comunidade global. A visibilidade do sofrimento em Gaza, por exemplo, tem levado muitos a se engajarem em movimentos de oração, arrecadação de fundos e defesa dos direitos humanos.

  • Percepção de Hipocrisia: Para alguns, a falta de uma condenação mais forte da violência contra palestinos por parte de certos segmentos cristãos é vista como hipocrisia, especialmente quando esses mesmos segmentos defendem valores de paz e justiça em outros contextos.

  • Impacto nos Cristãos Brasileiros: No Brasil, a influência do sionismo cristão é forte em muitos círculos evangélicos. No entanto, o recente aumento da visibilidade do sofrimento palestino tem gerado debates e fissuras mesmo nesses grupos. Enquanto muitos continuam a exibir bandeiras israelenses em manifestações, outros começam a expressar desconforto e a buscar informações mais equilibradas. A mídia e as redes sociais desempenham um papel crucial na disseminação de diferentes narrativas, o que contribui para essa complexidade de percepções.

A percepção dos cristãos sobre Israel está em constante evolução, moldada por interpretações teológicas, preocupações humanitárias e o desenrolar dos eventos no Oriente Médio. O futuro dessa relação dependerá de como as comunidades cristãs conseguirão conciliar suas crenças com a realidade complexa e muitas vezes dolorosa do conflito Israel-palestino, buscando a justiça e a paz para todos os envolvidos.

Meditação- Rm. 9.3

Romanos 9 é um capítulo denso e crucial, onde o apóstolo Paulo aborda a complexa questão da eleição divina e a aparente rejeição de Israel. No início do capítulo, Paulo expressa sua profunda tristeza pela incredulidade de seus compatriotas judeus. O versículo 3, em particular, revela a intensidade do seu amor e preocupação, declarando que ele estaria disposto a ser "anátema de Cristo" se isso pudesse garantir a salvação de seus irmãos segundo a carne. Essa declaração dramática serve como ponto de partida para a exploração de Deus sobre a soberania e a fidelidade às Suas promessas a Israel, mesmo em face da rejeição.

O contexto histórico é fundamental para entender o impacto do versículo 3. Paulo escreve para a igreja em Roma, composta por judeus e gentios crentes. A questão da rejeição de Israel, apesar de serem o povo escolhido de Deus, era um ponto de tensão. A "adoção de filhos, e a glória, e as alianças, e a lei, e o culto, e as promessas" mencionadas em Romanos 9:4-5, destacam os privilégios únicos dados a Israel. A incredulidade de muitos judeus, no entanto, levantava a questão da justiça e da fidelidade de Deus. Paulo, ele mesmo um judeu convertido, sentia essa tensão profundamente e estava angustiado com a rejeição de seus compatriotas a Jesus como o Messias. O termo "anátema" (amaldiçoado, separado de Deus) era uma excomunhão formal na sinagoga, demonstrando a severidade da separação de Cristo.

A declaração de Paulo em Romanos 9:3 é uma expressão hiperbólica de seu amor e tristeza. Ele não está realmente propondo renunciar a sua salvação, pois isso seria impossível e contraditório com a doutrina da graça salvadora em Cristo. Em vez disso, ele está usando uma linguagem dramática para enfatizar a profundidade de sua paixão pelo bem-estar espiritual de seus irmãos judeus.

Teologicamente, esse versículo não ensina que a salvação pode ser transferida ou trocada. A salvação é um dom individual de Deus, baseado na fé em Jesus Cristo (Efésios 2:8-9). A disposição de Paulo de ser "anátema" é análoga a Moisés intercedendo por Israel após o pecado do bezerro de ouro (Êxodo 32:32), oferecendo sua própria vida em troca da deles. No entanto, tanto a oferta de Moisés quanto a de Paulo são recusadas; pois, a salvação é um ato da graça divina e não pode ser alcançada através do sacrifício de outro indivíduo. O amor sacrificial de Paulo, inspirado pelo amor de Cristo, serve como um exemplo para os crentes contemporâneos. Nosso amor pelos outros deve ser tão profundo que estejamos dispostos a fazer grandes sacrifícios por seu bem-estar espiritual, embora nunca possamos pagar o preço de sua redenção. Assim como Paulo, devemos sentir um profundo fardo pelas pessoas não alcançadas em nosso mundo.

Versículo de apoio.

1.  Êxodo 32:32

 "Agora, pois, perdoa o seu pecado; ou, se não, risca-me, peço-te, do teu livro que tens escrito." 

Como mencionado anteriormente, esta passagem do Êxodo mostra Moisés oferecendo-se para ser apagado do livro de Deus em favor do povo de Israel. Esta semelhança destaca a intensidade do amor e preocupação que Paulo e Moisés compartilham por seus irmãos.

2.  Gálatas 1:8-9:

"Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos anunciamos, seja anátema. Assim como já vo-lo dissemos, agora de novo também o digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema." 

Em Gálatas, Paulo usa o termo "anátema" para se referir àqueles que distorcem o Evangelho. O contraste entre o seu desejo de ser "anátema" em Romanos 9:3 e a sua condenação de "anátema" em Gálatas 1:8-9 ilustra que a verdade do Evangelho é de suma importância, acima mesmo do amor pelos outros, e demonstra que a preocupação de Paulo não é maior do que o amor por Cristo. 

Além disso, a intenção de Paulo em Romanos 9:3 é inspirada pelo amor a Cristo, demonstrando, portanto, que a verdade do Evangelho é um requisito para o amor sacrificial.