terça-feira, 29 de julho de 2025

Ser cristão em Israel em nossos dias

 A complexa teia de relações entre diferentes grupos religiosos em Israel, especialmente entre judeus e cristãos, é um tema sensível e muitas vezes mal compreendido. Embora a narrativa dominante possa focar em questões geopolíticas maiores, há, de fato, preocupações crescentes sobre a opressão e discriminação enfrentadas por comunidades cristãs por parte de grupos judeus radicais.

Tensão Religiosa em Israel: A Opressão de Cristãos por Grupos Judeus Radicais

A Terra Santa, berço das três grandes religiões monoteístas, é um mosaico de fé e cultura, mas também um palco de tensões e conflitos. Nos últimos anos, relatórios de organizações de direitos humanos e líderes cristãos têm acendido um alerta sobre o aumento da hostilidade e opressão dirigida aos cristãos em Israel, particularmente por parte de grupos judeus ultranacionalistas e ultraortodoxos.

A Natureza da Opressão

A opressão manifesta-se de diversas formas, desde a violência física e verbal até vandalismo de propriedades e assédio constante. Igrejas, mosteiros e cemitérios cristãos têm sido alvos frequentes de pichações, queima e profanação. Símbolos cristãos são desfigurados, e padres e fiéis são agredidos e insultados em público.

Um dos grupos mais frequentemente associados a esses atos é o chamado "Price Tag" (Preço a Pagar), um movimento extremista israelense que se originou em assentamentos da Cisjordânia. Embora suas ações fossem inicialmente direcionadas a palestinos e propriedades árabes, eles expandiram seus alvos para incluir as comunidades cristãs, especialmente em Jerusalém. Suas motivações parecem estar enraigadas em uma ideologia de supremacia judaica e um desejo de expulsar não-judeus da região.

Outros grupos ultraortodoxos, embora não diretamente envolvidos em violência, contribuem para um clima de intolerância através de discursos de ódio e segregação. Em algumas áreas, cristãos relatam serem hostilizados por sua fé, com tentativas de convertê-los ao judaísmo ou de pressioná-los a deixar seus bairros.

Contexto Político e Social

Especialistas apontam para uma interseção complexa de fatores que alimentam essa tensão. A crescente influência de partidos de direita e religiosos na política israelense, juntamente com o aumento do nacionalismo, criou um ambiente onde grupos extremistas se sentem mais à vontade para agir com impunidade.

"Há uma sensação de que esses grupos estão operando com uma permissão tácita, ou pelo menos com pouca repressão das autoridades", afirma Dra. Ana Maria Costa, socióloga especializada em conflitos religiosos na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "Isso cria um ciclo vicioso: quanto menos são punidos, mais ousados se tornam."

Além disso, a dinâmica demográfica em Jerusalém desempenha um papel crucial. À medida que comunidades ultraortodoxas se expandem, a pressão sobre as minorias, incluindo os cristãos, aumenta. A disputa por terras e espaços sagrados intensifica as fricções.

Impacto nas Comunidades Cristãs

O impacto desses atos de opressão nas comunidades cristãs é profundo. Há um sentimento crescente de medo e vulnerabilidade. Muitos cristãos, especialmente os jovens, estão considerando emigrar de Israel e dos Territórios Palestinos, o que representa uma ameaça à própria existência de algumas das comunidades cristãs mais antigas do mundo.

"Nossas igrejas e escolas estão sob ataque. Nossos jovens se sentem inseguros e não veem futuro aqui", lamentou o Padre Gabriel Haddad, líder de uma comunidade cristã em Jerusalém, em entrevista a um veículo internacional. "A indiferença da comunidade internacional e a falta de ação concreta das autoridades israelenses são desanimadoras."

Reações e Respostas

Organizações internacionais como a Human Rights Watch e a Anistia Internacional têm documentado consistentemente os ataques contra cristãos e apelado ao governo israelense para que tome medidas mais eficazes para proteger as minorias. Líderes religiosos cristãos em Israel e no exterior também têm emitido declarações conjuntas condenando a violência e exigindo justiça.

O governo israelense, por sua vez, geralmente condena os atos de violência e vandalismo, mas críticos argumentam que as ações tomadas para combater esses grupos são insuficientes. "A retórica oficial condena, mas a aplicação da lei e a punição dos agressores são inconsistentes", observa Dr. Elias Jabbour, analista político e professor de Relações Internacionais na Universidade de São Paulo (USP). "Há uma percepção de que, em muitos casos, os perpetradores são tratados com leniência."

Fontes e Leitura Adicional:

  • Human Rights Watch: Relatórios sobre liberdade religiosa em Israel e nos Territórios Palestinos.

  • Anistia Internacional: Documentação de ataques contra minorias religiosas em Israel.

  • The Times of Israel: Cobertura de notícias sobre violência contra cristãos e outras minorias.

  • Haaretz: Artigos de opinião e notícias investigativas sobre extremismo religioso em Israel.

  • Patriarcado Latino de Jerusalém: Declarações e comunicados sobre a situação dos cristãos na Terra Santa.

  • Conselho Mundial de Igrejas: Relatórios e posicionamentos sobre perseguição religiosa.

A complexidade da situação exige um olhar multifacetado e sensível. Para o eleitor brasileiro, é fundamental compreender que a narrativa de Israel é mais do que a questão israelo-palestina; ela envolve também a proteção de minorias e a garantia da liberdade religiosa para todos. A crescente opressão de cristãos por grupos radicais judeus é uma mancha na imagem de uma democracia e um lembrete das tensões profundas que ainda persistem na Terra Santa.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

O que pensam os cristão sobre Israel Histórico

 A percepção dos cristãos ocidentais sobre o Estado de Israel é complexa e multifacetada, com visões que variam desde o apoio incondicional até a crítica veemente, especialmente diante dos eventos recentes na Faixa de Gaza.

Percepção dos Cristãos Ocidentais sobre o Estado de Israel

Existem diversas correntes de pensamento entre os cristãos ocidentais em relação a Israel:

  • Cristãos Sionistas/Evangélicos Conservadores: Uma parcela significativa de cristãos evangélicos, especialmente nos Estados Unidos e no Brasil, tem uma visão teológica que interpreta a criação e a existência do Estado de Israel como o cumprimento de profecias bíblicas. Para eles, abençoar Israel (o Estado moderno) é um imperativo divino, muitas vezes levando a um apoio político e financeiro incondicional às suas ações. Essa visão pode, em alguns casos, marginalizar o sofrimento dos palestinos, incluindo os cristãos palestinos, e ignorar as complexidades políticas e humanitárias do conflito.

  • Cristãos da Teologia da Substituição/Amilenistas: Outros cristãos adotam a "teologia da substituição", argumentando que a Igreja (os seguidores de Jesus, sejam judeus ou gentios) substituiu Israel como "o povo escolhido" de Deus. Para eles, a terra prometida no Antigo Testamento agora se refere à nova comunidade da aliança em Cristo, e o Estado de Israel moderno não tem um significado teológico especial. Essa perspectiva tende a ser mais crítica às políticas israelenses e mais solidária com os palestinos.

  • Cristãos Preocupados com a Justiça e Direitos Humanos: Muitos cristãos, independentemente de sua linha teológica, são movidos por princípios de justiça, paz e direitos humanos. Eles se preocupam profundamente com o sofrimento de ambos os lados do conflito e, cada vez mais, com a situação dos palestinos. Essa preocupação os leva a criticar as ações militares de Israel e a ocupação dos territórios palestinos, buscando uma solução pacífica e justa para ambos os povos.

  • Cristãos Palestinos e suas Vozes: É fundamental destacar a perspectiva dos cristãos palestinos, que vivem no centro do conflito. Eles frequentemente se sentem esquecidos pela igreja global e sofrem as consequências da ocupação, incluindo deslocamento, discriminação e repressão. Sua voz é de sofrimento e de apelo por justiça, e eles se veem como parte do povo palestino, compartilhando seu destino e sua luta por sobrevivência, independentemente da fé.

Perspectiva de Futuro na Relação

A perspectiva de futuro dessa relação é incerta e depende de vários fatores:

  • Crescimento do Desencanto: É provável que o crescimento do desencanto com as políticas de Israel aumente em algumas esferas cristãs, especialmente com a exposição contínua do sofrimento palestino. Isso pode levar a uma reavaliação teológica e ética, desafiando a visão de apoio incondicional.

  • Maior Consciência da Situação dos Cristãos Palestinos: A situação precária dos cristãos na Terra Santa, que enfrentam declínio populacional e discriminação, pode gerar maior solidariedade por parte de cristãos ocidentais, resultando em um apoio mais vocal aos seus direitos e à busca por paz na região.

  • Polarização Contínua: No entanto, a polarização dentro do próprio cristianismo ocidental em relação a Israel provavelmente persistirá. As convicções teológicas profundas de alguns grupos evangélicos podem ser difíceis de serem alteradas, e o apoio a Israel pode continuar sendo uma parte central de sua identidade política e religiosa.

  • Busca por Soluções Pacíficas: Para muitos, o futuro da relação passará por um engajamento maior na busca por soluções pacíficas e justas que garantam a dignidade e os direitos de ambos os povos, israelenses e palestinos. Isso pode incluir o apoio a iniciativas de diálogo inter-religioso e inter-cultural.

Impactos da Chacina de Palestinos no Grupo Cristão Ocidental e no Brasil

A "chacina de palestinos" (referindo-se à violência e perdas de vidas civis nos conflitos) tem gerado impactos significativos nos grupos cristãos ocidentais e, em particular, no Brasil:

  • Divisão e Polarização Interna: O conflito intensifica a divisão dentro das comunidades cristãs. Enquanto alguns mantêm o apoio irrestrito a Israel, outros, chocados com a escala da violência e o sofrimento humano, passam a questionar essa postura e a se solidarizar com os palestinos. No Brasil, essa polarização se reflete também na política e na mídia, onde a extrema-direita frequentemente se alinha incondicionalmente com Israel, enquanto setores da esquerda defendem a causa palestina.

  • Questionamento Teológico e Ético: Muitos cristãos estão sendo forçados a reavaliar suas posições teológicas e éticas. A violência contra civis, incluindo cristãos e muçulmanos palestinos, desafia a ideia de que Deus abençoaria qualquer ação militar, independentemente das consequências humanitárias. Pastores e líderes religiosos são pressionados a abordar o tema de forma mais complexa e compassiva.

  • Crescimento da Solidariedade com os Palestinos: Há um aumento da solidariedade com o povo palestino, especialmente com os cristãos palestinos, que se veem como vítimas do conflito e buscam o apoio da comunidade global. A visibilidade do sofrimento em Gaza, por exemplo, tem levado muitos a se engajarem em movimentos de oração, arrecadação de fundos e defesa dos direitos humanos.

  • Percepção de Hipocrisia: Para alguns, a falta de uma condenação mais forte da violência contra palestinos por parte de certos segmentos cristãos é vista como hipocrisia, especialmente quando esses mesmos segmentos defendem valores de paz e justiça em outros contextos.

  • Impacto nos Cristãos Brasileiros: No Brasil, a influência do sionismo cristão é forte em muitos círculos evangélicos. No entanto, o recente aumento da visibilidade do sofrimento palestino tem gerado debates e fissuras mesmo nesses grupos. Enquanto muitos continuam a exibir bandeiras israelenses em manifestações, outros começam a expressar desconforto e a buscar informações mais equilibradas. A mídia e as redes sociais desempenham um papel crucial na disseminação de diferentes narrativas, o que contribui para essa complexidade de percepções.

A percepção dos cristãos sobre Israel está em constante evolução, moldada por interpretações teológicas, preocupações humanitárias e o desenrolar dos eventos no Oriente Médio. O futuro dessa relação dependerá de como as comunidades cristãs conseguirão conciliar suas crenças com a realidade complexa e muitas vezes dolorosa do conflito Israel-palestino, buscando a justiça e a paz para todos os envolvidos.

Meditação- Rm. 9.3

Romanos 9 é um capítulo denso e crucial, onde o apóstolo Paulo aborda a complexa questão da eleição divina e a aparente rejeição de Israel. No início do capítulo, Paulo expressa sua profunda tristeza pela incredulidade de seus compatriotas judeus. O versículo 3, em particular, revela a intensidade do seu amor e preocupação, declarando que ele estaria disposto a ser "anátema de Cristo" se isso pudesse garantir a salvação de seus irmãos segundo a carne. Essa declaração dramática serve como ponto de partida para a exploração de Deus sobre a soberania e a fidelidade às Suas promessas a Israel, mesmo em face da rejeição.

O contexto histórico é fundamental para entender o impacto do versículo 3. Paulo escreve para a igreja em Roma, composta por judeus e gentios crentes. A questão da rejeição de Israel, apesar de serem o povo escolhido de Deus, era um ponto de tensão. A "adoção de filhos, e a glória, e as alianças, e a lei, e o culto, e as promessas" mencionadas em Romanos 9:4-5, destacam os privilégios únicos dados a Israel. A incredulidade de muitos judeus, no entanto, levantava a questão da justiça e da fidelidade de Deus. Paulo, ele mesmo um judeu convertido, sentia essa tensão profundamente e estava angustiado com a rejeição de seus compatriotas a Jesus como o Messias. O termo "anátema" (amaldiçoado, separado de Deus) era uma excomunhão formal na sinagoga, demonstrando a severidade da separação de Cristo.

A declaração de Paulo em Romanos 9:3 é uma expressão hiperbólica de seu amor e tristeza. Ele não está realmente propondo renunciar a sua salvação, pois isso seria impossível e contraditório com a doutrina da graça salvadora em Cristo. Em vez disso, ele está usando uma linguagem dramática para enfatizar a profundidade de sua paixão pelo bem-estar espiritual de seus irmãos judeus.

Teologicamente, esse versículo não ensina que a salvação pode ser transferida ou trocada. A salvação é um dom individual de Deus, baseado na fé em Jesus Cristo (Efésios 2:8-9). A disposição de Paulo de ser "anátema" é análoga a Moisés intercedendo por Israel após o pecado do bezerro de ouro (Êxodo 32:32), oferecendo sua própria vida em troca da deles. No entanto, tanto a oferta de Moisés quanto a de Paulo são recusadas; pois, a salvação é um ato da graça divina e não pode ser alcançada através do sacrifício de outro indivíduo. O amor sacrificial de Paulo, inspirado pelo amor de Cristo, serve como um exemplo para os crentes contemporâneos. Nosso amor pelos outros deve ser tão profundo que estejamos dispostos a fazer grandes sacrifícios por seu bem-estar espiritual, embora nunca possamos pagar o preço de sua redenção. Assim como Paulo, devemos sentir um profundo fardo pelas pessoas não alcançadas em nosso mundo.

Versículo de apoio.

1.  Êxodo 32:32

 "Agora, pois, perdoa o seu pecado; ou, se não, risca-me, peço-te, do teu livro que tens escrito." 

Como mencionado anteriormente, esta passagem do Êxodo mostra Moisés oferecendo-se para ser apagado do livro de Deus em favor do povo de Israel. Esta semelhança destaca a intensidade do amor e preocupação que Paulo e Moisés compartilham por seus irmãos.

2.  Gálatas 1:8-9:

"Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos anunciamos, seja anátema. Assim como já vo-lo dissemos, agora de novo também o digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema." 

Em Gálatas, Paulo usa o termo "anátema" para se referir àqueles que distorcem o Evangelho. O contraste entre o seu desejo de ser "anátema" em Romanos 9:3 e a sua condenação de "anátema" em Gálatas 1:8-9 ilustra que a verdade do Evangelho é de suma importância, acima mesmo do amor pelos outros, e demonstra que a preocupação de Paulo não é maior do que o amor por Cristo. 

Além disso, a intenção de Paulo em Romanos 9:3 é inspirada pelo amor a Cristo, demonstrando, portanto, que a verdade do Evangelho é um requisito para o amor sacrificial.

sábado, 26 de julho de 2025

O fenômeno inesperado - Pr. Augustus Nicodemus


 

Meditação - Número 6

 Números 6 descreve detalhadamente a lei do nazireado, um voto voluntário de consagração a Deus que envolvia abstenções específicas e rituais de purificação. Após detalhar os requisitos e as consequências de quebrar o voto, o capítulo culmina com uma bênção sacerdotal (Números 6:23-27). Esta bênção, proferida por Arão e seus filhos sobre os filhos de Israel, representa a graça e a proteção de Deus sobre o Seu povo. O versículo 25, "O SENHOR faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti", é o coração desta bênção, expressando um desejo profundo pela manifestação da presença divina e da Sua compaixão.

No contexto do deserto, após o êxodo do Egito, o povo de Israel estava a organizar-se como nação. O tabernáculo, como centro da adoração, e o sacerdócio, liderado por Arão e seus filhos, desempenhavam um papel crucial na comunicação entre Deus e o povo. A bênção sacerdotal, portanto, não era apenas uma formalidade, mas um meio pelo qual a presença e a proteção de Deus eram invocadas sobre a comunidade. O nazireado, por sua vez, demonstrava um desejo individual de maior consagração e santidade. A conexão entre as leis do nazireado e a bênção sacerdotal sugere que a busca por santidade pessoal e a bênção divina estão intrinsecamente ligadas. A repetição do nome "Senhor" (YHWH) enfatiza a natureza pessoal e direta da relação entre Deus e o Seu povo.

"O SENHOR faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti" é uma súplica para que Deus mostre favor e graça. A expressão "fazer resplandecer o seu rosto" implica revelação, aprovação e alegria divina. É um pedido para que Deus se mostre propício e favorável. "Ter misericórdia" complementa essa imagem, indicando que a bênção divina não é apenas uma demonstração de poder, mas também de compaixão e perdão. Do ponto de vista trinitário, podemos ver esta bênção como uma manifestação da graça de Deus Pai, da luz de Cristo (o "Sol da Justiça") e da consolação do Espírito Santo.

Para o crente contemporâneo, esta bênção continua relevante. Devemos buscar a face de Deus em oração, pedindo que Sua luz nos guie e nos revele Sua vontade. O pedido de misericórdia reconhece nossa dependência da graça divina e a necessidade constante do perdão dos nossos pecados. Em tempos de dificuldade, podemos confiar que Deus "fará resplandecer o Seu rosto" sobre nós, oferecendo conforto, esperança e direção. A promessa implícita é que, ao buscarmos a Deus, experimentaremos a Sua graça e compaixão em nossas vidas.

Textos complementares 

Salmos 67:1: 

"Deus tenha misericórdia de nós e nos abençoe; e faça resplandecer o seu rosto sobre nós". 

Este Salmo ecoa a bênção de Números 6:25 e expressa o desejo de que a bênção de Deus se estenda a todas as nações. Assim como Deus desejou abençoar Israel, Ele também deseja abençoar toda a humanidade.

2 Coríntios 4:6:

"Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo." 

Este versículo do Novo Testamento revela que a luz do rosto de Deus se manifesta plenamente em Jesus Cristo. A verdadeira compreensão da glória de Deus se encontra em Cristo. Através de Jesus, podemos experimentar o resplendor da face de Deus e receber a Sua misericórdia.

Esses versículos conectam a bênção em Números ao plano redentor de Deus. A misericórdia e o favor buscados na bênção sacerdotal encontram seu cumprimento máximo em Jesus Cristo, a luz do mundo. Ao meditarmos em Números 6:25, somos lembrados do amor incondicional de Deus e da promessa de que Ele sempre estará presente para nos guiar e abençoar, se buscarmos a Sua face.

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Série: Apocalipse nº4 [Ap. 2.8-11]


 

Uma reflexão sobre conhecimento sem santidade.

Diário de um Servo. 

O Perigo do Conhecimento sem Santidade: Uma Análise da Carta a Tiatira

A expressão "conhecimentos sem santidade fator de perigo" é um ponto crucial na repreensão de Jesus à igreja em Tiatira. Em Apocalipse 2:24, Cristo diz: "Mas aos outros que estão em Tiatira, a todos quantos não têm essa doutrina e não conheceram, como eles dizem, as coisas profundas de Satanás, não vos imponho outro peso".

Vamos detalhar o que isso significa e por que era um perigo para os irmãos:

1. A Natureza do "Conhecimento Profundo" em Tiatira

O termo "as coisas profundas de Satanás" (ou, em algumas traduções, "os segredos profundos de Satanás") é uma ironia amarga de Jesus. A "Jezabel" e seus seguidores provavelmente alegavam ter um conhecimento esotérico ou "profundo" que lhes permitia participar das festividades pagãs e comer alimentos sacrificados a ídolos sem serem contaminados. Eles poderiam argumentar que, por entenderem que os ídolos não eram nada (como Paulo ensina em 1 Coríntios 8:4-6), sua participação não significava idolatria real. Talvez, eles se considerassem "iluminados" e, portanto, imunes aos efeitos espirituais dessas práticas.

Essa crença se assemelha a certas vertentes do gnosticismo, uma heresia que ensinava que o "conhecimento" (gnosis) era a chave para a salvação e que o que a pessoa fazia com seu corpo não afetava sua alma, permitindo uma vida libertina. Para eles, o conhecimento superior ("profundo") justificava o comprometimento com o mundo.

2. Por que o Conhecimento sem Santidade é Perigoso

Aqui está o cerne do perigo:

 * Leva à Justificativa do Pecado: Quando o conhecimento não é acompanhado pela santidade, ele se torna uma ferramenta para justificar o pecado. Em vez de levar a um afastamento da iniquidade, ele é usado para racionalizar práticas que Deus condena. No caso de Tiatira, o "conhecimento" sobre a insignificância dos ídolos foi usado para permitir a participação em banquetes idólatras e, consequentemente, na imoralidade sexual que frequentemente os acompanhava.

 * Abre Portas para a Influência Demoníaca: Jesus chamou esses ensinamentos de "coisas profundas de Satanás" não por acaso. Quando os crentes se envolvem em práticas idolátricas ou imorais, mesmo que intelectualmente tentem dissociar-se delas, eles abrem portas para a influência e o engano demoníacos. O "conhecimento" sem um compromisso com a pureza não protege; ele expõe.

 * Compromete o Testemunho Cristão: A igreja é chamada a ser luz no mundo e sal na terra. Se os cristãos se comportam de maneira indistinguível do mundo pagão, seu testemunho de Cristo é comprometido. Como poderiam pregar sobre a santidade de Deus e a redenção de Cristo se eles mesmos estavam participando de rituais impuros? Isso não apenas confundia os de fora, mas também criava um ambiente onde a santidade era desvalorizada dentro da própria comunidade cristã.

 * Engana a si Mesmo e aos Outros: Aqueles que buscam esse "conhecimento profundo" como justificativa para o pecado estão, em última instância, enganando a si mesmos. Eles acreditam que podem manipular as regras espirituais e sair impunes. Além disso, eles se tornam propagadores de um evangelho distorcido, levando outros irmãos ao mesmo erro e perigo espiritual.

3. A Santidade como Baluarte do Conhecimento Verdadeiro

Jesus deixa claro que o verdadeiro conhecimento de Deus não leva ao comprometimento, mas à santidade. A compreensão da graça e da liberdade em Cristo nunca deve ser uma licença para o pecado, mas uma capacitação para viver uma vida que agrada a Deus.

 * Conhecimento com Discernimento: O verdadeiro conhecimento nos leva a discernir o bem do mal, o que glorifica a Deus do que o desonra. Ele nos capacita a resistir às tentações e pressões do mundo.

 * Conhecimento com Submissão: O conhecimento divino nos leva à submissão à vontade de Deus, mesmo quando isso significa sacrifício pessoal ou exclusão social (como era o caso em Tiatira com as guildas).

 * Conhecimento com Fruto: O "conhecimento" de Deus deve se manifestar em uma vida de justiça e retidão, produzindo o fruto do Espírito, e não as obras da carne.

A história de Tiatira nos alerta: não importa o quão "profundo" ou "esclarecido" nosso conhecimento pareça ser, se ele não nos conduz a uma vida de santidade e obediência a Deus, ele se torna não apenas inútil, mas um fator de grave perigo, tanto para nós mesmos quanto para a comunidade de fé. Afinal, o objetivo da nossa fé é a transformação do caráter à imagem de Cristo, e isso sempre envolve santidade.

Será que a busca por "conhecimentos" em nossa era, como em certas filosofias ou ideologias que prometem liberdade sem responsabilidade moral, não poderia ser um perigo semelhante para a igreja hoje?

Deus nos abençoe e nos dê iluminação para entendermos a sua palavra. Em nome de Jesus Cristo. Amém. 

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Carta a Igreja de Tiatira

A carta à igreja em Tiatira, encontrada em Apocalipse 2:18-29, oferece uma visão profunda dos desafios enfrentados pelos cristãos em uma cidade onde a adoração a Apolo e a participação nas guildas de ofícios eram predominantes. Jesus se apresenta à igreja de Tiatira como "o Filho de Deus, que tem os olhos como chama de fogo e os pés semelhantes ao bronze polido" (Apocalipse 2:18), uma imagem que contrasta diretamente com a divindade solar de Apolo e a proeminência do bronze na indústria local.

Vamos analisar a carta em três pontos de reflexão e aplicação, estabelecendo a relação entre a igreja de então e a igreja atual:

Estudo Detalhado de Apocalipse 2:18-29 e a Adoração a Apolo em Tiatira

A cidade de Tiatira era um centro comercial e industrial, especialmente conhecida por suas guildas de ofícios, como as de tecelões, tintureiros (onde Lídia, de Atos 16:14, era uma vendedora de púrpura), e trabalhadores de bronze. A participação nessas guildas era essencial para a vida econômica e social. No entanto, as guildas estavam intrinsecamente ligadas à adoração pagã, incluindo o culto a Apolo Tirímneo, o principal deus da cidade. As festividades das guildas frequentemente envolviam banquetes com alimentos sacrificados a ídolos e, em alguns casos, imoralidade sexual.

Jesus elogia a igreja de Tiatira por seu amor, fé, serviço e perseverança, e por suas obras crescentes (Apocalipse 2:19). No entanto, Ele repreende severamente a tolerância de alguns membros à "mulher Jezabel", que se autodenominava profetisa e ensinava os servos de Deus a praticar imoralidade sexual e a comer coisas sacrificadas a ídolos (Apocalipse 2:20). Essa "Jezabel" provavelmente representava uma influência dentro da igreja que promovia o comprometimento com as práticas pagãs para evitar perseguições econômicas e sociais.

Três Pontos de Reflexão e Aplicações

1. O Perigo da Tolerância ao Compromisso Espiritual (Apocalipse 2:20-23)

 * Reflexão: A igreja em Tiatira foi elogiada por muitas qualidades, mas sua falha estava em tolerar uma influência que levava ao comprometimento com o paganismo. A "Jezabel" ensinava que era aceitável participar das práticas das guildas, incluindo a idolatria e a imoralidade, talvez sob o pretexto de que o conhecimento ("as coisas profundas de Satanás", Apocalipse 2:24) permitia tal liberdade. Jesus condena essa tolerância, mostrando que o conhecimento sem santidade é perigoso.

 * Aplicação para hoje: Vivemos em uma sociedade que frequentemente promove a tolerância a todo custo, mesmo em relação a valores e práticas que contradizem os princípios bíblicos. A igreja contemporânea pode cair na armadilha de tolerar ensinamentos ou comportamentos que diluem a verdade do Evangelho, seja por medo de ser "intolerante", por buscar aceitação social ou por conveniência. Devemos discernir entre a tolerância amorosa para com as pessoas e a tolerância ao pecado ou à doutrina falsa. A pureza doutrinária e a santidade de vida são inegociáveis para Jesus.

2. A Fidelidade em Meio à Pressão Cultural e Econômica (Apocalipse 2:24-25)

 * Reflexão: Jesus reconhece que nem todos em Tiatira haviam se curvado a essa influência. Havia um "restante" que não havia aprendido as "coisas profundas de Satanás" e não tinha sido seduzido. A pressão para participar das guildas era imensa, pois significava a sobrevivência econômica. Aqueles que se recusavam a comprometer sua fé enfrentavam exclusão social e dificuldades financeiras. Jesus os encoraja a "reter o que tendes até que eu venha".

 * Aplicação para hoje: A igreja de hoje, em muitas partes do mundo, enfrenta pressões semelhantes. A globalização e a cultura de consumo podem nos levar a comprometer valores cristãos em nome do sucesso profissional, da segurança financeira ou da aceitação social. Pode haver pressões para adotar ideologias que contradizem a fé, ou para participar de práticas que, embora socialmente aceitas, são espiritualmente prejudiciais. A carta nos lembra que a fidelidade a Cristo é mais valiosa do que qualquer ganho material ou social, e que devemos perseverar, "retendo o que temos".

3. A Recompensa da Perseverança e da Autoridade em Cristo (Apocalipse 2:26-29)

 * Reflexão: Jesus promete autoridade sobre as nações e a "estrela da manhã" àqueles que "vencerem e guardarem as suas obras até o fim". A imagem de "governar com cetro de ferro" e "despedaçá-los como vasos de barro" ecoa o Salmo 2, referindo-se à autoridade messiânica de Cristo e à participação dos fiéis em Seu reino. A "estrela da manhã" é uma referência a Jesus mesmo (Apocalipse 22:16), simbolizando a glória e a luz que os vencedores compartilharão com Ele.

 * Aplicação para hoje: A promessa de Jesus não é apenas para o futuro, mas também para o presente. Aqueles que perseveram na fé, resistindo às tentações do compromisso e da idolatria, recebem uma autoridade espiritual que se manifesta em suas vidas. Eles experimentam a presença de Cristo ("a estrela da manhã") em suas jornadas, e são capacitados a influenciar o mundo ao seu redor com os valores do Reino de Deus. A recompensa final é a participação plena na glória e no governo de Cristo, um incentivo poderoso para a perseverança em meio às adversidades.

Relação com a Igreja de Então e Nós Outros

A carta à igreja em Tiatira é um espelho para a igreja em todas as épocas. Assim como os cristãos de Tiatira enfrentavam a pressão de uma cultura pagã e a tentação de se comprometerem para se encaixar ou prosperar, a igreja de hoje também se depara com desafios semelhantes.

 * Para a igreja de então: A carta era um chamado urgente ao arrependimento para aqueles que estavam comprometidos e um encorajamento à perseverança para os fiéis. Jesus estava ciente das dificuldades econômicas e sociais, mas priorizava a santidade e a pureza da fé.

 * Para nós outros: A mensagem de Tiatira ressoa em um mundo pós-moderno, onde a verdade é frequentemente relativizada e a moralidade é subjetiva. Somos constantemente bombardeados com ideologias e práticas que podem nos levar ao comprometimento. A carta nos lembra da importância de:

   * Discernimento: Avaliar criticamente as influências culturais e espirituais.

   * Santidade: Viver de acordo com os padrões de Deus, mesmo que isso signifique ir contra a corrente.

   * Fidelidade: Permanecer firmes na fé em Cristo, confiando em Suas promessas, mesmo diante de perdas ou dificuldades.

   * Liderança Responsável: Os líderes da igreja devem ser vigilantes para não permitir que falsos ensinamentos e práticas comprometedoras se infiltrem na comunidade.

Em suma, a carta a Tiatira é um lembrete poderoso de que a verdadeira adoração a Cristo exige exclusividade e santidade, e que a fidelidade em meio à pressão resulta em glória e autoridade com o Senhor.


segunda-feira, 21 de julho de 2025

01. Cristianismo e a Revolução Russa

Diário de um Servo 

A relação entre a Revolução Russa de 1917 e o cristianismo (majoritariamente a Igreja Ortodoxa Russa) foi marcada por um conflito ideológico profundo, perseguição e, eventualmente, uma ressurreição gradual após o colapso da União Soviética.

O Cristianismo antes da Revolução

Antes de 1917, a Igreja Ortodoxa Russa estava intrinsecamente ligada ao Estado czarista. Ela funcionava como um pilar de apoio ao regime, legitimando o poder do imperador e exercendo uma enorme influência sobre a sociedade russa. A Igreja possuía vastas propriedades e tinha um papel central na educação e na vida pública. Essa aliança milenar entre a Igreja e o Estado tornava-a um alvo óbvio para os revolucionários bolcheviques.

O Comportamento da Igreja e a Reação do Estado

Com a ascensão dos bolcheviques ao poder, o cristianismo foi imediatamente confrontado com o ateísmo de Estado, um princípio fundamental da ideologia marxista-leninista. A religião era vista como o "ópio do povo", uma ferramenta de controle que impedia a conscientização e a libertação da classe trabalhadora. O novo governo revolucionário tinha como objetivo final a erradicação da religião, e sua abordagem foi brutal e multifacetada.

 * Separação entre Igreja e Estado: Em 1918, um decreto foi emitido para separar a Igreja do Estado e a escola da Igreja. Isso significou o confisco de todas as propriedades da Igreja, incluindo edifícios religiosos, que se tornaram propriedade do povo. A Igreja perdeu sua capacidade de funcionar como uma entidade com direitos jurídicos.

 * Perseguição e Terror: O período inicial da revolução e o subsequente "Terror Vermelho" foram devastadores para a Igreja. Clero e fiéis foram submetidos a torturas, prisões, exílio e execuções em massa. Milhares de padres e bispos foram mortos ou enviados para campos de trabalho forçado (gulags). O Estado soviético realizou campanhas de propaganda para ridicularizar a religião, destruir igrejas e proibir a circulação da Bíblia. A perseguição foi tão feroz que a Igreja Ortodoxa Russa esteve à beira da aniquilação.

 * Táticas de Controle: As táticas do Estado soviético variavam ao longo do tempo. Em alguns momentos, a repressão era mais intensa, enquanto em outros, a política se tornava mais branda. Por exemplo, durante a Segunda Guerra Mundial, Stálin relaxou a perseguição e permitiu que a Igreja operasse novamente, a fim de mobilizar o apoio popular contra a invasão nazista. No entanto, essa tolerância era apenas tática e não ideológica, com a Igreja sendo efetivamente transformada em um braço do Estado comunista.

A Igreja na Rússia Pós-Soviética

Com a dissolução da União Soviética em 1991, houve uma notável ressurreição do cristianismo na Rússia. A liberdade religiosa foi restabelecida e a Igreja Ortodoxa Russa, em particular, experimentou um renascimento.

 * Reafirmação de Poder: A Igreja Ortodoxa Russa emergiu do período soviético como a principal instituição religiosa do país, recuperando grande parte de sua influência e autoridade. Muitas igrejas destruídas foram reconstruídas, e a religião voltou a ser uma parte visível da vida pública russa.

 * Nova Aliança com o Estado: Atualmente, a Igreja tem uma relação complexa e poderosa com o Estado russo. Ela é vista pelo governo de Vladimir Putin como um pilar da identidade nacional e um símbolo da herança cultural russa. Essa parceria, embora não seja a mesma de antes de 1917, tem sido fundamental para o governo, pois a Igreja apoia as políticas internas e externas do Kremlin. Por sua vez, o Estado russo concede privilégios e protege os interesses da Igreja, que tem uma posição de destaque em relação a outras denominações religiosas.

 * Desafios Atuais: Apesar de seu poder e popularidade, a Igreja Ortodoxa Russa na Rússia de hoje enfrenta desafios. Há acusações de corrupção, críticas à sua forte aliança com o governo e tensões com outras comunidades religiosas. Além disso, a recente guerra na Ucrânia criou divisões, com alguns cristãos russos se manifestando contra o conflito e sofrendo repressão por isso.

A história da Igreja e da Revolução Russa é um testemunho da resiliência da fé em face da perseguição e da complexa dinâmica entre religião e poder político. A Igreja Ortodoxa, que foi perseguida e quase aniquilada, hoje está de volta ao centro do poder russo, embora com um novo conjunto de desafios.


domingo, 20 de julho de 2025

ANJOS NA BÍBLIA

1. Introdução - Comentário. 

1.1 Termos Originais

A palavra "anjo" vem do grego ἄγγελος (ángelos), que significa "mensageiro". No hebraico, a palavra usada é מַלְאָךְ (mal’ākh), também com o sentido de mensageiro, tanto divino quanto humano, dependendo do contexto (cf. Gn 32:3; Ag 1:13).

Essas palavras não descrevem a natureza da entidade, mas sua função — ou seja, são "aqueles enviados com uma mensagem". Em vários textos, especialmente no Antigo Testamento, o "anjo do Senhor" (מַלְאַךְ יְהוָה, mal’akh YHWH) tem um papel tão divino que muitos estudiosos entendem que se trata de uma teofania (manifestação do próprio Deus).

1.2 Classificações e Hierarquias

A Bíblia sugere categorias diferentes de anjos, embora não de maneira sistemática como a teologia medieval. Entre os principais termos e figuras angelicais estão:

Querubins (כְּרוּבִים, keruvim) – guardiões da presença de Deus (cf. Gn 3:24; Ez 10)

Serafins (שְׂרָפִים, seraphim) – associados à adoração celestial (cf. Is 6:2-3)

Arcanjos – o termo aparece no Novo Testamento (ἀρχάγγελος, archangelos) e só um é nomeado: Miguel (Jd 1:9; Ap 12:7)

1.3 Funções dos Anjos

Biblicamente, os anjos têm diversas funções:

Mensageiros de Deus (Lc 1:11-38; Mt 1:20)

Executores de juízo (2Rs 19:35; Ap 8-9)

Protetores dos justos (Sl 34:7; Dn 6:22)

Ministradores aos santos (Hb 1:14)

Adoradores perpétuos de Deus (Ap 4:8-11)

Os anjos também aparecem de forma corpórea, mas não estão limitados à matéria. Suas aparições geralmente são assustadoras, ao ponto de os homens temerem sua presença (cf. Lc 1:12; Dn 10:7-9).

2: Contexto Histórico-Cultural

2.1 Panorama no Antigo Oriente Próximo

As culturas antigas — como a babilônica, egípcia e persa — também possuíam figuras semelhantes aos anjos, como seres intermediários entre os deuses e os homens. No entanto, os anjos bíblicos são diferentes:

Eles não têm vontade própria fora de Deus;

Não recebem adoração (Ap 19:10);

São criados por Deus, não divinos por essência (Cl 1:16).

O contato com a cultura persa no período pós-exílico (especialmente durante o cativeiro babilônico) pode ter influenciado a linguagem e simbolismo dos anjos nos livros como Daniel, onde Miguel aparece como "príncipe" (Dn 10:13,21).

2.2 No Judaísmo do Segundo Templo

Durante o período intertestamentário, especialmente nos escritos apócrifos como 1 Enoque, há uma ênfase muito maior na hierarquia angelical, nomes específicos e envolvimento no juízo final. Essa literatura moldou bastante a compreensão popular de anjos no tempo de Jesus.

O Novo Testamento, porém, equilibra essa visão, mostrando os anjos como servos submissos à vontade de Deus (cf. Mt 26:53; Hb 1:14), sem nunca roubar o foco da pessoa de Cristo.

3. Comentário. 

3.1 Anjos são reais, mas não o foco

Os anjos são reais, poderosos e presentes, mas nunca devem ser objetos de adoração ou busca direta. Toda vez que alguém tenta adorá-los, é repreendido (Ap 22:8-9). Isso é um alerta contra o culto aos anjos (Cl 2:18), muito presente em doutrinas místicas e esotéricas de hoje.

3.2 Deus cuida de nós através dos anjos

Os anjos são agentes do cuidado de Deus. Em Hebreus 1:14, está escrito que são "espíritos ministradores enviados para servir a favor dos que hão de herdar a salvação". Isso nos mostra que não estamos sozinhos — o céu inteiro está envolvido na história da redenção e em nosso caminhar.

3.3 A adoração é para Deus, não para os servos Dele

Os anjos nos lembram do temor e reverência diante de Deus. Eles vivem para adorá-Lo incessantemente (Ap 4:8), e isso deve nos levar a buscar a mesma atitude: viver para glorificar a Deus em tudo.

Assim como os anjos servem a Deus com prontidão e alegria, também nós somos chamados a viver com prontidão espiritual, atentos ao chamado divino.

Conclusão

Os anjos são mensageiros e servos de Deus, criados para executar Sua vontade, proteger Seu povo e adorá-Lo eternamente. Embora maravilhosos em poder e glória, são apenas reflexos da majestade divina. O estudo correto dos anjos nos leva não à superstição, mas a uma fé mais profunda no Deus que comanda os exércitos celestiais em favor do Seu povo.