terça-feira, 2 de setembro de 2014

Resposta a desastre biológico global é urgentemente necessária no combate ao Ebola



02/09/2014
MSF denuncia a inércia internacional nos países africanos afetados pelo Ebola; Estados precisam enviar especialistas na área médica agora

Serra  Leoa Nigéria Libéria Guiné 

Ebola

Os líderes mundiais estão falhando em responder à pior epidemia de Ebola da História, e países com capacidade de resposta a desastres biológicos, incluindo competências médicas civis e militares, devem enviar imediatamente esses recursos para a África Ocidental, anunciou hoje a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) em reunião especial na Organização das Nações Unidas (ONU) organizada pelo escritório do Secretário Geral da ONU e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A maior propagação do vírus não será prevenida sem o envio massivo de unidades médicas especializadas para reforçar os esforços acerca do controle da epidemia nos países afetados, de acordo com MSF.

Em discurso para os Estados-membros da ONU, a presidente internacional de MSF, Dra. Joanne Liu, denunciou a escassez de recursos, que tem dependido de ministérios da saúde sobrecarregados e organizações não governamentais privadas, para combater esse surto excepcionalmente amplo. Apesar dos repetidos pedidos de MSF por uma mobilização massiva em campo, a resposta internacional tem sido letalmente inadequada.

As equipes médicas de MSF têm enfrentado o surto na África Ocidental desde março. Grupos não governamentais e as Nações Unidas não são capazes de implementar o roteiro global da OMS para combater o surto crescente e imprevisível. As taxas de transmissão alcançaram níveis nunca antes reportados em surtos anteriores de Ebola.

“Seis meses depois do início da pior epidemia de Ebola da História, o mundo está perdendo a batalha para contê-la”, afirmou a Dra. Joanne. “Os líderes estão falhando na luta contra essa ameaça transnacional. Em 8 de agosto, o anúncio da OMS que classificava a epidemia como uma “emergência de saúde pública de interesse internacional” não gerou ação definitiva e os Estados basicamente se juntaram em uma coalização de inércia global”, adicionou.

Muitos países detêm mecanismos de resposta a ameaças biológicas. Eles podem enviar civis treinados ou equipes médicas militares em questão de dias, de forma organizada e com lideranças definidas, para garantir altos padrões de segurança e eficiência paraprestar suporte aos países afetados. MSF insiste, no entanto, que quaisquer recursos enviados à região não devem ser utilizados para quarentena, contenção ou medidas de controle de multidões. Quarentenas forçadas geraram apenas o medo e a inquietação, ao invés de conter o vírus.

“Anúncios de financiamentos e envio de alguns especialistas não são suficientes”, afirma a Dra. Joanne. “Os Estados com as capacidades requeridas têm a responsabilidade humanitária de se apresentarem e oferecerem a resposta concreta, e tão necessária, ao desastre que se desdobra diante dos olhos do mundo”, diz. “Ao invés de limitarem suas respostas à potencial chegada de um paciente infectado a seus países, eles deveriam abraçar a oportunidade única de, de fato, salvar vidas onde é imediatamente necessário, na África Ocidental.”

De imediato, hospitais com alas de isolamento devem ser ampliados, pessoal treinado precisa ser enviado, laboratórios móveis precisam ser envolvidos para melhorar os diagnósticos, pontes aéreas precisam ser estabelecidas para facilitar a movimentação de pessoal e material para e a partir da África Ocidental e uma rede regional de hospitais precisa ser estabelecida para tratar pessoal médico com suspeita de infecção ou infecção confirmada.

Em Monróvia, na Libéria, por exemplo, novos centros de tratamento de Ebola com instalações de isolamento adequadas e pessoal qualificado são urgentemente necessários. A fila de pacientes continua a aumentar no centro de ELWA 3, de MSF, que agora conta com 160 leitos. Estima-se que sejam necessários 800 leitos adicionais apenas em Monróvia. A equipe de MSF está sobrecarregada e não pode oferecer mais do que cuidados paliativos.

“Todos os dias, temos que rejeitar a admissão de pessoas doentes porque estamos lotados”, afirma Stefan Liljegren, coordenador de MSF em ELWA 3. “Tive de pedir aos motoristas de ambulância para me ligarem antes de chegarem com pacientes, não importa o quão doentes eles estejam, porque é comum que não possamos admiti-los.”

Os centros de cuidados de MSF na Libéria e em Serra Leoa estão superlotados de pacientes com suspeita de Ebola. As pessoas continuam ficando doentes e estão morrendo em seus vilarejos e comunidades. Em Serra Leoa, cadáveres altamente contagiosos estão apodrecendo nas ruas.

A multiplicação das instalações de isolamento altamente qualificadas permitiria a referência e a admissão precoces, gerando um impacto significativo na mortalidade. As equipes de MSF podiam salvar mais vidas quando as pessoas infectadas com Ebola buscavam tratamento o quanto antes. O aumento da capacidade de isolamento também aliviará os sistemas de saúde dos países afetados pela epidemia, alguns dos quais estão à beira de um colapso. Ao menos 150 profissionais de saúde morreram com Ebola; outros estão com muito medo para voltar ao trabalho.

Além disso, centros de triagem precisam ser estruturados, sistemas para gerenciamento dos cadáveres precisam ser ampliados e itens de higiene precisam ser distribuídos em larga escala, juntamente com a ampliação da capacidade de monitoramento ativo. Campanhas de desinfecção são necessárias, bem como promoção de saúde e de higiene entre as populações e dentro das instalações de saúde.

“O relógio está correndo e o Ebola está vencendo”, diz a Dra. Joanne. “O tempo de reuniões e planejamento acabou. É hora de agir. Todos os dias de inércia significam mais mortes e o lento colapso das sociedades.”

MSF deu início à resposta ao Ebola na África Ocidental em março de 2014 e está atuando na Guiné, na Libéria, na Nigéria e em Serra Leoa. A organização administra cinco centros de tratamento de Ebola com capacidade total de 480 leitos. Desde março, MSF internou 2.077 pessoas, das quais 1.038 testaram positivo para Ebola e 241 se recuperaram. A organização enviou 156 profissionais internacionais para a região e conta com 1.700 pessoas contratadas localmente.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O Perdão Divino

Perdão de Deus
Salmos 32:1-11


“Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano. Quando eu guardei silêncio, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido em todo o dia. Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em sequidão de estio. (Selá.) Confessei-te o meu pecado, e a minha maldade não encobri. Dizia eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado. (Selá.) Por isso, todo aquele que é santo orará a ti, a tempo de te poder achar; até no transbordar de muitas águas, estas não lhe chegarão. Tu és o lugar em que me escondo; tu me preservas da angústia; tu me cinges de alegres cantos de livramento. (Selá.) Instruir-te-ei, e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; guiar-te-ei com os meus olhos. Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio para que não se cheguem a ti. O ímpio tem muitas dores, mas àquele que confia no Senhor a misericórdia o cercará. Alegrai-vos no Senhor, e regozijai-vos, vós os justos; e cantai alegremente, todos vós que sois retos de coração.


O salmo 32 é classificado como um salmo de sabedoria, assim como o 37, 49, 112 e 127. Sua composição era cuidadosamente planejada e centrada em temas da sabedoria associada a Torá. Exemplo:
·         A certeza da retribuição justa ainda que demorada.
·         As lições aprendidas com o perdão divino.

O tema abordado neste salmo é do arrependimento, assim como nos salmos 42, 44, 45, 52, 53, 54, 55, 74, 78, 88, 89 e 142. O poeta bíblico deixa claro que o melhor desta vida é viver em plena comunhão com Deus.

Nos versos 1 e 2:

a)      visualizamos um exemplo bem sucedido de um processo de santificação.
b)      percebemos um certo grau de satisfação divina com a vida do seu servo que espelha tal grau de intimidade com seu criador.

Essa satisfação pode ser melhor observada quando comparamos os versos 1 e 2 do salmo 32 com o texto de Jó 1.6-9

“E num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles. Então o Senhor disse a Satanás: Donde vens? E Satanás respondeu ao Senhor, e disse: De rodear a terra, e passear por ela. E disse o Senhor a Satanás: Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal.”

A santificação aqui explicitada é o desejo de Deus para todos os seus servos [Colossenses 3.1-3]. É um processo interior que continua por toda vida. É um esforço dos eleitos de Deus para alcançar a estatura de varão perfeito, da plenitude de Cristo [Ef 4.13].

“Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo,” [Efésios 4:13].

Muito embora nos esforcemos (e somos estimulados por Deus a agir assim) jamais alcançaremos a perfeição na terra. Só Jesus Cristo viveu está plenitude entre nós. Em 1Pe 2.22, o autor bíblico nos declara que ele não pecou. Fico aqui pensando, como foi prazeroso no sentido mais exato da palavra o habitar do Espírito Santo de Deus em Jesus Cristo. Era perfeito em todos os aspectos. Para nós outros fica a lição de como devemos agir na condição de habitação do Espírito de Deus.

Se viver santamente entre os homens tem lá seu preço, o pecado também tem lá suas consequências.
A palavra afirma: “Quando eu guardei silêncio” [...]:
·         Havia conhecimento do pecado.

·         Havia dificuldade para acertar-se com Deus – Prováveis razões – Vergonha? Coração insensível ou embrutecido?

O certo é que as consequências foram devastadoras:

·         Envelheceram os meus ossos;
·         Consciência de pecado - Pelo meu bramido em todo o dia.
·         Cobrança divina - Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim;
·         Perda de ânimo e alegria de viver - O meu humor se tornou em sequidão de estio.

A desobediência não deixa opção para Deus a não ser disciplinar aqueles que tem por filho e quando Deus (Hebreus 12. 5-11; 1Co 11.30-32; 2Co 7.10) disciplina a coisa fica feia. A surra é dada na medida exata da nossa cara de pau (safadeza) e com uma intensidade tão medonha que o sujeito jamais ira esquecer do mal feito.
“E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, E não desmaies quando por ele fores repreendido; Porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos.”
[Hebreus 12. 5-11]

Davi autor deste salmo entendia muito bem o coração de Deus. É certo que Deus é essencialmente justiça, mas também misericordioso.

“Confessei-te o meu pecado, e a minha maldade não encobri. Dizia eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado”.

·         Consciência da necessidade de confissão - Esse é o momento maior na vida de um servo de Deus.

·         Essa ação implica em solução do problema. O poeta sacro indica o caminho certo a seguir quando erramos diante do nosso Pai celestial. Não há aqui nenhuma indicação para o crente buscar outro recurso que não seja o próprio Deus.  Essa atitude diferencia drasticamente o servo de Deus do homem carnal. O servo de Deus não tem prazer no pecado (apesar de ser um pecador), já o homem carnal tem prazer no pecado.
Davi ensina que é necessário confessarmos a Deus nossos pecados em parte devido sua experiência com a divindade. Veja uma das vivencias do rei de Israel com o perdão de divino.

“Falou, pois, o Senhor a Gade, o vidente de Davi, dizendo: Vai, e fala a Davi, dizendo: Assim diz o Senhor: Três coisas te proponho; escolhe uma delas, para que eu ta faça. E Gade veio a Davi, e lhe disse: Assim diz o Senhor: Escolhe para ti, Ou três anos de fome, ou que três meses sejas consumido diante dos teus adversários, e a espada de teus inimigos te alcance, ou que três dias a espada do Senhor, isto é, a peste na terra, e o anjo do Senhor destrua todos os termos de Israel; vê, pois, agora, que resposta hei de levar a quem me enviou. Então disse Davi a Gade: Estou em grande angústia; caia eu, pois, nas mãos do Senhor, porque são muitíssimas as suas misericórdias; mas que eu não caia nas mãos dos homens.” (1 Crônicas 21:9-13)

Essa expressão de Davi me comove profundamente. Aqui vejo mais absoluta confiança de que Deus não tem prazer em punir seus servos. Se assim age é porque não deixamos outra opção ao Santo de Israel.

No verso 6, nos deparamos com o fator tempo. “Por isso, todo aquele que é santo orará a ti, a tempo de te poder achar;”. Aprendemos aqui que a natureza do servo é buscar o seu Senhor. Há também uma outra verdade da qual é consequência da primeira: Existe um tempo certo para buscar o Senhor e é hoje. Amanhã é um dia que não nos pertence.

Outro dia ouvi uma ilustração de um pregador acerca de um homem que foi impactado por uma mensagem evangelística mas rejeitou pensando numa ocasião de prazer posterior ao culto. Ao concluir aquele trabalho na passagem de uma rua foi atropelado e perdeu a vida e a última oportunidade de se converter a Cristo.
Aqueles que buscam ao Senhor terá suas bênçãos e proteção (...até no transbordar de muitas águas, estas não lhe chegarão.).

Os versos de 7 a 11, corresponde a segunda parte deste salmo. Nele fica claro a posição de homens e Deus em relação as solicitudes desta vida:

·         Como o servo de Deus deve visualizar seu Senhor - Tu és o lugar em que me escondo; tu me preservas da angústia; tu me cinges de alegres cantos de livramento.
·        Como Deus cuida dos seus filhos - Instruir-te-ei, e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; guiar-te-ei com os meus olhos.

Essa é a posição que o salmista deseja inculcar na mente e coração de todos os neófitos na fé. Para os resistentes vai uma advertência:

“Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio para que não se cheguem a ti”. (Verso 9)

Esse grito de alerta é motivado pelo grande amor deste Deus que nos enche até as tabelas. Porque sofrer meu filho? Porque tirar leite de pedras? O caminho de volta ao Senhor sempre estará aberto. Por que se demora?

Os ímpios curti dores, o Justo aos olhos de Deus misericórdia. É isso mesmo, não somos merecedores de nada. Tudo é pela graça de Deus, tudo é via seu inefável amor. Cara Deus te ama demais, não despreze isso. Não seja uma mula ou um cavalo que independente da sua força não tem entendimento e por isso fazem bobagens.

Por último o poeta sacro nos convida a louvar a Deus. Olha amigo, só somos realmente felizes nessa condição.
Alegrai-vos no Senhor, e regozijai-vos, vós os justos; e cantai alegremente, todos vós que sois retos de coração. (Verso 11)

Em nome de Jesus, busque a Deus enquanto há tempo. Todas essas mazelas de materialismo, consumismo, cientificismo só enche o saco e esvazia nosso espírito. Nosso espírito se alimenta de Deus, Ele é a razão da nossa vida e por quer não confessar e deixar nossos erros em suas mãos? Reconciliassem com Deus hoje mesmo e alcance a salvação do seu espírito.


quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Ordem Mendicante - História da Igreja

As ordens mendicantes tiveram sua origem em meios as transformações sócio-política-econômica que passava a Europa. Na verdade é uma reação de parte da igreja aos novos valores capitalistas que ascendiam em detrimento do feudalismo decadente de seus dias.
A burguesia em ascensão punha em cheque a maneira de ver e pensar a vida própria da nobreza até então hegemônica em todo o continente europeu. Um novo conceito de riqueza surgia, não mais baseada na posse da terra, mas no acúmulo de moedas. O desenvolvimento econômico punha lado a lado ricos e pobres, estes últimos sem a delicada proteção e a subsistência extraída do feudo.
A discussão sobre a riqueza já fazia parte do dia-a-dia dos homens de letra e posses dos séculos XII e XIII. Ser rico em meio a um exército de miseráveis causava um certo desconforto. Dentre os muitos incomodados encontrava-se Pedro Valdo. Comerciante de Lyon, homem rico segundo os novos tempos, um burguês que de certa forma estava descontente com as transformações do seu mundo. Pedro Valdo é despertado em sua sensibilidade quando ouvi a lenda de São Aleixo.
Despertado a servir a pobreza viaja até Roma onde se coloca a serviço da igreja, contudo é rejeitado por seus interrogadores. No momento a igreja não havia percebido a profundidade do movimento, nem tão pouco entendia com clareza as mudanças que se processava a sua volta. Diante disto Pedro Valdo é proibido de pregar ao povo a sua doutrina, salvo com o consentimento do bispo local que na ocasião era seu principal opositor.
Quem poderia parar os valdenses em sua missão? Nada. Diante da perseguição proposta pela igreja e seus aliados, os seguidores de Pedro Valdo fogem para a região dos Alpes onde se juntam ao movimento de pobres de origem lombarda formando uma frente política nada simpática ao papado. Quando a reforma protestante surgiu na Europa muitos dos valdenses aderiram aos reformadores. O movimento valdense entra para a história da igreja como uma heresia, contudo, foi precursor do movimento franciscano que viria logo a seguir.
Giovanni [João], fundador da ordem franciscana, pertencia a mesma classe e tipo de família da qual provinha Pedro Valdo. Sua decisão para o ministério com os pobres ocorre na idade de 20 anos e depois de uma drástica experiência no campo de batalha. Certamente pôde contemplar a miséria humana e em seu íntimo e resolveu modificar essa realidade junto aos seus patrícios. Os valores burgueses baseados no lucro, na concentração de riquezas e na violência como instrumento de defesa dos seus interesses o levou a desprezar este estilo de vida que tanto sofrimento e dor causava aos seus contemporâneos.
Como testemunho da sua decisão renuncia a sua herança e busca ajuda papal as suas pretensões religiosas. Inocêncio III, o papa mais poderoso da história da igreja o recebe com certo desdém, colocando em prova a sua convicção e resistência as circunstâncias adversas. Devido sua aparência lamentavelmente pobre, o papa manda procurar uma pocilga, visto sua semelhança com as condições em que vivia esse animal. Ele obedece ao papa e depois de um certo tempo volta a se encontrar com Inocêncio e reclama deste a sua autorização para fundar uma ordem religiosa. Inocêncio percebendo sua força moral concede a Francisco sua petição.
Os franciscanos obtiveram êxito onde os valdenses fracassaram, em parte pela visão do papa Inocêncio que sabia reconhecer a capacidade dos seus colaboradores e a dimensão que a nova ordem alcançaria no seio da igreja. Livre para pregar sua ortodoxia Francisco se esmera na passagem de Mateus 10. 7-10 e passa a se dedicar ao trabalho com os pobres.
Seu movimento inova em relação aos demais por diversos motivos:
·         Primeiro – Assume um componente evangelístico.
·         Segundo – Tem como campo de atuação os grandes centros urbanos da sua época.
·         Terceiro – Funda a ordem das Clarissa dando a mulher um maior espaço dentro da igreja.
A vida monástica, o isolamento dos religiosos cede lugar a interação com as populações urbanas. Havia uma igreja que alcançava a todos independente da sua origem familiar. A disposição destes homens era também uma resposta aos movimentos anabatistas que questionavam a vida desregrada do clero católico e a corrupção tão comuns as práticas religiosas. A ética Franciscana, assim como a Dominicana eram pontos positivos na luta da igreja contra os “heréticos”.
            São Domingos era doze anos mais velho que São Francisco. A semelhança do seu irmão na fé também criou uma ordem religiosa: os pregadores. Ao contrário dos franciscanos os dominicanos se esmeram nos estudos como forma de combater os hereges. A competência do seu fundador neste campo já havia sido posta a prova quando este e o bispo de Osma evangelizaram com relativo sucesso os cátaros [hereges franceses]. A adoção do monastério nos moldes dos monges agostinianos e o voto de pobreza no estilo franciscanos são marcas da sua organização. Franciscanos e Dominicanos formaram as ordens mendicantes da igreja.
Após a morte dos seus fundadores as ordens mendicantes cresceram por toda Europa. Os ideais dos seus fundadores aos poucos foram sendo modificados e o voto de pobreza radical começou a ser questionado na medida que o crescimento determinava a aquisição de propriedades. Esse fato causou profundas lutas internas e externa a ordem. No meio franciscano surgiram dois partidos que punham em xeque a ortodoxia do seu fundador: Rigorista e Moderados. Enquanto as facções dentro da ordem franciscana acirravam os debates sobre o voto de pobreza, os Pobrezinhos de Assis e os Dominicanos ampliavam sua área de atuação chegando também as universidades, onde esse mesmo debate ganhou ares academicistas.
A pregação aos hereges e o avanço sobre as novas terras recém descobertas aos olhos dos europeus logo demonstrou para a igreja o valor missionário desta legião de pregadores a serviço do papado. Nomes como Guilherme de Trípoli [Frente mulçumana], Vicente Ferrer [missões entre os judeus], João Monte Corvino [Pérsia, Etiópia, Índia e China] davam prova da força da igreja e como o papa Inocêncio acertou ao acolher Francisco e São Domingo a sombra da igreja.  As baixas frequentes nas frentes missionárias ao invés de afastar os novos conversos estimulava-os a prosseguir na pregação cristã.
Com João Montecorvino a representação papal chega a China e multiplicam de forma que João é nomeado arcebispo de Cambaluc. Outros mais são enviados para ajuda-los a desenvolver sua missão.
Na medida em que os avanços missionários iam se consolidando nas novas terras o debate acerca da pobreza absoluta versos riqueza ganha novos capítulos na Europa. Os franciscanos sob a liderança de João de Parma chegam próximo do rompimento com o papado. Caso ocorresse se repetiria o fenômeno dos valdenses.
Os espirituais como passaram a se autodenominar se apegam a doutrina de Joaquim Fiore (Monge Cisterciense – Doutrina - Era do Pai, do Filho e do Espírito Santo) afirmando que toda a igreja estava vivendo a era do Filho enquanto eles já vivenciavam a do Espírito Santo. A defesa radical da doutrina do seu fundador em meio à confusão de papas (1230 – Gregório IX determina que o testamento de Francisco de Assis não tinha valor de lei), líderes religiosos e até franciscanos moderados, esses últimos tidos como traidores da ordem, davam o tom da beligerância internas na qual mergulhara os Pobrezinhos de Assis.
A disputa interna suavizada entre os dominicanos e acirrada entre os franciscanos terá seu ponto final quando da chegada a ordem de São Boaventura. Esse novo prelado combina espirito místico com a mais estrita ortodoxia franciscana e coloca fora da discussão política João de Parma e seus seguidores que serão trancafiados nos conventos. Nova reação ocorrerá após a morte de Boaventura, contudo, com o estabelecimento de uma breve perseguição os Espirituais desaparecem.
O alto ideal da pobreza absoluta levado a bom termo por Francisco de Assis chega ao fim após uma grave crise interna na ordem que criou. Apesar de todo esforço do monge a ganancia humana associada as necessidades advindas do crescimento da própria ordem deixou claro a incapacidade de se cumprir o testamento do seu fundador.
 CONCLUSÃO
A ordem mendicante veio em meio a uma Europa em transformação. O medievo abria espaço para o mundo moderno com seus valores e dessabores que colocavam em xeque as práticas feudais conduzindo os homens a uma nova organização sócio-política e econômica conhecida mais tarde como capitalismo.
Em meio as mudanças haviam também as resistências. Trocar o ideal de coletividade pelo individualismo, a fé pela razão, os laços de fidelidade e compromisso pela desconfiança da nota promissora, largar o orgulho do guerreiro, dos atos de nobreza, da camaradagem nos campos de batalha pela recompensa do lucro certamente não era um ideal de vida que muitos homens do medievo desejavam. A miséria campeava onde antes existiam a solidariedade, daí também na religião, área sensível as mudanças se implantam as ordens dos mendicantes.
Eles reprovavam a ganancia e se apegavam ao humano. A dependência de Deus era mais valiosa que a segurança da riqueza. Eles entendiam que o mercado era para servir ao homem e que suas necessidades jamais poderiam ser satisfeitas em função dele. Pedro Valdo, Francisco, ambos ligados a nascente burguesia percebiam a incoerência de poucos terem muitos e muitos terem que curtir a miséria. Certamente a preguiça não era explicação única para a pobreza absoluta. Daí optaram por largaram aquilo que feria para se identificarem com os mais simples assim como a pregação do Cristo.
As ordens mendicantes além de humanizarem a relação da igreja com seu povo (muitos sacerdotes não representavam o povo o qual se diziam líderes) respondeu parte da crítica histórica dos chamados hereges ao mal procedimento daqueles chamados escolhidos de Deus. Para o papado foi um delicioso equilíbrio de forças a tanto desejado, porém nunca posto em prática por seus representantes mais celebres.

 BIBLIOGRAFIA


GONZALEZ, L. Justo. A era dos altos ideais: Uma história ilustrada do Cristianismo. São Paulo:
         Ed. Vida Nova. Volume 04. Ano: 2001.


sábado, 23 de agosto de 2014

Through it all