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terça-feira, 2 de setembro de 2014
Resposta a desastre biológico global é urgentemente necessária no combate ao Ebola
02/09/2014
MSF denuncia a inércia internacional nos países africanos afetados pelo Ebola; Estados precisam enviar especialistas na área médica agora
Serra Leoa Nigéria Libéria Guiné
Ebola
Os líderes mundiais estão falhando em responder à pior epidemia de Ebola da História, e países com capacidade de resposta a desastres biológicos, incluindo competências médicas civis e militares, devem enviar imediatamente esses recursos para a África Ocidental, anunciou hoje a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) em reunião especial na Organização das Nações Unidas (ONU) organizada pelo escritório do Secretário Geral da ONU e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A maior propagação do vírus não será prevenida sem o envio massivo de unidades médicas especializadas para reforçar os esforços acerca do controle da epidemia nos países afetados, de acordo com MSF.
Em discurso para os Estados-membros da ONU, a presidente internacional de MSF, Dra. Joanne Liu, denunciou a escassez de recursos, que tem dependido de ministérios da saúde sobrecarregados e organizações não governamentais privadas, para combater esse surto excepcionalmente amplo. Apesar dos repetidos pedidos de MSF por uma mobilização massiva em campo, a resposta internacional tem sido letalmente inadequada.
As equipes médicas de MSF têm enfrentado o surto na África Ocidental desde março. Grupos não governamentais e as Nações Unidas não são capazes de implementar o roteiro global da OMS para combater o surto crescente e imprevisível. As taxas de transmissão alcançaram níveis nunca antes reportados em surtos anteriores de Ebola.
“Seis meses depois do início da pior epidemia de Ebola da História, o mundo está perdendo a batalha para contê-la”, afirmou a Dra. Joanne. “Os líderes estão falhando na luta contra essa ameaça transnacional. Em 8 de agosto, o anúncio da OMS que classificava a epidemia como uma “emergência de saúde pública de interesse internacional” não gerou ação definitiva e os Estados basicamente se juntaram em uma coalização de inércia global”, adicionou.
Muitos países detêm mecanismos de resposta a ameaças biológicas. Eles podem enviar civis treinados ou equipes médicas militares em questão de dias, de forma organizada e com lideranças definidas, para garantir altos padrões de segurança e eficiência paraprestar suporte aos países afetados. MSF insiste, no entanto, que quaisquer recursos enviados à região não devem ser utilizados para quarentena, contenção ou medidas de controle de multidões. Quarentenas forçadas geraram apenas o medo e a inquietação, ao invés de conter o vírus.
“Anúncios de financiamentos e envio de alguns especialistas não são suficientes”, afirma a Dra. Joanne. “Os Estados com as capacidades requeridas têm a responsabilidade humanitária de se apresentarem e oferecerem a resposta concreta, e tão necessária, ao desastre que se desdobra diante dos olhos do mundo”, diz. “Ao invés de limitarem suas respostas à potencial chegada de um paciente infectado a seus países, eles deveriam abraçar a oportunidade única de, de fato, salvar vidas onde é imediatamente necessário, na África Ocidental.”
De imediato, hospitais com alas de isolamento devem ser ampliados, pessoal treinado precisa ser enviado, laboratórios móveis precisam ser envolvidos para melhorar os diagnósticos, pontes aéreas precisam ser estabelecidas para facilitar a movimentação de pessoal e material para e a partir da África Ocidental e uma rede regional de hospitais precisa ser estabelecida para tratar pessoal médico com suspeita de infecção ou infecção confirmada.
Em Monróvia, na Libéria, por exemplo, novos centros de tratamento de Ebola com instalações de isolamento adequadas e pessoal qualificado são urgentemente necessários. A fila de pacientes continua a aumentar no centro de ELWA 3, de MSF, que agora conta com 160 leitos. Estima-se que sejam necessários 800 leitos adicionais apenas em Monróvia. A equipe de MSF está sobrecarregada e não pode oferecer mais do que cuidados paliativos.
“Todos os dias, temos que rejeitar a admissão de pessoas doentes porque estamos lotados”, afirma Stefan Liljegren, coordenador de MSF em ELWA 3. “Tive de pedir aos motoristas de ambulância para me ligarem antes de chegarem com pacientes, não importa o quão doentes eles estejam, porque é comum que não possamos admiti-los.”
Os centros de cuidados de MSF na Libéria e em Serra Leoa estão superlotados de pacientes com suspeita de Ebola. As pessoas continuam ficando doentes e estão morrendo em seus vilarejos e comunidades. Em Serra Leoa, cadáveres altamente contagiosos estão apodrecendo nas ruas.
A multiplicação das instalações de isolamento altamente qualificadas permitiria a referência e a admissão precoces, gerando um impacto significativo na mortalidade. As equipes de MSF podiam salvar mais vidas quando as pessoas infectadas com Ebola buscavam tratamento o quanto antes. O aumento da capacidade de isolamento também aliviará os sistemas de saúde dos países afetados pela epidemia, alguns dos quais estão à beira de um colapso. Ao menos 150 profissionais de saúde morreram com Ebola; outros estão com muito medo para voltar ao trabalho.
Além disso, centros de triagem precisam ser estruturados, sistemas para gerenciamento dos cadáveres precisam ser ampliados e itens de higiene precisam ser distribuídos em larga escala, juntamente com a ampliação da capacidade de monitoramento ativo. Campanhas de desinfecção são necessárias, bem como promoção de saúde e de higiene entre as populações e dentro das instalações de saúde.
“O relógio está correndo e o Ebola está vencendo”, diz a Dra. Joanne. “O tempo de reuniões e planejamento acabou. É hora de agir. Todos os dias de inércia significam mais mortes e o lento colapso das sociedades.”
MSF deu início à resposta ao Ebola na África Ocidental em março de 2014 e está atuando na Guiné, na Libéria, na Nigéria e em Serra Leoa. A organização administra cinco centros de tratamento de Ebola com capacidade total de 480 leitos. Desde março, MSF internou 2.077 pessoas, das quais 1.038 testaram positivo para Ebola e 241 se recuperaram. A organização enviou 156 profissionais internacionais para a região e conta com 1.700 pessoas contratadas localmente.
quinta-feira, 28 de agosto de 2014
O Perdão Divino
Perdão de Deus
Salmos 32:1-11
“Bem-aventurado aquele cuja
transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem
o Senhor não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano. Quando eu
guardei silêncio, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido em todo o dia.
Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em
sequidão de estio. (Selá.) Confessei-te o meu pecado, e a minha maldade não
encobri. Dizia eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu
perdoaste a maldade do meu pecado. (Selá.) Por isso, todo aquele que é santo
orará a ti, a tempo de te poder achar; até no transbordar de muitas águas,
estas não lhe chegarão. Tu és o lugar em que me escondo; tu me preservas da angústia;
tu me cinges de alegres cantos de livramento. (Selá.) Instruir-te-ei, e
ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; guiar-te-ei com os meus olhos. Não
sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca
precisa de cabresto e freio para que não se cheguem a ti. O ímpio tem muitas
dores, mas àquele que confia no Senhor a misericórdia o cercará. Alegrai-vos no
Senhor, e regozijai-vos, vós os justos; e cantai alegremente, todos vós que
sois retos de coração.
O salmo 32 é classificado como um
salmo de sabedoria, assim como o 37, 49, 112 e 127. Sua composição era
cuidadosamente planejada e centrada em temas da sabedoria associada a Torá.
Exemplo:
·
A certeza da retribuição justa ainda que
demorada.
·
As lições aprendidas com o perdão divino.
O tema abordado neste salmo é do arrependimento, assim como nos salmos
42, 44, 45, 52, 53, 54, 55, 74, 78, 88, 89 e 142. O poeta bíblico deixa claro
que o melhor desta vida é viver em plena comunhão com Deus.
Nos versos 1 e 2:
a) visualizamos
um exemplo bem sucedido de um processo de santificação.
b) percebemos
um certo grau de satisfação divina com a vida do seu servo que espelha tal grau
de intimidade com seu criador.
Essa satisfação pode ser melhor
observada quando comparamos os versos 1 e 2 do salmo 32 com o texto de Jó 1.6-9
“E num dia
em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também
Satanás entre eles. Então o Senhor disse a Satanás: Donde vens? E Satanás
respondeu ao Senhor, e disse: De rodear a terra, e passear por ela. E disse o
Senhor a Satanás: Observaste tu a meu
servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto,
temente a Deus, e que se desvia do mal.”
A santificação aqui explicitada é o desejo de Deus
para todos os seus servos [Colossenses 3.1-3]. É um processo interior que
continua por toda vida. É um esforço dos eleitos de Deus para alcançar a
estatura de varão perfeito, da plenitude de Cristo [Ef 4.13].
“Até que
todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem
perfeito, à medida da estatura completa de Cristo,” [Efésios 4:13].
Muito embora nos esforcemos (e
somos estimulados por Deus a agir assim) jamais alcançaremos a perfeição na
terra. Só Jesus Cristo viveu está plenitude entre nós. Em 1Pe 2.22, o autor
bíblico nos declara que ele não pecou. Fico aqui pensando, como foi prazeroso
no sentido mais exato da palavra o habitar do Espírito Santo de Deus em Jesus
Cristo. Era perfeito em todos os aspectos. Para nós outros fica a lição de como
devemos agir na condição de habitação do Espírito de Deus.
Se viver santamente entre os
homens tem lá seu preço, o pecado também tem lá suas consequências.
A palavra afirma: “Quando eu
guardei silêncio” [...]:
·
Havia conhecimento do pecado.
·
Havia dificuldade para acertar-se com Deus – Prováveis
razões – Vergonha? Coração insensível ou embrutecido?
O certo é que as consequências
foram devastadoras:
·
Envelheceram os meus ossos;
·
Consciência de pecado - Pelo meu bramido em todo
o dia.
·
Cobrança divina - Porque de dia e de noite a tua
mão pesava sobre mim;
·
Perda de ânimo e alegria de viver - O meu humor
se tornou em sequidão de estio.
A desobediência não deixa opção
para Deus a não ser disciplinar aqueles que tem por filho e quando Deus (Hebreus
12. 5-11; 1Co 11.30-32; 2Co 7.10) disciplina a coisa fica feia. A surra é dada
na medida exata da nossa cara de pau (safadeza) e com uma intensidade tão
medonha que o sujeito jamais ira esquecer do mal feito.
“E já vos esquecestes da
exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a
correção do Senhor, E não desmaies quando por ele fores repreendido; Porque o
Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por filho. Se
suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o
pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos
participantes, sois então bastardos, e não filhos.”
[Hebreus
12. 5-11]
Davi autor deste salmo entendia
muito bem o coração de Deus. É certo que Deus é essencialmente justiça, mas
também misericordioso.
“Confessei-te
o meu pecado, e a minha maldade não encobri. Dizia eu: Confessarei ao Senhor as
minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado”.
·
Consciência da necessidade de confissão - Esse é o
momento maior na vida de um servo de Deus.
·
Essa ação implica em solução do problema. O poeta
sacro indica o caminho certo a seguir quando erramos diante do nosso Pai
celestial. Não há aqui nenhuma indicação para o crente buscar outro recurso que
não seja o próprio Deus. Essa atitude
diferencia drasticamente o servo de Deus do homem carnal. O servo de Deus não tem prazer no pecado
(apesar de ser um pecador), já o homem
carnal tem prazer no pecado.
Davi ensina que é necessário confessarmos
a Deus nossos pecados em parte devido sua experiência com a divindade. Veja uma
das vivencias do rei de Israel com o perdão de divino.
“Falou,
pois, o Senhor a Gade, o vidente de Davi, dizendo: Vai, e fala a Davi, dizendo:
Assim diz o Senhor: Três coisas te proponho; escolhe uma delas, para que eu ta
faça. E Gade veio a Davi, e lhe disse: Assim diz o Senhor: Escolhe para ti, Ou três anos de fome, ou que três meses sejas
consumido diante dos teus adversários, e a espada de teus inimigos te alcance,
ou que três dias a espada do Senhor, isto é, a peste na terra, e o anjo do
Senhor destrua todos os termos de Israel; vê, pois, agora, que resposta hei de
levar a quem me enviou. Então disse Davi a Gade: Estou em grande angústia; caia eu, pois, nas
mãos do Senhor, porque são muitíssimas as suas misericórdias; mas
que eu não caia nas mãos dos homens.” (1 Crônicas 21:9-13)
Essa expressão de Davi me comove
profundamente. Aqui vejo mais absoluta confiança de que Deus não tem prazer em
punir seus servos. Se assim age é porque não deixamos outra opção ao Santo de
Israel.
No verso 6, nos deparamos com o
fator tempo. “Por isso, todo
aquele que é santo orará a ti, a tempo de te poder achar;”. Aprendemos aqui
que a natureza do servo é buscar o seu Senhor. Há também uma outra verdade da
qual é consequência da primeira: Existe um tempo certo para buscar o Senhor e é
hoje. Amanhã é um dia que não nos pertence.
Outro dia ouvi uma ilustração de
um pregador acerca de um homem que foi impactado por uma mensagem evangelística
mas rejeitou pensando numa ocasião de prazer posterior ao culto. Ao concluir
aquele trabalho na passagem de uma rua foi atropelado e perdeu a vida e a
última oportunidade de se converter a Cristo.
Aqueles que buscam ao Senhor terá
suas bênçãos e proteção (...até no
transbordar de muitas águas, estas não lhe chegarão.).
Os versos de 7 a 11, corresponde
a segunda parte deste salmo. Nele fica claro a posição de homens e Deus em
relação as solicitudes desta vida:
·
Como o servo de Deus deve visualizar seu Senhor
- Tu és o lugar em que me escondo; tu me preservas da angústia; tu me cinges de
alegres cantos de livramento.
· Como Deus cuida dos seus filhos - Instruir-te-ei,
e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; guiar-te-ei com os meus olhos.
Essa é a posição que o salmista
deseja inculcar na mente e coração de todos os neófitos na fé. Para os resistentes
vai uma advertência:
“Não sejais
como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de
cabresto e freio para que não se cheguem a ti”. (Verso 9)
Esse grito de alerta é motivado
pelo grande amor deste Deus que nos enche até as tabelas. Porque sofrer meu
filho? Porque tirar leite de pedras? O caminho de volta ao Senhor sempre estará
aberto. Por que se demora?
Os ímpios curti dores, o Justo aos olhos de Deus misericórdia. É
isso mesmo, não somos merecedores de nada. Tudo é pela graça de Deus, tudo é
via seu inefável amor. Cara Deus te ama demais, não despreze isso. Não seja uma
mula ou um cavalo que independente da sua força não tem entendimento e por isso
fazem bobagens.
Por último o poeta sacro nos
convida a louvar a Deus. Olha amigo, só somos realmente felizes nessa condição.
Alegrai-vos
no Senhor, e regozijai-vos, vós os justos; e cantai alegremente, todos vós que
sois retos de coração. (Verso 11)
Em nome de Jesus, busque a Deus
enquanto há tempo. Todas essas mazelas de materialismo, consumismo, cientificismo
só enche o saco e esvazia nosso espírito. Nosso espírito se alimenta de Deus,
Ele é a razão da nossa vida e por quer não confessar e deixar nossos erros em
suas mãos? Reconciliassem com Deus hoje mesmo e alcance a salvação do seu
espírito.
quarta-feira, 27 de agosto de 2014
Ordem Mendicante - História da Igreja
As ordens mendicantes tiveram sua origem em meios as
transformações sócio-política-econômica que passava a Europa. Na verdade é uma
reação de parte da igreja aos novos valores capitalistas que ascendiam em detrimento
do feudalismo decadente de seus dias.
A burguesia em ascensão punha em cheque a maneira de ver e pensar
a vida própria da nobreza até então hegemônica em todo o continente europeu. Um
novo conceito de riqueza surgia, não mais baseada na posse da terra, mas no acúmulo
de moedas. O desenvolvimento econômico punha lado a lado ricos e pobres, estes
últimos sem a delicada proteção e a subsistência extraída do feudo.
A discussão sobre a riqueza já fazia parte do dia-a-dia dos
homens de letra e posses dos séculos XII e XIII. Ser rico em meio a um exército
de miseráveis causava um certo desconforto. Dentre os muitos incomodados encontrava-se
Pedro Valdo. Comerciante de Lyon, homem rico segundo os novos tempos, um burguês
que de certa forma estava descontente com as transformações do seu mundo. Pedro
Valdo é despertado em sua sensibilidade quando ouvi a lenda de São Aleixo.
Despertado a servir a pobreza viaja até Roma onde se coloca a
serviço da igreja, contudo é rejeitado por seus interrogadores. No momento a
igreja não havia percebido a profundidade do movimento, nem tão pouco entendia
com clareza as mudanças que se processava a sua volta. Diante disto Pedro Valdo
é proibido de pregar ao povo a sua doutrina, salvo com o consentimento do bispo
local que na ocasião era seu principal opositor.
Quem poderia parar os valdenses em sua missão? Nada. Diante da
perseguição proposta pela igreja e seus aliados, os seguidores de Pedro Valdo fogem
para a região dos Alpes onde se juntam ao movimento de pobres de origem lombarda
formando uma frente política nada simpática ao papado. Quando a reforma
protestante surgiu na Europa muitos dos valdenses aderiram aos reformadores. O
movimento valdense entra para a história da igreja como uma heresia, contudo, foi
precursor do movimento franciscano que viria logo a seguir.
Giovanni [João], fundador da ordem franciscana, pertencia a
mesma classe e tipo de família da qual provinha Pedro Valdo. Sua decisão para o
ministério com os pobres ocorre na idade de 20 anos e depois de uma drástica
experiência no campo de batalha. Certamente pôde contemplar a miséria humana e em seu íntimo e
resolveu modificar essa realidade junto aos seus patrícios. Os valores
burgueses baseados no lucro, na concentração de riquezas e na violência como
instrumento de defesa dos seus interesses o levou a desprezar este estilo de
vida que tanto sofrimento e dor causava aos seus contemporâneos.
Como testemunho da sua decisão renuncia a sua herança e busca
ajuda papal as suas pretensões religiosas. Inocêncio III, o papa mais poderoso
da história da igreja o recebe com certo desdém, colocando em prova a sua
convicção e resistência as circunstâncias adversas. Devido sua aparência lamentavelmente
pobre, o papa manda procurar uma pocilga, visto sua semelhança com as condições
em que vivia esse animal. Ele obedece ao papa e depois de um certo tempo volta
a se encontrar com Inocêncio e reclama deste a sua autorização para fundar uma
ordem religiosa. Inocêncio percebendo sua força moral concede a Francisco sua
petição.
Os franciscanos obtiveram êxito onde os valdenses
fracassaram, em parte pela visão do papa Inocêncio que sabia reconhecer a
capacidade dos seus colaboradores e a dimensão que a nova ordem alcançaria no
seio da igreja. Livre para pregar sua ortodoxia Francisco se esmera na passagem
de Mateus 10. 7-10 e passa a se dedicar ao trabalho com os pobres.
Seu movimento inova em relação aos demais por diversos motivos:
·
Primeiro – Assume um componente evangelístico.
·
Segundo – Tem como campo de atuação os grandes centros
urbanos da sua época.
·
Terceiro – Funda a ordem das Clarissa dando a mulher
um maior espaço dentro da igreja.
A vida monástica, o isolamento dos religiosos cede lugar a
interação com as populações urbanas. Havia uma igreja que alcançava a todos
independente da sua origem familiar. A disposição destes homens era também uma
resposta aos movimentos anabatistas que questionavam a vida desregrada do clero
católico e a corrupção tão comuns as práticas religiosas. A ética Franciscana,
assim como a Dominicana eram pontos positivos na luta da igreja contra os “heréticos”.
São Domingos era doze anos mais
velho que São Francisco. A semelhança do seu irmão na fé também criou uma ordem
religiosa: os pregadores. Ao contrário dos franciscanos os dominicanos se esmeram
nos estudos como forma de combater os hereges. A competência do seu fundador
neste campo já havia sido posta a prova quando este e o bispo de Osma
evangelizaram com relativo sucesso os cátaros [hereges franceses]. A adoção do
monastério nos moldes dos monges agostinianos e o voto de pobreza no estilo
franciscanos são marcas da sua organização. Franciscanos e Dominicanos formaram
as ordens mendicantes da igreja.
Após a morte dos seus fundadores as ordens mendicantes
cresceram por toda Europa. Os ideais dos seus fundadores aos poucos foram sendo
modificados e o voto de pobreza radical começou a ser questionado na medida que
o crescimento determinava a aquisição de propriedades. Esse fato causou
profundas lutas internas e externa a ordem. No meio franciscano surgiram dois
partidos que punham em xeque a ortodoxia do seu fundador: Rigorista e
Moderados. Enquanto as facções dentro da ordem franciscana acirravam os debates
sobre o voto de pobreza, os Pobrezinhos de Assis e os Dominicanos ampliavam sua
área de atuação chegando também as universidades, onde esse mesmo debate ganhou
ares academicistas.
A pregação aos hereges e o avanço sobre as novas terras recém
descobertas aos olhos dos europeus logo demonstrou para a igreja o valor
missionário desta legião de pregadores a serviço do papado. Nomes como
Guilherme de Trípoli [Frente mulçumana], Vicente Ferrer [missões entre os
judeus], João Monte Corvino [Pérsia, Etiópia, Índia e China] davam prova da
força da igreja e como o papa Inocêncio acertou ao acolher Francisco e São Domingo
a sombra da igreja. As baixas frequentes
nas frentes missionárias ao invés de afastar os novos conversos estimulava-os a
prosseguir na pregação cristã.
Com João Montecorvino a representação papal chega a China e
multiplicam de forma que João é nomeado arcebispo de Cambaluc. Outros mais são
enviados para ajuda-los a desenvolver sua missão.
Na medida em que os avanços missionários iam se consolidando
nas novas terras o debate acerca da pobreza absoluta versos riqueza ganha novos
capítulos na Europa. Os franciscanos sob a liderança de João de Parma chegam
próximo do rompimento com o papado. Caso ocorresse se repetiria o fenômeno dos
valdenses.
Os espirituais como passaram a se autodenominar se apegam a
doutrina de Joaquim Fiore (Monge Cisterciense – Doutrina - Era do Pai, do Filho
e do Espírito Santo) afirmando que toda a igreja estava vivendo a era do Filho
enquanto eles já vivenciavam a do Espírito Santo. A defesa radical da doutrina
do seu fundador em meio à confusão de papas (1230 – Gregório IX determina que o
testamento de Francisco de Assis não tinha valor de lei), líderes religiosos e
até franciscanos moderados, esses últimos tidos como traidores da ordem, davam
o tom da beligerância internas na qual mergulhara os Pobrezinhos de Assis.
A disputa interna suavizada entre os dominicanos e acirrada
entre os franciscanos terá seu ponto final quando da chegada a ordem de São
Boaventura. Esse novo prelado combina espirito místico com a mais estrita
ortodoxia franciscana e coloca fora da discussão política João de Parma e seus
seguidores que serão trancafiados nos conventos. Nova reação ocorrerá após a
morte de Boaventura, contudo, com o estabelecimento de uma breve perseguição os
Espirituais desaparecem.
O alto ideal da pobreza absoluta levado a bom termo por
Francisco de Assis chega ao fim após uma grave crise interna na ordem que criou.
Apesar de todo esforço do monge a ganancia humana associada as necessidades
advindas do crescimento da própria ordem deixou claro a incapacidade de se
cumprir o testamento do seu fundador.
CONCLUSÃO
A ordem mendicante veio em meio a uma Europa em
transformação. O medievo abria espaço para o mundo moderno com seus valores e
dessabores que colocavam em xeque as práticas feudais conduzindo os homens a
uma nova organização sócio-política e econômica conhecida mais tarde como
capitalismo.
Em meio as mudanças haviam também as resistências. Trocar o
ideal de coletividade pelo individualismo, a fé pela razão, os laços de
fidelidade e compromisso pela desconfiança da nota promissora, largar o orgulho
do guerreiro, dos atos de nobreza, da camaradagem nos campos de batalha pela
recompensa do lucro certamente não era um ideal de vida que muitos homens do
medievo desejavam. A miséria campeava onde antes existiam a solidariedade, daí
também na religião, área sensível as mudanças se implantam as ordens dos
mendicantes.
Eles reprovavam a ganancia e se apegavam ao humano. A
dependência de Deus era mais valiosa que a segurança da riqueza. Eles entendiam
que o mercado era para servir ao homem e que suas necessidades jamais poderiam
ser satisfeitas em função dele. Pedro Valdo, Francisco, ambos ligados a
nascente burguesia percebiam a incoerência de poucos terem muitos e muitos
terem que curtir a miséria. Certamente a preguiça não era explicação única para
a pobreza absoluta. Daí optaram por largaram aquilo que feria para se
identificarem com os mais simples assim como a pregação do Cristo.
As ordens mendicantes além de humanizarem a relação da igreja
com seu povo (muitos sacerdotes não representavam o povo o qual se diziam
líderes) respondeu parte da crítica histórica dos chamados hereges ao mal
procedimento daqueles chamados escolhidos de Deus. Para o papado foi um
delicioso equilíbrio de forças a tanto desejado, porém nunca posto em prática por
seus representantes mais celebres.
BIBLIOGRAFIA
GONZALEZ, L. Justo. A era
dos altos ideais: Uma história ilustrada do Cristianismo. São Paulo:
Ed. Vida Nova. Volume 04. Ano: 2001.
sábado, 23 de agosto de 2014
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