terça-feira, 7 de outubro de 2025

Soneto: Fé


A fé é um farol que brilha forte,

Guiando-nos pelas trevas da dor,

Um refúgio seguro, onde a alma se porte,

E encontra paz, amor e luz maior.


É a certeza de que há algo mais,

Além do que vemos e podemos crer,

Uma força que nos faz superar,

E nos leva a um amor sem fim ou fim.


A fé é um dom que nos foi dado,

Para nos guiar nos momentos de aflição,

E nos lembrar de que não estamos sós,

Que há um propósito maior na vida.


Que a fé nos guie, nos fortaleça e nos faça,

Mais fortes, mais sábios e mais humanos.

O plano de Deus para salvar o pecador

 Rota Romano

A Bíblia nos mostra o caminho para voltarmos a Deus e alcançarmos o perdão dos nossos pecados em Cristo Jesus, nosso Senhor e Salvador da nossa alma.

1. A Realidade do Pecado (Romanos 3:23): "Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus". Ninguém é justo por si mesmo.

2. O Preço do Pecado (Romanos 6:23): "Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor". O pecado leva à separação de Deus.

3. O Dom de Deus (Romanos 5:8): "Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores." Jesus morreu para pagar o preço dos nossos pecados.

4. O Caminho da Salvação (Romanos 10:9-10): "Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para a justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação." A salvação vem pela fé em Jesus.

5. A Certeza da Salvação (Romanos 8:1): "Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus." Uma vez que você aceita a Jesus, a condenação é removida.

​A salvação é um dom de Deus, acessível a todos que creem em Jesus Cristo como seu Salvador e Senhor.

domingo, 5 de outubro de 2025

Estudo de Atos 21-26: A Jornada, Prisão e Defesa de Paulo

 


Os capítulos 21-26 do livro de Atos narram um dos episódios mais dramáticos e decisivos na vida de Paulo: sua última viagem a Jerusalém, que culminou em sua prisão e uma série de defesas perante as autoridades romanas e judaicas. 

Essa seção não é apenas um relato histórico, mas uma poderosa exposição da fidelidade inabalável de Paulo a Deus, independentemente das circunstâncias.

A Chegada em Jerusalém e a Prisão de Paulo (Atos 21)

Apesar dos avisos proféticos de que a prisão e o sofrimento o aguardavam em Jerusalém, Paulo, impulsionado pelo Espírito Santo, estava determinado a completar sua missão. Ao chegar, ele é recebido por Tiago e pelos presbíteros da igreja local. Para demonstrar respeito e acalmar os judeus convertidos que ainda observavam a lei de Moisés, Paulo é aconselhado a participar de um rito de purificação no Templo.

No entanto, sua presença lá é erroneamente interpretada. Judeus da Ásia o veem e o acusam de profanar o Templo ao introduzir gentios. Essa acusação infundada incita uma multidão furiosa que o arrasta para fora do Templo com a intenção de linchá-lo. A intervenção providencial do tribuno romano Cláudio Lísias salva sua vida, mas o leva à prisão.

As Acusações e a Defesa de Paulo (Atos 22-26)

A partir de sua prisão, Paulo começa uma série de defesas eloquentes, que são o ponto central desses capítulos. As acusações contra ele eram essencialmente:

  • Profanar o Templo.

  • Ensinar contra o povo judeu e a Lei de Moisés.

  • Ser um agitador e líder de uma seita (o Nazareno).

Diante de Cláudio Lísias, Paulo pede para falar à multidão. Ele se identifica como judeu, nascido em Tarso e criado em Jerusalém. Sua defesa é um testemunho de sua conversão no caminho de Damasco. Ele explica como sua vida foi transformada de um perseguidor feroz do cristianismo para um apóstolo de Cristo. A multidão o ouve até o momento em que ele menciona ter sido enviado para pregar aos gentios, o que provoca novamente a fúria e o tumulto.

Posteriormente, Paulo comparece diante do Sinédrio, o conselho judaico. Com grande astúcia, ele divide a assembleia ao declarar-se fariseu e afirmar que estava sendo julgado por causa da sua crença na ressurreição dos mortos. Isso cria uma grande discórdia entre fariseus e saduceus, forçando o tribuno romano a retirá-lo novamente para sua segurança.

Nos capítulos seguintes, Paulo é transferido para Cesareia e comparece perante os governadores Félix e Festo, e por fim, diante do Rei Agripa. Em cada uma dessas ocasiões, sua defesa não é meramente um argumento legal, mas um poderoso testemunho do evangelho. Ele não se defende apenas, ele prega!

Em sua defesa perante o rei Agripa, Paulo dá o seu mais completo e eloquente testemunho. Ele conta a história de sua vida, sua perseguição aos cristãos, sua dramática conversão e sua comissão divina. Ele apela diretamente ao rei, perguntando se ele crê nos profetas, concluindo com a poderosa declaração: "O que dizem os profetas e Moisés, é o que o Cristo tinha que sofrer e, depois de ressuscitar dos mortos, anunciar a luz tanto ao povo como aos gentios". O rei Agripa, impressionado, chega a dizer: "Por pouco me persuades a fazer-me cristão".

A Fidelidade de Paulo em Meio à Adversidade

Ao longo de todo esse período de prisão, ameaças e julgamentos, a fidelidade de Paulo a Deus é notável. Ele não cede, não nega sua fé e não se acovarda. Sua confiança em Deus é tão grande que ele chega a evangelizar seus acusadores e juízes. Em meio à perseguição, ele enxerga uma oportunidade de testemunho. Sua paixão pela pregação do evangelho supera seu próprio bem-estar e liberdade.

Paulo demonstra que a verdadeira liberdade não está na ausência de cadeias físicas, mas na lealdade a Cristo. Ele transforma cada cela e sala de audiência em uma plataforma para o evangelho, provando que a Palavra de Deus não pode ser aprisionada.

Lições para a Igreja Moderna

A experiência de Paulo, narrada em Atos 21-26, oferece lições cruciais para a igreja nos dias de hoje:

  • Fidelidade Inegociável: A igreja deve ser fiel à sua missão e ao seu chamado, mesmo quando isso resulta em sofrimento ou perseguição. Como Paulo, nossa lealdade a Cristo deve ser inegociável, independentemente das ameaças ou dificuldades.

  • A Oportunidade no Sofrimento: O sofrimento e a perseguição não são o fim, mas podem ser uma oportunidade para o testemunho. Paulo usou sua prisão para alcançar pessoas poderosas com o evangelho, mostrando que Deus pode usar as circunstâncias mais adversas para cumprir Seus propósitos.

  • O Evangelho é a Nossa Defesa: A defesa de Paulo não se baseava em argumentos legais complexos, mas no poder e na verdade do evangelho. A igreja moderna deve entender que a maior força de seu testemunho não está em sua retórica ou em sua influência política, mas na proclamação simples e poderosa da morte e ressurreição de Jesus.

  • Saber Contar a Sua História: Paulo era mestre em usar sua própria história como testemunho do poder transformador de Cristo. A igreja moderna precisa encorajar seus membros a contar suas próprias jornadas de fé, pois essas histórias pessoais têm o poder de persuadir e tocar corações de uma forma única.

A jornada de Paulo a Jerusalém e sua subsequente prisão são um lembrete vívido de que a vida cristã não está isenta de lutas, mas que em cada luta, há uma chance de honrar a Deus e avançar o Seu reino. A verdadeira vitória não está na ausência de tribulações, mas na fidelidade em meio a elas.

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Evangelismo Urbano: Estratégia paulina - Atos 18.1–21.17

 

Atos 18.1–21.17 

Introdução

  • Hoje, nosso estudo está focado no evangelismo urbano.

  • Em especial, vamos analisar o final da segunda viagem missionária e a terceira viagem empreendida por Paulo.

  • Nesta lição, vamos destacar: a. Princípios; b. Estratégias bíblicas do evangelismo urbano.

  • Inicialmente, vamos focar na cidade de Antioquia da Síria. Vejamos: a. Era um centro urbano multicultural e cosmopolita, onde gregos, romanos, judeus e sírios conviviam lado a lado. b. Era a terceira maior cidade do Império Romano, atrás apenas de Roma e Alexandria. c. Tinha uma população de aproximadamente 500 mil habitantes. Natal, hoje, é a 20ª cidade do Brasil em número de habitantes e tem 785.368 mil. Isso reforça a necessidade de a igreja trabalhar mais para divulgar a palavra de Deus, já que as cidades atuais são bem maiores que as antigas. d. Por tudo isso, a Igreja de Antioquia era um protótipo de igreja missionária.

    • Os irmãos estavam espalhados em grupos por toda a cidade.

    • Possuíam diversos lugares de reunião.

    • Foi a responsável por implantar a primeira ação missionária do Novo Testamento.

² E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. ³ Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram. ⁴ E assim estes, enviados pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre. Atos 13:2-4

  • Em nossos dias, quais fatores dificultam a expansão do evangelho em nossas cidades?

1. A Igreja

  • Espírito denominacionalista/competição sectarista:

    A fragmentação e a divisão causadas pelo espírito denominacionalista e a competição sectarista fazem com que igrejas e seus membros se isolem. Em vez de colaborarem na missão de evangelizar, eles gastam energia defendendo suas próprias tradições e competindo por seguidores. Isso cria barreiras e afasta quem busca uma comunidade de fé, que deveria ser um lugar de unidade e aceitação.

  • Divergências doutrinárias/mensagem confusa:

    A confusão e o descrédito gerados por divergências doutrinárias e mensagens confusas criam desconfiança no público. Quando cada igreja ensina algo diferente sobre temas fundamentais, as pessoas podem se perguntar qual é a verdade. Essa falta de clareza e unidade dificulta que a mensagem do evangelho seja vista como algo confiável e relevante para a vida.

  • Perda dos referenciais de como ser igreja/diferenças de formas de governo e costumes:

    O enfraquecimento da identidade da igreja se manifesta na priorização de formalidades e rituais em detrimento da essência do evangelho. Quando a igreja se preocupa mais com diferenças de formas de governo ou costumes do que com o amor, o serviço e a comunhão, ela perde sua identidade e seu propósito.

  • Em resumo, esses elementos desviam o foco da igreja de sua missão principal — pregar o evangelho e viver em comunidade — para questões secundárias que, em última instância, prejudicam sua capacidade de crescer e influenciar a sociedade de forma positiva.

2. A Sociedade

Por outro lado, temos uma sociedade moderna com seus desafios:

  • Avanços tecnológicos/meios de comunicação ultrarrápidos/impessoalidade:

    Os obstáculos da comunicação e da impessoalidade surgem com o avanço tecnológico e a comunicação ultrarrápida que, embora úteis, podem levar à impessoalidade e ao isolamento. O evangelho, que se baseia em relacionamentos profundos e comunitários, enfrenta dificuldades para se expandir em um ambiente onde as interações são muitas vezes superficiais. As pessoas podem se sentir desconectadas, e a mensagem do evangelho de amor e comunidade pode não encontrar um terreno fértil para se enraizar.

  • Ceticismo/violência/desemprego/crescimento desordenado das cidades:

    Os obstáculos do ceticismo e da desordem criam um ambiente de descrença e desconfiança. As pessoas podem questionar a existência de Deus ou o poder do evangelho de transformar vidas em meio a tanto sofrimento e injustiça. A desordem e o crescimento desordenado das cidades também criam ambientes hostis, onde as pessoas estão mais preocupadas com a segurança e a sobrevivência do que com questões de fé.

  • Materialismo:

    Os obstáculos relacionados ao materialismo e ao consumismo são evidentes em uma sociedade focada no sucesso imediato. O evangelho, que prega valores eternos e sacrifício, pode parecer irrelevante. As pessoas podem estar mais interessadas em prosperidade financeira e em acumular bens do que em buscar uma vida espiritual, vendo o evangelho como um obstáculo para seus objetivos de vida.

  • Anonimato:

    Os obstáculos da fragmentação social são causados pelo anonimato e a falta de conexão em grandes cidades, que dificultam a construção de comunidades de fé. O evangelho se expande principalmente através de relacionamentos e do testemunho de vida, mas em uma sociedade onde as pessoas não se conhecem ou não confiam umas nas outras, esse processo é dificultado. A igreja precisa superar o anonimato para se tornar uma família onde as pessoas se sintam seguras e amadas.

Estas são as dificuldades de nossos dias, mas como a experiência dos irmãos do passado pode nos ajudar hoje? Vejamos alguns princípios adotados pela igreja primitiva que podem nos ajudar.

I. Paulo em Corinto – Atos 18.1-18

¹ E depois disto partiu Paulo de Atenas, e chegou a Corinto. ² E, achando um certo judeu por nome Áquila, natural do Ponto, que havia pouco tinha vindo da Itália, e Priscila, sua mulher (pois Cláudio tinha mandado que todos os judeus saíssem de Roma), ajuntou-se com eles, ³ E, como era do mesmo ofício, ficou com eles, e trabalhava; pois tinham por ofício fazer tendas. ⁴ E todos os sábados disputava na sinagoga, e convencia a judeus e gregos. ⁵ E, quando Silas e Timóteo desceram da Macedônia, foi Paulo impulsionado no espírito, testificando aos judeus que Jesus era o Cristo. ⁶ Mas, resistindo e blasfemando eles, sacudiu as vestes, e disse-lhes: O vosso sangue seja sobre a vossa cabeça; eu estou limpo, e desde agora parto para os gentios. ⁷ E, saindo dali, entrou em casa de um homem chamado Justo, que servia a Deus, e cuja casa estava junto da sinagoga. ⁸ E Crispo, principal da sinagoga, creu no Senhor com toda a sua casa; e muitos dos coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados. ⁹ E disse o Senhor em visão de noite a Paulo: Não temas, mas fala, e não te cales; ¹⁰ Porque eu sou contigo, e ninguém lançará mão de ti para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade. ¹¹ E ficou ali UM ANO E SEIS MESES, ensinando entre eles a palavra de Deus. ¹² Mas, sendo Gálio procônsul da Acaia, levantaram-se os judeus concordemente contra Paulo, e o levaram ao tribunal, ¹³ Dizendo: Este persuade os homens a servir a Deus contra a lei. ¹⁴ E, querendo Paulo abrir a boca, disse Gálio aos judeus: Se houvesse, ó judeus, algum agravo ou crime enorme, com razão vos sofreria, ¹⁵ Mas, se a questão é de palavras, e de nomes, e da lei que entre vós há, vede-o vós mesmos; porque eu não quero ser juiz dessas coisas. ¹⁶ E expulsou-os do tribunal. ¹⁷ Então todos os gregos agarraram Sóstenes, principal da sinagoga, e o feriram diante do tribunal; e a Gálio nada destas coisas o incomodava. ¹⁸ E Paulo, ficando ainda ali muitos dias, despediu-se dos irmãos, e dali navegou para a Síria, e com ele Priscila e Áquila, tendo rapado a cabeça em Cencreia, porque tinha voto. Atos 18:1-18

  • Corinto foi o último grande lugar de testemunho de Paulo em sua segunda viagem missionária.

    • O estabelecimento inicial de seu trabalho ali (Atos 18.1-11) é seguido pelo relato de um incidente específico, no qual os judeus o levaram a julgamento diante do procônsul (vs. 12-17).

    • Contudo, Paulo conseguiu permanecer ali “ainda muitos dias” (v.18). Depois de concluir o ministério em Corinto, Paulo volta para Antioquia, fazendo uma breve parada em Éfeso (vs. 18-22).

  • Que informações temos sobre Corinto?

    • Ficava a 75 km a oeste de Atenas.

    • Era uma colônia romana.

    • Era a cidade mais influente da província de Acaia, tanto política quanto economicamente (portos de Cencreia e Lequeo).

    • Era uma cidade de péssima reputação moral — nela havia o culto a Afrodite ou Vênus, a deusa do amor. Portanto, a promiscuidade sexual era notória e amada por eles.

    • Eram orgulhosos por sua riqueza e cultura.

  • Mas, que metodologia Paulo usou para evangelizar o orgulhoso povo de Corinto? O autor da lição cita três movimentos:

1. Do particular para o público

[...] e chegou a Corinto. ² E, achando um certo judeu por nome Áquila, natural do Ponto, que havia pouco tinha vindo da Itália, e Priscila, sua mulher (pois Cláudio tinha mandado que todos os judeus saíssem de Roma), ajuntou-se com eles, ³ E, como era do mesmo ofício, ficou com eles, e trabalhava; pois tinham por ofício fazer tendas.

  • O sustento era provido por ele mesmo, mas estava aberto a receber ajuda da igreja (Filipenses 4.10-19).

  • Paulo procurou Áquila e Priscila, judeus cristãos da dispersão, vítimas da política romana (49 d.C.). Ele os treinou e os deixou em Éfeso (18.19).

  • Um princípio a ser observado: o trabalho em equipe é essencial na pregação eficiente do evangelho. Vejam:

²⁴ E chegou a Éfeso um certo judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, homem eloquente e poderoso nas Escrituras. ²⁵ Este era instruído no caminho do Senhor e, fervoroso de espírito, falava e ensinava diligentemente as coisas do Senhor, conhecendo somente o batismo de João. ²⁶ Ele começou a falar ousadamente na sinagoga; e, quando o ouviram Priscila e Áquila, o levaram consigo e lhe declararam mais precisamente o caminho de Deus. ²⁷ Querendo ele passar à Acaia [Corinto, Atenas e Cencreia], o animaram os irmãos, e escreveram aos discípulos que o recebessem; o qual, tendo chegado, aproveitou muito aos que pela graça criam. ²⁸ Porque com grande veemência, convencia publicamente os judeus, mostrando pelas Escrituras que Jesus era o Cristo. Atos 18:24-28

  • Mais um princípio: o discipulado. No v.25, Apolo ensinava diligentemente as coisas do Senhor, conhecendo somente o batismo de João. Foram Áquila e Priscila que ajustaram a compreensão e o discurso de Apolo.

  • Foram Áquila e Priscila que o recomendaram para os discípulos de Corinto, Atenas e Cencreia. E esse servo de Deus foi uma benção.

  • Uma aplicação: a) É necessário preparo para a evangelização de uma cidade. b) É preciso que a igreja gaste tempo e recurso no preparo dos que evangelizam.

  • Uma verdade: c) A concentração de igrejas diferentes e seitas diversas causam confusão à população.

    • Mensagens diferentes e contraditórias.

    • Venda de um evangelho barato ou caro demais (exigentes ao extremo).

2. Do público para o particular

  • Quando ainda em Corinto, Paulo reage diante da resistência dos judeus ao evangelho.

⁶ Mas, resistindo e blasfemando eles, sacudiu as vestes, e disse-lhes: O vosso sangue seja sobre a vossa cabeça; eu estou limpo, e desde agora parto para os gentios. ⁷ E, saindo dali, entrou em casa de um homem chamado Justo, que servia a Deus, e cuja casa estava junto da sinagoga. ⁸ E Crispo, principal da sinagoga, creu no Senhor com toda a sua casa; e muitos dos coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados.

  • Diante da resistência na sinagoga, Paulo direcionou o trabalho para uma casa particular (Tício Justo). Nesta casa... Crispo, principal da sinagoga, creu no Senhor com toda a sua casa; e muitos dos coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados.

  • Outro princípio: Pequeno grupo no lar. Essa estratégia consegue congregar pessoas que dificilmente entrariam em uma igreja. Aqui o trabalho é feito na base do relacionamento e confiança.

3. O aumento da atividade missionária

  • O aumento da atividade missionária e de seus frutos conduz à oposição.

⁹ E disse o Senhor em visão de noite a Paulo: Não temas, mas fala, e não te cales; ¹⁰ porque eu sou contigo, e ninguém lançará mão de ti para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade. ¹¹ E ficou ali UM ANO E SEIS MESES, ensinando entre eles a palavra de Deus.

  • É interessante notar que, até este ponto, a oposição ao ministério de Paulo geralmente o forçava a retirar-se de um lugar de testemunho.

  • Neste caso, não. Paulo recebe encorajamento de Deus para seguir em frente: "não temas, mas fala, e não te cales".

  • O Senhor almejava que Paulo completasse Seu propósito.

  • Em obediência, Paulo continua por mais 18 meses (v. 11), um tempo de permanência maior do que em qualquer outra cidade, com exceção de Éfeso. Nesse período (46-51 d.C.), ele escreve 1 e 2 Tessalonicenses.

  • A garantia de Deus foi imediatamente confirmada quando Paulo foi libertado de uma tentativa de condenação perante o procônsul.

  • A passagem de Atos 18.10-11 fornece uma visão útil para a compreensão e predestinação de Deus em relação à responsabilidade da pregação do evangelho. Embora Deus tenha dito a Paulo "Tenho muito povo nesta cidade" — indicando que muitos em Corinto viriam à fé em Cristo —, isso não o levou a concluir que não tivesse mais nenhum trabalho a fazer. Pelo contrário, Paulo permaneceu, pregando o evangelho.

II. Paulo em Éfeso – Atos 19.1-40

¹ E sucedeu que, enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, tendo passado por todas as regiões superiores, chegou a Éfeso; e achando ali alguns discípulos, ² Disse-lhes: Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes? E eles disseram-lhe: Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo. ³ Perguntou-lhes, então: Em que sois batizados então? E eles disseram: No batismo de João. ⁴ Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo de arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. ⁵ E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus. ⁶ E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam. ⁷ E estes eram, ao todo, uns doze homens. ⁸ E, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, disputando e persuadindo-os acerca do reino de Deus. ⁹ Mas, como alguns deles se endurecessem e não obedecessem, falando mal do Caminho perante a multidão, retirou-se deles, e separou os discípulos, disputando todos os dias na escola de um certo Tirano. ¹⁰ E durou isto por espaço de dois anos; de tal maneira que todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, assim judeus como gregos. ¹¹ E Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias. ¹² De sorte que até os lenços e aventais se levavam do seu corpo aos enfermos, e as enfermidades fugiam deles, e os espíritos malignos saíam. ¹³ E alguns dos exorcistas judeus ambulantes tentavam invocar o nome do Senhor Jesus sobre os que tinham espíritos malignos, dizendo: Esconjuro-vos por Jesus a quem Paulo prega. ¹⁴ E os que faziam isto eram sete filhos de Ceva, judeu, principal dos sacerdotes. ¹⁵ Respondendo, porém, o espírito maligno, disse: Conheço a Jesus, e bem sei quem é Paulo; mas vós quem sois? ¹⁶ E, saltando neles o homem que tinha o espírito maligno, e assenhoreando-se deles, pôde mais do que eles; de tal maneira que, nus e feridos, fugiram daquela casa. ¹⁷ E foi isto notório a todos os que habitavam em Éfeso, tanto judeus como gregos; e caiu temor sobre todos eles, e o nome do Senhor Jesus era engrandecido. ¹⁸ E muitos dos que tinham crido vinham, confessando e publicando os seus feitos. ¹⁹ Também muitos dos que seguiam artes mágicas trouxeram os seus livros, e os queimaram na presença de todos e, feita a conta do seu preço, acharam que montava a cinquenta mil peças de prata. ²⁰ Assim a palavra do Senhor crescia poderosamente e prevalecia. ²¹ E, cumpridas estas coisas, Paulo propôs, em espírito, ir a Jerusalém, passando pela Macedônia e pela Acaia, dizendo: Depois que houver estado ali, importa-me ver também Roma. ²² E, enviando à Macedônia dois daqueles que o serviam, Timóteo e Erasto, ficou ele por algum tempo na Ásia. ²³ E, naquele mesmo tempo, houve um não pequeno alvoroço acerca do Caminho. ²⁴ Porque um certo ourives da prata, por nome Demétrio, que fazia de prata nichos de Diana, dava não pouco lucro aos artífices, ²⁵ Aos quais, havendo-os ajuntado com os oficiais de obras semelhantes, disse: Senhores, vós bem sabeis que deste ofício temos a nossa prosperidade; ²⁶ E bem vedes e ouvis que não só em Éfeso, mas até quase em toda a Ásia, este Paulo tem convencido e afastado uma grande multidão, dizendo que não são deuses os que se fazem com as mãos. ²⁷ E não somente há o perigo de que a nossa profissão caia em descrédito, mas também de que o próprio templo da grande deusa Diana seja estimado em nada, vindo a ser destruída a majestade daquela que toda a Ásia e o mundo veneram. ²⁸ E, ouvindo-o, encheram-se de ira, e clamaram, dizendo: Grande é a Diana dos efésios. ²⁹ E encheu-se de confusão toda a cidade e, unânimes, correram ao teatro, arrebatando a Gaio e a Aristarco, macedônios, companheiros de Paulo na viagem. ³⁰ E, querendo Paulo apresentar-se ao povo, não lho permitiram os discípulos. ³¹ E também alguns dos principais da Ásia, que eram seus amigos, lhe rogaram que não se apresentasse no teatro. ³² Uns, pois, clamavam de uma maneira, outros de outra, porque o ajuntamento era confuso; e os mais deles não sabiam por que causa se tinham ajuntado. ³³ Então tiraram Alexandre dentre a multidão, impelindo-o os judeus para diante; e Alexandre, acenando com a mão, queria dar razão disto ao povo. ³⁴ Mas quando conheceram que era judeu, todos unanimemente levantaram a voz, clamando por espaço de quase duas horas: Grande é a Diana dos efésios. ³⁵ Então o escrivão da cidade, tendo apaziguado a multidão, disse: Homens efésios, qual é o homem que não sabe que a cidade dos efésios é a guardadora do templo da grande deusa Diana, e da imagem que desceu de Júpiter? ³⁶ Ora, não podendo isto ser contraditado, convém que vos aplaqueis e nada façais temerariamente; ³⁷ Porque estes homens que aqui trouxestes nem são sacrílegos nem blasfemam da vossa deusa. ³⁸ Mas, se Demétrio e os artífices que estão com ele têm alguma coisa contra alguém, há audiências e há procônsules; que se acusem uns aos outros; ³⁹ E, se de alguma outra coisa demandais, averiguar-se-á em legítima assembleia. ⁴⁰ Na verdade até corremos perigo de que, por hoje, sejamos acusados de sedição, não havendo causa alguma com que possamos justificar este concurso. Atos 19:1-40

  • Sobre Éfeso:

    • Localização: Costa ocidental da Ásia Menor (atual Turquia).

    • Status: Uma das maiores e mais importantes cidades do Império Romano.

    • Características Principais: a. Centro Comercial e Portuário: Ponto estratégico nas rotas de comércio, tornando-a uma cidade rica e cosmopolita. b. Diversidade Cultural: População misturada (gregos, romanos, judeus, entre outros), com grande fluxo de viajantes. c. Centro Religioso: Lar do Templo de Ártemis (romanos) ou Diana (gregos), uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo e principal ponto de adoração.

  • Ministério de Paulo em Éfeso:

    • Paulo vai de Corinto para Éfeso (Atos 19.1).

    • Em anos anteriores, ele já havia passado em Éfeso por ocasião do fim de sua segunda viagem missionária, permanecendo apenas 3 dias (Atos 18.19-21).

    • No entanto, estava de volta.

¹ E sucedeu que, enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, tendo passado por todas as regiões superiores, chegou a Éfeso; e achando ali alguns discípulos, ² Disse-lhes: Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes? E eles disseram-lhe: Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo. ³ Perguntou-lhes, então: Em que sois batizados então? E eles disseram: No batismo de João. ⁴ Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo de arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. ⁵ E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus. ⁶ E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam. ⁷ E estes eram, ao todo, uns doze homens. Atos 19.1-7

  • Inicialmente, temos o encontro de Paulo com 12 discípulos de João Batista (19.1-7). a. Não tinham conhecimento de Cristo (morte e ressurreição). b. Não tinham conhecimento do ministério do Espírito Santo (Pentecostes). c. Paulo os discipula, instruindo-os na mensagem completa do evangelho. d. Consequências: São batizados em nome de Jesus Cristo; o Espírito Santo desce sobre eles, o que é uma prova da nova aliança; eles demonstram ter recebido o Espírito falando em línguas e profetizando.

  • Em Éfeso, Paulo ficou 3 anos (Atos 20.31).

  • Seu ministério foi marcado pelas seguintes características:

1. Flexibilidade e perseverança – a sinagoga e a escola. Atos 19.8-11

⁸ E, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, disputando e persuadindo-os acerca do reino de Deus. ⁹ Mas, como alguns deles se endurecessem e não obedecessem, falando mal do Caminho perante a multidão, retirou-se deles, e separou os discípulos, disputando todos os dias na escola de um certo Tirano. ¹⁰ E durou isto por espaço de dois anos; de tal maneira que todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, assim judeus como gregos. Atos 19.8-11

  • Paulo mantém o mesmo padrão de Corinto, argumentando na sinagoga: "disputando e persuadindo-os acerca do reino de Deus".

  • Os judeus resistem a Paulo, e este se aloja na escola de Tirano (v.9).

Observação: Essa flexibilidade e perseverança do apóstolo podem ser imitadas em nossos dias. Falta de dinheiro ou espaço não deve ser um obstáculo na pregação do evangelho.

2. Choque de poder – Atos 19.2-18

  • Surgem novas oposições, não mais dos judeus, mas do diabo e suas hostes.

E, naquele mesmo tempo, houve um não pequeno alvoroço acerca do Caminho. ²⁴ Porque um certo ourives da prata, por nome Demétrio, que fazia de prata nichos de Diana, dava não pouco lucro aos artífices, ²⁵ Aos quais, havendo-os ajuntado com os oficiais de obras semelhantes, disse: Senhores, vós bem sabeis que deste ofício temos a nossa prosperidade; ²⁶ E bem vedes e ouvis que não só em Éfeso, mas até quase em toda a Ásia, este Paulo tem convencido e afastado uma grande multidão, dizendo que não são deuses os que se fazem com as mãos. ²⁷ E não somente há o perigo de que a nossa profissão caia em descrédito, mas também de que o próprio templo da grande deusa Diana seja estimado em nada, vindo a ser destruída a majestade daquela que toda a Ásia e o mundo veneram. ²⁸ E, ouvindo-o, encheram-se de ira, e clamaram, dizendo: Grande é a Diana dos efésios. ²⁹ E encheu-se de confusão toda a cidade e, unânimes, correram ao teatro, arrebatando a Gaio e a Aristarco, macedônios, companheiros de Paulo na viagem. At. 19. 2-18

  • As razões eram econômicas, contudo, vinham mascaradas de espiritualidade.

  • As cidades se caracterizam por sua complexidade econômica, emocional e espiritual, e são campo aberto para a ação da igreja ou do inimigo de nossas almas.

  • É importante conhecermos o contexto espiritual, ideológico e místico em que estamos inseridos.

3. Transformações – Atos 19.19-20

¹⁹ Também muitos dos que seguiam artes mágicas trouxeram os seus livros, e os queimaram na presença de todos e, feita a conta do seu preço, acharam que montava a cinquenta mil peças de prata. ²⁰ Assim a palavra do Senhor crescia poderosamente e prevalecia.

  • A palavra de Deus triunfa em Éfeso.

  • Livros de encantamento eram peças caríssimas.

    • Na época de Paulo, um denário era o salário de um dia de trabalho para um trabalhador comum, como um lavrador. Se considerarmos o valor de um dia de trabalho na economia moderna brasileira (por exemplo, um salário diário de R$ 60, dependendo da profissão), 50.000 denários equivaleriam a um valor entre 3 milhões de reais.

    • Se um denário era o salário de um dia, essa soma corresponderia a cerca de 137 anos de trabalho de uma pessoa. Em resumo, 50.000 denários eram uma fortuna no mundo antigo.

Observação: A igreja cumpre a sua vocação quando está presente, ora, proclama e pratica os valores do Reino de Deus. Hoje, nossos principais problemas são o misticismo, secularismo e materialismo.


III. De Éfeso para Mileto – Atos 20.1-35

I. A Jornada de Paulo (v. 1-16)

  • Saída de Éfeso (v. 1): Paulo deixa a cidade após o tumulto, consolando os discípulos.

  • Viagem e Companheiros (v. 2-6):

    • Percurso: Passa pela Macedônia e Grécia (três meses).

    • Companheiros: Nomeia vários, mostrando a natureza colaborativa de seu ministério (Sópater, Aristarco, Segundo, Gaio, Timóteo, Tíquico, Trófimo).

  • O Milagre em Trôade (v. 7-12):

    • Contexto: Reunião dos discípulos para "partir o pão" (comunhão), discurso de Paulo que se estende até a meia-noite.

    • O Incidente: Um jovem chamado Êutico, sentado na janela, adormece e cai do terceiro andar, morrendo.

    • Ação de Paulo: Ele o ressuscita, mostrando o poder de Deus e a autoridade apostólica.

  • Viagem Marítima e Terrestre (v. 13-16):

    • Itinerário: Viagem de navio com paradas (Assôs, Mitilene, Quios, Samos, Trogílio).

    • Motivo da pressa: Paulo quer evitar Éfeso para não se atrasar e chegar a Jerusalém a tempo para a festa de Pentecostes.

II. A Despedida de Paulo aos Anciãos de Éfeso (v. 17-35)

  • Local do Encontro (v. 17): Mileto, para onde Paulo convoca os líderes (anciãos) da igreja de Éfeso.

  • Retrospectiva do Ministério de Paulo (v. 18-21):

    • Humildade e Sacrifício (v. 19): Serviu ao Senhor com humildade, lágrimas e superando provações.

    • Integridade do Ensino (v. 20-21): Não deixou de ensinar o que era útil, tanto publicamente quanto nas casas, pregando o arrependimento e a fé em Cristo.

  • Visão de Futuro e Sacrifício Pessoal (v. 22-25):

    • Certeza do Sofrimento (v. 22-23): Ligado pelo Espírito, Paulo vai para Jerusalém sabendo que tribulações e prisões o aguardam.

    • Prioridade do Ministério (v. 24): Declara que sua vida não é preciosa, mas que o mais importante é cumprir sua missão de testemunhar o evangelho.

    • A Despedida (v. 25): Ele profetiza que eles não o verão mais.

  • Instruções e Advertências (v. 26-31):

    • Advertência contra Falsos Mestres (v. 28-30): Paulo alerta sobre "lobos cruéis" (falsos mestres) que entrarão no rebanho e sobre pessoas que se levantarão do próprio meio deles para desviar discípulos.

    • Responsabilidade dos Líderes (v. 28): Eles foram designados pelo Espírito Santo para pastorear a Igreja de Deus.

    • Exortação à Vigilância (v. 31): Lembra sua própria dedicação (três anos de admoestação, dia e noite, com lágrimas).

  • A Benção Final e o Exemplo (v. 32-35):

    • Encomenda a Deus (v. 32): Confia os anciãos e a igreja a Deus e à Sua Palavra.

    • Exemplo de Desapego (v. 33-34): Reforça que não cobiçou bens materiais e que trabalhou com as próprias mãos para sustentar a si mesmo e a seus companheiros.

    • A Mensagem Final (v. 35): Cita a frase de Jesus: "Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber."

Conclusão

  • Lições retiradas das viagens missionárias de Paulo: 

  1. Escolha de locais seculares: Tanto em Corinto como em Éfeso, Paulo começa na sinagoga e termina em acomodações neutras (casa e escola) para pregar o evangelho.
  2. Apresentação racional e inteligente do evangelho: Paulo apresentava o evangelho de maneira séria, estruturada e persuasiva.
  3. Permanência longa nas cidades: Corinto (um ano e meio) e Éfeso (três anos). Ele começa com o que tem ao seu dispor. Pequenos projetos podem ser usados por Deus para ganharmos a nossa cidade.
  4. Em 2026, teremos a estruturação do primeiro grupo multiplicador no Alecrim. Quem sabe outros não surgirão em outros bairros de Natal? Que Deus nos abençoe.
Fonte: 

CUNHA, Silas Arbolato da. Atos dos Apóstolos. Revista da Escola Bíblica Dominical, Curitiba: Editora Cristã Evangélica, p. 74-79, 2025.

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Estudo Bíblico - Romanos 4

 

O estudo de Romanos 4, que se concentra na justificação pela fé, é um dos textos mais importantes de toda a Bíblia. Neste capítulo, o apóstolo Paulo usa a vida de Abraão, o pai da fé, para demonstrar que a salvação não é alcançada por meio de obras da lei, mas sim pela fé em Deus.

O Contexto Histórico e Teológico

No tempo de Paulo, os cristãos judeus e os não judeus (gentios) debatiam sobre o papel da Lei de Moisés na salvação. Os judeus, em sua maioria, acreditavam que a circuncisão e a obediência à Lei eram essenciais para ser justo diante de Deus. Paulo, por outro lado, argumenta que a salvação é um presente gratuito de Deus, disponível a todos, independentemente da etnia ou das obras que tenham feito. Ele usa o exemplo de Abraão para provar seu ponto.

A Justificação de Abraão (Romanos 4:1-8)

Paulo inicia a discussão com uma pergunta: "Que diremos, pois, que Abraão, nosso pai, achou segundo a carne?" (v. 1). Ele imediatamente responde que Abraão não foi justificado por suas obras. Se fosse assim, ele teria do que se gabar. No entanto, as Escrituras afirmam: "Abraão creu em Deus, e isso lhe foi atribuído para justiça" (v. 3). Essa frase é uma citação de Gênesis 15:6 e é o ponto central do capítulo.

Paulo diferencia claramente a recompensa do trabalho (que é devida) da justificação pela fé (que é uma dádiva). Ele usa o exemplo de Davi, que fala sobre a bênção do homem a quem Deus "atribui justiça sem obras" (vv. 6-8). Isso demonstra que a justificação pela graça de Deus, por meio da fé, é um tema presente no Antigo Testamento.

A Prioridade da Fé sobre a Circuncisão (Romanos 4:9-12)

Para os judeus, a circuncisão era um sinal crucial da aliança com Deus. Paulo, no entanto, inverte a ordem cronológica para mostrar que a justificação de Abraão aconteceu antes de ele ser circuncidado. Ele foi justificado pela fé (Gênesis 15) e só depois, 14 anos mais tarde, recebeu o sinal da circuncisão (Gênesis 17).

Isso tem implicações profundas: a circuncisão não era a causa da justificação, mas sim um selo ou sinal da justiça que ele já tinha pela fé. Essa verdade torna Abraão o pai de todos os que creem, sejam eles circuncidados (judeus) ou não circuncidados (gentios), mostrando que a justificação pela fé é universal.

A Promessa de Deus e a Lei (Romanos 4:13-17)

Paulo continua seu argumento, afirmando que a promessa de que Abraão herdaria o mundo não foi dada pela Lei, mas pela justiça da fé. Ele explica que, se a herança dependesse da Lei, a fé se tornaria inútil e a promessa seria anulada, pois a Lei traz a ira de Deus e não a vida.

A fé é o caminho para que a promessa seja baseada na graça de Deus. Isso garante que a promessa seja firme e para todos os descendentes de Abraão: não apenas para aqueles que seguem a Lei, mas também para os que têm a fé de Abraão.

A Fé Inabalável de Abraão (Romanos 4:18-25)

Nesta seção, Paulo descreve a qualidade da fé de Abraão. Apesar de sua idade avançada e da infertilidade de Sara, ele creu contra a esperança de que seria o pai de muitas nações, como Deus havia prometido. Sua fé não vacilou. Ele deu glória a Deus e estava plenamente convicto de que Deus era capaz de cumprir o que havia prometido.

Paulo, então, faz a ligação direta entre a fé de Abraão e a fé do cristão. A Escritura não foi escrita apenas por causa de Abraão, mas também por nossa causa. Nossa fé é atribuída para justiça, assim como a dele. E a nossa fé se baseia em Jesus Cristo, que foi entregue por nossos pecados e ressuscitado para nossa justificação.

Principais Conclusões de Romanos 4

  • A Justificação é pela Fé, não pelas Obras: Ninguém é considerado justo diante de Deus por obedecer à Lei ou por qualquer outra ação humana.

  • Abraão é o Exemplo e o Pai da Fé: Sua vida prova que a salvação sempre foi pela fé, antes mesmo da Lei ser dada e da circuncisão ser instituída.

  • A Salvação é Universal: Por ser baseada na fé e não em rituais ou etnia, a salvação está disponível para todos os povos.

  • Nossa Fé se Conecta à de Abraão: Assim como Abraão creu na promessa de Deus de dar vida, nós cremos na promessa de Deus de nos justificar por meio de Jesus, que foi ressuscitado.

Em suma, Romanos 4 nos mostra que a graça de Deus é o fundamento da salvação, e a fé é a nossa resposta a essa graça. É um capítulo que desmonta o orgulho humano e estabelece a justificação como um presente gratuito e maravilhoso de Deus.

Diário de um servo.

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Salmos 6

 O Salmo 6 é um salmo de lamento individual, onde o salmista expressa seu sofrimento profundo e implora a Deus por misericórdia e cura. Ele é frequentemente chamado de "salmo penitencial" porque o sofrimento do salmista está ligado ao seu pecado e ao sentimento de que a ira de Deus se abateu sobre ele.

Principais Temas e Contexto

 * Sofrimento Físico e Espiritual: O salmista está em grande angústia, sentindo-se exausto, doente e em desespero. Ele clama a Deus para que o cure, pois suas "entranhas se perturbam" e sua alma está "profundamente angustiada".

 * Arrependimento e Súplica por Perdão: O sofrimento do salmista não é visto como algo aleatório, mas sim como uma consequência do pecado. Ele reconhece a ira de Deus e pede que ela seja afastada, implorando por misericórdia. O arrependimento é um tema central.

 * Angústia Diante da Morte: O salmista argumenta com Deus que, se ele morrer, não poderá mais louvá-Lo. Ele pergunta: "Na morte, não há memória de ti; no Sheol, quem te louvará?". Isso reflete a crença antiga de que a vida após a morte no Sheol (o mundo dos mortos) era uma existência sombria e silenciosa, onde não havia louvor a Deus. O salmista deseja viver para continuar a adorar a Deus.

 * Virada e Confiança: No final do salmo, há uma mudança notável de tom. O salmista, que antes clamava em desespero, agora expressa confiança de que Deus ouviu sua oração. Ele se dirige a seus inimigos, dizendo que eles serão envergonhados e recuarão, pois Deus ouviu a voz de seu pranto. Essa transição de lamento para confiança é uma característica comum em muitos salmos.

Em resumo, o Salmo 6 é um retrato vívido da experiência de alguém que se sente esmagado pelo pecado e pela doença, mas que, mesmo no fundo do poço, mantém a esperança e a fé de que Deus ouvirá seu clamor e o salvará. Ele serve como um modelo de oração para aqueles que buscam a misericórdia de Deus em tempos de grande angústia.


sábado, 6 de setembro de 2025

Um Chamado à Mordomia: O Papel do Cristão na Crise Climática


 Em um mundo onde as notícias sobre o clima parecem cada vez mais urgentes e alarmantes, nós, como cristãos, somos chamados a refletir sobre nosso papel. A crise climática — um fenômeno cientificamente comprovado e visível em nossos dias — não é apenas uma questão política ou científica. Ela é, fundamentalmente, uma questão de fé e obediência.

A Bíblia, desde o seu primeiro livro, estabelece um princípio central: Deus é o Criador de todas as coisas. O Salmo 24:1 nos lembra: "Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam." Isso nos coloca em uma posição de mordomia, não de posse. Deus nos confiou a Terra para que a cultivássemos e a guardássemos (Gênesis 2:15).

Nossa responsabilidade é cuidar da criação, não explorá-la de forma irresponsável. O mandamento de "dominar" a Terra (Gênesis 1:28) não significa tirar proveito dela sem limites, mas sim gerenciá-la com sabedoria, assim como um bom administrador cuida dos bens de seu senhor.

1. O Cenário da Crise Climática: Uma Visão Geral

Diversas instituições científicas globais, como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a NASA e a Organização Meteorológica Mundial (OMM), concordam que as atividades humanas são a principal causa do aumento da temperatura global.

O que já é conhecido e observado:

  • Aumento das Temperaturas: Os registros mostram que a temperatura média da Terra já subiu aproximadamente 1°C desde a era pré-industrial. Isso parece pouco, mas tem um impacto gigantesco no sistema climático.

  • Eventos Climáticos Extremos: O aquecimento do planeta intensifica fenômenos como ondas de calor mais longas e frequentes, secas severas, inundações e tempestades mais violentas. O gelo dos polos e das geleiras está derretendo, o que contribui para a elevação do nível do mar.

  • Impacto na Biodiversidade: As mudanças nos ecossistemas ameaçam a vida de inúmeras espécies, levando à extinção. Isso afeta a teia da vida que Deus criou e sustenta.

2. Previsões e o Chamado à Ação

Com base nos dados científicos atuais, as projeções futuras, embora variem em intensidade, apontam para uma continuação dos problemas se não houver mudança significativa:

  • Aumento do Nível do Mar: A elevação contínua do nível do mar ameaça cidades costeiras e ilhas, deslocando populações e contaminando reservas de água doce.

  • Escassez de Alimentos e Água: A alteração dos padrões de chuva e o aumento das secas podem comprometer a agricultura e a segurança alimentar em diversas regiões do mundo, especialmente nas mais pobres e vulneráveis.

  • Crise de Refugiados Climáticos: Populações inteiras poderão ser forçadas a se mudar devido a inundações ou desertificação, gerando uma nova e grave crise humanitária.

Como cristãos, a crise climática nos chama a agir com amor ao próximo. Jesus nos ensinou que o maior mandamento é amar a Deus e ao nosso próximo como a nós mesmos. Ao proteger a criação, estamos protegendo os mais vulneráveis — aqueles que menos contribuíram para o problema, mas que mais sofrem com suas consequências.

Cuidar da criação é um ato de adoração. É reconhecer a soberania de Deus e honrar o que Ele criou. É um convite para sermos agentes de restauração em um mundo que geme (Romanos 8:22), aguardando a redenção final.

Nossa resposta deve ir além da conscientização:

  • Individualmente: Podemos adotar hábitos que reduzem nossa pegada ecológica, como consumir de forma mais consciente e economizar recursos.

  • Em Comunidade: Podemos influenciar nossas igrejas a se tornarem modelos de sustentabilidade, educando os membros sobre a importância da mordomia e apoiando iniciativas que protejam o meio ambiente.

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Quando o Mal Domina

A vida, muitas vezes, nos apresenta uma pergunta dolorosa: "Onde está Deus quando o mal domina?" Vemos a injustiça, a dor e a opressão ao nosso redor, e o mundo parece estar fora de controle. O mal não é apenas um conceito abstrato; ele se manifesta em traições, calúnias, perdas e sofrimento.

A Bíblia, no entanto, não nos deixa sem resposta. Ela nos mostra que, mesmo quando o mal parece triunfar, a mão de Deus está em ação. O livro de Gênesis nos dá um dos exemplos mais poderosos dessa verdade, através da vida de José.

Em sua juventude, José foi vítima da inveja e do ódio de seus próprios irmãos. Eles o jogaram em um poço e o venderam como escravo para mercadores. Pense por um momento no desespero de José. Ele foi separado de sua família e levado para uma terra estrangeira, onde enfrentou uma série de provações. O mal, naquele momento, parecia ter vencido. A traição dos irmãos, a falsa acusação da esposa de Potifar e os anos de prisão injusta pareciam ser o fim da história de José. Humanamente, não havia esperança.

Mas a Bíblia nos mostra o quadro completo. Enquanto o mal agia no palco da história, Deus estava trabalhando nos bastidores. Ele usou a crueldade dos irmãos e a injustiça da prisão para preparar José. O mal, que pretendia destruí-lo, tornou-se o instrumento de sua ascensão. José, o escravo e prisioneiro, foi elevado a governador do Egito, em um plano divino para salvar não apenas sua família, mas nações inteiras da fome.

A verdade central de sua história é resumida nas palavras do próprio José aos seus irmãos: "Vós bem intentastes mal contra mim, porém Deus o tornou em bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar em vida a muito povo" (Gênesis 50:20).

A aparente vitória do mal foi, na verdade, um passo no plano de Deus. A história de José nos ensina que a soberania de Deus não elimina a maldade humana, mas a subordina ao Seu propósito eterno.

Aplicações para a Edificação da Igreja

A experiência de José não é apenas uma história antiga; é uma fonte de edificação para a Igreja hoje.

  1. Cultivem uma Esperança Inabalável: Como a Igreja, não podemos nos deixar vencer pelo desespero quando o mal nos cerca. Nossa esperança não está nas circunstâncias, mas na certeza de que Deus é soberano sobre todas elas. Ele está trabalhando em meio aos nossos sofrimentos, assim como trabalhou na vida de José. Quando a injustiça nos atinge, nossa fé nos lembra que a nossa história não termina com o poço ou a prisão, mas com a glória de Deus.

  2. Pratiquem o Perdão Radical: A atitude de José em perdoar seus irmãos é um testemunho poderoso do poder de Deus. O perdão é a arma mais eficaz contra o ciclo do mal. O perdão quebra as cadeias do ódio e da vingança e liberta tanto quem perdoa quanto quem é perdoado. A Igreja é chamada a ser uma comunidade de perdão, refletindo o perdão que recebemos de Cristo.

  3. Abraçem o Propósito Redentor: A história de José nos ensina que nossos sofrimentos e as injustiças que enfrentamos podem ter um propósito maior. Deus pode usar nossas dores e provações para nos capacitar e nos posicionar para sermos bênçãos na vida de outros. A Igreja é o corpo de Cristo, chamado a ser um instrumento de redenção no mundo. Nossas experiências, mesmo as mais difíceis, podem ser usadas por Deus para trazer vida, cura e salvação para aqueles que estão ao nosso redor.

Que a história de José nos fortaleça, nos inspire a viver com esperança e a sermos instrumentos da graça e da bondade de Deus, mesmo quando o mal parece dominar.

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

O Fundamento Pastoral nas Escrituras Hebraicas

 Diário de um Servo

O Fundamento Pastoral nas Escrituras Hebraicas: Uma Análise do Aconselhamento no Antigo Testamento, Suas Consequências e Aplicações para o Ministério Cristão Contemporâneo

I. Introdução: O Conceito de Aconselhamento no Antigo Testamento

Embora o "aconselhamento bíblico" como uma disciplina formal e estruturada seja um desenvolvimento moderno dentro da teologia pastoral, os princípios, as metodologias e a prática do aconselhamento estão profundamente enraizados em toda a narrativa e doutrina do Antigo Testamento. As Escrituras Hebraicas não se limitam a fornecer preceitos; elas oferecem uma rica tapeçaria de exemplos que demonstram a ação pastoral, revelam a natureza humana e ilustram a complexidade das interações divinas e humanas. A base para todo conselho eficaz, conforme retratado no Antigo Testamento, não reside na sabedoria humana ou em ideias transitórias, mas na revelação e na vontade de Deus.

O propósito deste relatório é explorar a natureza multifacetada do aconselhamento nas Escrituras Hebraicas, examinando seus modelos principais e analisando as consequências, tanto positivas quanto negativas, de seguir ou rejeitar a orientação divina. Através de um exame teológico e de estudos de caso narrativos, este documento argumenta que o aconselhamento no Antigo Testamento se manifesta principalmente em modelos sapienciais, proféticos e da aliança. A análise das consequências dessas práticas oferece princípios atemporais que encontram sua plena realização e aplicação no ministério pastoral moderno, mediado e centralizado na pessoa e obra de Jesus Cristo.

O fundamento primário do conselho divino no Antigo Testamento é a Torá, ou a Lei de Moisés. Derivada do termo hebraico Yará, que significa "ensinamento" ou "instrução", a Torá é mais do que uma mera imposição legal. Ela é apresentada como o guia central para a vida do povo de Deus, oferecendo 613 mandamentos que instruem sobre como agir e como não agir em todas as esferas da existência, incluindo relações sociais, familiares e religiosas. Os Livros Sapienciais, por sua vez, demonstram a fé na sabedoria divina que rege o universo e o indivíduo. Eles elevam a prudência e a piedade como virtudes essenciais para uma vida bem vivida, estabelecendo um padrão de conduta que aponta para a ordem moral de Deus.  

II. As Fontes e Naturezas do Aconselhamento nas Escrituras Hebraicas

O conselho no Antigo Testamento pode ser categorizado em diferentes abordagens, cada uma com sua própria fonte de autoridade e metodologia. A distinção mais notável pode ser feita entre os modelos sapiencial e profético, embora ambos estejam interligados pela soberania de Deus.  

2.1. O Modelo Sapiencial: A Força Persuasiva do Conselho

Os Livros Sapienciais, como Provérbios, Eclesiastes e Jó, representam um mundo à parte na literatura do Antigo Testamento, pois seu centro de interesse se desloca da história de Israel para a condição humana universal e da imposição da Lei para a força persuasiva do conselho e da exortação. A sabedoria aqui surge da experiência humana e da tradição, utilizando a razão e a prudência para guiar a vida. O objetivo é ensinar a arte de viver bem, visando instilar uma personalidade firme e autogovernada. Essa abordagem se concentra em princípios como o desenvolvimento do "caráter" e a importância de evitar os vícios, a preguiça e a má companhia.  

No entanto, o modelo sapiencial tem seus limites. O Livro de Jó é um exemplo notável de aconselhamento malsucedido, onde os três amigos de Jó vêm para "reconfortá-lo", mas se lançam em um vasto debate teológico. O fracasso de seus conselhos demonstra a insuficiência da sabedoria puramente humana diante de um sofrimento complexo, sublinhando a necessidade de uma revelação mais elevada, que, no final, vem do próprio Deus.  

2.2. O Modelo Profético: A Autoridade da Revelação Direta

Em contraste com a sabedoria que emana "de baixo" da experiência humana, o modelo profético de aconselhamento provém "de cima", da revelação direta de Deus. O profeta age como o porta-voz de Deus, e sua autoridade não se baseia em sua própria prudência, mas na comissão divina para "denunciar o pecado, promover a justiça e proclamar a esperança". Esse conselho é frequentemente uma voz corretiva, visando a repreensão e a restauração do povo de Deus.  

A base desse modelo é a totalidade das Escrituras Hebraicas, conhecidas como "a Lei e os Profetas". Jesus se referiu a essa divisão para descrever todo o Antigo Testamento, que aponta para Ele como o Messias. Portanto, o aconselhamento profético não era apenas sobre instrução moral; era intrinsecamente messiânico, orientando o povo para o plano redentor de Deus. A influência profética era crucial, pois através desses mensageiros, o Divino comunicava Sua vontade, orientações e advertências aos reis e ao povo.  

2.3. O Modelo da Lei e da Aliança: O Conselho como Guia Pactual

O Antigo Testamento retrata Deus como o Aconselhador Supremo, cujo papel é guiar, nutrir, vigiar e estabelecer aliança com o seu povo. Este papel é comparado ao de um pastor que cuida do seu rebanho. Os princípios da aliança são a base fundamental para todo o aconselhamento bíblico. Deus demonstra o que significa o cuidado pastoral, e os líderes humanos são chamados a espelhar essa ação. O conselho, nesse contexto, não é apenas um guia para o comportamento, mas uma forma de reafirmar e viver dentro dos termos do pacto com Deus, reconhecendo Sua soberania.  

III. Estudos de Caso: As Consequências do Conselho no Antigo Testamento

A análise das narrativas bíblicas revela que o conselho, seja ele buscado ou oferecido, não é um ato isolado, mas uma ação com profundas e, muitas vezes, duradouras consequências. Os casos de Roboão, Davi e Ezequias fornecem uma lente clara para examinar a importância e o impacto das escolhas feitas em resposta à orientação.

3.1. Estudo de Caso de Fracasso: A Insensatez de Roboão (1 Reis 12)

Roboão, filho de Salomão, foi o terceiro rei de Israel. Após a morte de seu pai, o povo se queixou dos impostos pesados e do trabalho forçado, pedindo alívio. Diante dessa crise, Roboão procurou conselho em duas fontes distintas, com consequências catastróficas.  

Primeiro, ele consultou os anciãos que haviam servido a seu pai, Salomão. O conselho deles era de prudência e sabedoria, baseada na experiência. Eles aconselharam que Roboão se tornasse um "servo do povo" e aliviasse o jugo, prometendo que, se ele agisse com bondade, o povo seria fiel a ele para sempre. No entanto, Roboão desprezou este conselho sensato e buscou a opinião de seus jovens contemporâneos. O conselho dos jovens foi exatamente o oposto: arrogante e agressivo. Eles incitaram Roboão a afirmar sua autoridade com a famosa frase: "Meu dedo mínimo é mais grosso do que a cintura de meu pai". Eles prometeram aumentar o jugo e castigar o povo com escorpiões, em vez de chicotes.  

As consequências de seguir o conselho insensato foram terríveis. O desprezo de Roboão pela sabedoria e humildade, e sua escolha por focar no poder pessoal e na arrogância, levou a uma revolta imediata. Dez das doze tribos se separaram, formando o Reino do Norte de Israel sob a liderança de Jeroboão, enquanto apenas as tribos de Judá e Benjamim permaneceram fiéis a Roboão. A revolta do povo resultou no apedrejamento de Adonirão, o superintendente dos tributos, e Roboão teve que fugir para Jerusalém. A narrativa bíblica revela que essa revolta não foi apenas um erro político, mas um evento orquestrado pelo próprio SENHOR para cumprir a profecia de Aías, o silonita, a Jeroboão. A arrogância e a falta de autogoverno de Roboão se tornaram o veículo para o juízo divino e o cumprimento do plano de Deus.  

3.2. Estudo de Caso de Confrontação: A Repreensão de Natã a Davi (2 Samuel 12)

O profeta Natã é enviado por Deus para confrontar o rei Davi, que cometeu adultério com Bate-Seba e orquestrou a morte de Urias, o hitita, no campo de batalha. A abordagem de Natã é um exemplo magistral de aconselhamento profético com tato e coragem. Ele não confronta Davi diretamente no início, mas usa uma parábola sobre um homem rico que rouba a ovelha de um pobre. A indignação de Davi com a injustiça da história o leva a julgar a si mesmo, e então Natã lança a repreensão: "Você é esse homem!".  

A confrontação leva Davi a uma confissão sincera: "Pequei contra o SENHOR!". Em resposta, Natã anuncia o perdão de Deus: "O SENHOR perdoou o seu pecado. Você não morrerá". No entanto, o perdão não elimina as consequências terrenas do pecado. As repercussões são severas e duradouras, afetando Davi e sua família pelo resto de sua vida. As profecias de Natã se cumprem ponto a ponto: a espada jamais se apartará da casa de Davi, a desgraça virá de sua própria família, suas mulheres serão desonradas publicamente, e o filho que nasceu daquele adultério morrerá. A consequência mais notável é a guerra civil e os conflitos familiares que se seguiram, com o trágico desenrolar da história de seus filhos, Amnom e Absalão.  

Este caso demonstra uma teologia complexa, onde o perdão de Deus é total e redentor, mas as consequências do pecado no mundo real persistem. A ação de Davi "insultou o SENHOR" e deu "oportunidade aos inimigos do SENHOR de desprezá-lo". O conselho de Natã, embora doloroso, foi o caminho para a reconciliação e a restauração da comunhão com Deus, mesmo que a dor das consequências continuasse.  

3.3. Estudo de Caso de Sucesso: Ezequias e o Profeta Isaías (2 Reis 19; Isaías 37)

Em um contraste direto com o caso de Roboão, o rei Ezequias enfrenta uma crise existencial quando o exército assírio ameaça a destruição de Jerusalém. Em vez de confiar em sua própria força ou em conselhos militares, Ezequias responde com humildade e dependência de Deus. Ele rasga suas vestes, se cobre de pano de saco e envia mensageiros para buscar o conselho do profeta Isaías.  

A busca por conselho profético é uma ação de fé. Isaías, então, entrega a palavra de Deus com a promessa de livramento. O resultado é um milagre: um anjo do SENHOR destrói 185.000 soldados assírios, e o rei Senaqueribe retorna a Nínive, onde é assassinado por seus próprios filhos. A obediência de Ezequias à palavra de Deus, entregue pelo profeta, resulta em livramento e paz. Este caso ilustra que o verdadeiro sucesso no aconselhamento reside não apenas na qualidade do conselho, mas, fundamentalmente, na atitude de submissão e obediência daquele que o recebe. A humildade de Ezequias em buscar a voz de Deus, em vez de confiar em seu próprio poder, levou a uma intervenção sobrenatural.  

Tabela 1: Estudo de Caso Comparativo de Conselho no Antigo Testamento

Rei

Circunstância/Problema

Conselheiros

Natureza do Conselho

Resposta do Rei

Consequências

Roboão

Pedido de alívio do jugo

Anciãos e Jovens

Sapiencial (prudência) vs. Arrogante (insensatez)

Rejeição do conselho sábio

Divisão do Reino, rebelião e perda de tribos

Davi

Adultério e assassinato

Profeta Natã

Profético (repreensão e perdão)

Confissão e arrependimento

Perdão divino, mas consequências duradouras, conflito familiar

Ezequias

Ameaça assíria

Profeta Isaías

Profético (conforto e orientação divina)

Submissão à palavra de Deus

Livramento milagroso e preservação do reino

IV. A Aplicação dos Princípios do Antigo Testamento no Contexto Moderno

A relevância do Antigo Testamento para o aconselhamento moderno reside no fato de que ele não é um conjunto de narrativas isoladas, mas uma parte essencial da revelação completa de Deus que culmina em Jesus Cristo.

4.1. A Transição Teológica: Do Antigo para o Novo Testamento

Os escritores do Novo Testamento consistentemente recorrem ao Antigo Testamento como uma autoridade permanente para os crentes. A Lei e os Profetas apontavam para Jesus, que não veio para abolir, mas para cumprir a Lei em sua totalidade. Portanto, o Antigo Testamento, embora não seja mais o "sistema de justificação" para os cristãos, ainda é "útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a educação na justiça" (2 Timóteo 3:16). Ele continua a ensinar sobre a santidade de Deus e a revelar a natureza pecaminosa do homem. A Nova Aliança, profetizada em Jeremias 31, promete que Deus escreveria Sua lei em nossos corações, e hoje o Espírito Santo guia os crentes a viverem de acordo com os princípios justos da Lei.  

4.2. O Fundamento do Aconselhamento Bíblico Contemporâneo

O aconselhamento bíblico moderno, também conhecido como noutético, é baseado diretamente na suficiência da Bíblia como a Palavra revelada de Deus. Esse modelo rejeita a psicologia secular que é humanística por natureza e se baseia na ideia de que o homem é "basicamente bom" e que a solução para seus problemas está "dentro dele mesmo". A visão bíblica, no entanto, é que o problema fundamental do homem é de natureza espiritual; ele está "morto em delitos e pecados" (Efésios 2:1), e seu coração não regenerado é enganoso.  

O aconselhamento bíblico tem como alvo principal a glória de Deus e a conformação do aconselhado à estatura de Cristo. Ele busca diagnosticar o coração e acredita que a única esperança de transformação é o Evangelho de Jesus Cristo. A confrontação com o pecado, o convite ao arrependimento e a reformulação dos princípios de vida de acordo com os preceitos bíblicos são funções essenciais do aconselhamento pastoral que o diferenciam fundamentalmente da psicoterapia secular.  

4.3. O Papel do Conselheiro: Espelho de Deus, o Aconselhador Supremo

O modelo pastoral do Antigo Testamento, onde Deus é o Pastor Supremo que guia, provê e vigia , serve de base para o papel do conselheiro moderno. O pastor ou conselheiro hoje é chamado a seguir o exemplo de Jesus, o Bom Pastor, e a entregar-se completamente à tarefa de cuidar do rebanho. Isso envolve a aplicação dos modelos sapiencial e profético de maneira equilibrada.  

O conselheiro deve ter a sabedoria para usar a abordagem persuasiva e exortativa, ajudando o aconselhado a extrair princípios de vida e a tomar decisões prudentes. Ao mesmo tempo, ele deve ter a coragem e o tato de Natã para confrontar amorosamente o pecado, sabendo que a repreensão, quando baseada na verdade das Escrituras, é um caminho para o arrependimento e a restauração. A atitude do conselheiro deve ser de humildade e serviço, imitando a si mesmo o exemplo de Jesus.  

V. Conclusão: O Eterno Chamado ao Conselho Divino

O aconselhamento no Antigo Testamento não é um conceito arcaico, mas um conjunto de práticas e princípios atemporais que continuam a orientar o povo de Deus. Através dos modelos sapienciais e proféticos, as Escrituras Hebraicas demonstram a centralidade de buscar a orientação de Deus e as consequências profundas, tanto para o indivíduo quanto para a comunidade, de seguir ou rejeitar esse conselho. As histórias de Roboão e Davi são lições poderosas que ilustram como a arrogância e o pecado trazem consequências catastróficas e duradouras, mesmo que o perdão seja concedido. Em contraste, o exemplo de Ezequias mostra que a humildade em buscar a palavra de Deus resulta em livramento e bênção.

O legado do Antigo Testamento para o ministério pastoral contemporâneo é claro e vital. Ele serve como um "sinal na estrada" que aponta para Cristo, o cumprimento de toda a Lei e Profecia. O aconselhamento bíblico moderno, fundamentado na suficiência das Escrituras e na totalidade da revelação de Deus, é o ministério da igreja local que busca diagnosticar o coração do homem e conduzi-lo à transformação que só o Evangelho de Jesus Cristo pode oferecer. Ele não se baseia em teorias humanas, mas em uma visão de mundo onde o pecado é a raiz do problema humano e a redenção em Cristo é a única solução verdadeira, o que lhe confere relevância perene e poder transformador.  

Fontes de Pesquisa