A Bíblia nos mostra o caminho para voltarmos a Deus e alcançarmos o perdão dos nossos pecados em Cristo Jesus, nosso Senhor e Salvador da nossa alma.
1. A Realidade do Pecado (Romanos 3:23): "Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus". Ninguém é justo por si mesmo.
2. O Preço do Pecado (Romanos 6:23): "Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor". O pecado leva à separação de Deus.
3. O Dom de Deus (Romanos 5:8): "Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores." Jesus morreu para pagar o preço dos nossos pecados.
4. O Caminho da Salvação (Romanos 10:9-10): "Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para a justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação." A salvação vem pela fé em Jesus.
5. A Certeza da Salvação (Romanos 8:1): "Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus." Uma vez que você aceita a Jesus, a condenação é removida.
A salvação é um dom de Deus, acessível a todos que creem em Jesus Cristo como seu Salvador e Senhor.
Os capítulos 21-26 do livro de Atos narram um dos episódios mais dramáticos e decisivos na vida de Paulo: sua última viagem a Jerusalém, que culminou em sua prisão e uma série de defesas perante as autoridades romanas e judaicas.
Essa seção não é apenas um relato histórico, mas uma poderosa exposição da fidelidade inabalável de Paulo a Deus, independentemente das circunstâncias.
A Chegada em Jerusalém e a Prisão de Paulo (Atos 21)
Apesar dos avisos proféticos de que a prisão e o sofrimento o aguardavam em Jerusalém, Paulo, impulsionado pelo Espírito Santo, estava determinado a completar sua missão. Ao chegar, ele é recebido por Tiago e pelos presbíteros da igreja local. Para demonstrar respeito e acalmar os judeus convertidos que ainda observavam a lei de Moisés, Paulo é aconselhado a participar de um rito de purificação no Templo.
No entanto, sua presença lá é erroneamente interpretada. Judeus da Ásia o veem e o acusam de profanar o Templo ao introduzir gentios. Essa acusação infundada incita uma multidão furiosa que o arrasta para fora do Templo com a intenção de linchá-lo. A intervenção providencial do tribuno romano Cláudio Lísias salva sua vida, mas o leva à prisão.
As Acusações e a Defesa de Paulo (Atos 22-26)
A partir de sua prisão, Paulo começa uma série de defesas eloquentes, que são o ponto central desses capítulos. As acusações contra ele eram essencialmente:
Profanar o Templo.
Ensinar contra o povo judeu e a Lei de Moisés.
Ser um agitador e líder de uma seita (o Nazareno).
Diante de Cláudio Lísias, Paulo pede para falar à multidão. Ele se identifica como judeu, nascido em Tarso e criado em Jerusalém. Sua defesa é um testemunho de sua conversão no caminho de Damasco. Ele explica como sua vida foi transformada de um perseguidor feroz do cristianismo para um apóstolo de Cristo. A multidão o ouve até o momento em que ele menciona ter sido enviado para pregar aos gentios, o que provoca novamente a fúria e o tumulto.
Posteriormente, Paulo comparece diante do Sinédrio, o conselho judaico. Com grande astúcia, ele divide a assembleia ao declarar-se fariseu e afirmar que estava sendo julgado por causa da sua crença na ressurreição dos mortos. Isso cria uma grande discórdia entre fariseus e saduceus, forçando o tribuno romano a retirá-lo novamente para sua segurança.
Nos capítulos seguintes, Paulo é transferido para Cesareia e comparece perante os governadores Félix e Festo, e por fim, diante do Rei Agripa. Em cada uma dessas ocasiões, sua defesa não é meramente um argumento legal, mas um poderoso testemunho do evangelho. Ele não se defende apenas, ele prega!
Em sua defesa perante o rei Agripa, Paulo dá o seu mais completo e eloquente testemunho. Ele conta a história de sua vida, sua perseguição aos cristãos, sua dramática conversão e sua comissão divina. Ele apela diretamente ao rei, perguntando se ele crê nos profetas, concluindo com a poderosa declaração: "O que dizem os profetas e Moisés, é o que o Cristo tinha que sofrer e, depois de ressuscitar dos mortos, anunciar a luz tanto ao povo como aos gentios". O rei Agripa, impressionado, chega a dizer: "Por pouco me persuades a fazer-me cristão".
A Fidelidade de Paulo em Meio à Adversidade
Ao longo de todo esse período de prisão, ameaças e julgamentos, a fidelidade de Paulo a Deus é notável. Ele não cede, não nega sua fé e não se acovarda. Sua confiança em Deus é tão grande que ele chega a evangelizar seus acusadores e juízes. Em meio à perseguição, ele enxerga uma oportunidade de testemunho. Sua paixão pela pregação do evangelho supera seu próprio bem-estar e liberdade.
Paulo demonstra que a verdadeira liberdade não está na ausência de cadeias físicas, mas na lealdade a Cristo. Ele transforma cada cela e sala de audiência em uma plataforma para o evangelho, provando que a Palavra de Deus não pode ser aprisionada.
Lições para a Igreja Moderna
A experiência de Paulo, narrada em Atos 21-26, oferece lições cruciais para a igreja nos dias de hoje:
Fidelidade Inegociável: A igreja deve ser fiel à sua missão e ao seu chamado, mesmo quando isso resulta em sofrimento ou perseguição. Como Paulo, nossa lealdade a Cristo deve ser inegociável, independentemente das ameaças ou dificuldades.
A Oportunidade no Sofrimento: O sofrimento e a perseguição não são o fim, mas podem ser uma oportunidade para o testemunho. Paulo usou sua prisão para alcançar pessoas poderosas com o evangelho, mostrando que Deus pode usar as circunstâncias mais adversas para cumprir Seus propósitos.
O Evangelho é a Nossa Defesa: A defesa de Paulo não se baseava em argumentos legais complexos, mas no poder e na verdade do evangelho. A igreja moderna deve entender que a maior força de seu testemunho não está em sua retórica ou em sua influência política, mas na proclamação simples e poderosa da morte e ressurreição de Jesus.
Saber Contar a Sua História: Paulo era mestre em usar sua própria história como testemunho do poder transformador de Cristo. A igreja moderna precisa encorajar seus membros a contar suas próprias jornadas de fé, pois essas histórias pessoais têm o poder de persuadir e tocar corações de uma forma única.
A jornada de Paulo a Jerusalém e sua subsequente prisão são um lembrete vívido de que a vida cristã não está isenta de lutas, mas que em cada luta, há uma chance de honrar a Deus e avançar o Seu reino. A verdadeira vitória não está na ausência de tribulações, mas na fidelidade em meio a elas.
Hoje, nosso estudo está focado no evangelismo urbano.
Em especial, vamos analisar o final da segunda viagem missionária e a terceira viagem empreendida por Paulo.
Nesta lição, vamos destacar:
a. Princípios;
b. Estratégias bíblicas do evangelismo urbano.
Inicialmente, vamos focar na cidade de Antioquia da Síria. Vejamos:
a. Era um centro urbano multicultural e cosmopolita, onde gregos, romanos, judeus e sírios conviviam lado a lado.
b. Era a terceira maior cidade do Império Romano, atrás apenas de Roma e Alexandria.
c. Tinha uma população de aproximadamente 500 mil habitantes. Natal, hoje, é a 20ª cidade do Brasil em número de habitantes e tem 785.368 mil. Isso reforça a necessidade de a igreja trabalhar mais para divulgar a palavra de Deus, já que as cidades atuais são bem maiores que as antigas.
d. Por tudo isso, a Igreja de Antioquia era um protótipo de igreja missionária.
Os irmãos estavam espalhados em grupos por toda a cidade.
Possuíam diversos lugares de reunião.
Foi a responsável por implantar a primeira ação missionária do Novo Testamento.
² E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. ³ Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram. ⁴ E assim estes, enviados pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre. Atos 13:2-4
Em nossos dias, quais fatores dificultam a expansão do evangelho em nossas cidades?
A fragmentação e a divisão causadas pelo espírito denominacionalista e a competição sectarista fazem com que igrejas e seus membros se isolem. Em vez de colaborarem na missão de evangelizar, eles gastam energia defendendo suas próprias tradições e competindo por seguidores. Isso cria barreiras e afasta quem busca uma comunidade de fé, que deveria ser um lugar de unidade e aceitação.
Divergências doutrinárias/mensagem confusa:
A confusão e o descrédito gerados por divergências doutrinárias e mensagens confusas criam desconfiança no público. Quando cada igreja ensina algo diferente sobre temas fundamentais, as pessoas podem se perguntar qual é a verdade. Essa falta de clareza e unidade dificulta que a mensagem do evangelho seja vista como algo confiável e relevante para a vida.
Perda dos referenciais de como ser igreja/diferenças de formas de governo e costumes:
O enfraquecimento da identidade da igreja se manifesta na priorização de formalidades e rituais em detrimento da essência do evangelho. Quando a igreja se preocupa mais com diferenças de formas de governo ou costumes do que com o amor, o serviço e a comunhão, ela perde sua identidade e seu propósito.
Em resumo, esses elementos desviam o foco da igreja de sua missão principal — pregar o evangelho e viver em comunidade — para questões secundárias que, em última instância, prejudicam sua capacidade de crescer e influenciar a sociedade de forma positiva.
2. A Sociedade
Por outro lado, temos uma sociedade moderna com seus desafios:
Avanços tecnológicos/meios de comunicação ultrarrápidos/impessoalidade:
Os obstáculos da comunicação e da impessoalidade surgem com o avanço tecnológico e a comunicação ultrarrápida que, embora úteis, podem levar à impessoalidade e ao isolamento. O evangelho, que se baseia em relacionamentos profundos e comunitários, enfrenta dificuldades para se expandir em um ambiente onde as interações são muitas vezes superficiais. As pessoas podem se sentir desconectadas, e a mensagem do evangelho de amor e comunidade pode não encontrar um terreno fértil para se enraizar.
Ceticismo/violência/desemprego/crescimento desordenado das cidades:
Os obstáculos do ceticismo e da desordem criam um ambiente de descrença e desconfiança. As pessoas podem questionar a existência de Deus ou o poder do evangelho de transformar vidas em meio a tanto sofrimento e injustiça. A desordem e o crescimento desordenado das cidades também criam ambientes hostis, onde as pessoas estão mais preocupadas com a segurança e a sobrevivência do que com questões de fé.
Materialismo:
Os obstáculos relacionados ao materialismo e ao consumismo são evidentes em uma sociedade focada no sucesso imediato. O evangelho, que prega valores eternos e sacrifício, pode parecer irrelevante. As pessoas podem estar mais interessadas em prosperidade financeira e em acumular bens do que em buscar uma vida espiritual, vendo o evangelho como um obstáculo para seus objetivos de vida.
Anonimato:
Os obstáculos da fragmentação social são causados pelo anonimato e a falta de conexão em grandes cidades, que dificultam a construção de comunidades de fé. O evangelho se expande principalmente através de relacionamentos e do testemunho de vida, mas em uma sociedade onde as pessoas não se conhecem ou não confiam umas nas outras, esse processo é dificultado. A igreja precisa superar o anonimato para se tornar uma família onde as pessoas se sintam seguras e amadas.
Estas são as dificuldades de nossos dias, mas como a experiência dos irmãos do passado pode nos ajudar hoje? Vejamos alguns princípios adotados pela igreja primitiva que podem nos ajudar.
I. Paulo em Corinto – Atos 18.1-18
¹ E depois disto partiu Paulo de Atenas, e chegou a Corinto. ² E, achando um certo judeu por nome Áquila, natural do Ponto, que havia pouco tinha vindo da Itália, e Priscila, sua mulher (pois Cláudio tinha mandado que todos os judeus saíssem de Roma), ajuntou-se com eles, ³ E, como era do mesmo ofício, ficou com eles, e trabalhava; pois tinham por ofício fazer tendas. ⁴ E todos os sábados disputava na sinagoga, e convencia a judeus e gregos. ⁵ E, quando Silas e Timóteo desceram da Macedônia, foi Paulo impulsionado no espírito, testificando aos judeus que Jesus era o Cristo. ⁶ Mas, resistindo e blasfemando eles, sacudiu as vestes, e disse-lhes: O vosso sangue seja sobre a vossa cabeça; eu estou limpo, e desde agora parto para os gentios. ⁷ E, saindo dali, entrou em casa de um homem chamado Justo, que servia a Deus, e cuja casa estava junto da sinagoga. ⁸ E Crispo, principal da sinagoga, creu no Senhor com toda a sua casa; e muitos dos coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados. ⁹ E disse o Senhor em visão de noite a Paulo: Não temas, mas fala, e não te cales; ¹⁰ Porque eu sou contigo, e ninguém lançará mão de ti para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade. ¹¹ E ficou ali UM ANO E SEIS MESES, ensinando entre eles a palavra de Deus. ¹² Mas, sendo Gálio procônsul da Acaia, levantaram-se os judeus concordemente contra Paulo, e o levaram ao tribunal, ¹³ Dizendo: Este persuade os homens a servir a Deus contra a lei. ¹⁴ E, querendo Paulo abrir a boca, disse Gálio aos judeus: Se houvesse, ó judeus, algum agravo ou crime enorme, com razão vos sofreria, ¹⁵ Mas, se a questão é de palavras, e de nomes, e da lei que entre vós há, vede-o vós mesmos; porque eu não quero ser juiz dessas coisas. ¹⁶ E expulsou-os do tribunal. ¹⁷ Então todos os gregos agarraram Sóstenes, principal da sinagoga, e o feriram diante do tribunal; e a Gálio nada destas coisas o incomodava. ¹⁸ E Paulo, ficando ainda ali muitos dias, despediu-se dos irmãos, e dali navegou para a Síria, e com ele Priscila e Áquila, tendo rapado a cabeça em Cencreia, porque tinha voto. Atos 18:1-18
Corinto foi o último grande lugar de testemunho de Paulo em sua segunda viagem missionária.
O estabelecimento inicial de seu trabalho ali (Atos 18.1-11) é seguido pelo relato de um incidente específico, no qual os judeus o levaram a julgamento diante do procônsul (vs. 12-17).
Contudo, Paulo conseguiu permanecer ali “ainda muitos dias” (v.18). Depois de concluir o ministério em Corinto, Paulo volta para Antioquia, fazendo uma breve parada em Éfeso (vs. 18-22).
Que informações temos sobre Corinto?
Ficava a 75 km a oeste de Atenas.
Era uma colônia romana.
Era a cidade mais influente da província de Acaia, tanto política quanto economicamente (portos de Cencreia e Lequeo).
Era uma cidade de péssima reputação moral — nela havia o culto a Afrodite ou Vênus, a deusa do amor. Portanto, a promiscuidade sexual era notória e amada por eles.
Eram orgulhosos por sua riqueza e cultura.
Mas, que metodologia Paulo usou para evangelizar o orgulhoso povo de Corinto? O autor da lição cita três movimentos:
1. Do particular para o público
[...] e chegou a Corinto. ² E, achando um certo judeu por nome Áquila, natural do Ponto, que havia pouco tinha vindo da Itália, e Priscila, sua mulher (pois Cláudio tinha mandado que todos os judeus saíssem de Roma), ajuntou-se com eles, ³ E, como era do mesmo ofício, ficou com eles, e trabalhava; pois tinham por ofício fazer tendas.
O sustento era provido por ele mesmo, mas estava aberto a receber ajuda da igreja (Filipenses 4.10-19).
Paulo procurou Áquila e Priscila, judeus cristãos da dispersão, vítimas da política romana (49 d.C.). Ele os treinou e os deixou em Éfeso (18.19).
Um princípio a ser observado: o trabalho em equipe é essencial na pregação eficiente do evangelho. Vejam:
²⁴ E chegou a Éfeso um certo judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, homem eloquente e poderoso nas Escrituras. ²⁵ Este era instruído no caminho do Senhor e, fervoroso de espírito, falava e ensinava diligentemente as coisas do Senhor, conhecendo somente o batismo de João. ²⁶ Ele começou a falar ousadamente na sinagoga; e, quando o ouviram Priscila e Áquila, o levaram consigo e lhe declararam mais precisamente o caminho de Deus. ²⁷ Querendo ele passar à Acaia [Corinto, Atenas e Cencreia], o animaram os irmãos, e escreveram aos discípulos que o recebessem; o qual, tendo chegado, aproveitou muito aos que pela graça criam. ²⁸ Porque com grande veemência, convencia publicamente os judeus, mostrando pelas Escrituras que Jesus era o Cristo. Atos 18:24-28
Mais um princípio: o discipulado. No v.25, Apolo ensinava diligentemente as coisas do Senhor, conhecendo somente o batismo de João. Foram Áquila e Priscila que ajustaram a compreensão e o discurso de Apolo.
Foram Áquila e Priscila que o recomendaram para os discípulos de Corinto, Atenas e Cencreia. E esse servo de Deus foi uma benção.
Uma aplicação:
a) É necessário preparo para a evangelização de uma cidade.
b) É preciso que a igreja gaste tempo e recurso no preparo dos que evangelizam.
Uma verdade:
c) A concentração de igrejas diferentes e seitas diversas causam confusão à população.
Mensagens diferentes e contraditórias.
Venda de um evangelho barato ou caro demais (exigentes ao extremo).
2. Do público para o particular
Quando ainda em Corinto, Paulo reage diante da resistência dos judeus ao evangelho.
⁶ Mas, resistindo e blasfemando eles, sacudiu as vestes, e disse-lhes: O vosso sangue seja sobre a vossa cabeça; eu estou limpo, e desde agora parto para os gentios. ⁷ E, saindo dali, entrou em casa de um homem chamado Justo, que servia a Deus, e cuja casa estava junto da sinagoga. ⁸ E Crispo, principal da sinagoga, creu no Senhor com toda a sua casa; e muitos dos coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados.
Diante da resistência na sinagoga, Paulo direcionou o trabalho para uma casa particular (Tício Justo). Nesta casa... Crispo, principal da sinagoga, creu no Senhor com toda a sua casa; e muitos dos coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados.
Outro princípio: Pequeno grupo no lar. Essa estratégia consegue congregar pessoas que dificilmente entrariam em uma igreja. Aqui o trabalho é feito na base do relacionamento e confiança.
3. O aumento da atividade missionária
O aumento da atividade missionária e de seus frutos conduz à oposição.
⁹ E disse o Senhor em visão de noite a Paulo: Não temas, mas fala, e não te cales; ¹⁰ porque eu sou contigo, e ninguém lançará mão de ti para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade. ¹¹ E ficou ali UM ANO E SEIS MESES, ensinando entre eles a palavra de Deus.
É interessante notar que, até este ponto, a oposição ao ministério de Paulo geralmente o forçava a retirar-se de um lugar de testemunho.
Neste caso, não. Paulo recebe encorajamento de Deus para seguir em frente: "não temas, mas fala, e não te cales".
O Senhor almejava que Paulo completasse Seu propósito.
Em obediência, Paulo continua por mais 18 meses (v. 11), um tempo de permanência maior do que em qualquer outra cidade, com exceção de Éfeso. Nesse período (46-51 d.C.), ele escreve 1 e 2 Tessalonicenses.
A garantia de Deus foi imediatamente confirmada quando Paulo foi libertado de uma tentativa de condenação perante o procônsul.
A passagem de Atos 18.10-11 fornece uma visão útil para a compreensão e predestinação de Deus em relação à responsabilidade da pregação do evangelho. Embora Deus tenha dito a Paulo "Tenho muito povo nesta cidade" — indicando que muitos em Corinto viriam à fé em Cristo —, isso não o levou a concluir que não tivesse mais nenhum trabalho a fazer. Pelo contrário, Paulo permaneceu, pregando o evangelho.
II. Paulo em Éfeso – Atos 19.1-40
¹ E sucedeu que, enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, tendo passado por todas as regiões superiores, chegou a Éfeso; e achando ali alguns discípulos, ² Disse-lhes: Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes? E eles disseram-lhe: Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo. ³ Perguntou-lhes, então: Em que sois batizados então? E eles disseram: No batismo de João. ⁴ Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo de arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. ⁵ E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus. ⁶ E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam. ⁷ E estes eram, ao todo, uns doze homens. ⁸ E, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, disputando e persuadindo-os acerca do reino de Deus. ⁹ Mas, como alguns deles se endurecessem e não obedecessem, falando mal do Caminho perante a multidão, retirou-se deles, e separou os discípulos, disputando todos os dias na escola de um certo Tirano. ¹⁰ E durou isto por espaço de dois anos; de tal maneira que todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, assim judeus como gregos. ¹¹ E Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias. ¹² De sorte que até os lenços e aventais se levavam do seu corpo aos enfermos, e as enfermidades fugiam deles, e os espíritos malignos saíam. ¹³ E alguns dos exorcistas judeus ambulantes tentavam invocar o nome do Senhor Jesus sobre os que tinham espíritos malignos, dizendo: Esconjuro-vos por Jesus a quem Paulo prega. ¹⁴ E os que faziam isto eram sete filhos de Ceva, judeu, principal dos sacerdotes. ¹⁵ Respondendo, porém, o espírito maligno, disse: Conheço a Jesus, e bem sei quem é Paulo; mas vós quem sois? ¹⁶ E, saltando neles o homem que tinha o espírito maligno, e assenhoreando-se deles, pôde mais do que eles; de tal maneira que, nus e feridos, fugiram daquela casa. ¹⁷ E foi isto notório a todos os que habitavam em Éfeso, tanto judeus como gregos; e caiu temor sobre todos eles, e o nome do Senhor Jesus era engrandecido. ¹⁸ E muitos dos que tinham crido vinham, confessando e publicando os seus feitos. ¹⁹ Também muitos dos que seguiam artes mágicas trouxeram os seus livros, e os queimaram na presença de todos e, feita a conta do seu preço, acharam que montava a cinquenta mil peças de prata. ²⁰ Assim a palavra do Senhor crescia poderosamente e prevalecia. ²¹ E, cumpridas estas coisas, Paulo propôs, em espírito, ir a Jerusalém, passando pela Macedônia e pela Acaia, dizendo: Depois que houver estado ali, importa-me ver também Roma. ²² E, enviando à Macedônia dois daqueles que o serviam, Timóteo e Erasto, ficou ele por algum tempo na Ásia. ²³ E, naquele mesmo tempo, houve um não pequeno alvoroço acerca do Caminho. ²⁴ Porque um certo ourives da prata, por nome Demétrio, que fazia de prata nichos de Diana, dava não pouco lucro aos artífices, ²⁵ Aos quais, havendo-os ajuntado com os oficiais de obras semelhantes, disse: Senhores, vós bem sabeis que deste ofício temos a nossa prosperidade; ²⁶ E bem vedes e ouvis que não só em Éfeso, mas até quase em toda a Ásia, este Paulo tem convencido e afastado uma grande multidão, dizendo que não são deuses os que se fazem com as mãos. ²⁷ E não somente há o perigo de que a nossa profissão caia em descrédito, mas também de que o próprio templo da grande deusa Diana seja estimado em nada, vindo a ser destruída a majestade daquela que toda a Ásia e o mundo veneram. ²⁸ E, ouvindo-o, encheram-se de ira, e clamaram, dizendo: Grande é a Diana dos efésios. ²⁹ E encheu-se de confusão toda a cidade e, unânimes, correram ao teatro, arrebatando a Gaio e a Aristarco, macedônios, companheiros de Paulo na viagem. ³⁰ E, querendo Paulo apresentar-se ao povo, não lho permitiram os discípulos. ³¹ E também alguns dos principais da Ásia, que eram seus amigos, lhe rogaram que não se apresentasse no teatro. ³² Uns, pois, clamavam de uma maneira, outros de outra, porque o ajuntamento era confuso; e os mais deles não sabiam por que causa se tinham ajuntado. ³³ Então tiraram Alexandre dentre a multidão, impelindo-o os judeus para diante; e Alexandre, acenando com a mão, queria dar razão disto ao povo. ³⁴ Mas quando conheceram que era judeu, todos unanimemente levantaram a voz, clamando por espaço de quase duas horas: Grande é a Diana dos efésios. ³⁵ Então o escrivão da cidade, tendo apaziguado a multidão, disse: Homens efésios, qual é o homem que não sabe que a cidade dos efésios é a guardadora do templo da grande deusa Diana, e da imagem que desceu de Júpiter? ³⁶ Ora, não podendo isto ser contraditado, convém que vos aplaqueis e nada façais temerariamente; ³⁷ Porque estes homens que aqui trouxestes nem são sacrílegos nem blasfemam da vossa deusa. ³⁸ Mas, se Demétrio e os artífices que estão com ele têm alguma coisa contra alguém, há audiências e há procônsules; que se acusem uns aos outros; ³⁹ E, se de alguma outra coisa demandais, averiguar-se-á em legítima assembleia. ⁴⁰ Na verdade até corremos perigo de que, por hoje, sejamos acusados de sedição, não havendo causa alguma com que possamos justificar este concurso. Atos 19:1-40
Sobre Éfeso:
Localização: Costa ocidental da Ásia Menor (atual Turquia).
Status: Uma das maiores e mais importantes cidades do Império Romano.
Características Principais:
a. Centro Comercial e Portuário: Ponto estratégico nas rotas de comércio, tornando-a uma cidade rica e cosmopolita.
b. Diversidade Cultural: População misturada (gregos, romanos, judeus, entre outros), com grande fluxo de viajantes.
c. Centro Religioso: Lar do Templo de Ártemis (romanos) ou Diana (gregos), uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo e principal ponto de adoração.
Ministério de Paulo em Éfeso:
Paulo vai de Corinto para Éfeso (Atos 19.1).
Em anos anteriores, ele já havia passado em Éfeso por ocasião do fim de sua segunda viagem missionária, permanecendo apenas 3 dias (Atos 18.19-21).
No entanto, estava de volta.
¹ E sucedeu que, enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, tendo passado por todas as regiões superiores, chegou a Éfeso; e achando ali alguns discípulos, ² Disse-lhes: Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes? E eles disseram-lhe: Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo. ³ Perguntou-lhes, então: Em que sois batizados então? E eles disseram: No batismo de João. ⁴ Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo de arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. ⁵ E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus. ⁶ E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam. ⁷ E estes eram, ao todo, uns doze homens. Atos 19.1-7
Inicialmente, temos o encontro de Paulo com 12 discípulos de João Batista (19.1-7).
a. Não tinham conhecimento de Cristo (morte e ressurreição).
b. Não tinham conhecimento do ministério do Espírito Santo (Pentecostes).
c. Paulo os discipula, instruindo-os na mensagem completa do evangelho.
d. Consequências: São batizados em nome de Jesus Cristo; o Espírito Santo desce sobre eles, o que é uma prova da nova aliança; eles demonstram ter recebido o Espírito falando em línguas e profetizando.
Em Éfeso, Paulo ficou 3 anos (Atos 20.31).
Seu ministério foi marcado pelas seguintes características:
1. Flexibilidade e perseverança – a sinagoga e a escola. Atos 19.8-11
⁸ E, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, disputando e persuadindo-os acerca do reino de Deus. ⁹ Mas, como alguns deles se endurecessem e não obedecessem, falando mal do Caminho perante a multidão, retirou-se deles, e separou os discípulos, disputando todos os dias na escola de um certo Tirano. ¹⁰ E durou isto por espaço de dois anos; de tal maneira que todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, assim judeus como gregos. Atos 19.8-11
Paulo mantém o mesmo padrão de Corinto, argumentando na sinagoga: "disputando e persuadindo-os acerca do reino de Deus".
Os judeus resistem a Paulo, e este se aloja na escola de Tirano (v.9).
Observação: Essa flexibilidade e perseverança do apóstolo podem ser imitadas em nossos dias. Falta de dinheiro ou espaço não deve ser um obstáculo na pregação do evangelho.
2. Choque de poder – Atos 19.2-18
Surgem novas oposições, não mais dos judeus, mas do diabo e suas hostes.
E, naquele mesmo tempo, houve um não pequeno alvoroço acerca do Caminho. ²⁴ Porque um certo ourives da prata, por nome Demétrio, que fazia de prata nichos de Diana, dava não pouco lucro aos artífices, ²⁵ Aos quais, havendo-os ajuntado com os oficiais de obras semelhantes, disse: Senhores, vós bem sabeis que deste ofício temos a nossa prosperidade; ²⁶ E bem vedes e ouvis que não só em Éfeso, mas até quase em toda a Ásia, este Paulo tem convencido e afastado uma grande multidão, dizendo que não são deuses os que se fazem com as mãos. ²⁷ E não somente há o perigo de que a nossa profissão caia em descrédito, mas também de que o próprio templo da grande deusa Diana seja estimado em nada, vindo a ser destruída a majestade daquela que toda a Ásia e o mundo veneram. ²⁸ E, ouvindo-o, encheram-se de ira, e clamaram, dizendo: Grande é a Diana dos efésios. ²⁹ E encheu-se de confusão toda a cidade e, unânimes, correram ao teatro, arrebatando a Gaio e a Aristarco, macedônios, companheiros de Paulo na viagem. At. 19. 2-18
As razões eram econômicas, contudo, vinham mascaradas de espiritualidade.
As cidades se caracterizam por sua complexidade econômica, emocional e espiritual, e são campo aberto para a ação da igreja ou do inimigo de nossas almas.
É importante conhecermos o contexto espiritual, ideológico e místico em que estamos inseridos.
3. Transformações – Atos 19.19-20
¹⁹ Também muitos dos que seguiam artes mágicas trouxeram os seus livros, e os queimaram na presença de todos e, feita a conta do seu preço, acharam que montava a cinquenta mil peças de prata. ²⁰ Assim a palavra do Senhor crescia poderosamente e prevalecia.
A palavra de Deus triunfa em Éfeso.
Livros de encantamento eram peças caríssimas.
Na época de Paulo, um denário era o salário de um dia de trabalho para um trabalhador comum, como um lavrador. Se considerarmos o valor de um dia de trabalho na economia moderna brasileira (por exemplo, um salário diário de R$ 60, dependendo da profissão), 50.000 denários equivaleriam a um valor entre 3 milhões de reais.
Se um denário era o salário de um dia, essa soma corresponderia a cerca de 137 anos de trabalho de uma pessoa. Em resumo, 50.000 denários eram uma fortuna no mundo antigo.
Observação: A igreja cumpre a sua vocação quando está presente, ora, proclama e pratica os valores do Reino de Deus. Hoje, nossos principais problemas são o misticismo, secularismo e materialismo.
III. De Éfeso para Mileto – Atos 20.1-35
I. A Jornada de Paulo (v. 1-16)
Saída de Éfeso (v. 1): Paulo deixa a cidade após o tumulto, consolando os discípulos.
Viagem e Companheiros (v. 2-6):
Percurso: Passa pela Macedônia e Grécia (três meses).
Companheiros: Nomeia vários, mostrando a natureza colaborativa de seu ministério (Sópater, Aristarco, Segundo, Gaio, Timóteo, Tíquico, Trófimo).
O Milagre em Trôade (v. 7-12):
Contexto: Reunião dos discípulos para "partir o pão" (comunhão), discurso de Paulo que se estende até a meia-noite.
O Incidente: Um jovem chamado Êutico, sentado na janela, adormece e cai do terceiro andar, morrendo.
Ação de Paulo: Ele o ressuscita, mostrando o poder de Deus e a autoridade apostólica.
Viagem Marítima e Terrestre (v. 13-16):
Itinerário: Viagem de navio com paradas (Assôs, Mitilene, Quios, Samos, Trogílio).
Motivo da pressa: Paulo quer evitar Éfeso para não se atrasar e chegar a Jerusalém a tempo para a festa de Pentecostes.
II. A Despedida de Paulo aos Anciãos de Éfeso (v. 17-35)
Local do Encontro (v. 17): Mileto, para onde Paulo convoca os líderes (anciãos) da igreja de Éfeso.
Retrospectiva do Ministério de Paulo (v. 18-21):
Humildade e Sacrifício (v. 19): Serviu ao Senhor com humildade, lágrimas e superando provações.
Integridade do Ensino (v. 20-21): Não deixou de ensinar o que era útil, tanto publicamente quanto nas casas, pregando o arrependimento e a fé em Cristo.
Visão de Futuro e Sacrifício Pessoal (v. 22-25):
Certeza do Sofrimento (v. 22-23): Ligado pelo Espírito, Paulo vai para Jerusalém sabendo que tribulações e prisões o aguardam.
Prioridade do Ministério (v. 24): Declara que sua vida não é preciosa, mas que o mais importante é cumprir sua missão de testemunhar o evangelho.
A Despedida (v. 25): Ele profetiza que eles não o verão mais.
Instruções e Advertências (v. 26-31):
Advertência contra Falsos Mestres (v. 28-30): Paulo alerta sobre "lobos cruéis" (falsos mestres) que entrarão no rebanho e sobre pessoas que se levantarão do próprio meio deles para desviar discípulos.
Responsabilidade dos Líderes (v. 28): Eles foram designados pelo Espírito Santo para pastorear a Igreja de Deus.
Exortação à Vigilância (v. 31): Lembra sua própria dedicação (três anos de admoestação, dia e noite, com lágrimas).
A Benção Final e o Exemplo (v. 32-35):
Encomenda a Deus (v. 32): Confia os anciãos e a igreja a Deus e à Sua Palavra.
Exemplo de Desapego (v. 33-34): Reforça que não cobiçou bens materiais e que trabalhou com as próprias mãos para sustentar a si mesmo e a seus companheiros.
A Mensagem Final (v. 35): Cita a frase de Jesus: "Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber."
Conclusão
Lições retiradas das viagens missionárias de Paulo:
Escolha de locais seculares: Tanto em Corinto como em Éfeso, Paulo começa na sinagoga e termina em acomodações neutras (casa e escola) para pregar o evangelho.
Apresentação racional e inteligente do evangelho: Paulo apresentava o evangelho de maneira séria, estruturada e persuasiva.
Permanência longa nas cidades: Corinto (um ano e meio) e Éfeso (três anos). Ele começa com o que tem ao seu dispor. Pequenos projetos podem ser usados por Deus para ganharmos a nossa cidade.
Em 2026, teremos a estruturação do primeiro grupo multiplicador no Alecrim. Quem sabe outros não surgirão em outros bairros de Natal? Que Deus nos abençoe.
Fonte:
CUNHA, Silas Arbolato da. Atos dos Apóstolos. Revista da Escola Bíblica Dominical, Curitiba: Editora Cristã Evangélica, p. 74-79, 2025.
O estudo de Romanos 4, que se concentra na justificação pela fé, é um dos textos mais importantes de toda a Bíblia. Neste capítulo, o apóstolo Paulo usa a vida de Abraão, o pai da fé, para demonstrar que a salvação não é alcançada por meio de obras da lei, mas sim pela fé em Deus.
O Contexto Histórico e Teológico
No tempo de Paulo, os cristãos judeus e os não judeus (gentios) debatiam sobre o papel da Lei de Moisés na salvação. Os judeus, em sua maioria, acreditavam que a circuncisão e a obediência à Lei eram essenciais para ser justo diante de Deus. Paulo, por outro lado, argumenta que a salvação é um presente gratuito de Deus, disponível a todos, independentemente da etnia ou das obras que tenham feito. Ele usa o exemplo de Abraão para provar seu ponto.
A Justificação de Abraão (Romanos 4:1-8)
Paulo inicia a discussão com uma pergunta: "Que diremos, pois, que Abraão, nosso pai, achou segundo a carne?" (v. 1). Ele imediatamente responde que Abraão não foi justificado por suas obras. Se fosse assim, ele teria do que se gabar. No entanto, as Escrituras afirmam: "Abraão creu em Deus, e isso lhe foi atribuído para justiça" (v. 3). Essa frase é uma citação de Gênesis 15:6 e é o ponto central do capítulo.
Paulo diferencia claramente a recompensa do trabalho (que é devida) da justificação pela fé (que é uma dádiva). Ele usa o exemplo de Davi, que fala sobre a bênção do homem a quem Deus "atribui justiça sem obras" (vv. 6-8). Isso demonstra que a justificação pela graça de Deus, por meio da fé, é um tema presente no Antigo Testamento.
A Prioridade da Fé sobre a Circuncisão (Romanos 4:9-12)
Para os judeus, a circuncisão era um sinal crucial da aliança com Deus. Paulo, no entanto, inverte a ordem cronológica para mostrar que a justificação de Abraão aconteceu antes de ele ser circuncidado. Ele foi justificado pela fé (Gênesis 15) e só depois, 14 anos mais tarde, recebeu o sinal da circuncisão (Gênesis 17).
Isso tem implicações profundas: a circuncisão não era a causa da justificação, mas sim um selo ou sinal da justiça que ele já tinha pela fé. Essa verdade torna Abraão o pai de todos os que creem, sejam eles circuncidados (judeus) ou não circuncidados (gentios), mostrando que a justificação pela fé é universal.
A Promessa de Deus e a Lei (Romanos 4:13-17)
Paulo continua seu argumento, afirmando que a promessa de que Abraão herdaria o mundo não foi dada pela Lei, mas pela justiça da fé. Ele explica que, se a herança dependesse da Lei, a fé se tornaria inútil e a promessa seria anulada, pois a Lei traz a ira de Deus e não a vida.
A fé é o caminho para que a promessa seja baseada na graça de Deus. Isso garante que a promessa seja firme e para todos os descendentes de Abraão: não apenas para aqueles que seguem a Lei, mas também para os que têm a fé de Abraão.
A Fé Inabalável de Abraão (Romanos 4:18-25)
Nesta seção, Paulo descreve a qualidade da fé de Abraão. Apesar de sua idade avançada e da infertilidade de Sara, ele creu contra a esperança de que seria o pai de muitas nações, como Deus havia prometido. Sua fé não vacilou. Ele deu glória a Deus e estava plenamente convicto de que Deus era capaz de cumprir o que havia prometido.
Paulo, então, faz a ligação direta entre a fé de Abraão e a fé do cristão. A Escritura não foi escrita apenas por causa de Abraão, mas também por nossa causa. Nossa fé é atribuída para justiça, assim como a dele. E a nossa fé se baseia em Jesus Cristo, que foi entregue por nossos pecados e ressuscitado para nossa justificação.
Principais Conclusões de Romanos 4
A Justificação é pela Fé, não pelas Obras: Ninguém é considerado justo diante de Deus por obedecer à Lei ou por qualquer outra ação humana.
Abraão é o Exemplo e o Pai da Fé: Sua vida prova que a salvação sempre foi pela fé, antes mesmo da Lei ser dada e da circuncisão ser instituída.
A Salvação é Universal: Por ser baseada na fé e não em rituais ou etnia, a salvação está disponível para todos os povos.
Nossa Fé se Conecta à de Abraão: Assim como Abraão creu na promessa de Deus de dar vida, nós cremos na promessa de Deus de nos justificar por meio de Jesus, que foi ressuscitado.
Em suma, Romanos 4 nos mostra que a graça de Deus é o fundamento da salvação, e a fé é a nossa resposta a essa graça. É um capítulo que desmonta o orgulho humano e estabelece a justificação como um presente gratuito e maravilhoso de Deus.
O Salmo 6 é um salmo de lamento individual, onde o salmista expressa seu sofrimento profundo e implora a Deus por misericórdia e cura. Ele é frequentemente chamado de "salmo penitencial" porque o sofrimento do salmista está ligado ao seu pecado e ao sentimento de que a ira de Deus se abateu sobre ele.
Principais Temas e Contexto
* Sofrimento Físico e Espiritual: O salmista está em grande angústia, sentindo-se exausto, doente e em desespero. Ele clama a Deus para que o cure, pois suas "entranhas se perturbam" e sua alma está "profundamente angustiada".
* Arrependimento e Súplica por Perdão: O sofrimento do salmista não é visto como algo aleatório, mas sim como uma consequência do pecado. Ele reconhece a ira de Deus e pede que ela seja afastada, implorando por misericórdia. O arrependimento é um tema central.
* Angústia Diante da Morte: O salmista argumenta com Deus que, se ele morrer, não poderá mais louvá-Lo. Ele pergunta: "Na morte, não há memória de ti; no Sheol, quem te louvará?". Isso reflete a crença antiga de que a vida após a morte no Sheol (o mundo dos mortos) era uma existência sombria e silenciosa, onde não havia louvor a Deus. O salmista deseja viver para continuar a adorar a Deus.
* Virada e Confiança: No final do salmo, há uma mudança notável de tom. O salmista, que antes clamava em desespero, agora expressa confiança de que Deus ouviu sua oração. Ele se dirige a seus inimigos, dizendo que eles serão envergonhados e recuarão, pois Deus ouviu a voz de seu pranto. Essa transição de lamento para confiança é uma característica comum em muitos salmos.
Em resumo, o Salmo 6 é um retrato vívido da experiência de alguém que se sente esmagado pelo pecado e pela doença, mas que, mesmo no fundo do poço, mantém a esperança e a fé de que Deus ouvirá seu clamor e o salvará. Ele serve como um modelo de oração para aqueles que buscam a misericórdia de Deus em tempos de grande angústia.
Em um mundo onde as notícias sobre o clima parecem cada vez mais urgentes e alarmantes, nós, como cristãos, somos chamados a refletir sobre nosso papel. A crise climática — um fenômeno cientificamente comprovado e visível em nossos dias — não é apenas uma questão política ou científica. Ela é, fundamentalmente, uma questão de fé e obediência.
A Bíblia, desde o seu primeiro livro, estabelece um princípio central: Deus é o Criador de todas as coisas. O Salmo 24:1 nos lembra: "Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam." Isso nos coloca em uma posição de mordomia, não de posse. Deus nos confiou a Terra para que a cultivássemos e a guardássemos (Gênesis 2:15).
Nossa responsabilidade é cuidar da criação, não explorá-la de forma irresponsável. O mandamento de "dominar" a Terra (Gênesis 1:28) não significa tirar proveito dela sem limites, mas sim gerenciá-la com sabedoria, assim como um bom administrador cuida dos bens de seu senhor.
1. O Cenário da Crise Climática: Uma Visão Geral
Diversas instituições científicas globais, como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a NASA e a Organização Meteorológica Mundial (OMM), concordam que as atividades humanas são a principal causa do aumento da temperatura global.
O que já é conhecido e observado:
Aumento das Temperaturas: Os registros mostram que a temperatura média da Terra já subiu aproximadamente 1°C desde a era pré-industrial. Isso parece pouco, mas tem um impacto gigantesco no sistema climático.
Eventos Climáticos Extremos: O aquecimento do planeta intensifica fenômenos como ondas de calor mais longas e frequentes, secas severas, inundações e tempestades mais violentas. O gelo dos polos e das geleiras está derretendo, o que contribui para a elevação do nível do mar.
Impacto na Biodiversidade: As mudanças nos ecossistemas ameaçam a vida de inúmeras espécies, levando à extinção. Isso afeta a teia da vida que Deus criou e sustenta.
2. Previsões e o Chamado à Ação
Com base nos dados científicos atuais, as projeções futuras, embora variem em intensidade, apontam para uma continuação dos problemas se não houver mudança significativa:
Aumento do Nível do Mar: A elevação contínua do nível do mar ameaça cidades costeiras e ilhas, deslocando populações e contaminando reservas de água doce.
Escassez de Alimentos e Água: A alteração dos padrões de chuva e o aumento das secas podem comprometer a agricultura e a segurança alimentar em diversas regiões do mundo, especialmente nas mais pobres e vulneráveis.
Crise de Refugiados Climáticos: Populações inteiras poderão ser forçadas a se mudar devido a inundações ou desertificação, gerando uma nova e grave crise humanitária.
Como cristãos, a crise climática nos chama a agir com amor ao próximo. Jesus nos ensinou que o maior mandamento é amar a Deus e ao nosso próximo como a nós mesmos. Ao proteger a criação, estamos protegendo os mais vulneráveis — aqueles que menos contribuíram para o problema, mas que mais sofrem com suas consequências.
Cuidar da criação é um ato de adoração. É reconhecer a soberania de Deus e honrar o que Ele criou. É um convite para sermos agentes de restauração em um mundo que geme (Romanos 8:22), aguardando a redenção final.
Nossa resposta deve ir além da conscientização:
Individualmente: Podemos adotar hábitos que reduzem nossa pegada ecológica, como consumir de forma mais consciente e economizar recursos.
Em Comunidade: Podemos influenciar nossas igrejas a se tornarem modelos de sustentabilidade, educando os membros sobre a importância da mordomia e apoiando iniciativas que protejam o meio ambiente.
A vida, muitas vezes, nos apresenta uma pergunta dolorosa: "Onde está Deus quando o mal domina?" Vemos a injustiça, a dor e a opressão ao nosso redor, e o mundo parece estar fora de controle. O mal não é apenas um conceito abstrato; ele se manifesta em traições, calúnias, perdas e sofrimento.
A Bíblia, no entanto, não nos deixa sem resposta. Ela nos mostra que, mesmo quando o mal parece triunfar, a mão de Deus está em ação. O livro de Gênesis nos dá um dos exemplos mais poderosos dessa verdade, através da vida de José.
Em sua juventude, José foi vítima da inveja e do ódio de seus próprios irmãos. Eles o jogaram em um poço e o venderam como escravo para mercadores. Pense por um momento no desespero de José. Ele foi separado de sua família e levado para uma terra estrangeira, onde enfrentou uma série de provações. O mal, naquele momento, parecia ter vencido. A traição dos irmãos, a falsa acusação da esposa de Potifar e os anos de prisão injusta pareciam ser o fim da história de José. Humanamente, não havia esperança.
Mas a Bíblia nos mostra o quadro completo. Enquanto o mal agia no palco da história, Deus estava trabalhando nos bastidores. Ele usou a crueldade dos irmãos e a injustiça da prisão para preparar José. O mal, que pretendia destruí-lo, tornou-se o instrumento de sua ascensão. José, o escravo e prisioneiro, foi elevado a governador do Egito, em um plano divino para salvar não apenas sua família, mas nações inteiras da fome.
A verdade central de sua história é resumida nas palavras do próprio José aos seus irmãos: "Vós bem intentastes mal contra mim, porém Deus o tornou em bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar em vida a muito povo" (Gênesis 50:20).
A aparente vitória do mal foi, na verdade, um passo no plano de Deus. A história de José nos ensina que a soberania de Deus não elimina a maldade humana, mas a subordina ao Seu propósito eterno.
Aplicações para a Edificação da Igreja
A experiência de José não é apenas uma história antiga; é uma fonte de edificação para a Igreja hoje.
Cultivem uma Esperança Inabalável: Como a Igreja, não podemos nos deixar vencer pelo desespero quando o mal nos cerca. Nossa esperança não está nas circunstâncias, mas na certeza de que Deus é soberano sobre todas elas. Ele está trabalhando em meio aos nossos sofrimentos, assim como trabalhou na vida de José. Quando a injustiça nos atinge, nossa fé nos lembra que a nossa história não termina com o poço ou a prisão, mas com a glória de Deus.
Pratiquem o Perdão Radical: A atitude de José em perdoar seus irmãos é um testemunho poderoso do poder de Deus. O perdão é a arma mais eficaz contra o ciclo do mal. O perdão quebra as cadeias do ódio e da vingança e liberta tanto quem perdoa quanto quem é perdoado. A Igreja é chamada a ser uma comunidade de perdão, refletindo o perdão que recebemos de Cristo.
Abraçem o Propósito Redentor: A história de José nos ensina que nossos sofrimentos e as injustiças que enfrentamos podem ter um propósito maior. Deus pode usar nossas dores e provações para nos capacitar e nos posicionar para sermos bênçãos na vida de outros. A Igreja é o corpo de Cristo, chamado a ser um instrumento de redenção no mundo. Nossas experiências, mesmo as mais difíceis, podem ser usadas por Deus para trazer vida, cura e salvação para aqueles que estão ao nosso redor.
Que a história de José nos fortaleça, nos inspire a viver com esperança e a sermos instrumentos da graça e da bondade de Deus, mesmo quando o mal parece dominar.
O Fundamento Pastoral nas Escrituras Hebraicas: Uma Análise do Aconselhamento no Antigo Testamento, Suas Consequências e Aplicações para o Ministério Cristão Contemporâneo
I. Introdução: O Conceito de Aconselhamento no Antigo Testamento
Embora o "aconselhamento bíblico" como uma disciplina formal e estruturada seja um desenvolvimento moderno dentro da teologia pastoral, os princípios, as metodologias e a prática do aconselhamento estão profundamente enraizados em toda a narrativa e doutrina do Antigo Testamento. As Escrituras Hebraicas não se limitam a fornecer preceitos; elas oferecem uma rica tapeçaria de exemplos que demonstram a ação pastoral, revelam a natureza humana e ilustram a complexidade das interações divinas e humanas. A base para todo conselho eficaz, conforme retratado no Antigo Testamento, não reside na sabedoria humana ou em ideias transitórias, mas na revelação e na vontade de Deus.
O propósito deste relatório é explorar a natureza multifacetada do aconselhamento nas Escrituras Hebraicas, examinando seus modelos principais e analisando as consequências, tanto positivas quanto negativas, de seguir ou rejeitar a orientação divina. Através de um exame teológico e de estudos de caso narrativos, este documento argumenta que o aconselhamento no Antigo Testamento se manifesta principalmente em modelos sapienciais, proféticos e da aliança. A análise das consequências dessas práticas oferece princípios atemporais que encontram sua plena realização e aplicação no ministério pastoral moderno, mediado e centralizado na pessoa e obra de Jesus Cristo.
O fundamento primário do conselho divino no Antigo Testamento é a Torá, ou a Lei de Moisés. Derivada do termo hebraico Yará, que significa "ensinamento" ou "instrução", a Torá é mais do que uma mera imposição legal. Ela é apresentada como o guia central para a vida do povo de Deus, oferecendo 613 mandamentos que instruem sobre como agir e como não agir em todas as esferas da existência, incluindo relações sociais, familiares e religiosas. Os Livros Sapienciais, por sua vez, demonstram a fé na sabedoria divina que rege o universo e o indivíduo. Eles elevam a prudência e a piedade como virtudes essenciais para uma vida bem vivida, estabelecendo um padrão de conduta que aponta para a ordem moral de Deus.
II. As Fontes e Naturezas do Aconselhamento nas Escrituras Hebraicas
O conselho no Antigo Testamento pode ser categorizado em diferentes abordagens, cada uma com sua própria fonte de autoridade e metodologia. A distinção mais notável pode ser feita entre os modelos sapiencial e profético, embora ambos estejam interligados pela soberania de Deus.
2.1. O Modelo Sapiencial: A Força Persuasiva do Conselho
Os Livros Sapienciais, como Provérbios, Eclesiastes e Jó, representam um mundo à parte na literatura do Antigo Testamento, pois seu centro de interesse se desloca da história de Israel para a condição humana universal e da imposição da Lei para a força persuasiva do conselho e da exortação. A sabedoria aqui surge da experiência humana e da tradição, utilizando a razão e a prudência para guiar a vida. O objetivo é ensinar a arte de viver bem, visando instilar uma personalidade firme e autogovernada. Essa abordagem se concentra em princípios como o desenvolvimento do "caráter" e a importância de evitar os vícios, a preguiça e a má companhia.
No entanto, o modelo sapiencial tem seus limites. O Livro de Jó é um exemplo notável de aconselhamento malsucedido, onde os três amigos de Jó vêm para "reconfortá-lo", mas se lançam em um vasto debate teológico. O fracasso de seus conselhos demonstra a insuficiência da sabedoria puramente humana diante de um sofrimento complexo, sublinhando a necessidade de uma revelação mais elevada, que, no final, vem do próprio Deus.
2.2. O Modelo Profético: A Autoridade da Revelação Direta
Em contraste com a sabedoria que emana "de baixo" da experiência humana, o modelo profético de aconselhamento provém "de cima", da revelação direta de Deus. O profeta age como o porta-voz de Deus, e sua autoridade não se baseia em sua própria prudência, mas na comissão divina para "denunciar o pecado, promover a justiça e proclamar a esperança". Esse conselho é frequentemente uma voz corretiva, visando a repreensão e a restauração do povo de Deus.
A base desse modelo é a totalidade das Escrituras Hebraicas, conhecidas como "a Lei e os Profetas". Jesus se referiu a essa divisão para descrever todo o Antigo Testamento, que aponta para Ele como o Messias. Portanto, o aconselhamento profético não era apenas sobre instrução moral; era intrinsecamente messiânico, orientando o povo para o plano redentor de Deus. A influência profética era crucial, pois através desses mensageiros, o Divino comunicava Sua vontade, orientações e advertências aos reis e ao povo.
2.3. O Modelo da Lei e da Aliança: O Conselho como Guia Pactual
O Antigo Testamento retrata Deus como o Aconselhador Supremo, cujo papel é guiar, nutrir, vigiar e estabelecer aliança com o seu povo. Este papel é comparado ao de um pastor que cuida do seu rebanho. Os princípios da aliança são a base fundamental para todo o aconselhamento bíblico. Deus demonstra o que significa o cuidado pastoral, e os líderes humanos são chamados a espelhar essa ação. O conselho, nesse contexto, não é apenas um guia para o comportamento, mas uma forma de reafirmar e viver dentro dos termos do pacto com Deus, reconhecendo Sua soberania.
III. Estudos de Caso: As Consequências do Conselho no Antigo Testamento
A análise das narrativas bíblicas revela que o conselho, seja ele buscado ou oferecido, não é um ato isolado, mas uma ação com profundas e, muitas vezes, duradouras consequências. Os casos de Roboão, Davi e Ezequias fornecem uma lente clara para examinar a importância e o impacto das escolhas feitas em resposta à orientação.
3.1. Estudo de Caso de Fracasso: A Insensatez de Roboão (1 Reis 12)
Roboão, filho de Salomão, foi o terceiro rei de Israel. Após a morte de seu pai, o povo se queixou dos impostos pesados e do trabalho forçado, pedindo alívio. Diante dessa crise, Roboão procurou conselho em duas fontes distintas, com consequências catastróficas.
Primeiro, ele consultou os anciãos que haviam servido a seu pai, Salomão. O conselho deles era de prudência e sabedoria, baseada na experiência. Eles aconselharam que Roboão se tornasse um "servo do povo" e aliviasse o jugo, prometendo que, se ele agisse com bondade, o povo seria fiel a ele para sempre. No entanto, Roboão desprezou este conselho sensato e buscou a opinião de seus jovens contemporâneos. O conselho dos jovens foi exatamente o oposto: arrogante e agressivo. Eles incitaram Roboão a afirmar sua autoridade com a famosa frase: "Meu dedo mínimo é mais grosso do que a cintura de meu pai". Eles prometeram aumentar o jugo e castigar o povo com escorpiões, em vez de chicotes.
As consequências de seguir o conselho insensato foram terríveis. O desprezo de Roboão pela sabedoria e humildade, e sua escolha por focar no poder pessoal e na arrogância, levou a uma revolta imediata. Dez das doze tribos se separaram, formando o Reino do Norte de Israel sob a liderança de Jeroboão, enquanto apenas as tribos de Judá e Benjamim permaneceram fiéis a Roboão. A revolta do povo resultou no apedrejamento de Adonirão, o superintendente dos tributos, e Roboão teve que fugir para Jerusalém. A narrativa bíblica revela que essa revolta não foi apenas um erro político, mas um evento orquestrado pelo próprio SENHOR para cumprir a profecia de Aías, o silonita, a Jeroboão. A arrogância e a falta de autogoverno de Roboão se tornaram o veículo para o juízo divino e o cumprimento do plano de Deus.
3.2. Estudo de Caso de Confrontação: A Repreensão de Natã a Davi (2 Samuel 12)
O profeta Natã é enviado por Deus para confrontar o rei Davi, que cometeu adultério com Bate-Seba e orquestrou a morte de Urias, o hitita, no campo de batalha. A abordagem de Natã é um exemplo magistral de aconselhamento profético com tato e coragem. Ele não confronta Davi diretamente no início, mas usa uma parábola sobre um homem rico que rouba a ovelha de um pobre. A indignação de Davi com a injustiça da história o leva a julgar a si mesmo, e então Natã lança a repreensão: "Você é esse homem!".
A confrontação leva Davi a uma confissão sincera: "Pequei contra o SENHOR!". Em resposta, Natã anuncia o perdão de Deus: "O SENHOR perdoou o seu pecado. Você não morrerá". No entanto, o perdão não elimina as consequências terrenas do pecado. As repercussões são severas e duradouras, afetando Davi e sua família pelo resto de sua vida. As profecias de Natã se cumprem ponto a ponto: a espada jamais se apartará da casa de Davi, a desgraça virá de sua própria família, suas mulheres serão desonradas publicamente, e o filho que nasceu daquele adultério morrerá. A consequência mais notável é a guerra civil e os conflitos familiares que se seguiram, com o trágico desenrolar da história de seus filhos, Amnom e Absalão.
Este caso demonstra uma teologia complexa, onde o perdão de Deus é total e redentor, mas as consequências do pecado no mundo real persistem. A ação de Davi "insultou o SENHOR" e deu "oportunidade aos inimigos do SENHOR de desprezá-lo". O conselho de Natã, embora doloroso, foi o caminho para a reconciliação e a restauração da comunhão com Deus, mesmo que a dor das consequências continuasse.
3.3. Estudo de Caso de Sucesso: Ezequias e o Profeta Isaías (2 Reis 19; Isaías 37)
Em um contraste direto com o caso de Roboão, o rei Ezequias enfrenta uma crise existencial quando o exército assírio ameaça a destruição de Jerusalém. Em vez de confiar em sua própria força ou em conselhos militares, Ezequias responde com humildade e dependência de Deus. Ele rasga suas vestes, se cobre de pano de saco e envia mensageiros para buscar o conselho do profeta Isaías.
A busca por conselho profético é uma ação de fé. Isaías, então, entrega a palavra de Deus com a promessa de livramento. O resultado é um milagre: um anjo do SENHOR destrói 185.000 soldados assírios, e o rei Senaqueribe retorna a Nínive, onde é assassinado por seus próprios filhos. A obediência de Ezequias à palavra de Deus, entregue pelo profeta, resulta em livramento e paz. Este caso ilustra que o verdadeiro sucesso no aconselhamento reside não apenas na qualidade do conselho, mas, fundamentalmente, na atitude de submissão e obediência daquele que o recebe. A humildade de Ezequias em buscar a voz de Deus, em vez de confiar em seu próprio poder, levou a uma intervenção sobrenatural.
Tabela 1: Estudo de Caso Comparativo de Conselho no
Antigo Testamento
Rei
Circunstância/Problema
Conselheiros
Natureza do Conselho
Resposta do Rei
Consequências
Roboão
Pedido de alívio do jugo
Anciãos e Jovens
Sapiencial (prudência) vs. Arrogante (insensatez)
Rejeição do conselho sábio
Divisão do Reino, rebelião e perda de tribos
Davi
Adultério e assassinato
Profeta Natã
Profético (repreensão e perdão)
Confissão e arrependimento
Perdão divino, mas consequências duradouras, conflito
familiar
Ezequias
Ameaça assíria
Profeta Isaías
Profético (conforto e orientação divina)
Submissão à palavra de Deus
Livramento milagroso e preservação do reino
IV. A Aplicação dos Princípios do Antigo Testamento no Contexto Moderno
A relevância do Antigo Testamento para o aconselhamento moderno reside no fato de que ele não é um conjunto de narrativas isoladas, mas uma parte essencial da revelação completa de Deus que culmina em Jesus Cristo.
4.1. A Transição Teológica: Do Antigo para o Novo Testamento
Os escritores do Novo Testamento consistentemente recorrem ao Antigo Testamento como uma autoridade permanente para os crentes. A Lei e os Profetas apontavam para Jesus, que não veio para abolir, mas para cumprir a Lei em sua totalidade. Portanto, o Antigo Testamento, embora não seja mais o "sistema de justificação" para os cristãos, ainda é "útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a educação na justiça" (2 Timóteo 3:16). Ele continua a ensinar sobre a santidade de Deus e a revelar a natureza pecaminosa do homem. A Nova Aliança, profetizada em Jeremias 31, promete que Deus escreveria Sua lei em nossos corações, e hoje o Espírito Santo guia os crentes a viverem de acordo com os princípios justos da Lei.
4.2. O Fundamento do Aconselhamento Bíblico Contemporâneo
O aconselhamento bíblico moderno, também conhecido como noutético, é baseado diretamente na suficiência da Bíblia como a Palavra revelada de Deus. Esse modelo rejeita a psicologia secular que é humanística por natureza e se baseia na ideia de que o homem é "basicamente bom" e que a solução para seus problemas está "dentro dele mesmo". A visão bíblica, no entanto, é que o problema fundamental do homem é de natureza espiritual; ele está "morto em delitos e pecados" (Efésios 2:1), e seu coração não regenerado é enganoso.
O aconselhamento bíblico tem como alvo principal a glória de Deus e a conformação do aconselhado à estatura de Cristo. Ele busca diagnosticar o coração e acredita que a única esperança de transformação é o Evangelho de Jesus Cristo. A confrontação com o pecado, o convite ao arrependimento e a reformulação dos princípios de vida de acordo com os preceitos bíblicos são funções essenciais do aconselhamento pastoral que o diferenciam fundamentalmente da psicoterapia secular.
4.3. O Papel do Conselheiro: Espelho de Deus, o Aconselhador Supremo
O modelo pastoral do Antigo Testamento, onde Deus é o Pastor Supremo que guia, provê e vigia , serve de base para o papel do conselheiro moderno. O pastor ou conselheiro hoje é chamado a seguir o exemplo de Jesus, o Bom Pastor, e a entregar-se completamente à tarefa de cuidar do rebanho. Isso envolve a aplicação dos modelos sapiencial e profético de maneira equilibrada.
O conselheiro deve ter a sabedoria para usar a abordagem persuasiva e exortativa, ajudando o aconselhado a extrair princípios de vida e a tomar decisões prudentes. Ao mesmo tempo, ele deve ter a coragem e o tato de Natã para confrontar amorosamente o pecado, sabendo que a repreensão, quando baseada na verdade das Escrituras, é um caminho para o arrependimento e a restauração. A atitude do conselheiro deve ser de humildade e serviço, imitando a si mesmo o exemplo de Jesus.
V. Conclusão: O Eterno Chamado ao Conselho Divino
O aconselhamento no Antigo Testamento não é um conceito arcaico, mas um conjunto de práticas e princípios atemporais que continuam a orientar o povo de Deus. Através dos modelos sapienciais e proféticos, as Escrituras Hebraicas demonstram a centralidade de buscar a orientação de Deus e as consequências profundas, tanto para o indivíduo quanto para a comunidade, de seguir ou rejeitar esse conselho. As histórias de Roboão e Davi são lições poderosas que ilustram como a arrogância e o pecado trazem consequências catastróficas e duradouras, mesmo que o perdão seja concedido. Em contraste, o exemplo de Ezequias mostra que a humildade em buscar a palavra de Deus resulta em livramento e bênção.
O legado do Antigo Testamento para o ministério pastoral contemporâneo é claro e vital. Ele serve como um "sinal na estrada" que aponta para Cristo, o cumprimento de toda a Lei e Profecia. O aconselhamento bíblico moderno, fundamentado na suficiência das Escrituras e na totalidade da revelação de Deus, é o ministério da igreja local que busca diagnosticar o coração do homem e conduzi-lo à transformação que só o Evangelho de Jesus Cristo pode oferecer. Ele não se baseia em teorias humanas, mas em uma visão de mundo onde o pecado é a raiz do problema humano e a redenção em Cristo é a única solução verdadeira, o que lhe confere relevância perene e poder transformador.