sábado, 12 de setembro de 2009

O HOMEM



Em seu livro Teologia Sistemática, 2007, Augustus Hopkins Strong expõe de forma clara a doutrina do homem. Em sua argumentação acerca da evolução e criação do homem ele afirma que a evolução não anula a criação de Deus, que as leis da natureza são apenas os métodos regulares de Deus, e que a concepção da natureza independente de Deus é irracional.
Após essa leve introdução Strong lança seus inúmeros argumentos sobre a criação divina do homem.
As escrituras não revelam se o desenvolvimento físico do homem é ou não derivado, por descendência natural, dos animais inferiores. O “Produza a terra os seres viventes (Gn 1.24) não exclui a idéia de criação mediata, por intermédio da geração natural, assim a formação do homem (...) “do pó da terra” (Gn 2.7) não determina se a criação do corpo do homem foi mediata ou imediata.
O homem mantinha com o mais elevado bruto que o antecedeu a mesma relação que o pão e o peixe com os cinco pães e dois peixe (Mt 14.19), o vinho com a água (Jo 2.7-10) ou que o óleo aumentado manteve o original no milagre do AT (2Rs 4.1-7). Conclui: o pó antes de receber o sopro do espírito pode ter sido um pó animado. Podem ter sido empregados os meios naturais, até onde possível. Nossa hereditariedade procede de Deus, embora provindo de formas inferiores de vida, e o fim também é Deus, apesar de que por intermédio da humanidade imperfeita. A EVOLUÇÃO não torna supérflua a ideia do criador, porque ela é apenas um método de Deus.
Para Strong o homem não se desenvolveu a partir do macaco, mas independente do macaco. Ele nunca foi algo que não fosse um homem em potencial. Como homem, ele não veio a ser até que se tornou um agente moral consciente. Essa natureza Strong chama de personalidade e requer um Deus criador.
Apelando para a psicologia Strong expõem o seguinte pensamento: As diferenças radicais entre a alma do homem e o principio de inteligência dos animais inferiores, especialmente a posse da autodeterminação mostram que aquilo que principalmente constitui o homem não poderia derivar-se pelo processo natural de desenvolvimento a partir das criaturas inferiores.
Somos compelidos, então, a crer que o “soprar nas narinas do homem o fôlego da vida” (Gn 2.7) da parte de Deus, apesar de ser uma criação mediata, pressupondo matéria existente na configuração das formas animais, no entanto, foi uma criação imediata no sentido de que somente um reforço divino do processo de vida tornou o animal em homem. Em outras palavras, o homem não veio a partir do bruto, mas por intermédio do bruto e o mesmo Deus imanente, que criara o bruto, criou também o homem.
A condição de vida consciente própria da natureza humana é anterior ao próprio nascimento, ainda de forma embrionária. As sensações de conforto e desconforto vegetativo são na verdade a base sobre a qual nascerá o conhecimento de um mundo exterior. Um dado também significativo neste processo de aprendizagem se dar no momento em que a criança tem consciência do seu eu. Animal nenhum tem esse nível de consciência.
A partir destas colocações Strong faz uma série de comparações entre o homem e o animal procurando diferenciar um do outro demonstrando assim a ação de Deus na criação.
1. O bruto é consciente, mas o homem é consciente de si mesmo.
2. O bruto apenas tem objetos de percepção; o homem tem também conceitos.
3. O bruto não tem linguagem, visto que a linguagem é a expressão de noções gerais por meio de símbolos. Onde não há conceito não pode haver linguagem.
4. O bruto não forma nenhum juízo. Não existe sentido do ridículo, nem risada, o bruto não associa idéias por semelhanças.
5. O bruto não tem nenhum raciocínio.
6. O bruto não tem nenhuma ideia geral ou intuição de espaço, tempo, substância, causa, direito. Por isso não há nenhuma generalização e nenhuma experiência própria ou progresso.
7. O bruto tem determinação, mas não autodeterminação. O homem tem sua natureza animal, mas está acima dela, o animal está mergulhado na natureza. O animal não tem poder de decisão ele apenas obedece a seus instintos.
8. O bruto não tem consciência ou natureza de cunho religioso.
Em fim os animais compartilham com os homens as emoções, mas não da sua natureza moral ou estética; eles não conhecem altruísmo nem código moral. O homem é o homem, pois a sua livre vontade transcende as limitações do bruto.
Para Strong a Bíblia nos ensina que a natureza do homem é a criação. Dentro deste propósito enumera inúmeras passagens que apresenta essa realidade, vejamos algumas:

E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente. Gênesis 2.7
PESO da palavra do Senhor sobre Israel: Fala o Senhor, o que estende o céu, e que funda a terra, e que forma o espírito do homem dentro dele. Zacarias 12.1

Na verdade, há um espírito no homem, e a inspiração do Todo Poderoso o faz entendido. Jó 32.8

E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu. Ec 12.7

Aqueles que buscam explicar a origem do homem a partir de uma evolução natural, tendo como instrumento a seleção natural (sobrevivência dos mais fortes), portanto, sem a intervenção divina não conseguem provar sua teoria apresentando um fóssil que represente um ser intermediário entre o bruto e o homem. Neste sentido Strong faz uma crítica velada a psicologia comparada que tem se mostrado incompetente neste propósito.
Mesmo considerando a hipótese que a seleção natural explique de “forma parcial” a evolução do corpo humano, Strong faz algumas ressalvas: Primeiro – As leis do desenvolvimento orgânico que tem sido seguida na origem do homem são métodos de Deus e prova de sua ação criadora. Segundo – Quando o homem apareceu em cena não mais era um bruto, mas um ser autoconsciente e autodeterminante, feito à imagem de seu Deus criador e capaz de decisão moral livre e consciente. Entre o bem e o mal.
Se aprofundando um pouco mais no tema Strong aborda a paternidade de Deus. Ele argumenta: “A verdade que o homem é produto de Deus implica a verdade correlata de uma paternidade comum” (Strong, p.854).
Neste sentido Strong afirma ser Deus Pai de todos os homens no sentido de que Ele os origina e os sustenta como seres pessoais semelhantes em natureza a Ele mesmo. Mesmo para os pecadores Deus mantém essa relação de Pai. É o seu amor paterno, na verdade, que provê a expiação. Assim se vai ao encontro das exigências de santidade e o pródigo é restaurado aos privilégios de filiação perdidos na transgressão. Essa paternidade natural, portanto, não exclui, mas prepara o caminho para a paternidade especial de Deus para com aqueles que foram regenerados pelo seu Espírito e que creram em seu filho.
A filiação do homem é colocada por Strong como algo subjacente à história da queda o que qualifica a doutrina do pecado. Na bíblia encontramos vários textos comprovam a paternidade de Deus. São eles: Malaquias 2.10; Lucas 3.32; 15.11-32; Atos 17.28; Colossenses 1.16,17; Hebreus 12.9. Essa paternidade tem um sentido bastante amplo: ela tem origem; comunicação da vida; sustento; semelhança nas faculdades e poderes; governo; cuidado e amor.
Em tudo isto Deus é pai de todos os homens e Seu amor paterno é tanto preservador quanto reparador. A paternidade natural de Deus é medida por Cristo, através de quem foram feitas todas as coisas, e em quem todas as coisas, até a humanidade consistem.
Os textos relacionados a paternidade da graça são: João 1.12,13; Romanos 8.14; 2Corintios 6.17; Efésios 1.5,6; Gálatas 3.26; 1joão 3.1,2 e Gálatas 4.1-7. Strong afirma que nem todos os homens são filhos de Deus. Na verdade são criaturas de Deus, mas para poderem se transformar em filhos de Deus tem que passar pelo crivo do nascer de novo. Essa verdade está expressa em João 1.12,13; Romanos 8.14,15; 2Co 6.17; Efésios 1.5,6;3.14,15; Gálatas 3.26; 4.1-7 e Mateus 5.45.
Deus é física e materialmente o pai de todos os homens; moral e espiritualmente Ele é o pai somente dos que foram renovados pelo seu Espírito. A paternidade universal de Deus se baseia no seguinte: 1. O homem criado à imagem de Deus; 2. O tratamento paterno de Deus para com o homem, especialmente na vida de Cristo entre os homens; 3. A reivindicação de Deus por seu filial amor e confiança. 4. Apenas a paternidade de Deus torna possível a encarnação, pois isso implica unidade da natureza entre Deus e o homem.
Compreendendo o homem como criação de Deus Strong passa a dissertar sobre a unidade da raça humana. Neste sentido afirma que todos os homens descendem de um casal. Para tanto apresenta diversos textos bíblicos (Gênesis 1.27,28; 2.7;22;3.20; 9.19), bem como usa os enunciados paulinos para reforça essa teologia. Paulo expõe em suas cartas a unidade orgânica da humanidade na primeira transgressão e da provisão da salvação para a humanidade através de Cristo (Romanos 5.12,19; 1Co 15.21-22; Hebreus 2.16).
Outro argumento usado pelo autor para comprovar essa paternidade divina do homem encontra-se num argumento da psicologia. Ele afirma: A descendência da humanidade em relação ao casal explica a fraternidade natural que sentimos pelos nossos irmãos (Atos 17.26; Hebreus 2.11). Segundo Strong tanto a História, quanto o estudo da lingüística como através dos estudos fisiológico comprovam essa paternidade e a origem monogenista da raça humana.
Em seu argumento acerca dos elementos essenciais da natureza humana Strong apresenta duas teorias que procuram explicar a origem desses elementos: teoria dicotomista que explica que o homem foi criado por Deus com duas naturezas: Corpo e Alma. E a tese tricotomista que defendem que o homem possui três naturezas, a saber, Alma, corpo e espírito. Das duas teses Strong defende a dicotomia por ver nela a verdade bíblica.
Concluindo o assunto Strong nos fala da origem da alma. Neste particular expõe as teorias: preexistência, criacionista e a traducianista. Na tese da preexistência fica claro para os defensores desta teoria que as intuições que temos são fruto deste estado preexistente da alma. Já Strong combate essa ideia declarando que a mesma contradiz o relato bíblico da criação do homem descrita por Moisés e as falas paulinas sobre o mal e a morte na raça humana como resultado do pecado. Acrescenta: Se a alma era preexistente porque não temos lembranças passadas. Afinal Cristo se lembrou do seu estado de preexistente e por que não nós?
Quanto à teoria da Criação seus defensores afirmam que foi Deus quem criou a alma de cada ser humano e a uniu ao corpo na concepção, ou no nascimento, ou em algum período entre ambas. Apenas o corpo se propaga através das gerações passadas. A cerca desta teoria Strong faz algumas observações: As passagens aduzidas em seu apoio podem, com igual propriedade, ser consideradas como expressão da atuação mediata de Deus na origem das almas humanas; entretanto o teor geral da Escritura bem como as suas representações de Deus como autor do corpo do homem favorecem essa interpretação (Eclesiastes 12.7; Zacarias 12.1; hebreus 12.9; Salmo 139.13,14). Dentro deste ponto de vista o criacionismo considera o pai humano apenas como gerador do corpo do seu filho e não como o pai da parte mais elevada dele. O argumento principal contra o criacionismo é que Deus criou o mal.
Na tese traducianista a raça humana foi criada imediatamente em Adão. O corpo e a alma após Adão veio por meios naturais. Dentro desta perspectiva o pecado de Adão também é nosso porque estávamos em Adão quando ele pecou. Finalizando, Strong aborda o tema a natureza moral do homem. Neste sentido Strong conceitua moral como “os poderes adequados à ação certa ou errada”. Esses poderes são o intelecto, o sentimento e a vontade com o poder peculiar de descriminação e impulso, que chamamos consciência.
Strong finaliza sua exposição afirmando que os homens por possuir atitudes morais se diferenciam dos demais animais que o cercam. Ele pode escolher, comparar, discernir entre uma opção e outra e decidisse por aquela que esteja mas adequada a sua consciência cristã ou não.

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