segunda-feira, 1 de julho de 2019

A não linearidade da vida


Salmo 88

A busca pelo sucesso profissional, pela eterna beleza, pela saúde, pelo relacionamento estável e tudo mais que possa tornar a vida interessante e prazerosa é legitimo, contudo, não existe garantia que esse nosso desejo ocorra da forma como queremos ou pensamento.

Quando as coisas não acontecem como planejamos um oceano de frustrações pode assaltar o nosso coração tornando nossa experiência de vida difícil e penosa.

Como agir em momentos como estes onde nada dá certo e a perspectiva da morte passa a ser real? Na palavra de Deus conhecemos inúmeras experiências de vidas dolorosas. Algumas com desdobramentos felizes como Jó (Jó 42. 10-17), a mulher do fluxo de sangue (Mt 9. 20-22; Lc 8. 42b – 48), Noemi (Rute 4. 13-18).

Existem também aquelas que foram assaltadas pelo sofrimento e não tiveram alívio da sua dor. Contudo, o servo sofredor não se rendeu as circunstâncias e procurou em Deus o alívio. Nessa condição se enquadra o salmo 88.

Salmo 88

O Salmo 88 é um profundo lamento. A primeira vista pode ser aplicado a um individuo, contudo, existem elementos internos que apontam para um coletivo. Exemplo: Hemã era um nome comum no Antigo Testamento (1Rs 4.31; 1Cr 15. 17,19) e ezraíta pode significar a família de Ezra ou nascido em.

O salmista abre seu coração sem reservas diante do Todo Poderoso. O propósito do salmo está logo nos primeiros versos:

SENHOR Deus da minha salvação, diante de ti tenho clamado de dia e de noite. Chegue a minha oração perante a tua face, inclina os teus ouvidos ao meu clamor;  Salmos 88:1,2

É um pedido de socorro com insistência:

a.       “Dia e noite” (v1).
b.      “Dia após dia” (v9).
c.       “Madrugada” (v13).

Existe uma suspeita de que o Senhor é quem o feriu:

a.       Já não te lembras; pois foram abandonados pelas tuas mãos. (v5)
b.      Puseste-me na mais profunda cova... (v6)
c.       Sobre mim pesa a tua ira; Tu me abates com todas as tuas ondas... (v7)

Seu estado é lamentável. Os amigos o deixaram e o considera uma abominação (v8). A morte se apresenta como consequência natural do seu mal, porém, com um agravante: O fato de ser fruto da ira de Deus e ser esquecido pelo Criador. Essa condição aponta para a morte de um ímpio e não de um servo de Deus. Esse pensamento o aflige duramente, visto que, no seu entendimento o sofrimento continuaria depois da morte. Terrível!

E a escalada da dor só aumenta: “estou preso... meus olhos desfalecem de aflição” (vs 8-9) assim, como o clamor do servo ferido: “... dia após dia venho clamando a ti, Senhor, e a ti levanto as minhas mãos” (v9).
Diante desta conjuntura o salmista argumenta:

“Será que farás maravilhas para os mortos? Ou será que os finados se levantarão para te louvar? A tua bondade será anunciada na sepultura? Acaso nas trevas se manifestam as tuas maravilhas? E a tua justiça, na terra do esquecimento?”

Alguns dos atributos divinos são destacados: maravilhas [onipotência], bondade, justiça. Contudo, questiona: Morrer desta forma lhes tiraria a oportunidade de:

a.       Vê as maravilhas de Deus.
b.      De louvá-lo.
c.       De desfrutar da bondade divina.
d.      De visualizar a sua justiça.

Além de redundar em prejuízos pessoais e divinos, visto que, deixaria de testemunhar de Deus aos homens. De certa forma é uma chantagem espiritual. Quando lemos II Reis 20. 3 temos os mesmos argumentos em ordem inversa. Enquanto há uma promessa por parte do salmista de relatar as maravilhas de Deus a partir da sua cura, em Crônicas Ezequias argumenta que promovera inúmeras reformas em Israel no intuito de reativar o culto a javé (2 Crônicas 29-31) e usa este fato para mover o coração de Deus em seu favor.

Nos versos 13 e 14 encontramos a seguinte situação:

Eu, porém, Senhor, clamo a ti, e de madrugada te envio à minha oração. Senhor, por que rejeitas a minha alma? Por que escondes de mim a tua face?

O salmista volta à carga. Ele resiste. Fragilizado, com pouca ou nenhuma convicção que será atendido, mas, conscientemente que está no caminho certo não para de clama. Ele sabe quem pode livrá-lo do mal e o busca. A incompreensão do seu tormento igualha a condição de Jó.

O texto finaliza (vs. 15-18) com uma explosão de lamentos:

·         Estou aflito e preste a morrer desde a minha mocidade; (v. 15)
·         Sente a ira de Deus e não sua misericórdia; (v.16)
·         Está sob forte opressão; (v. 17)
·         Reclama da ausência dos amigos e companheiros, portanto, perdera um suporte imprescindível em sua luta pela vida;
·         Sente-se isolado e em trevas.

 A dor é transparente, direta, impactante. Os cantores que davam vida a letra e música desta peça passavam um alto grau de dramaticidade. A congregação que participava da adoração tinha clareza da sua limitação e dependência de Deus. É um clamor que aparentemente não é respondido.

Lições que podemos tirar deste texto:

a.       Todas as nossas petições devem ser dirigidas a Deus. A consciência de que só o Senhor é capaz de reverter às circunstâncias leva o salmista a buscar seu socorro (salmo 121).
b.      Devemos desenvolver uma fé resistente. Apesar dos céus aparentemente não se moverem diante da sua petição o salmista insiste, demonstrando que mesmo diante de grandes desafios jamais devemos declinar na fé. Aqui não se destaca a intensidade da fé, mas a qualidade. É Deus, só Ele e basta.
c.       É possível lamentar e questionar a Deus faz parte do exercício da vida cristã. Essa postura:

·         revela sinceridade de alma;
·         põem abaixo qualquer ideologia triunfalista que colocam os servos de Deus como imunes aos males comuns aos homens. Além disso, deixa claro que Deus entende essa forma de expressão como genuinamente humana e não como um ato de desrespeito a sua santidade.
d.      Finalmente: Ensina-nos acerca da soberania de Deus. O Senhor administra as circunstancias da nossa vida de acordo com a sua soberana vontade. Ele tem um propósito em tudo que faz.

Que Deus abençoe a todos em nome de Jesus Cristo.

No momento em que concluo esta reflexão a irmã Deyse acaba de perder seu pai para uma enfermidade. Foram mais de 40 dias de oração, contudo, paulatinamente a saúde paterna se agravava. Por diversas ocasiões seu coração parou, sendo que numa dessas vezes durou 18 minutos. Nessas ocasiões Deus operava maravilhas, visto que, quando o médico ia assinar o seu atestado de óbito ele recuperava a consciência. Os médicos diziam não compreender o que estava acontecendo, ao que ela respondia ser o agir de Deus. Em suas visitas adorava ao Senhor próximo ao seu ouvido e em diversas ocasiões foi correspondida pelo abrir dos olhos e choro do seu pai. Por fim, em algumas das suas melhoras esporádicas liberou perdão e pediu perdão a familiares e amigos e só assim descansou no Senhor.
Quarenta dias de oração, de clamor, de choro de aflição. A cura não veio, mais a fé resistente conduziu ambos até o momento em que o Senhor o chamou. No velório que acabo de participar, além de testemunhar todos os fatos acima relatados teve folego para adorar a Deus com a abençoada música Deus é Deus. Coisas tremendas Deus tem reservados para seus filhos.


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