quarta-feira, 1 de março de 2017

A monarquia em Israel

A monarquia em Israel: os livros de 1, 2 Samuel, 1,2 reis, 1,2 Crônicas.

Introdução Geral

A EBD nesse semestre estudará o tema “Monarquia de Israel”, onde nos deteremos no estudo dos personagens bíblicos destacando suas qualidades, defeitos em especial exemplos de fé de reis e profetas que honraram o nosso Deus.
Logo de início trataremos de dois conceitos importantes para compreendemos a relação entre Deus e seu povo.
1.       

  •      Teocracia – uma forma de governo em que o próprio Deus intervinha na vida do seu povo [lei e seu código de ética].
  •      Monarquia – Forma de governo em que o poder é exercido pelo rei, pela rainha, por seus descendentes ou herdeiros diretos [Dicionário online de português].
A palavra em hebraico para rei [1Samuel 8.5]é MELEKH; um rei: rei, real. É um substantivo masculino que significa rei. A forma feminina é MELKÃH que significa rainha. A palavra MELEKH aparece mais de 2.500 vezes no Velho Testamento [Bíblia de Estudo palavras chave].
As principais fontes do estudo do período monárquico israelense são os livros de:

·         1, 2 Samuel;
·         1,2 reis;
·         1,2 Crônicas.

Vejam um breve panorama do livro de Samuel.

1,2 Samuel.

·         Em sua época Israel deixa de ser uma teocracia para ser uma monarquia que encerraria com o cativeiro da Babilônia.
·         Retrata a vida de três grandes personagens bíblicos:

a)       Samuel [1075-1035 a.C.]. O ministério de Samuel foi de 40 anos.
b)       Saul.
c)       Davi.

·         Tema central dos livros de Samuel

d)       1 Samuel – “Deus em busca de um homem segundo o seu coração para governar o seu povo”. [Dr. David F. Payne].
a)       2 Samuel – “O estabelecimento de Davi como rei teocrático” [Dr. Stanley Ellisen].

·         Autoria – 1Samuel 1-24, é do próprio Samuel que narra os fatos até sua morte [I Samuel 25:1]. Os demais capítulos e livro de acordo com a tradição hebraica foram escritos por Natã e Gade.
·          
“Ora, os atos do rei Davi, desde os primeiros dias até os últimos, estão escritos nas crônicas de Samuel, o vidente, e nas crônicas do profeta Natã, e nas crônicas de Gade, o vidente”, 1Crônicas 29.29

·         Lições práticas do livro de 1Samuel:

ü  Deus deseja pessoas segundo o seu próprio coração.
ü  Deus é livre para escolher líderes para o seu povo.
ü  Deus é o verdadeiro líder do seu povo.
ü  A vida de uma nação é reflexo de sua vida moral e espiritual.

·         Lições práticas do livro de 2Samuel:

ü  Deus é Senhor da história e controlador de todas as coisas.
ü  O pecado tem consequências imediatas ou demoradas, mas nunca fica impune.
ü  Deus sempre nos dá uma nova oportunidade.
ü  Devemos encarar o pecado como pecado por causa das suas consequências apontadas nas Sagradas Escrituras.

Escolhendo a forma de governo
Texto bíblico – Deuteronômio 17,14-20; 1Samuel 1-10
Texto áureo – 1Samuel 8.7

Quando entrares na terra que te dá o Senhor teu Deus, e a possuíres, e nela habitares, e disseres: Porei sobre mim um rei, assim como têm todas as nações que estão em redor de mim;
Porás certamente sobre ti como rei aquele que escolher o Senhor teu Deus; dentre teus irmãos porás rei sobre ti; não poderás pôr homem estranho sobre ti, que não seja de teus irmãos.
Porém ele não multiplicará para si cavalos, nem fará voltar o povo ao Egito para multiplicar cavalos; pois o Senhor vos tem dito: Nunca mais voltareis por este caminho.
Tampouco para si multiplicará mulheres, para que o seu coração não se desvie; nem prata nem ouro multiplicará muito para si.
Será também que, quando se assentar sobre o trono do seu reino, então escreverá para si num livro, um traslado desta lei, do original que está diante dos sacerdotes levitas.
E o terá consigo, e nele lerá todos os dias da sua vida, para que aprenda a temer ao Senhor seu Deus, para guardar todas as palavras desta lei, e estes estatutos, para cumpri-los;
Para que o seu coração não se levante sobre os seus irmãos, e não se aparte do mandamento, nem para a direita nem para a esquerda; para que prolongue os seus dias no seu reino, ele e seus filhos no meio de Israel.                                                       Deuteronômio 17:14-20


Ao se tratar da monarquia israelita um nome se sobressai: Samuel.

  •    Último dos 13 juízes que governou Israel [Otniel, Eúde, Sangar, Débora e Baraque, Gideão, Tola, Jair, Jefté, Ibsã, Elom, Abdom, Sansão, Eli, Samuel. ];
  •    Além de ser um profeta, possuía inúmeras qualidades de um líder segundo o coração de Deus [prudência, paciência, providencia e piedade];
  •      Foi responsável pela criação da monarquia israelita.
o    Algo já previsto pelo próprio Deus;
o    Regulamentado em sua lei;
o    Desejado pelo povo.

1.       Um milagre chamado Samuel.

O nascimento de Samuel foi um milagre, visto que, sua mãe era estéril e por isso mesmo discriminada em sua própria casa [Penina]. Seu lamento se transformou em oração e seu desprendimento em entregar seu único filho ao serviço de Deus, redundou em sua cura. Seu cântico em 2 Samuel 2, declara a soberania de Deus.

“O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela. O Senhor empobrece e enriquece; abaixa e também exalta. Levanta o pobre do pó, e desde o monturo exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de glória; porque do Senhor são os alicerces da terra, e assentou sobre eles o mundo”.  1 Samuel 2:6-8

Devido a sua fidelidade, Deus resolve agraciar Ana com mais 5 filhos.

2.       O ministério de Samuel [1Sm 3.1-10]


  •      Seu ministério tem início quando ouve e entende a voz de Deus com ajuda do sacerdote Eli.
  •      Seu primeiro sermão foi contra o próprio mestre que era permissivo na criação dos seus filhos. Os meninos de Eli eram:
o    Incrédulos – 1Sm 2.12; 3.13.
o    Agressivos – 1Sm 2.16.
o    Imorais – 1Sm 2.22.

Eli tolera-os na liderança do povo de Deus. Agindo desta forma Eli deixou de honrar a Deus por não disciplinar com firmeza seus filhos.

Por que pisastes o meu sacrifício e a minha oferta de alimentos, que ordenei na minha morada, e honras a teus filhos mais do que a mim, para vos engordardes do principal de todas as ofertas do meu povo de Israel?                    1 Samuel 2:29

No texto fica claro:

ü  O papel que um pai deve desempenhar na vida dos seus filhos.
ü  As implicações de uma má disciplina.
ü  Eli falhou quando não disciplinou seus filhos ao perceber o desvio de caráter,

3.       A Arca: um amuleto?

Em 1Samuel 4, temos a narrativa de um conflito militar entre Filisteus e israelitas. Esse episódio deixa claro a precária condição espiritual de Israel. O sentimento de nação eleita lhes dava uma falsa confiança que sairiam vencedores na peleja. O grande trunfo era a Arca da Aliança. Ela era o símbolo concreto dessa eleição, portanto, ninguém lhes resistiria, visto que, Deus estava obrigado a defendê-los. Porém, estavam equivocados. Esse mesmo pensamento é alimentado em nossos dias com a teologia da prosperidade. Vejam o desenrolar da situação.

No primeiro encontro com os Filisteus Israel é derrotado. Morrem 4 mil Israelitas. A avaliação dessa derrota é confusa e demonstra a disposição de coração dos israelitas.

Quando os soldados voltaram ao acampamento, as autoridades de Israel perguntaram: "Por que o Senhor deixou que os filisteus nos derrotassem? Vamos a Siló buscar a arca da aliança do Senhor, para que ele vá conosco e nos salve das mãos de nossos inimigos".                 1 Samuel 4:2

É interessante observar como os príncipes de Israel tem uma compreensão mística acerca da arca. Para eles a arca funcionaria como um amuleto que reverteria a guerra em seu favor. Tal pensamento vem do mundo da magia, onde se acredita que ao manipular porções os feiticeiros estabelecem o controle sobre a natureza. Essa é a mesma prática que hoje pululam algumas igrejas evangélicas, onde o uso de sal grosso, a busca por milagres vem substituindo a substanciosa palavra de Deus. É triste ver o povo de Deus correndo atrás desses vendilhões do templo acreditando que com esse método nada evangélico alcançarão a vitória.  Quando se adora a coisa criada e não ao criador das coisas o resultado é desastroso.

Veja no quadro abaixo o resultado do uso da arca como amuleto pelos israelenses e como troféu de guerra entre os Filisteus.

Cenário religioso
Uso supersticioso da arca: a arca sendo usada como amuleto
A arca usada para livramento (1Sm 4.3)
Perda de 30 mil homens (1Sm 4.10)
A arca foi posta diante do deus Dagom
Dagom ficou esquartejado
A arca foi levada para as cidades de Asdode, Gate e Ecrom
Apavorou ou adoeceu os moradores.
A arca levada de volta para Israel (1Sm 6.1-12)
As vacas foram para a cidade de Bete-Semes, andando e mugindo, sem desviar do caminho e não era Acaso.
A arca na cidade de Bete-Semes (1Sm 6.19)
Setenta homens olharam para dentro da arca da aliança e, por isso, o Senhor os matou.











Olhando para o quadro acima percebe-se:

·         Falta de discernimento espiritual:

         I.            Quando a liderança Filisteia duvida da ação de Deus - 1Sm 6.9. [...] “isso sucedeu por ACASO”.
        II.            Os habitantes do Bete-Semes olham de forma irreverente para dentro da arca – 70 homens morreram [1Samuel 6.19]. Deus é santo.  Deus tem tudo sob seu controle, nada acontece por acaso.

Outro aspecto a considerar dentro desta circunstância foi a reprovação da liderança espiritual do sacerdote Eli e dos seus filhos. Vejam:

  •      Hofni e Fineias, filhos do sacerdote Eli estavam em Silo e foram introduzidos na guerra pelas circunstâncias e são eliminados [1Sm 4.4,11].
  •      O próprio sacerdote Eli também morre em meio as novidades [1Sm 4.18]
  •     A nora de Eli também morre e deixa no nome do seu filho a marca de toda família sacerdotal [1Sm 4.19-21-22]
“Enquanto morria, as mulheres que a ajudavam disseram: "Não se desespere; você teve um menino". Mas ela não respondeu nem deu atenção. Ela deu ao menino o nome de Icabode, e disse: "A glória se foi de Israel". Porque a arca foi tomada e por causa da morte do sogro e do marido. E ainda acrescentou: "A glória se foi de Israel, pois a arca de Deus foi tomada". 1 Samuel 4:20-22

É interessante observar que todos somos passiveis de sermos disciplinados por Deus quando fazemos o seu trabalho de forma relaxada [Jeremias 48.10a - "Maldito o que faz com negligência o trabalho do Senhor! ”! ]. O título de sacerdote não livrou Eli e sua família do juízo divino. Essa situação me faz pensar que a função pastoral deve ser exercida com integridade e leveza de alma. O amor tão propalado dos púlpitos deve ser comprovado no dia-a-dia das igrejas, caso contrário o ministério sofrerá.

4.       Samuel, o intercessor

A morte de Eli e a instalação da arca na cidade de Quiriate-Jearim [1 Samuel 6:21] marca a transição para o ministério do profeta Samuel.

“E sucedeu que, desde aquele dia, a arca ficou em Quiriate-Jearim, e tantos dias se passaram que até chegaram vinte anos, e lamentava toda a casa de Israel pelo Senhor”. 1 Samuel 7:2

Lamentava [NÃHÃH] raiz primitiva de gemer, lamentar; donde [chamar em voz alta] ajuntar [como que numa proclamação: - lamentar, prantear.

A ação de Samuel veio após um longo tempo de maturação.

“Então falou Samuel a toda a casa de Israel, dizendo: Se com todo o vosso coração vos converterdes ao Senhor, tirai dentre vós os deuses estranhos e os astarotes, e preparai o vosso coração ao Senhor, e servi a ele só, e vos livrará da mão dos filisteus. Então os filhos de Israel tiraram dentre si aos baalins e aos astarotes, e serviram só ao Senhor. Disse mais Samuel: Congregai a todo o Israel em Mizpá; e orarei por vós ao Senhor. E congregaram-se em Mizpá, e tiraram água, e a derramaram perante o Senhor, e jejuaram aquele dia, e disseram ali: Pecamos contra o Senhor. E julgava Samuel os filhos de Israel em Mizpá”. 1 Samuel 7:3-6

É interessante observar que muitos ainda dormiam espiritualmente. Astarotes e baalins* ainda impregnavam a vida do povo. Contudo, Samuel deixa claro que para Deus operar tinha que haver conversão e santidade.

Diante da conversão do povo a Deus e seu apelo humilde para que Samuel não cessasse de orar [1Sm 7.8] pelos que partiriam para a batalha, o servo de Deus faz seu trabalho [sacrifica um cordeiro] e clamou a Deus por Israel e Deus ouviu sua oração [1Sm 7.9]

Resultado:

·         A batalha foi favorável a Israel – 1Sm 7.10-12.
·         Nunca mais os Filisteus vieram aos termos de Israel - 1Sm 7.13.
·         Todas as cidades conquistadas pelos Filisteus foram recuperadas por Israel - 1Sm 7.14.

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Astarote - Estrela, o planeta Vênus. A principal divindade feminina dos fenícios, como Baal era o principal dos deuses. Assim como Baal foi identificado com o Sol, assim Astarote, ou Astarte, com os seus crescentes, o era com a Lua, simbolizada pela vaca. o culto desta deusa veio dos caldeus para os cananeus. Era a deusa do poder produtivo, do amor, e da guerra. Entre os filisteus o seu culto era acompanhado de grande licenciosidade, em que os bosques representavam uma proeminente parte. As pombas eram-lhe consagradas.
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5.       Aposentadoria sem ressentimento.

A bíblia nos fala que Samuel julgou Israel todos os dias da sua vida [1Sm 7.15], contudo, na velhice seus filhos o substituiu e não fizeram o que era bom diante de Deus.

E sucedeu que, tendo Samuel envelhecido, constituiu a seus filhos por juízes sobre Israel. E o nome do seu filho primogênito era Joel, e o nome do seu segundo, Abia; e foram juízes em Berseba. Porém seus filhos não andaram pelos caminhos dele, antes se inclinaram à avareza, e aceitaram suborno, e perverteram o direito. 1 Samuel 8:1-3

O pastor João Soares aponta três razões para os anciões de Israel desejarem um rei:


  • .        Razões pessoais – O caráter dos filhos de Samuel era duvidoso, por sinal, iguais aos filhos de Eli.
  • .       Razões políticas – Os papeis que Samuel desempenhava era próprio de um rei [Líder religioso, militar e juiz].
  • .        Razões psicológicas – Israel se achava inferior as demais nações vizinhas que possuíam um governo monárquico.

As alternativas citadas acima podem até explicar porque da escolha de um governo monárquico, o desgosto do profeta Samuel, mas não explica a reação de Deus.

Vejamos porque aparentemente nada do que os israelenses pediram a Samuel era absurdo ou desrespeitoso a Deus:

a.        De acordo com Deuteronômio já era previsto que em algum momento Israel seria uma monarquia [Dt 17.14-15].
b.       O contexto que Israel vivenciava era perfeitamente cabível a existência de uma monarquia.
ü  O povo desejava evitar novas perdas militares 1Sm 8.20.
ü  Ficar livre de líderes corruptos – Os filhos de Samuel e de Eli.

Onde estava o pecado no pedido dos líderes populares?

·         Eles atribuíam, erradamente, os fracassos ocorridos durante aquela época ao próprio sistema e não aos seus pecados.
·         Rejeitaram Deus a desejarem ser iguais as nações vizinhas e não um povo separado por Deus para testemunhar ao mundo do seu amor.
·         Queriam um libertador visível em quem podiam confiar e não na subjetividade da ajuda divina.
·         Eles queriam andar por vistas e não por fé. Procuravam assim escapar as exigências Moraes da Lei.

Então todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, E disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações. E disse o Senhor a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te têm rejeitado a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles. Então o Senhor disse a Samuel: Dá ouvidos à sua voz, e constitui-lhes rei. Então Samuel disse aos homens de Israel: Volte cada um à sua cidade. 1Sm 8.4-5,7,22

6.       A escolha de Saul 1Sm 9-10

Em cumprimento a vontade de Deus, Samuel busca um homem segundo o coração de Deus. Ele encontra Saul com qualificações que aos olhos humanos eram perfeitas para o exercício da realeza.


Escolha de Saul para ser rei de Israel
Era belo e forte – 1Sm 9.2; 10.23,24.
No mundo antigo boa aparência era uma benção de Deus.
Era sensível – 1Sm 9.5
Procurando as jumentas do pai, Saul não queria deixar o pai preocupado com a sua longa ausência.
Era humilde – 1Sm 9.20
Saul recorreu ao profeta Samuel por não ter encontrado as jumentas.
Era sábio – 1Sm 10. 14-16, 27
Ao ocultar do tio bisbilhoteiro o conteúdo da conversa que tivera com Samuel, Saul se mostra prudente. Também foi prudente fingindo não ouvir o escarnio de alguns.










“Então o Senhor disse a Samuel: Dá ouvidos à sua voz, e constitui-lhes rei. Então Samuel disse aos homens de Israel: Volte cada um à sua cidade” 1Sm 8.22.


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