domingo, 23 de julho de 2017

Arqueologia pode provar passagem bíblica sobre a vinha de Nabote

 arqueóloga Norma Franklin, uma das líderes da Expedição Jezreel (Jizreel), afirmou que o Vale de Jezreel, que é contado na Bíblia como uma região notória de produção dos vinhos, realmente se destacava.

O vale era alvo de uma armação da rainha Jezabel e é citado em I Reis capítulo 21, que aborda a história da vinha de Nabote. O caso foi divulgado pelo portal Breaking News Israel.

De acordo com o portal, a pesquisadora analisou dados do local e também utilizou tecnologia que a auxiliou a encontrar vestígios de prensas de vinhos e azeitonas, além de mais de 100 poços em forma de garrafa.

Norma não compartilha da fé cristã, embora afirme que os textos bíblicos são úteis em sua pesquisa. No entanto, a arqueóloga também alerta que seus trabalhos possuem limitações.

“Como arqueóloga, não posso dizer que definitivamente havia um homem específico chamado Nabote que tivesse uma vinha particular. A história é muito antiga, mas do que eu encontrei, posso dizer que a história descrita na Bíblia provavelmente tenha ocorrido aqui no Vale de Jezreel”, disse.

Fonte: noticias.gospelprime.com.br

sábado, 15 de julho de 2017

Arqueólogos finalmente descobrem para que foi construído o Stonehenge

Segundo os arqueólogos britânicos, a popular teoria sobre o Stonehenge ser usado para fazer cerimônias de homenagem ao Sol, está errada.

Segundo o jornal The Telegraph, os arqueólogos exploraram megálitos na Cornualha e em Stonehenge e descobriram algumas inscrições e pinturas nas pedras que podem ser vistas apenas ao luar. Anteriormente, os cientistas acreditavam que as instalações de Stonehenge foram construídas em conformidade com o movimento do Sol. Por exemplo, as cavernas do monumento Bryn Celli Ddu (País de Gales) são iluminadas plenamente apenas no dia 22 de junho, no solstício de verão. Os megálitos Avebury, no condado de Wiltshire, têm a mesma construção. Todas as instalações desse tipo no Reino Unido existem há pelo menos 5 mil anos.

"Acho que as inscrições encontradas indicam que as instalações foram usadas apenas à luz do luar. Nós vimos cada vez mais obras de arte desse período ao luar", disse o professor Andy Jones da secção de arqueologia da Cornualha.

"O Stonehenge tem as mesmas inscrições. Em minha opinião, muitas pessoas terão que as observar em diferentes alturas do dia ou da noite", acrescentou ele.

Os cientistas encontraram 105 desenhos desse tipo. Eles foram feitos usando quartzo, que reflete bem o luar. Mais do que isso, foram encontrados fragmentos de totens rituais feitos de quartzo. Segundo os arqueólogos, a sua destruição era parte integrante dos rituais.

terça-feira, 11 de julho de 2017

A teologia do Livro de Jó

O livro de Jó trata diretamente da relação Deus-homem. Segundo Zuck (Zuck, 2015) duas perguntas são básicas para a compreensão do livro. A primeira pergunta é: Porque o homem adora a Deus? A segunda pergunta é: Como o homem pode reagir a Deus se Ele não se interessa pelos problemas do homem?

A tese levantada por Satanás é que Jó amaldiçoaria a Deus diante do sofrimento imerecido, contudo, Jó reage bem as circunstâncias.

“e exclamou em oração: Nu deixei o ventre de minha mãe, e nu partirei da terra. Yahweh deu, Yahweh o tomou; louvado seja o Nome do Senhor”. (Jó 1.21)
“No entanto ele lhe afirmou: Mulher! Tu falas como uma louca. Porventura receberemos de Deus apenas o bem que desejamos e não também o infortúnio que ele nos permite? E em toda essa provação os lábios de Jó não fizeram vacilar e pecar.” (Jó 2.10).

É interessante observar que posteriormente a essas declarações Jó tomou uma atitude de aspereza em relação a Deus. Nesse novo contexto acusou Deus de ficar olhando para ele estupidamente (7.17,9; 13.27), de oprimi-lo e aterrorizá-lo (9.33; 10.3; 13.21,25), considera-lo inimigo (13.24; 19.11,12) de esconder-se d´Ele (13.24), ser injusto (19.6,7; 27.2) e ignorá-lo (30.20).

A razão dessa atitude é explicada por sua ignorância em relação a divindade e seu sentimento de que estava sofrendo injustamente. É importante frisar que mais tarde se arrependera das suas atitudes (42.1-6). Tal circunstancias serve para nos alertar a não se rebelar frente a desgraça imerecida e inexplicável, visto que, Deus tem um propósito em toda sua ação.

Enquanto Jó se esforçava para entender as razões do seu sofrer, seus amigos já tinham a resposta. Era consenso entre Elifaz, Bildade e Zofar que Jó havia pecado diante de Deus e por essa razão sofria. Esses homens entendiam que o sofrimento humano só possuía esse caráter. Eliú diferenciou um pouco desta premissa ao afirmar que o sofrimento tinha um outro proposito: proteger o homem do pecado.

“a fim de prevenir o ser humano sobre as suas más ações e livrá-lo da soberba e da arrogância.” (Jó 39.17)

Zuck (Zuck, 2015) fez um detalhado apanhado das principais ideias debatidas no livro de Jó acerca de Deus, dos homens e anjos.

Tema
Personagem
Tese







Deus











Deus



Elifaz
·         Existe nos céus (22.12), é justo e puro (4.17). Tinha consciência do pecado por parte dos anjos (4.18-19). É o criador dos homens (4.17), sendo superior a esses. É independente e não pode ser influenciado pelo homem (22.2,3), julga os ímpios e os faz perecer (4.9,18-21; 5.30), julga os tolos (15.2-7), realiza milagres (5.9), promove a justiça (5. 11-16), abençoa aos homens (5.18-26; 22.18-21), responde às orações (5,8; 22.27), disciplina os homens (5.17) e beneficia a terra com chuvas (5.10).


Bildade
·         Enfatiza a justiça de Deus (8.3) punindo o pecador (8.4). Cita as calamidades e perdas que os ímpios têm (18.5-21). Deus é justo uma vez que não rejeita os inocentes (8.20) é misericordioso (8.5-7), soberano (25.2), onipresente (25.3), puro (25.4) e criador (25.5-6).

Zofar
·         Deus é tolerante (11.6), misterioso (11.7,8), inabalável (11.10). Ele observa os pecadores (11.11), responde a devoção dos homens quando abandonam o pecado (11. 13,14) abençoando-os (11.15-20). Deus faz com que os ricos ímpios renunciem a riqueza (20.14,15), pune severamente os pecadores (20.23-28) e todos os ímpios um dia serão julgados culpados (20.29).



Eliú
·         Defendeu o direito de Deus falar aos homens (33.13-16) ou cala-se (34.29). Defendeu a justiça de Deus (34; 36.3; 37.23), destacou que o objetivo do sofrimento é afastar o homem do pecar (36.16-18), citou os atributos de Deus tais como: soberania, imensidão, eternidade, justiça, santidade, onisciência e onipotência. Afirmou que Deus é que dá vida ao homem e os mantém vivos, alimenta e estabelece normas e outros.




·         Jó falou da soberania de Deus, da sua onisciência, onipotência, da ira de Deus contra os ímpios e contra ele mesmo. Trabalhou o tema justiça de Deus (9.4), sabedoria de Deus, retidão, santidade, eternidade e bondade de Deus. Também destacou o que parecia ser o lado negativo de Deus quando abordou que Deus levanta e destrói as nações (12.23), quando considera Deus parcial em seu julgamento (13.10) e traça inúmeros outros aspectos da divindade, principalmente relacionada a ele. Em seu sofrimento Jó via o antagonismo de Deus a sua pessoa.



Deus
·         Deu destaque a sua soberania, seu poder na criação da terra (38.4-7), do mar, no estabelecimento do dia e da noite, da criação dos oceanos, dos elementos climáticos, do homem, da sabedoria, dos animais e outros. Deus dá ênfase a seu direito de propriedade (41.11) e seu sistema de justiça que excede ao homem.



Homem

Jó, Elifaz, Bildade, Zofar Eliú e Deus concordam.
·         O homem foi criado por Deus (33.6; 34.19), é dependente (33.4; 34.14,15) e inferior a Deus (33.12,13).
·         A natureza humana é mortal, fraca, impura diante de Deus, corrupta, enganosa, orgulhosa, sem esperança, pecadora, injusta, sem compaixão e de breve existência.
·         O homem é ignorante e incompetente quanto aos propósitos de Deus





Anjos





Elifaz e Eliú
·         São servos de Deus (4.18), são santos (5.1) contudo Elifaz não via os anjos livre de erro. Eles existiam antes da criação do mundo e se alegraram com a criação divina.
·         Para Eliú os anjos ajudam os homens em suas necessidades (33.23,24).
·         No livro de Jó Satanás é um ponto a parte. Ele é incapaz de questionar a avaliação que Deus faz sobre Jó e ataca os motivos da fidelidade de Jó a divindade. Ele é apresentado como uma criatura de Deus e inimigo da sua vontade (Mt 4.1-11; Lc 4.1-13). Sua estratégia é tentar Jó a ser desleal para com Deus interferindo assim na relação entre Deus e Jó. Porém amarga uma pesada derrota.

Segundo William S. Lasor (lasor, 1999), a teologia trabalhada no livro de Jó é da liberdade divina. Essa condição de Deus deixou Jó e seus amigos perplexos. Para os amigos de Jó todo sofrimento estava baseado no princípio da retribuição divina, ou seja, o que seu amigo enfrentava era fruto do pecado que havia cometido contra Deus. Contudo, Jó não aceitava essa tese e defendia a total ausência de propósito para seu sofrimento. Para Deus era uma questão de honra diante do desafio de satanás. Dentro deste contexto fica claro que os interesses que movem o Senhor só dizem respeito a Ele mesmo. Deus é soberano e age com liberdade. Para a lógica humana esse atributo de Deus é incompreensível diante de um quadro de sofrimento como o que vivenciou Jó.


                Lasor (lasor, 1999) nos assegura que o livro de Jó tem uma função didática, ou seja, prepara-nos para enfrentar situações adversas como a de Jó, além de demonstrar o valor de uma amizade quando verdadeira e consoladora, que Deus não leva em conta as nossas queixas quando em circunstancias severas quanto a vivenciada por Jó, mas também por Jeremias, Habacuque, salmistas e até Jesus Cristo. Por fim, conclui: a consciência de Jó estava livre do peso da culpa e a sua fé em Deus permaneceu inabalável antes e depois da sua morte (19.23-29).

terça-feira, 4 de julho de 2017

Torre de crânios humanos abre nova discussão sobre sacrifícios astecas

Fonte: O mundo ao minuto.

Descoberta de crânios de mulheres e crianças em torre do Império Asteca é algo de que não há registro, dizem arqueólogos. Fique com uma galeria dos trabalhos de escavação.

Volta à ordem do dia – na área da arqueologia – a discussão em torno da cultura do sacrifício do Império Asteca, depois de terem sido encontrados crânios de mulheres e crianças no meio das centenas que formam as paredes do Templo Maior, situado na cidade do México.



Os arqueólogos já descobriram mais de 650 crânios embutidos nas paredes cilíndricas em torno do Templo Maior, um dos principais da capital asteca Tenochtitlán, agora conhecida como cidade do México.

Estas paredes que estão agora a ser estudadas fazem parte de uma torre que se acredita ter sido feita para aterrorizar os conquistadores espanhóis, na altura em que estes conquistaram a cidade sob o comando de Hernán Cortés.

Esperava-se que todos os crânios fossem de homens, mas as escavações vieram trazer algo novo. “Estávamos à espera só de homens, homens jovens obviamente, como eram os guerreiros, aquilo que é estranho com as mulheres e crianças é que supostamente não vão para a guerra. Alguma coisa aconteceu da qual não temos registro, isto é mesmo novo”, indicou um dos arqueólogos, de acordo com o The Guardian.

O Templo Maior, patrimônio mundial da UNESCO desde 1987, foi descoberto no coração da cidade do México no anos 30 e durante as décadas que se seguiram, durando os trabalhos de escavação desde o início dos anos 80 para resgatar, conservar e estudar a estrutura.

 

domingo, 25 de junho de 2017

“A edição genética poderia criar uma classe social superior”

O que acontece quando uma máquina aprende a ler e escrever seu próprio manual de instruções? Esta é a pergunta que Siddhartha Mukherjee (Nova Délhi, Índia, 1970), vencedor do prêmio Pulitzer em 2010 por sua biografia do câncer: O imperador de todos os males (Companhia das Letras) quer responder com seu último livro. Em O gene: uma história íntima (Companhia das Letras), este oncologista entrelaça três narrativas como em uma tripla hélice: uma pessoal, em torno de sua própria família, afetada por doenças mentais hereditárias; uma história que acompanha os cientistas e as experiências que deram origem à genética moderna; e uma chamada de atenção sobre como as tecnologias derivadas desse conhecimento podem mudar a sociedade, e a discussão necessária para que não tenhamos de nos arrepender do que aprendemos

No início deste mês, no maior congresso de câncer do mundo, em Chicago, Mukherjee propunha em uma conferência diante de milhares de médicos um exemplo concreto da relevância dessa discussão. Os testes genéticos permitiram descobrir mutações que podem predispor a sofrer um tumor e em muitos casos melhorou o prognóstico. No entanto, também corre-se o risco de transformar o câncer em uma instituição total na qual o paciente é “constantemente vigiado” e a quem se recorda com frequência demais a ameaça da morte. É um caso em que o conhecimento do genoma pode condicionar a forma de viver nossa vida.

Pergunta. Os nazistas utilizaram a poderosa ideia da genética para justificar seus delírios de limpeza racial e os soviéticos a rechaçaram, negando toda evidência científica, porque a consideravam uma ideia burguesa. Você reconhece agora o uso dessa ideia científica como justificativa para determinadas ideologias?

Resposta. A eugenia privatizada não é diferente da imposta pelo Estado. Só mudam os atores. Um dos últimos desenhos no livro [em que aparece uma família chinesa que só tem filhos homens] mostra o que acontece às populações humanas quando se privatiza a capacidade das pessoas de tomar decisões sobre as características genéticas de seus filhos. Que tenhamos desmantelado a eugenia estatal não significa que não sejamos capazes de propor as mesmas escolhas individualmente, e é igualmente perigoso.

P. Se conseguimos desenvolver uma tecnologia para melhorar os humanos, tornando-os mais inteligentes ou mais bonitos, é possível evitar que as pessoas façam isso com seus filhos?

R. Acho que estamos rumando lentamente para uma nova era. Há três meses, a Academia Nacional de Medicina dos EUA tomou uma decisão muito interessante e muito importante. Estava-se debatendo se as alterações genéticas podiam ser permitidas em espermatozoides, óvulos e embriões humanos. Até agora, no Ocidente, decidimos que a engenharia genética é aceitável em células humanas desde que não mude permanentemente o genoma humano. Se em seu corpo você muda as células do sangue ou os neurônios ou as células do câncer, tudo isso não faz com que as mudanças se tornem parte permanente do genoma humano.

Com Crispr [uma nova ferramenta de edição do genoma] e outras tecnologias estamos chegando ao ponto em que podemos nos perguntar se deveríamos editar o genoma humano de forma permanente. E a academia decidiu permitir isso. Mas há algumas limitações. A primeira, a de que deveria haver uma relação causal entre o gene e o objetivo que tentamos alcançar. A maioria dos traços humanos têm sua origem em vários genes, efeitos ambientais, o acaso... Mas alguns são muito autônomos e para essas doenças em que há uma causa direta entre gene e a doença poderíamos tornar essas mudanças permanentes.

A segunda limitação é mais complicada. Diz que se permitiria realizar essas mudanças se houver um sofrimento extraordinário que se quer evitar. Mas sofrimento extraordinário segundo quem? Quem vai estabelecer os limites? É um sofrimento extraordinário ser mulher em uma sociedade em que se pode enfrentar uma discriminação pavorosa? Definiríamos o sofrimento extraordinário segundo uma doença? Ou perguntando às pessoas se estão sofrendo, se querem continuar vivendo assim? É uma decisão muito complicada e no fim tem a ver com quem somos, com como nos definimos.

P. No livro, você fala dos problemas mentais hereditários que sofreu em sua família. Se tivesse a possibilidade de eliminar esse problema com edição genética, o faria?

R. Não tenho nenhuma dúvida de que no futuro será possível encontrar uma relação entre doenças como a esquizofrenia ou o transtorno bipolar e talvez 10 ou 20 variantes de genes que, combinados, podem predizer que o risco de alguém sofrer essas doenças se multiplica por 10 ou 20. Uma vez que começarmos a conhecer essas combinações, o que vamos fazer?

Imagine um experimento no qual sequenciamos 10 ou 15 milhões de genomas humanos e, depois, para cada um desses 15 milhões, registramos as vidas dessas pessoas. Em seguida utilizamos técnicas de computação para cruzar essas informações e começamos a entender bem como essas combinações de genes – ou até mesmo a combinação desses genes com fatores ambientais – aumentam ou diminuem o risco de sofrer determinadas doenças. No final, você pode imaginar como em uma família como a minha 10 variantes genéticas em combinação multiplicam por 10 o risco de uma doença terrível. Você sequenciaria o genoma de seus filhos para ver qual carrega esse risco?

P. Se eu puder fazer algo a respeito, seguramente sim. Se não, preferiria não saber. Já fazemos isso com a síndrome de Down, mas poderíamos começar a descartar particularidades genéticas muito mais sutis.

R. Depende do que você considere poder fazer algo a respeito ou mudar algo. Uma das possibilidades, que teremos à disposição logo, pode ser algo como selecionar embriões e só implantar aqueles que não têm determinadas combinações de genes.

P. Mas já fazemos isso. Quase não nascem mais pessoas com síndrome de Down

R. Verdade. Já fazemos isso com as trissomias [presença de três cromossomos e não dois como seria o normal], mas poderíamos fazer com particularidade genéticas muito mais sutis. Acho que só veremos isso daqui a 10 ou 15 anos.

P. E você concorda com isso?

R. Não estou seguro de que tenhamos nem a compreensão científica nem humanística do que vai acontecer uma vez que comecemos a adotar essas tecnologias. Acredito que o público crê que os genes produzem características, que são iguais a características, e claramente esse não é o caso. Agora sabemos que para a maioria das características humanas o normal é que vários genes ajam em conjunto e que o ambiente desempenhe um papel muito importante. Tampouco creio que tenhamos uma compreensão humanística sobre o tipo de mundo em que viveremos uma vez que começarmos a levar a cabo esse tipo de manipulação. O que aconteceria se essas tecnologias só estivessem disponíveis para os ricos? Teríamos uma sociedade que não só estaria dividida por uma brecha econômica como também as novas tecnologias criariam uma subclasse genética. Me parece que o perigo é enorme. Não sou pessimista sobre o poder de utilizar essas tecnologias genéticas tão potentes para curar doenças, mas também creio que todos nós deveríamos parar para pensar antes de avançar com demasiada rapidez em direção a esse futuro.

P. Quando se fala de edição genética, parece aceitável empregá-la para curar uma doença, mas há mais dúvidas se a intenção é melhorar alguém que já está bem.

R. O que você está perguntando é onde está a fronteira entre a doença e a normalidade. Essa linha mudou durante nossa própria vida. A homossexualidade era considerada uma doença até pouco tempo atrás. Vinte anos depois, no ocidente, percebemos que é fundamentalmente uma variação humana. Em muitas sociedades ainda é considerada uma doença e você pode ser morto por causa disso. As linhas entre a normalidade e a doença são flexíveis. A pergunta é como começaremos a saber o que significa um sofrimento extraordinário para você. Quem pode definir isso? O Estado vai fazer uma lista. As linhas são flexíveis. Quem vai delimitá-las?

Não conheço as respostas mas sei que não cabe aos cientistas responder a essas perguntas sozinhos. Estamos capacitados para desenvolver uma tecnologia, para explorar a natureza e criar novas tecnologias. Mas não estamos preparados para compreender as imensas implicações dessas tecnologias, particularmente do genoma humano, que é o que mais temos de humano. Nossa decisão para intervir nisso não pode ser tomada apenas por cientistas. Tem que ser um processo político muito mais amplo. E para fazer isso precisamos do vocabulário, dos antecedentes, da história, e precisamos compreender as limitações e pensar sobre o futuro. É disso que o livro fala.

P. Jennifer Doudna, uma das criadoras do sistema de edição Crispr, disse ser uma sorte o fato de não conhecermos em detalhes a origem genética de traços complexos como a inteligência, porque isso tornaria impossível um programa de melhoria humana. Há conhecimentos que é melhor não obtermos?

R. Eu também tenho um conflito com essa pergunta. Acho que dizer que certo conhecimento é perigoso leva imediatamente alguém a buscá-lo e disseminá-lo, o que o torna mais sedutor. Por outro lado, creio que há ideias que são fundamentalmente perigosas, e precisamos de uma compreensão profundamente humanística dessas ideias antes de começarmos a explorá-las como se fosse algo sem maior relevância.

Um exemplo: a inteligência é um conceito popular com uma longa história, que em parte também é depreciável. Depreciável porque uma das capacidades que os nazistas queriam medir e melhorar era justamente essa. Mas agora é um conceito popular, o utilizamos em conversas informais. Quando os cientistas utilizam a palavra inteligência, têm que pegar esse conceito e fazer um código e convertê-lo em algo que se possa definir e medir. No momento em que dissermos que a inteligência é algo sobre o que não se pode falar, alguns cientistas dirão: ‘Não, vou estudar justamente esse problema’.

O que quero fazer com esse livro é dar um passo atrás e pensar na linhagem desse conceito popular do gene, de onde ele vem, como se utilizava no passado, se estamos utilizando com precisão quando um cientista transforma esse conceito popular em uma medida.

Minha ideia não é restringir o conhecimento, não acredito nisso. Minha ideia é explorar desde o fundamental como obtemos o conhecimento, o que significam as palavras. Para que quando comecemos a utilizar palavras como inteligência, reconheçamos que há uma história por trás do uso dessa palavra na ciência, e que se vamos ter um debate público pediria que paremos um segundo e falemos sobre a transformação de um conceito popular em uma medida científica. Porque se não reconhecermos essa transição, cometeremos muitos erros horríveis. Não quero restringir o conhecimento, mas sim reconhecer a anatomia do conhecimento.

Fonte: 

EL PAÍS
DANIEL MEDIAVILLA - 23.06.2017.