O livro de Jó trata diretamente
da relação Deus-homem. Segundo Zuck (Zuck, 2015) duas perguntas são básicas
para a compreensão do livro. A primeira pergunta é: Porque o homem adora a
Deus? A segunda pergunta é: Como o homem pode reagir a Deus se Ele não se
interessa pelos problemas do homem?
A tese levantada por Satanás é
que Jó amaldiçoaria a Deus diante do sofrimento imerecido, contudo, Jó reage
bem as circunstâncias.
“e exclamou em
oração: Nu deixei o ventre de minha mãe, e nu partirei da terra. Yahweh deu,
Yahweh o tomou; louvado seja o Nome do Senhor”. (Jó 1.21)
“No entanto ele
lhe afirmou: Mulher! Tu falas como uma louca. Porventura receberemos de Deus
apenas o bem que desejamos e não também o infortúnio que ele nos permite? E em
toda essa provação os lábios de Jó não fizeram vacilar e pecar.” (Jó 2.10).
É interessante observar que
posteriormente a essas declarações Jó tomou uma atitude de aspereza em relação
a Deus. Nesse novo contexto acusou Deus de ficar olhando para ele estupidamente
(7.17,9; 13.27), de oprimi-lo e aterrorizá-lo (9.33; 10.3; 13.21,25), considera-lo
inimigo (13.24; 19.11,12) de esconder-se d´Ele (13.24), ser injusto (19.6,7;
27.2) e ignorá-lo (30.20).
A razão dessa atitude é
explicada por sua ignorância em relação a divindade e seu sentimento de que
estava sofrendo injustamente. É importante frisar que mais tarde se arrependera
das suas atitudes (42.1-6). Tal circunstancias serve para nos alertar a não se
rebelar frente a desgraça imerecida e inexplicável, visto que, Deus tem um
propósito em toda sua ação.
Enquanto Jó se esforçava para
entender as razões do seu sofrer, seus amigos já tinham a resposta. Era
consenso entre Elifaz, Bildade e Zofar que Jó havia pecado diante de Deus e por
essa razão sofria. Esses homens entendiam que o sofrimento humano só possuía
esse caráter. Eliú diferenciou um pouco desta premissa ao afirmar que o
sofrimento tinha um outro proposito: proteger o homem do pecado.
“a fim de
prevenir o ser humano sobre as suas más ações e livrá-lo da soberba e da
arrogância.” (Jó 39.17)
Zuck (Zuck, 2015) fez um
detalhado apanhado das principais ideias debatidas no livro de Jó acerca de
Deus, dos homens e anjos.
Tema
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Personagem
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Tese
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Deus
Deus
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Elifaz
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·
Existe nos céus (22.12), é justo e puro (4.17). Tinha
consciência do pecado por parte dos anjos (4.18-19). É o criador dos homens
(4.17), sendo superior a esses. É independente e não pode ser influenciado
pelo homem (22.2,3), julga os ímpios e os faz perecer (4.9,18-21; 5.30),
julga os tolos (15.2-7), realiza milagres (5.9), promove a justiça (5.
11-16), abençoa aos homens (5.18-26; 22.18-21), responde às orações (5,8;
22.27), disciplina os homens (5.17) e beneficia a terra com chuvas (5.10).
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Bildade
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·
Enfatiza a justiça de Deus (8.3) punindo o pecador (8.4).
Cita as calamidades e perdas que os ímpios têm (18.5-21). Deus é justo uma
vez que não rejeita os inocentes (8.20) é misericordioso (8.5-7), soberano
(25.2), onipresente (25.3), puro (25.4) e criador (25.5-6).
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Zofar
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·
Deus é tolerante (11.6), misterioso (11.7,8), inabalável
(11.10). Ele observa os pecadores (11.11), responde a devoção dos homens
quando abandonam o pecado (11. 13,14) abençoando-os (11.15-20). Deus faz com
que os ricos ímpios renunciem a riqueza (20.14,15), pune severamente os pecadores
(20.23-28) e todos os ímpios um dia serão julgados culpados (20.29).
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Eliú
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·
Defendeu o direito de Deus falar aos homens (33.13-16) ou
cala-se (34.29). Defendeu a justiça de Deus (34; 36.3; 37.23), destacou que o
objetivo do sofrimento é afastar o homem do pecar (36.16-18), citou os
atributos de Deus tais como: soberania, imensidão, eternidade, justiça,
santidade, onisciência e onipotência. Afirmou que Deus é que dá vida ao homem
e os mantém vivos, alimenta e estabelece normas e outros.
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Jó
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·
Jó falou da soberania de Deus, da sua onisciência,
onipotência, da ira de Deus contra os ímpios e contra ele mesmo. Trabalhou o
tema justiça de Deus (9.4), sabedoria de Deus, retidão, santidade, eternidade
e bondade de Deus. Também destacou o que parecia ser o lado negativo de Deus
quando abordou que Deus levanta e destrói as nações (12.23), quando considera
Deus parcial em seu julgamento (13.10) e traça inúmeros outros aspectos da
divindade, principalmente relacionada a ele. Em seu sofrimento Jó via o
antagonismo de Deus a sua pessoa.
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Deus
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·
Deu destaque a sua soberania, seu poder na criação da
terra (38.4-7), do mar, no estabelecimento do dia e da noite, da criação dos
oceanos, dos elementos climáticos, do homem, da sabedoria, dos animais e
outros. Deus dá ênfase a seu direito de propriedade (41.11) e seu sistema de
justiça que excede ao homem.
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Homem
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Jó, Elifaz, Bildade, Zofar Eliú e
Deus concordam.
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·
O
homem foi criado por Deus (33.6; 34.19), é dependente (33.4; 34.14,15) e
inferior a Deus (33.12,13).
·
A
natureza humana é mortal, fraca, impura diante de Deus, corrupta, enganosa,
orgulhosa, sem esperança, pecadora, injusta, sem compaixão e de breve
existência.
·
O
homem é ignorante e incompetente quanto aos propósitos de Deus
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Anjos
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Elifaz e Eliú
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·
São
servos de Deus (4.18), são santos (5.1) contudo Elifaz não via os anjos livre
de erro. Eles existiam antes da criação do mundo e se alegraram com a criação
divina.
·
Para
Eliú os anjos ajudam os homens em suas necessidades (33.23,24).
·
No
livro de Jó Satanás é um ponto a parte. Ele é incapaz de questionar a
avaliação que Deus faz sobre Jó e ataca os motivos da fidelidade de Jó a
divindade. Ele é apresentado como uma criatura de Deus e inimigo da sua
vontade (Mt 4.1-11; Lc 4.1-13). Sua estratégia é tentar Jó a ser desleal para
com Deus interferindo assim na relação entre Deus e Jó. Porém amarga uma
pesada derrota.
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Segundo William S. Lasor (lasor, 1999), a teologia
trabalhada no livro de Jó é da liberdade divina. Essa condição de Deus deixou
Jó e seus amigos perplexos. Para os amigos de Jó todo sofrimento estava baseado
no princípio da retribuição divina, ou seja, o que seu amigo enfrentava era
fruto do pecado que havia cometido contra Deus. Contudo, Jó não aceitava essa
tese e defendia a total ausência de propósito para seu sofrimento. Para Deus
era uma questão de honra diante do desafio de satanás. Dentro deste contexto
fica claro que os interesses que movem o Senhor só dizem respeito a Ele mesmo.
Deus é soberano e age com liberdade. Para a lógica humana esse atributo de Deus
é incompreensível diante de um quadro de sofrimento como o que vivenciou Jó.
Lasor
(lasor, 1999) nos assegura que o livro de Jó tem uma função didática, ou seja,
prepara-nos para enfrentar situações adversas como a de Jó, além de demonstrar
o valor de uma amizade quando verdadeira e consoladora, que Deus não leva em
conta as nossas queixas quando em circunstancias severas quanto a vivenciada
por Jó, mas também por Jeremias, Habacuque, salmistas e até Jesus Cristo. Por
fim, conclui: a consciência de Jó estava livre do peso da culpa e a
sua fé em Deus permaneceu inabalável antes e depois da sua morte (19.23-29).
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