segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

A História por Trás de Pecadores nas Mãos de um Deus Irado

No outono 1740, a visita de George Whitefield a Jonathan Edwards trouxe consigo uma onda de entusiasmo com respeito à fé. Um novo avivamento irrompeu. Muitos clérigos da Nova Inglaterra começaram a ser itinerantes e a cruzar os interiores da região, pregando o avivamento. Pastores estabelecidos também achavam que provavelmente despertariam mais fervor espiritual se eles mesmos se aventurassem fora de suas paróquias. Ninguém tinha visto um avivamento desta dimensão antes. Até em Boston, ministros favoráveis ao avivamento registraram interesses espirituais sem precedentes e uma aparente transformação da cidade. Este grande avivamento também cresceu dramaticamente em intensidade. Em resposta à pregação de avivamento, pessoas choravam frequentemente pelo estado de sua alma, desfaleciam e eram até tomadas de êxtases.

Edwards aproveitou o momento de uma maneira que tem sido lembrada por muito tempo. Seguindo as novas tendências do avivamento, ele alterou seus sermões para criar uma intensidade dramática e começou a pregar mais fora de sua paróquia. Essa combinação levou ao mais famoso – ou infame – incidente de sua vida: a pregação de “Pecadores nas mãos de um Deus irado”, em Enfield (Connecticut).

O ambiente era uma vila próxima da fronteira de Massachusetts e Connecticut, em meados de julho de 1741. A cidade vizinha, Suffield, estivera experimentando um avivamento admirável por algum tempo. No domingo, três dias antes do seu sermão em Enfield, Edwards, como um ministro convidado, presidira um culto de Ceia do Senhor em que um número admirável de 97 pessoas foram recebidas como membros comungantes. O avivamento em Suffield havia produzido intensas erupções de êxtases. Na segunda-feira, depois do culto de comunhão, Edwards pregou numa “reunião privada” para uma multidão aglomerada em dois grandes cômodos de uma casa. Um visitante que chegara depois do sermão disse que a uma distância de 400 metros de podia se ouvir berros, gritos e lamentos, “como de mulheres em dores de parto”, quando as pessoas agonizavam pelo estado de sua alma. Alguns desmaiaram ou entraram em transe; outros foram tomados de extraordinário chacoalho no corpo. Edwards e outros oraram com muitos dos consternados e levaram alguns a “diferentes graus de paz e alegria, alguns a enlevo, tudo exaltando o Senhor Jesus Cristo”, e exortaram outros a se achegarem ao Redentor.

Dois dias depois, Edwards se uniu a um grupo de pastores visitantes que estava tentando propagar o avivamento até Enfield, e lhe pediram, tendo em mente, sem dúvida, o seu sucesso em Enfield, que pregasse um sermão. Edwards não era como Whitefield, que poderia cativar uma congregação por meio de eloquência dramática e espontânea. Sua voz era fraca, e pregava com base num manuscrito que ele havia quase memorizado. Usava poucos gestos e fazia pouco contato de olhos. Dizia-se que ele parecia estar fitando a corda do sino no fundo da igreja. Apesar disso, seus sermões eram uma combinação de lógica muito clara e intensidade espiritual que poderia, às vezes, encantar seus ouvintes. No caso de “Pecadores”, diferentemente de muitos dos seus sermões, ele acrescentou muitas ilustrações vívidas. A combinação se revelou poderosa.

“Pecadores” é citado habitualmente como um exemplo da severidade da pregação de fogo do inferno na América primitiva. Entretanto, vê-lo apenas como isso é perder de vista maior parte da verdade. Os pregadores desta época pregavam com regularidade sobre o inferno porque acreditavam que ele era uma realidade terrível sobre a qual as pessoas precisavam ser alertadas. Eles consideravam a doutrina da punição eterna como misteriosa e aterrorizante, mas o próprio Jesus se referira a ela, e a maioria dos cristãos, em todas as eras, o entendera no sentido real. Alertar os paroquianos quanto ao perigo real era uma coisa amável a ser feita, e, quanto mais um ministro pudesse ajudá-los a sentir verdadeiramente seu perigo, tanto mais eficaz era a advertência. Até pregadores de um tipo liberal usavam a doutrina das recompensas e punições eternas para ajudar a controlar as pessoas moralmente. Para os cristãos orientados por conversões, mais do que moralidade estava em jogo. Evangélicos como Edwards falavam de “avivamentos” porque as pessoas que eram cegadas pelos prazeres de seus pecados necessitavam ser vivificadas para ver seu imenso perigo e o remédio de Deus em Cristo.

No famoso sermão de avivamento de Edwards, ele admitiu o fogo do inferno como algo real e colocou a ênfase na solene tensão entre o julgamento de Deus e a misericórdia de Deus. Edwards apresentou Deus como o juiz perfeitamente justo que estava corretamente indignado em face da rebelião dos seres humanos contra seu amor. Ao mesmo tempo, Deus havia se restringido misericordiosamente, por um tempo, na execução de seus juízos, para dar aos pecadores uma oportunidade de receberem o amor redentor de Cristo e serem salvos da condenação horrível, justa e certa.

Edwards formulou as imagens impressionantes do sermão ao redor da ira de Deus iminente e retida por muito tempo. “As negras nuvens da ira de Deus [estão] pairando sobre a nossa cabeça, cheias de tempestade horrível e grandes trovões.” Ou “como grandes águas que são represadas no presente; elas aumentam cada vez mais e sobem cada vez mais”. Outra vez, “o arco da ira de Deus está armado, e a flecha está pronta na corda, e a justiça dispara a flecha em seu coração e desarma o arco”. Assim, Edwards acumulava imagem sobre imagem. Além disso, ele insistia em que não era a ira ou a justiça que estava errada, mas a pecaminosidade essencial de cada pessoas que tornava justo o julgamento. “A sua impiedade o torna tão pesado quanto o chumbo e o faz tender para baixo, com grande peso e pressão, rumo ao inferno”. “Homens não convertidos andam sobre o abismo do inferno, em uma cobertura podre”, e podem cair a qualquer momento. Ou na passagem mais famosa: “O Deus que o segura sobre o abismo do inferno, muito mais do que alguém segura uma aranha ou algum outro inseto abominável sobre um fogo... não é nada, senão a mão de Deus que o segura para não cair no fogo cada momento; e o fato de que você não foi para o inferno na noite passada tem de ser atribuído a nada mais”, ou “visto que você se levantou nesta manhã”, ou “visto que você está sentado aqui na casa de Deus”. “Ó pecador!”, ele apelou. “Considere o terrível perigo em que você está... você está pendurado em um fio muito tênue, e as chamas da ira divina ao redor dele, prontas a cada momento a queimá-lo, e queimá-lo totalmente; e nada você tem... em que segurar para salvar a si mesmo... nada que possa fazer para levar a Deus a poupá-lo por mais um momento.”

Edwards nunca terminou o sermão em Enfield. O tumulto se tornou muito grande quando a audiência foi tomada por gritos, lamentos e clamores: “O que farei para ser salvo? Oh! estou indo para o inferno! Oh! o que farei por Cristo?” Um dos ministros registrou que “os gritos agudos e clamores eram comoventes e admiráveis”. Várias “pessoas foram esperançosamente mudadas naquela noite. Oh! que prazer e alegria havia em seus semblantes!”

O sermão e seus efeitos foram ainda mais assustadores porque a cacofonia no recinto impediu Edwards de chegar à parte que abordava a misericórdia de Deus: “E agora vocês têm uma oportunidade extraordinária, um dia em que Cristo abriu amplamente a porta de misericórdia e está à porta chamando e clamando, com voz alta, a pobres pecadores”. Estes eram temas que Edwards pregava frequentemente em seus outros sermões. Neste dia específico, ele planejara lembrar os ouvintes de tão grande provisão, de como muitos outros tinham ouvido o chamado de Cristo com amor e alegria e de “quão terrível é ser deixado para trás num dia como esse!” Ironicamente, seus ouvintes o impediram de chegar às boas novas que lhes viera comunicar.

Edwards podia, literalmente, amedrontar uma audiência, mas também possuía um lado muito mais gentil. Temos um vislumbre dessa qualidade de cuidado pastoral em uma carta de conselho que Edwards escreveu naquele mesmo verão. Deborah Hathaway, uma jovem de 18 anos convertida no avivamento de Suffield, se voltara a Edwards em busca de conselho. Por isso, ele ofereceu uma lista de orientações para jovens cristãos. Em um tempo, esta carta ficou talvez mais amplamente conhecida do que “Pecadores”, visto que nos anos anteriores à Guerra Civil Americana ela foi impressa em grandes números como um folheto intitulado “Conselho a Jovens Convertidos”. Na carta, Edwards salientava a importância de humildade e de não ser desanimado. O tom de Edwards na carta oferece um impressionante contraste com “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado”. O Deus trino é não apenas o espantosamente justo juiz, mas também o Cristo amável, cujas mãos são gentis. “Em todo o seu proceder”, Edwards instou, “ande com Deus e siga a Cristo como uma criança pequena, frágil e dependente, agarrando a mão de Cristo, mantendo os olhos nas marcas das feridas no lado e nas mãos dele, de onde vem o sangue que purifica você do seu pecado”.

Fonte: trecho do livro "A Breve Vida de Jonathan Edwards", por George Marsden.

George M. Marsden (Ph.D) é historiador, professor e escritor prolífico. É professor emérito da Universidade Notre Dame, nos EUA, autor de várias obras de referência nas áreas de história da religião, cultura, igreja e evangelicalismo norte-americanos. Entre suas publicações, destaca-se a extensa e bem documentada biografia de Edwards: “Jonathan Edwards, a life”, publicada pela editora Yale e laureada com o renomado prêmio literário Brancroft Prize, concedido pela Universidade Columbia. 

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Igreja é ameaçada pelo Estado Islâmico e responde: "Deus não nos deu espírito de medo"

A ameaça do Estado Islâmico deixou a Primeira Igreja Batista de Dallas (EUA) em estado de alerta, mas a comunidade disse: "continuaremos fazendo o que o Senhor nos chamou para fazer"

Radicais islâmicos nomearam a Primeira Igreja Batista de Dallas (Texas, EUA) - que tem mais de 10 mil membros - como como um alvo potencial para um ataque.

Uma revista de propaganda digital do Estado Islâmico, chamada "Rumiyah", incluiu fotos da igreja, localizada no centro da cidade, em um artigo, no qual aos seguidores do grupo terrorista que realizassem ataques com um incêndio criminoso, de acordo com a emissora local de TV 'KXAS' (NBC5).

A publicação digital teria chamado a igreja de "um popular lugar de encontro dos cruzados, que espera para ser queimado".

Funcionários da igreja disseram que, embora não haja nenhum sinal de perigo iminente ou evidência de que um ataque desse tipo está sendo planejado, eles estão em estado de alerta, após a ameaça.

Os líderes da Igreja disseram que não irão se intimidar com o anúncio da revista do Estado Islâmico.

"A Bíblia nos diz que o Senhor não nos deu um espírito de medo", disse a igreja em uma nota oficial, enviada à emissora NBC5. "Se nos entregarmos ao medo, o Estado Islâmico ganha. Então, continuaremos fazendo o que o Senhor nos chamou para fazer".

Liderado pelo pastor Robert Jeffress, a igreja esteve em contato com autoridades locais e federais nas últimas semanas e diz que está confiante de que a igreja está segura.

O pastor Jeffress esteva no centro das atenções nacionais na semana passada, quando pregou em um culto privado, antes da posse do presidente Donald Trump.

Guiame.com.br

Deus ajuda aqueles que se ajudam?

“Deus ajuda aqueles que se ajudam”. Você lembra a primeira vez que ouviu esse “truísmo”? Eu ouvi isso pela primeira vez em uma igreja!

Por que eu me lembro do sermão, eu não posso dizer, mas eu me lembro de estar ali, como um jovem cristão, ouvindo aquelas palavras saírem exatamente da boca do pastor. Não foi oferecida nenhuma prova, nenhum texto bíblico foi citado. A verdade parecia auto-evidente. E eu não deveria estar sozinho. De acordo com George Barna, 68% dos cristãos nascidos de novo concordam com essa afirmação e 75% dos americanos de uma forma geral. [1]

Eu sempre suspeitei dessas pesquisas “cristãs”, então eu decidi conduzir minha própria pesquisa no trabalho. Eu perguntei a dez pessoas, cinco homens e cinco mulheres, todos que se afirmavam como cristãos, se eles concordavam com essa declaração. Os resultados? Oito de 10 —isso são 80% (para os que têm dificuldade com matemática) — concordaram com a declaração!

Desses oito, quatro são evangélicos professos, três deles vão a igrejas batistas da convenção do Sul enquanto o outro frequenta outra igreja cristã. Dos quatro restantes que concordaram, mas que não se denominavam “evangélicos”, dois professam serem Católicos Romanos, um é Metodista e o outro é não denominacional. Os dois que discordaram? Um batista reformado (nenhuma surpresa aqui) e um evangélico episcopal.

O que isso significa é que quatro dos seis (67%) evangélicos concordaram com a declaração (comparado aos 68% de Barna). Como um Batista da Convenção do Sul, eu tristemente observei que todos os meus amigos de denominação concordaram. Uma delas, inclusive, é esposa de alguém que está no ministério.  Talvez Barna esteja certo no final das contas.

SOLA ESFORÇUS

De onde vem essa ideia? Ela não vem da Bíblia[2], vem do livro de Benjamin Franklin, Poor Richard’s Almanac. Franklin e seus contemporâneos fizeram uma adaptação da fábula de Esopo: Hércules e o carroceiro (6º século a.C.). Na história, a pesada carga do carroceiro fica atolada na lama. Em desespero, o carroceiro clama a Hércules por ajuda. Hércules responde: “Levante-se e ponha a mão na roda. Os deuses ajudam aqueles que se ajudam”[3]. É bem irônico que uma fábula politeísta que apele à mitologia grega tenha entrado naquilo que os cristãos pensam que está nas páginas da Escritura.


Qual a significância de tudo isso? Isso revela como a maioria dos cristãos entende seu relacionamento com Deus. Parafraseando: “Se eu colocar minha mão na roda, então Deus vai me ajudar”. Meu professor de pregação costumava chamar isso de teologia do sola esforçus. Eu primeiro me movimento para reformar a minha vida, então Deus irá – e talvez seja obrigado a – responder e cooperar comigo. Isso significa que nosso relacionamento com Deus é tanto condicional quanto sinergísitico.

Como cristãos que estão considerando o tópico da conversão, nós poderíamos perguntar: Essa seria uma forma de apelo aos não cristãos? “Coloque sua mão na roda da salvação, então Deus virá lhe ajudar”? Nós os convocamos para o auto-esforço, em que “não há estrada para os deuses, exceto pelo caminho da atividade humana”?[4]

Qual é, exatamente, o nosso papel e nossa responsabilidade e qual é o papel de Deus e a responsabilidade dele no processo da conversão?

A ORDO SALUTIS DEFINIDA

Os protestantes têm historicamente considerado sobre essa questão da ordo salutis (termo em Latim para “ordem da salvação”). A ordo salutis “descreve o processo pelo qual a obra da salvação trabalhada em Cristo é subjetivamente realizada no coração e na vida dos pecadores. Ela tem como alvo descrever a ordem lógica bem como as relações dos vários movimentos do Espírito Santo na aplicação da obra da redenção”[5]. Ela simplesmente busca responder aquelas perguntas que guiaram Martinho Lutero e a Reforma Protestante. Isto é, como eu encontro um Deus gracioso e como eu obtenho os benefícios da graça adquiridos por Cristo?


Os estudiosos da Bíblia apontam para passagens como Romanos 8.30 “E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” como uma evidência bíblica[6]. A ordo recebeu um tratamento extensivo pelos Escolásticos Protestantes.

Alguns estudiosos hoje evitam toda a discussão, temendo que ele torne a salvação em um processo mecânico mais parecido com a filosofia de Aristóteles do que com o testemunho bíblico. Embora essa crítica tenha algum mérito, a ordo salutis ainda é útil hoje. Pode-se simplesmente manter na mente que a salvação é um processo unitário intimamente conectado com a nossa união com Cristo. “Regeneração, fé, conversão, renovação, etc., de qualquer forma, não denotam aqui componentes consecutivos na estrada da salvação, mas resumem em uma única palavra toda a transformação que acontece nos homens”[7]. Todos os benefícios são dados aos eleitos ao mesmo tempo. A ênfase não é primariamente cronológica, mas lógica e causal.

A ORDO SALUTIS E A ANTROPOLOGIA

O estado da condição humana é algo crítico para a ordo salutis. O antigo axioma apresenta as nossas opções: falando em termos morais, o Pelagianismo diz que o homem está bem, o Semipelagianismo diz que ele está doente, o Agostinianismo diz que ele está morto. Se o homem está moralmente bem ou parcialmente debilitado, então ele pode cooperar com a graça de Deus para salvar a si mesmo (Catolicismo Romano). Mas se o homem está morto em delitos e pecados (cf. Efésios 2.1-3, 12), corrompido e debilitado não em parte, mas completamente, então a ele falta a habilidade de salvar a si mesmo. A salvação não deve ser entendida como sinergística, mas como monergística. Deus somente toma a iniciativa. Ele precisa conceder vida espiritual, substituindo corações de pedra por corações de carne (cf. Ezequiel 36.36). Colocando de forma simples:


todos os homens são concebidos em pecado, nascidos como filhos da ira, indispostos a fazerem qualquer bem para a salvação, propensos para o mal, mortos em pecados, escravos do pecado. E sem a graça do Espírito Santo regenerador eles não querem nem são capazes de retornarem a Deus para corrigirem sua natureza depravada ou se disporem para corrigi-la.[8]

Refletindo sobre a condição humana, Cícero disse: “O homem é um desastre”. No histórico entendimento protestante, a salvação sempre foi uma obra maravilhosa e soberana exclusivamente de Deus e uma graça imerecida (cf. Efésios 2.8-9).

A ORDO SALUTIS COMEÇA COM DEUS

Dada a arriscada condição do homem, a ordo salutis tem que se originar em Deus. “A causa… não deve ser atribuída à dignidade (ou merecimento) de uma nação sobre outra ou ao melhor uso da luz da natureza; porém à mais boa vontade e ao gracioso amor de Deus” [9]. Ele é a causa eficiente [10]. “Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as suas manchas?” (Jeremias 13.23). Obviamente, portanto, “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer” (João 6.44). Deus inicia a salvação e ele a faz com base em seu amor. Isto é, o amor dele é a causa que move e que impulsiona. É somente à graça, ao favor, à boa vontade e ao “gracioso amor” de Deus em Cristo que nós devemos a nossa salvação [11].


Se Deus é o autor da salvação, o Espírito Santo é o agente da salvação, unindo-nos à pessoa de Cristo e aplicando a sua obra em nós. “A atividade do Espírito Santo é, portanto, nada além de aplicativa. A ordem da redenção é a aplicação da salvação (applicatio salutis)”[12]. Assim como o Filho veio para glorificar o Pai, o Espírito Santo, por sua vez, glorifica o Filho. E ele o faz “até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Efésios 4.13)[13].

A causa instrumental ou o meio pelo qual nós conhecemos a salvação é o evangelho, a Palavra de Deus. A salvação vem da Palavra. Embora a revelação natural nos ensine sobre Deus, ela somente é insuficiente para uma fé salvadora (cf. Romanos 1-3). Nós temos que encontrar pessoalmente a Cristo através de sua Palavra (revelação especial) e colocar nossa confiança nas promessas objetivas do evangelho (cf. Romanos 10.14-17).

A ORDO SALUTIS É FUNDAMENTADA NA ELEIÇÃO DESDE A ETERNIDADE PASSADA[14]

Qualquer discussão da ordo salutis deve lidar primeiro com o tópico da eleição. Eleição é um termo bíblico, então a questão não é se “acreditamos na eleição”, mas o que a Bíblia quer dizer com esse termo. Primeiro, a esmagadora evidência é que Deus “elegeu” ou “escolheu” um povo para si. Isso é visto no Antigo Testamento: “Eis que os céus e os céus dos céus são do SENHOR, teu Deus, a terra e tudo o que nela há. Tão-somente o SENHOR se afeiçoou a teus pais para os amar; a vós outros, descendentes deles, escolheu de todos os povos, como hoje se vê” (Deuteronômio 10.14-15; cf. Salmo 32.12). O fato de Deus eleger pessoas é algo claramente ensinado por Jesus no Novo Testamento: “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto” (João 15.16; cf. Lucas 18.6-8).


Segundo, Deus ter eleito indivíduos foi algo que ocorreu antes da fundação do mundo. “Assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça” (Efésios 1.4-6).

Isso, então, leva à pergunta que continua a dividir alguns círculos protestantes – isto é, a eleição de Deus é condicional ou incondicional? Deus analisa os corredores do tempo e nos elege com base em nossa fé prevista (condicional) ou nossa eleição é incondicional e concedida a nós à parte de qualquer fé ou bondade previstas em nós?  Na primeira opção, arrependimento e fé (i.e. conversão) são frutos da vontade humana (talvez com uma ajuda da graça preveniente) que levará a nossa eleição. Nesse sistema, a eleição do povo de Deus, no final das contas, está centrada no que o indivíduo faz, e não no que Deus faz. Deus torna a salvação possível para todos os homens, mas, na verdade, não garantiu nem assegurou a salvação de nenhum homem. No sistema incondicional, Deus toma a iniciativa de nos eleger e de nos declarar dele. À parte disso, não há esperança.

A evidência bíblica apoia a eleição incondicional. Quem é Israel no Antigo Testamento? O povo que o Senhor “escolheu, para que lhe fosses o seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra” (Deuteronômio 7.6). Deus singularmente e especificamente escolheu Israel entre todas as outras nações para ser sua valiosa possessão. Por quê? Isso foi condicionado com base na fidelidade, bondade ou força de Israel? Os próximos versículos dão a resposta: “Não vos teve o SENHOR afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, mas porque o SENHOR vos amava” (Deuteronômio 7.7-8ss).  A razão dada para o abençoado relacionamento de Israel com Deus é… Deus. Ele escolheu amar esse povo. Ele escolheu colocar suas afeições sobre Israel “acima de todos os povos” a despeito da sua fraca e desmerecedora condição (cf. Deuteronômio 10.14).

No Novo Testamento, Jesus diz: “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros” (João 15.16). Nós amamos porque ele nos amou primeiro (1João 4.19). Diferente do amor de Deus que depende do valor do objeto, a escolha de Deus não foi baseada em qualquer fé ou bondade em nós, os objetos do seu amor.  Por que Jacó foi escolhido, e não Esaú? Paulo escreve: “E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama)” (Romanos 9.11). E se houver sobrado alguma dúvida sobre a natureza incondicional da eleição, nós vemos Deus falando: “Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (vv. 9.15-16).

A Escritura simplesmente nunca fala da fé como a base ou como a razão para Deus nos escolher. Tudo que sabemos é que suas escolhas, inescrutáveis como geralmente são, funcionam para magnificar sua graça (cf. Romanos 9.18; 2Timóteo 1.8). Entendida corretamente, a eleição incondicional na Escritura nunca leva ao desespero, mas traz encorajamento para o cristão (cf. Romanos 8.28; Efésios 1.11; 2Tessalonicenses 2.13). Ela é um ato esmagadoramente gracioso que destaca a bondade de Deus (Mateus 1.25-30; Efésios 1.3-11). A justiça requer que todos morram, mas, pela sua misericórdia, ele escolheu fazer pelos homens o que ele não fez pelos anjos rebeldes – eleger e redimir alguns para a vida eterna. Em suma, a eleição é incondicional, graciosa e firmada na eternidade passada. Ela é o fundamento a partir do qual nós podemos discutir a obra da redenção na vida dos homens.

A ORDO SALUTIS E A APLICAÇÃO DA REDENÇÃO

Chamado

Logicamente, a aplicação da obra redentora de Cristo começa com o chamado. Isso é primeiramente apresentado através do chamado do evangelho, que é “a oferta da salvação em Cristo às pessoas juntamente com um convite para que aceitem a Cristo em arrependimento e fé, a fim de que possam receber o perdão dos pecados e a vida eterna”[15]. O chamado do evangelho é um chamado geral ou universal, pois ele é feito de forma igual para todos. “Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam” (Atos 17.30; cf. Mateus 22.1-14). É também um genuíno chamado seriamente oferecido por Deus. Jesus chora e geme de forma sincera pela obstinada rejeição de Jerusalém e pela recusa da mensagem dele (Mateus 23.37). Deus verdadeiramente deseja que todos cheguem ao arrependimento (2Pedro 3.9) para que possam receber descanso (Mateus 11.28; cf. João 1.11-12; Apocalipse 3.20).


Isso, porém, levanta a pergunta espinhosa: por que alguns creem e outros não? “Eis, aqui está o obstáculo”, Hamlet diria. Os sistemas sinergísticos ensinam ou que os indivíduos são inerentemente capazes de produzir uma fé inicial (visão católica romana) à qual Deus necessariamente responde em graça ou que Deus providencia a todas as pessoas uma graça capacitadora ou preveniente (visão arminiana/wesleyana) que supera os efeitos da queda. Dotados com essa graça preveniente, alguns então escolhem responder em fé. Em outras palavras, a graça preveniente é uma graça suficiente que somente se torna eficiente quando o pecador coopera com ela. Poderíamos dizer que a graça preveniente, na verdade, não é nada mais do que a “democratização da graça salvadora”[16]. Tanto no sistema católico romano como no sistema arminiano, o poder para crer ou para não crer está baseado, no final das contas, no indivíduo.

O monergismo vê na eleição que Deus faz de alguns como a explicação do porquê de alguns crerem e outros não. “Porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos” (Mateus 22.14). Na nossa condição humana caída, nós não temos vontade nem somos capazes de aceitar o evangelho, pois “a palavra da cruz é loucura para os que se perdem” (1Coríntios 1.18; cf. Romanos 3; Efésios 2.1-5). Deus, portanto, deve trabalhar eficazmente em nós, fazendo-nos querer crer. Os monergistas, portanto, distinguem entre um chamado do evangelho e um chamado eficaz. No chamado eficaz, o Espírito opera através da Palavra para “confirmar”, “atestar” e “tornar manifesta” a eleição de Deus[17]. Para o monergista, dizer que o chamado de Deus é eficaz condicionalmente ao exercício de fé do homem é “equivalente a dizer que esse é um chamado intrinsecamente ineficaz”[18]. Além disso, na Escritura, o chamado de Deus é eficaz sobre o eleito. “Aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Romanos 8.30). “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia” (João 6.44). Esse é um chamado eficaz para a salvação, o qual nos leva a uma comunhão com Cristo (cf. 1Coríntios 1.9).

O ensino de um chamado eficaz certamente não fica sem oposição. Primeiro, se o chamado de Deus para os eleitos é eficaz e irresistível de modo que todos que são chamados realmente chegam até ele, por que se preocupar com a com a pregação que fazemos do evangelho? Essa é uma objeção comum, mas a Bíblia nos lembra que Deus ordena tanto os meios como os fins. Deus, em suas infinitas sabedoria e bondade ordenou que a mensagem do evangelho, pregada por vozes humanas e acompanhada pelo Espírito, deve ser o instrumento da graça redentora (cf. Romanos 10).

Segundo, alguns perguntam: o ensino do chamado eficaz não sugere que Deus se relacione conosco de uma forma impessoal? Se Deus é a “causa” da nossa salvação e a nossa fé é meramente o subproduto ou “efeito” disso, em que sentido isso é relacional? A teologia do processo e o teísmo aberto, todos levantam essa acusação contra o chamado eficaz. O amor, eles argumentam, não opera por meros princípios de causa e efeito, como uma questão de Deus unilateralmente mudar a inclinação da vontade do homem. O amor precisa ser mútuo, recíproco, e não coercitivo. Deus precisa conseguir o interesse dessas pessoas, não com um poder de causa, mas com o poder do amor e da persuasão. Embora alguns no teísmo clássico tenham sido arrastados para um conceito de Deus impessoal aristotélico de Primeiro Motor, os evangélicos protestantes têm se mantido afastados disso. Deus pode inclinar e determinar a nossa vontade, mas nunca de uma forma que seja incongruente com a natureza humana. Deus “pode e, de fato, os atrai, pela poderosa influência da sua graça sobre eles em direção a ele mesmo e ao seu Filho. E isso ele faz sem forçar a vontade desses homens; ele docemente os motiva, pela sua graça, para que eles cheguem a Cristo e às suas ordenanças; ele os persuade poderosamente”[19]. O teólogo Kevin Vanhoozer, de forma muito útil, lembra-nos que o chamado eficaz de Deus se constitui tanto de energia quanto de informação. Não é um mero ato causal, mas um ato comunicativo. No chamado eficaz, Deus se comunica conosco através de Jesus Cristo, o Verbo de Deus que se fez carne. O chamado eficaz é um ato de fala e é, portanto, profundamente pessoal[20].

Terceiro, alguns argumentam que um chamado eficaz contraria a liberdade humana. Ele é manipulador e coercitivo. O teísta aberto John Sanders chega ao ponto de chamá-lo de um estupro divino, pois Deus força sua vontade sobre o eleito. Contudo, não há nenhum relato bíblico de alguém sendo forçado a aceitar o evangelho contra sua própria vontade. Ninguém é trazido para o reino esperneando e gritando. Não há nada de violento quando os ouvidos do surdo são miraculosamente abertos para que possam ouvir a doce voz do Salvador o chamando pelo nome. Para usar outra metáfora bíblica, Deus graciosamente faz com que os cegos vejam.  Esse seria um ato malicioso e violento? O fato é que aquele que é iluminado é tanto passivo quanto ativo. Tendo sido criado para entender, um indivíduo entende e amavelmente abraça a verdade. Esse abraçar é dificilmente compatível com a noção de estupro divino. Em suma, “a aplicação da salvação é e permanece sendo uma obra do Espírito e, portanto, nunca é coercitiva ou violenta, mas sempre espiritual, amável e gentil, tentando humanos não como blocos de madeira, mas como seres racionais, iluminando, persuadindo, atraindo e inclinando esses homens”.

Regeneração

Ao passo que o chamado, particularmente o chamado eficaz, é uma figura da atividade de recriação de Deus, a regeneração é uma figura de renovação. De muitas formas, elas são metáforas diferentes da mesma obra de unir homens e mulheres que estão mortos para entrarem em um relacionamento vivo com Cristo. A regeneração vai em direção da nossa necessidade de nascermos de novo, de sermos renovados, restaurados. Pois somente tendo nascido de novo, podemos ver o reino de Deus (João 3.3). Não é algo opcional. É, na verdade, a necessidade de todos nós: “importa-vos nascer de novo” (João 3.7). Esse nascimento não é físico, mas um renascimento espiritual profetizado no Antigo Testamento, o qual renova o homem interior diante da lei de Deus (cf. Ezequiel 36).


Assim como nós somos passivos em nosso nascimento físico, também o somos em nosso nascimento espiritual. Em outras palavras, regeneração é uma obra de Deus somente. João diz que os filhos de Deus são aqueles que “não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (João 1.13). Semelhantemente, Pedro escreve: “segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1Pedro 1.3). Na regeneração, Deus substitui nossos corações de pedra por corações de carne para que nós, que estávamos espiritualmente mortos, nos tornemos espiritualmente vivos. É óbvio, portanto, que a regeneração tem que preceder a conversão[21].

No Sínodo de Dort, os antigos protestantes belamente sumarizaram a radical, instantânea e sobrenatural obra regeneradora de Deus.

Quando Deus executa sua boa vontade nos eleitos ou opera neles a verdadeira conversão, ele não somente providencia que o evangelho seja proclamado a eles e que suas mentes sejam poderosamente iluminadas pelo Espírito Santo, que eles possam entender corretamente e julgar as coisas do Espírito de Deus, mas ele também, pela eficácia do mesmo Espírito regenerador, penetra nas mais profundas entranhas do homem, abre seu coração fechado, amolece seu coração duro, circuncida seu coração incircunciso, inspira novas qualidades em sua vontade, traz vida àquilo que estava morto… E essa regeneração… uma nova criação… que Deus sem nós (isto é, sem a nossa cooperação) operou em nós… Isso, de forma alguma… fica no poder do homem… regenerado ou não regenerado, convertido ou não convertido; isso, contudo, é uma operação manifestadamente sobrenatural e ao mesmo tempo a operação mais poderosa e a mais doce, maravilhosa, íntima e infalível em seu poder… para que todos aqueles em cujo coração Deus operou de forma admirável sejam infalível e eficazmente regenerados e, de fato, creiam.[22]

Conversão

O resultado da obra regeneradora de Deus é o crer, uma abreviação da conversão, em que o pecador se arrepende do que fez de errado e se volta para Cristo em fé.  Sem a regeneração, a conversão seria impossível. A conversão de Lídia fornece um exemplo que funciona como protótipo. “O Senhor lhe abriu o coração” (regeneração), o resultado sendo que ela creu no evangelho (conversão) e foi, então, batizada (Atos 16.14).


Embora conversão seja distinta de regeneração, a distinção não é tanto cronológica como lógica. Na Escritura, não há uma categoria para alguém que tenha sido regenerado pelo Espírito, mas que, ainda assim, só seja convertido em algum tempo no futuro. As duas ocorrem eficazmente ao mesmo tempo. Contudo, a obra de Deus precede logicamente a nossa resposta a ele em arrependimento e fé. “A relação entre regeneração e, digamos, fé, é como a relação entre ligar o interruptor e encher a sala de luz – duas ações que são simultâneas”[23]. John Gill resumiu isso bem:

A regeneração é um ato exclusivo de Deus; a conversão consiste tanto do ato de Deus sobre os homens, convertendo-os a ele, e de atos feitos por homens sob a influência da graça transformadora; eles mudam, sendo mudados.  A regeneração é o movimento de Deus em direção e sobre o coração de um pecador; conversão é o movimento de um pecador em direção a Deus. Na regeneração, os homens são completamente passivos, mas, através dela, eles se tornam ativos.

Implicações

Primeiro, temos que manter a Palavra como o ponto focal do nosso ministério. Ela é o meio divinamente determinado de salvação. É através da proclamação de sua Palavra, não pelo tamanho de nossos prédios ou orçamentos, que o Espírito se torna ativo. Juntos, a Palavra e o Espírito se unem em uma obra eficaz de salvação. Separar da palavra a obra do Espírito é iniciar a jornada sem rumo em direção ao inclusivismo e à ortodoxia morta


Segundo, nós temos que ser confiantes em nossa segurança da salvação “porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2.13). O que é mais confortante: confiar nossa salvação somente no poder de nossa escolha, decisão e fidelidade ou confiar essa salvação na obra sacrificial de Cristo graciosamente aplicada a nós pelo Espírito? Os sistemas sinergísticos “fazem tudo se tornar vacilante e incerto — mesmo a vitória do bem e o triunfo do reino de Deus – porque eles penduram tudo na incalculável arbitrariedade dos humanos. Levantando-se pelos direitos da humanidade, eles atropelam os direitos de Deus e pelos humanos esse Deus termina com nenhum direito, exceto ser o de ser inconstante”[26].

Finalmente, nós temos que fazer apelos pessoais! Nós somos os mensageiros da salvação que foram ordenados por Deus. Em nossos apelos, sempre deve haver os três componentes necessários de: apresentação, convite e promessa. Nós temos que ser claros em nossa apresentação (Deus, homem, Cristo). Nós temos que que clamar ousadamente por uma resposta pessoal. E nós temos que honestamente manter a promessa de vida eterna. Na promessa, temos que sempre lembrar que a base para a nossa vida eterna é encontrada na obra de Cristo, não em nossa decisão ou oração. Nossa confiança que sua obra foi aplicada a nós é a evidência de fruto espiritual em nossas vidas (cf. João 15.8; 1João 2.3-6).

Conclusão

Os humanos sempre quiseram ser seus próprios salvadores. Mas o que distingue o cristianismo bíblico de todas as outras religiões do mundo é que o cristianismo não é auto-sotérico. No Islã, a redenção não é um dom, mas um ato. No budismo, a redenção consiste em mortificar o desejo pela existência e “ser sua própria luz”. Através de orações, sacrifícios, cerimônias e uma conduta ética correta, o Judaísmo Farisaico e o Catolicismo apresentam esquemas meritórios através dos quais nós alcançamos o favor de Deus.


O Cristianismo não reconhece esses esquemas. A salvação é graça do início ao fim. De acordo com a boa vontade de Deus, com a base da obra de Cristo, com a agência do Espírito Santo e com a instrumentalidade da Palavra, Deus elege, eficazmente chama e regenera. Nós somos ordenados a nos arrepender e a crer, mas isso é tudo em vão se Deus não operar primeiro em nós. Essa é a razão de fé ser inclusive chamada de um dom de Deus (cf. Efésios 2.8).

Deus ajuda aqueles que se ajudam? Se sim, nós somos os mais infelizes de todos os homens. O céu nunca terá parecido tão distante.

1 http://www.barna.org/FlexPage.aspx?Page=BarnaUpdate&BarnaUpdateID=66
2 Os fãs de boxe podem lembrar que Evander Holyfield orgulhosamente recorreu à sabedoria bíblica nessa afirmação em uma entrevista depois de ter vencido o ex-campeão peso-pesado Mike Tyson. Ele, na verdade, foi além e disse que Deus não pode lhe ajudar se você ajudar a si mesmo.
3 http://www.bartleby.com/17/1/61.html
4 Bavinck, Herman. Reformed Dogmatics – Vol 3: Sin and Salvation in Christ (Grand Rapids: Baker Academic, 2006), 566-7.
5 Berkhof, Louis. Systematic Theology (Edinburgh: The Banner of Truth Trust, Reprinted 2000), 415-16.
6 Murray, John. Redemption – Accomplished and Applied (Grand Rapids: Eerdmans, 1955), 98-105.
7 Bavinck, 589.
8 Sínodo de Dort, 294.
9 Sínodo de Dort, 296.
10 Contrariamente a Demarest (46), essa certamente não é uma afirmação de hiper-calvinismo, mas um reconhecimento de que se o homem está morto em delitos e pecados, Deus tem primeiro que operar para realizar a nossa salvação.
11 John Gill, A Body of Doctrinal Divinity, The Baptist Faith Series, Vol. 1 (Paris: The Baptist Standard Bearer, Reprint, 1839), 551.
12 Bavinck, 572.
13 Bavinck, 572.
14 As seções seguintes devo ao meu antigo professor de teologia, Dr. Stephen Wellum. Minha estrutura foi informada através de sua obra, que é, em si mesma, uma reflexão de pensadores protestantes através dos séculos passados.
15 Hoekema, 68.
16 Kevin J. Vanhoozer. First Theology: God, Scripture & Hermeneutics (Downers Grove: IVP Academic, 2002), 103.
17 John Calvin, Institutes of the Christian Religion, 1559 Edition, ed, by John T. McNeill, trans. by Ford Lewis Battles, Vol. 2 (Philadelphia: The Westminster Press, 1960), 932-47.
18 Vanhoozer, 104.
19 Gill, 550.
20 Para uma discussão minuciosa e esclarecedora, veja Vanhoozer, “Effectual Call or Causal Effect?” em First Theology, 96-124.
21 Veja também:  Tom Schreiner “Does Regeneration Necessarily Precede Conversion?” Acessado no site do 9Marks em: http://sites.silaspartners.com/partner/Article_Display_Page/0,,PTID314526|CHID598014|CIID1731702,00.html.
22 Sínodo de Dort, 299-300.
23 Hoekema, Anthony. Saved by Grace (Grand Rapids, Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1994), 14.
24 Gill, 546.
25 Note Filipenses 2.12 “desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor” que segue o indicativo da união deles com Cristo e com o Espírito (2.1). Mas, mesmo ali, no v. 13, Paulo prossegue para basear o imperativo ao dizer: “porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”.
26 Bavinck, 573.
Por: Brad Wheeler. © 9Marks. Website: 9marks.org. Traduzido com permissão. Fonte: God Helps Those Who Help Themselves?

Original: Deus ajuda aqueles que se ajudam? © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Felipe Prestes. Revisão: Yago Martins.
Brad Wheeler
Brad Wheeler é pastor sênior da University Baptist Church em Fayetteville, Arkansas.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Girolamo Zanchi – A misericórdia de Deus (Reforma500)

A seguir considerei brevemente a misericórdia de Deus.

Proposição 1. Em todas as Escrituras, Deus é representado como infinitamente gracioso e misericordioso (Êxodo 34.6; Neemias 9.17; Salmo 103.8; 1Pedro 1.3).

Quando dizemos que a misericórdia divina é infinita, não queremos dizer que ela seja, de modo gracioso, estendida a todos os homens sem exceção (e supondo que ela fosse, mesmo assim seria muito incorretamente denominada infinita por isso, uma vez que os objetos dela, ainda que fosse todos os homens juntos, não equivaleria a uma multidão rigorosa e propriamente infinita), mas que sua misericórdia para com os seus eleitos, já que ela não conhece começo, é infinita em duração, e não conhecerá período ou intervalo.

Proposição 2. A misericórdia não é em Deus, como é em nós, uma paixão ou afeição, sendo incompatível com a pureza, perfeição, independência e imutabilidade da sua natureza; mas quando esse atributo é relativo a Deus, apenas indica a sua livre e eterna vontade ou propósito de tornar bem-aventurados alguns da raça caída, libertando-os da culpa e domínio do pecado, e se comunicando a eles de uma forma consistente com a sua própria justiça inviolável, verdade e santidade. Essa parece ser a definição correta da misericórdia, que se refere ao bem espiritual e eterno daqueles que são seus objetos.

Proposição 3. Mas deve ser observado que a misericórdia de Deus, em sentido mais amplo e indefinido, pode ser considerada (1) como geral e (2) como especial. Sua misericórdia geral não é outra senão aquilo que comumente chamamos de sua graça, pela qual ele é, de algum modo, providencialmente bom para toda a humanidade, tanto para eleitos como para os não eleitos (Mateus 5.45; Lucas 6.35; Atos 14.17, 17.25,28). Por sua misericórdia especial, ele, como Senhor de todos, tem, em um sentido espiritual, compaixão de todos da raça caída que são objeto de seu livre e eterno favor; os efeitos desta misericórdia especial são a redenção e a justificação deles mediante a expiação de Cristo, o chamado eficaz, a regeneração e a santificação por meio do seu Espírito, a sua infalível e final preservação em estado de graça na terra e sua eterna glorificação no céu.

Proposição 4. Não há nenhuma contradição, real ou aparente, entre estas duas afirmações: (1) que as bênçãos da graça e da glória são peculiares àqueles a quem Deus separou para si mesmo, em Seu decreto de predestinação, e (2) que a mensagem do evangelho é anunciada, de modo que todo aquele que quiser possa tomar da água da vida livremente (Apocalipse 22.17). Em primeiro lugar, ninguém pode querer ou desejar espiritualmente e sem fingimento, ser participante desses privilégios, senão aqueles que Deus anteriormente faz ter vontade e desejo; e, em segundo lugar, Ele não concede essa vontade e excita esse desejo em ninguém, exceto em seus próprios eleitos.

Proposição 5. Desde que os homens ímpios, total e definitivamente desprovidos da graça divina, não podem conhecer o que é essa misericórdia, nem ter quaisquer apreensões apropriadas, muito menos abraçar e confiar nela para si mesmos, por meio da fé; e uma vez que a experiência diária e as Escrituras da verdade nos ensina que Deus não abre os olhos do réprobo como ele abre os olhos dos seus eleitos, nem ilumina salvificamente os seus entendimentos, evidentemente se segue que sua misericórdia nunca foi, desde o princípio, para eles, nem lhes será aplicada; mas, tanto na designação quanto na aplicação, é própria e peculiar somente aos que são predestinados à vida, como está escrito: “os eleitos o alcançaram, e os outros foram endurecidos” (Romanos 11.7).

Proposição 6. Toda a obra da salvação, juntamente com tudo o que há em relação a ela ou está em conexão com ela, é, às vezes, na Escritura, compreendida sob o único termo misericórdia, para mostrar que o puro amor e a graça absoluta foram o grande motivo pelo qual os eleitos são salvos, e que todos os méritos, dignidade e boas qualificações deles foram totalmente excluídos de qualquer influência sobre a vontade divina pela qual eles deveriam ser escolhidos, redimidos e glorificados em vez de outros. Quando é dito: “compadece-se de quem quer” (Romanos 9), é como se o apóstolo dissesse: “Deus elegeu, resgatou, justificou, regenerou, santificou e glorificou a quem lhe aprouve”, cada um destes grandes privilégios sendo brevemente resumido e de fato incluído no termo abrangente, “compadece-se”.

Proposição 7. Portanto, qualquer favor que nos seja concedido, seja qual for a coisa boa em nós ou praticada por nós, quer seja em vontade, palavra ou ação, e quaisquer outras bênçãos que recebemos de Deus, desde a eleição até à glorificação, tudo procede, mera e completamente, do beneplácito da sua vontade e da sua misericórdia para conosco em Cristo Jesus. A ele, portanto, é devido o louvor, quem estabelece a diferença entre homem e homem por ter compaixão de alguns e não de outros.

Fonte: http://voltemosaoevangelho.com

Girolamo Zanchi (1516-1590) foi um reformador italiano que fugiu da perseguição para finalmente se estabelecer em Estrasburgo como professor de Antigo Testamento no Colégio de São Tomás. Ele foi posteriormente nomeado em Heidelberg como professor de Teologia na Universidade. Sua obra é caracterizada por uma impressionante síntese da teologia reformada, do tomismo e do método escolástico.

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