sábado, 29 de novembro de 2014

O MOVIMENTO PENTECOSTAL: REFLEXÕES A PROPÓSITO DO SEU 1º CENTENÁRIO

O pentecostalismo é um fenômeno mundial no século XX. Segundo alguns especialistas existem cerca de meio bilhão de adeptos em todo o mundo. Esse movimento provocou mudanças profundas no mundo cristão, houve uma quebra de padrões evangélicos no diz respeito a teologia, forma de culto e experiência pessoal com Deus.

A origem do movimento se dar no final do século XIX e início do século XX. No início ficou restrito aos Estados Unidos até que aconteceu o avivamento da rua Azusa em Los Angeles em abril de 1906.

No Brasil é o seguimento evangélico que congrega a maior parte dos fiéis. Em 2000, dos 26,2 milhões de evangélicos brasileiros 17,7 milhões são pentecostais [67%]. Para alguns especialistas a explicação para tamanho crescimento se deve ao poder de se reinventar deste movimento. Se no passado tivemos a expansão pentecostal, hoje temos o seguimento do Neopentecostalismo.

Seria tolice pensar que o pentecostalismo moderno nasceu em nossos dias. Quando examinamos as escrituras o visualizamos na igreja de Corinto. Naquela época um grupo de pessoas haviam se voltado para práticas emocionais e a supervalorização das profecias e o falar línguas extáticas. Paulo na época recomendou moderação e apontou possíveis problemas a partir desta pratica dentro da igreja [1Co 12-14].

No decorrer da história vemos o reaparecimento na frigia, Ásia Menor com Montano. Para esse místico Cristo voltaria nos seus dias e com ele a nova Jerusalém. A experiência não deu certo e a igreja desestimulou as manifestações dos dons espirituais de natureza espetaculosa e miraculosa.

No decorrer do tempo diversos grupos cristãos lançaram mãos desta prática dentre eles os cátaros, os begardos e beguinas e o apocalipsismo de Joaquim de Flore no século XII. Os Anabatistas também foram pelo mesmo caminho. No século XVI eles eram conhecidos por entusiastas, libertinos, fanáticos e espiritualistas. Lutero e Calvino escreveram sobre a natureza dos mesmos.

A insatisfação com a falta de espiritualidade da igreja contribuiu e tem contribuído para o surgimento destas manifestações espirituais. Na época contemporânea tivemos os Quacres ingleses e sua luz interior, o ministério do pastor Edward Irving [XIX] e os avivamentos dos séculos XVIII e XIX [Europa e Estados Unidos].
 
Edward Irving
Na Inglaterra essa forma de pensar a divindade ganha forma entre os metodistas. “A inteira santificação” de Wesley deu lugar ao “batismo com o poder pentecostal” de John Fletcher. A pregação deixa de ser cristocêntrica [teologia paulina e joanina] para uma orientação pneumatocêntrica [Livro de Atos]. 

Nos Estados Unidos essa teologia se consolida através dos movimentos avivacionalistas [1730/40; 1810; 1857/58] onde o emocionalismo, a ênfase na teologia arminiana, a participação das mulheres nos cultos mistos, a valorização da profecia, da cura dos milagres passaram a ser comuns nas celebrações do período. Várias igrejas vão abraçar este movimento formando diversas ligas holiness [Associação Nacional Holiness em 1867, Vineland, Nova Jersey ...] por todos os Estados Unidos.

Em 1905, o movimento ganha as terras texanas quando encontra-se com o pregador negro William Joseph Seymour ]1870-1822]. Seymour passou a ser um discípulo do pastor Charles Parham, pai da doutrina que falar língua é uma evidência do batismo do Espírito Santo. Como aluno negro, filho de escravos não tinha o direito de frequentar a classe, mas assistia as aulas no corredor.


Foi esse homem um dos responsáveis pelo avivamento da rua Azusa.  A forma do novo culto a Deus envolvia gritos, saltos, danças, cantos e outros o que veio por abaixo toda uma ritualística tradicional de busca do sagrado.

A comunidade da rua Azusa era internacional, multirracial, de valorização do seguimento feminino na igreja e como tal se transformou na grande divulgadora do pentecostalismo por todo o mundo.

De Los Angeles o pentecostalismo se transportou para o Chile [1910], Brasil [1910] e depois para os demais países da região. No Brasil a primeira manifestação é atribuída a Émile Lêonard ligado ao movimento liderado por Miguel Vieira Ferreira [1837-1895]. Esse crente presbiteriano [Rio de Janeiro] despois de disciplinado abandona a igreja formando a Igreja Evangélica Brasileira que existe até hoje e que tem diversas diferenças com as organizações pentecostais que mais tarde chegaram ao Brasil.

O sociólogo Paul Freston fala de “três ondas” ou fases do pentecostalismo brasileiro. A primeira se fase se dar com a chegada da Igreja Congregacional Cristã do Brasil [1910] e as Assembleias de Deus. O enfoque era o batismo com o Espirito Santo e o falar línguas. Desta primeira fase foi a Assembleia de Deus a que mais se expandiu pelo Brasil e manteve hegemônica por 40 anos.

A segunda onda pentecostal ocorreu na década de 50 e 60, quando houve a fragmentação do movimento pentecostal brasileiro. São deste período as igrejas do Evangelho Quadrangular [1951], A igreja Evangélica Pentecostal O Brasil para Cristo [1955] e a Igreja Pentecostal Deus é Amor [1962]. Todas essas igrejas tinham como ênfase a cura divina e a comunicação de massa um dos seus melhores meios de marketing.

A terceira onda ocorre com a chegada do Neopentecostalismo dos anos 70 e 80. A Igreja Universal do Reino de Deus é um exemplo deste período, mas outras se somaram a ela, tais como: Igreja Internacional da Graça de Deus [1977], Igreja Renascer em Cristo, Comunidade Sara Nossa Terra, Igreja Paz e Vida, Comunidade Evangélica etc. O foco destas igrejas era o exorcismo e a prosperidade. 


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