Dia da poesia. Para comemorar este dia apresento aos irmãos e amigos Auta de Souza. Mulher de descendência negra num Brasil pós libertação dos escravos. Menina que logo cedo sofreu a perda dos seus pais mortos pela mesma doença que lhes tiraria a vida aos 25 anos de idade. Apesar de toda as circunstâncias adversas, Auta de Souza possuía um talento extraordinário e de uma beleza poética brilhante.
Caminho do Sertão
A meu irmão João Cancio
Auta de Souza
Tão longe a casa! Nem sequer alcanço
Vê-la através da mata. Nos caminhos
A sombra desce; e, sem achar descanso,
Vamos nós dois, meu pobre irmão, sozinhos!
É noite já. Como em feliz remanso,
Dormem as aves nos pequenos ninhos...
Vamos mais devagar... de manso e manso,
Para não assustar os passarinhos.
Brilham estrelas. Todo o céu parece
Rezar de joelhos a chorosa prece
Que a Noite ensina ao desespero e a dor...
Ao longe, a Lua vem dourando a treva...
Turíbulo imenso para Deus eleva
O incenso agreste da jurema em flor.
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