sábado, 13 de junho de 2015

No futuro, tudo vai estar conectado

Entrevista com Dov Moran, criador do pendrive
Alef

"Nunca mais irei a um lugar onde não tenha uma cópia de minha apresentação em meu bolso". Foi esse o mote que inspirou o engenheiro eletricista israelense Dov Moran a criar um dos itens mais populares do mundo da tecnologia: a memória USB Flash Drive, mais conhecida como pendrive. Ele conta que estava em uma conferência nos Estados Unidos e, durante sua vez de falar, o computador parou de funcionar. "Como minha empresa era listada na Bolsa de Valores, não podia falar besteira. Se eu dissesse algo errado, poderia ser processado. Estava desesperado", lembra. No fim, o computador voltou a funcionar e a conferência foi apresentada. "Depois que acabei, foi o exato momento em que tive a ideia de nunca mais ir a um lugar sem ter uma cópia portátil. Naquele momento, vi que tínhamos de investir em uma tecnologia que fizesse uma memória flash portátil agir como um disco rígido". A patente foi registrada em 1998. Porém, o primeiro produto só surgiu em 2000. Em 2006, vendeu a M-Systems por US$ 1.6 bilhões para a SanDisk.

Dov Moran esteve no Brasil para participar do “High Tech Nation”, evento promovido pelo escritório de advocacia Souza Cescon em São Paulo e no Rio de Janeiro que contou com a presença de especialistas brasileiros e de representantes do Technion Israel Institute of Technology. Atualmente, tem como objetivo acompanhar as mudanças de comportamento de um hábito antigo: o de assistir televisão. Neste sentido, sua nova empresa desenvolveu uma plataforma multi-telas para operadoras pagas de TV, que busca personalizar o conteúdo a partir das preferências do usuário, além de oferecer engajamento do conteúdo com redes sociais. Nesta entrevista, ele fala sobre o espírito empreendedor de seu país, da importância da cooperação entre universidade e indústria e fala com modéstia de um de seus principais inventos: "isso já ficou no passado, é uma inovação que vai desaparecer um dia e isso é OK. Nós temos que olhar para frente. Adiante".

Atualmente você apoia quinze empresas de tecnologia em Israel. O que você busca como potencial na hora de selecioná-las?

A coisa mais importante que eu busco nelas são as pessoas, o que as pessoas podem fazer e o que elas não conseguem fazer. E você consegue com o tempo distinguir entre essas duas coisas. E eu poderia falar sobre isso durante muito tempo, porque as pessoas são a coisa mais importante de uma companhia. Elas são a base fundadora de uma empresa. 

Depois você se foca na ideia. Ela é boa ou má? Pequena ou grande? Vejo se ela poderá ter alcance, se tem potencial para revolucionar e se terá competição ou não. Coisas assim. O terceiro ponto é o tamanho do seu mercado e isso não diz respeito somente ao mercado a qual uma tecnologia se destina, mas como o mercado vai evoluir, se ele vai crescer, se ele vai se extinguir. Se é um mercado onde há muita competição que fará você se dirigir a diferentes direções. É uma questão de avaliar e reavaliar, olhar todas essas questões ate você decidir se irá investir ou não. Eu comecei investindo em 5 a 6 startups e deixei esses projetos, por que muitas vezes o mercado muda. Você perde dinheiro, você ganha. Mas se você se dedica ao capital de risco, você não pode esperar que todo investimento será bom. Você perde, ganha e, claro, espera que o retorno seja muito maior do que o seu investimento inicial.

Muito do seu interesse em jovens empresas é direcionado a startups preocupadas em desenvolver inovações na área médica. A partir delas, como você enxerga o futuro da medicina?

Tudo vai estar conectado no futuro. Todos nós estaremos conectados e vamos ter muitos sensores que vão gerar esses dados para a nuvem. Vamos ter que ter essa capacidade de analisar esse enorme volume de dados que vêm das pessoas. São com eles que vamos aprender mais sobre o comportamento delas, para depois conectarmos com o nosso DNA. E isso se tornará cada vez mais personalizado. A ideia é personalizar cada vez mais a medicina e o conhecimento sobre o que deve ser testado. Estamos só no começo disso.

E por que dedicar-se exclusivamente a startups com base em Israel?

Minha política sobre investimento é que eu quero ver os fundadores e a criação deles desde a fase inicial. Poder acompanhá-los quase que diariamente. Eu quero ir ao campus, até um dos empreendedores e perguntar "Oi Joseph, como vocês está e aquele problema foi resolvido?". Você consegue ter essa relação com os fundadores e isso te dá o conhecimento necessário para continuar ou não investindo. E eu não conseguiria fazer isso em uma companhia que não se encontra em Israel.

Um dos desafios para gerar inovação é a tentativa de aproximar a academia da indústria. Um caminho que especialistas defendem como fundamental para aumentar nossos índices em inovação no Brasil. Como o senhor vê essa cooperação no seu país?

Em Israel, temos um bom sistema de cooperação entre a academia e a indústria. Eu estou envolvido em projetos com universidades. Temos uma boa conexão com a Tel Aviv University, e invisto em projetos que estão em posse de professores, além de um comitê de investidores onde eu consigo ver o que várias de nossas universidades estão fazendo. Então você tem essa relação próxima.

Israel tem sido vista como uma grande potência no mercado tecnológico. Muitas grandes companhias de tecnologia têm buscado Tel Aviv para direcionar seus negócios. O que startups e empreendedores de outros países, incluindo o Brasil, podem aprender com as empresas em Israel?

Você me coloca numa posição muito difícil, porque eu não sou o cara mais esperto que te pode dar essa resposta. Eu falo o melhor para tentar apoiar e ajudar esses empreendedores. Eu vejo que os chineses, por exemplo, são incríveis. Toda semana nós recebemos cerca de cinco delegações da China, e eles vão a Israel porque querem principalmente entender como as coisas estão sendo feitas para, por ventura, copiarem. E copiar é OK. Copiar de forma inteligente, ajustar e depois melhorar. Eu adoraria ver mais delegações do Brasil em Israel. Acredito que seria uma boa oportunidade para investidores entenderem sobre o que estamos fazendo, sobre nosso sistema de cooperação entre universidades e indústria. Em Israel, toda grande companhia, não há uma que não esteja com seus olhos lá. E estamos falando de Google, Apple, Microsoft, Motorola. E parte disso porque elas estão indo para sentir o espírito dessa inovação. E eu acredito que o que realmente nos fez o que somos é por vivermos em país de muitos desafios.

Com material do UOL e do IDG Now!/Carla Matsu

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