terça-feira, 9 de junho de 2015

A epístola de Judas

epístola de Judas
Jerônimo Viana de Medeiros Alves

Introdução
O combate ao pensamento herético no interior da igreja de Cristo, começou bem cedo. A presença desses falsos mestres quer seja disfarçado de anjos de luz (2 Co 11-13-15) ou claramente depravados (cartas de 2 Pedro e Judas) passaram a se constituir numa séria ameaça para a igreja do Senhor. Tal como no passado essa temática se reveste de grande importância para a Igreja do Senhor em nossos dias. Hoje como ontem os falsos mestres estão presentes no interior da igreja disseminando doutrinas estranhas ao povo ao povo de Deus e enganando a muitos. A presente pesquisa tem por objetivo apresentar a luta de Judas contra as heresias da sua época e alertar a igreja moderna contra o encantamento das falsas doutrinas. A metodologia escolhida na composição deste trabalho foi a pesquisa teórica na qual o artigo é um dos seus melhores instrumentos.
  epístola de Judas
epístola de Judas, irmão de Tiago (Jd 1.1) e meio irmão de Jesus Cristo (Mt 13. 55; Mc 6,3), foi escrita para um grupo indefinido de irmãos. Para alguns estudiosos o alvo da sua carta eram os crentes da Ásia Menor, aos quais havia sido destinada a segunda carta de Pedro. Para outros, os crentes da Palestina, visto que, eram pessoas familiarizadas com à referência judaica (Jd 7-11). Devido à natureza da epistola ela foi classificada como carta geral ou circular.
Apesar da sua autoria ser questionada a tradição da igreja legitima tendo por base a aquiescência de Tertuliano, Orígenes, Clemente de Alexandria, o cânon muratoriano, Atanásio e por fim foi confirmada no concílio de Cartago.
Sua escrita provavelmente ocorreu no primeiro século da era cristã e traz como principal motivação o combate a heresia agnóstica que entrara na igreja. Essa filosofia tem forte semelhança com que Paulo havia falado em Atos 20.29-31 e que naquele momento se disseminava pela cristandade (Jd 4).
O contexto em que foi redigida a carta de Judas era avesso aos cristãos, nessa época tanto o povo como o Império Romano viam os servos de Deus como uma acentuada hostilidade, quer por seus ensinos nada coerentes com o pensamento imperial (Deus não faz acepção entre pessoas e tolerância para com os inimigos, e outras.), quer por práticas de alguns heréticos que terminava sendo estendida a todo povo de Deus.
Richards (1994, p. 529) em seu livro cita um texto de Epifânio de Chipre, que ilustrar bem uma das heresias comuns a sua época. Um suposto grupo de cristãos Fibionitas (Panarion 26. 4-5) praticavam um ritual que tinha por cenário a festa do amor (Ágape). Os participantes licenciosamente envolvem-se ofertando a Deus seus fluidos como o corpo de Cristo e de igual modo quando as mulheres em seu ciclo natural, não só apresentavam aos céus o produto do seu estado, como ingeriam na forma simbólica de sangue de Cristo.
Não é surpresa que esse revoltante ritual repercutia negativamente sobre os cristãos, até porque os pagãos não sabiam diferenciar o que era heresia do verdadeiro evangelho e colocavam num mesmo patamar todos os grupos cristãos do seu tempo.
A má fama dos cristãos chegou a tal ponto que ser um seguidor de Jesus Cristo no ano 100, era um crime independente de qualquer outra acusação.   
No momento atual vivenciamos a mesma indignação pública em relação a fé evangélica. Alguns líderes religiosos usam a marca cristã para se autopromoverem ou manter a sua denominação em destaque em relação as demais. Nesse sentido praticam todo tipo de abusos, explorando a boa-fé dos incautos, acumulando riquezas para a sua própria condenação. Esses são aqueles que procuram de qualquer forma recriar na terra um paraíso perdido que só será alcançado pelos servos do senhor e quando da sua segunda volta.
O nome de Cristão hoje como na época de Judas é ridicularizado por conta desses falsos mestres que apascentam a se mesmo, que negociam a fé de forma que incentivam o crescimento do ateísmo mostrando um Cristo menor.
Em sua carta Judas procura orientar seus leitores a “batalhar pela fé” (4), que foi entregue aos santos (21), a se apiedar dos duvidosos (22) e salvar alguns da condenação eterna (23).  A carta de Judas está estruturada da seguinte maneira:
a)        Saudação Introdutória – Jd 1s
b)        Motivo e objetivo da carta – Jd 3s
c)         Três exemplos de juízo no AT – Jd 5- 7
d)        A caracterização dos sedutores – Jd 8-16
e)        Conselho e instrução para a igreja – Jd 17-23
f)          Doxologia final – Jd 24s
Ao comparar sua carta com a de 2Pedro notamos uma clara harmonia em sua mensagem e descrição dos falsos mestres. Vejamos:

Temas
2 Pedro
Judas
Infiltração
2.1
4.12
Imoralidade
2.3,10,14, 18-19
4.7
Negação a Cristo
2.1
4
Movidos pela ambição
2.3, 14-15
15-16
Rejeição da autoridade
2.10
8.10
Animais Irracionais
2.12
10
Dominados por desejos de pecado
14-15, 18
12, 16,18
Vazios, inúteis
2.17-19
12-13
Retribuição é certa
2.1,3-6, 13
5-7, 14-16
Richards (1994, p.531)
Os falsos mestre se infiltravam na igreja de forma dissimulada. Ao ganhar a confiança da congregação induziam ao erro alguns irmãos desatentos a doutrina apostólica. A imoralidade (Jd 4.7) era o passo seguinte. Nesse sentido havia toda uma justificativa com base na graça de Cristo. Para esses homens Jesus Cristo havia anulado toda Lei, portanto, estavam livres para usar o seu corpo da forma que bem desejasse (o prazer pelo prazer). De maneira que a graça de Deus era um sinal verde para a pratica do pecado e não um ponto de rompimento do mesmo. Em sua loucura desassociava o corpo do espírito, este (espírito) possuía um valor superior a matéria (que era mal) de forma, que suas práticas carnais não o molestava deixando-o livre do pecado e acima da Lei de Deus (eram puros aos seus próprios olhos).
A postura desses homens levou judas a afirmar que seus erros a semelhança de Sodoma e Gomora os conduziriam a destruição. A liberdade que tanto propalavam na pratica era escravidão da luxuria.
A negação de Cristo como Deus e Senhor (4) era lugar comum tanto para os agnósticos da corrente docética como para os cerintianos. Se a matéria era má, o Messias não poderia ter encarnado na forma humana, visto que, a santidade de Deus jamais suportaria o mal.
Judas afirma que os falsos mestres eram pastores que se auto apascentam (12), rebeldes a qualquer tipo de autoridade sobre suas vidas (8-10) e em especial a divina, pois se achavam justos a seus próprios olhos, acima do bem e do mal, contudo, eram réus dignos de condenação da Lei moral. Homens e mulheres que reagiam como animais (10), visto que, não tinha consciência da dimensão e consequências dos seus atos, mas inchados pelos desejos pecaminosos (12,16,18) e ansiosos por pecar não viam nada de bom em se mesmo e nos outros.
Daí seus ensinos ser vazio (12-13), tal qual nuvens sem chuvas, fontes sem água, incapaz de abençoar vidas, mas agravar o estado lamentável do pecador afastando-o ainda mais de Deus. Para tais homens e mulheres restava a condenação divina (5-7, 14-16).
Portadores de uma revelação especial de Deus, os falsos mestres nada possuíam que pudessem aliviar os fardos das pessoas que os procuram, pelo contrário, adicionavam novas cargas a vida do infeliz afastando-o de Deus única esperança para os sem esperança. Judas adverte seus leitores a se manterem longe da sua influência, do seu encantamento, visto que não produziam frutos digno de arrependimento.
A igreja moderna é alertada contra a ação desses pregoeiros da mentira. A semelhança dos bereiano (Atos 17.11) somos chamados a avaliar os ensinos e reter que está de acordo com a palavra de Deus. Vivemos em dias que a doutrina cristã tende a se moldar aos valores do mundo (casamento gay, aborto, eutanásia...) e não são poucos os líderes “progressistas” que já desprezaram a palavra de Deus para atender a esse apelo.
 Conclusão
Testemunhar de Cristo é uma necessidade para a expansão do reino de Deus entre os homens. Esse compromisso tanto é individual (Jd 20-21) como coletivo (Jd 22-23). Dizer não as heresias que assolam nossos dias, se guardar das impurezas é um dever do cristão de todas as épocas. Ao negligenciarmos esses deveres não só estamos contribuindo para o avanço do reino das trevas como nos colocamos em rota de colisão com Deus.
A igreja de Cristo se fortalece na medida em que exercitamos nossa fé em meio aos embates contra o pecado e a carnalidade que assola o mundo. Ser cristão é participar da obra de Deus, da forma como o Senhor determinou. Persistir na vocação que fomos chamados gera alegria nos céus e harmonia na terra. O recado de Judas foi ouvido se não por todos os cristãos da sua época, mas por uma boa parte, de forma que chegou até os nossos dias e continuará através das gerações futuras.
A grande sabedoria da sua obra como também de todos os demais escritores sacros foi e sempre será de manter uma igreja viva, atuante em seu meio social e como seu Senhor avessa ao pecado. Nessa Carta Cristo toma seu verdadeiro lugar em detrimentos do antropocentrismo vazio e destituído da graça divina.
Bibliografia
Richards, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de 3. Ed. Rio de Janeiro: CPAB, 1994
Boor, Werner de. Cartas de Tiago, Pedro, João e Judas. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2008.


Um comentário:

Comente o texto e ajude-nos a aperfeiçoá-los.