A epístola de Judas
Jerônimo Viana de Medeiros
Alves
Introdução
O combate ao pensamento
herético no interior da igreja de Cristo, começou bem cedo. A presença desses
falsos mestres quer seja disfarçado de anjos de luz (2 Co 11-13-15) ou
claramente depravados (cartas de 2 Pedro e Judas) passaram a se constituir numa
séria ameaça para a igreja do Senhor. Tal como no passado essa temática se
reveste de grande importância para a Igreja do Senhor em nossos dias. Hoje como
ontem os falsos mestres estão presentes no interior da igreja disseminando
doutrinas estranhas ao povo ao povo de Deus e enganando a muitos. A presente
pesquisa tem por objetivo apresentar a luta de Judas contra as heresias da sua
época e alertar a igreja moderna contra o encantamento das falsas doutrinas. A
metodologia escolhida na composição deste trabalho foi a pesquisa teórica na
qual o artigo é um dos seus melhores instrumentos.
A epístola de Judas
A epístola de Judas, irmão de Tiago
(Jd 1.1) e meio irmão de Jesus Cristo (Mt 13. 55; Mc 6,3), foi escrita para um
grupo indefinido de irmãos. Para alguns estudiosos o alvo da sua carta eram os
crentes da Ásia Menor, aos quais havia sido destinada a segunda carta de Pedro.
Para outros, os crentes da Palestina, visto que, eram pessoas familiarizadas
com à referência judaica (Jd 7-11). Devido à natureza da epistola ela foi classificada
como carta geral ou circular.
Apesar da sua autoria ser
questionada a tradição da igreja legitima tendo por base a aquiescência de
Tertuliano, Orígenes, Clemente de Alexandria, o cânon muratoriano, Atanásio e
por fim foi confirmada no concílio de Cartago.
Sua escrita provavelmente
ocorreu no primeiro século da era cristã e traz como principal motivação o
combate a heresia agnóstica que entrara na igreja. Essa filosofia tem forte
semelhança com que Paulo havia falado em Atos 20.29-31 e que naquele momento se
disseminava pela cristandade (Jd 4).
O contexto em que foi redigida
a carta de Judas era avesso aos cristãos, nessa época tanto o povo como o
Império Romano viam os servos de Deus como uma acentuada hostilidade, quer por
seus ensinos nada coerentes com o pensamento imperial (Deus não faz acepção
entre pessoas e tolerância para com os inimigos, e outras.), quer por práticas
de alguns heréticos que terminava sendo estendida a todo povo de Deus.
Richards (1994, p. 529) em seu
livro cita um texto de Epifânio de Chipre, que ilustrar bem uma das heresias comuns
a sua época. Um suposto grupo de cristãos Fibionitas (Panarion 26. 4-5)
praticavam um ritual que tinha por cenário a festa do amor (Ágape). Os
participantes licenciosamente envolvem-se ofertando a Deus seus fluidos como o
corpo de Cristo e de igual modo quando as mulheres em seu ciclo natural, não só
apresentavam aos céus o produto do seu estado, como ingeriam na forma simbólica
de sangue de Cristo.
Não é surpresa que esse revoltante ritual repercutia
negativamente sobre os cristãos, até porque os pagãos não sabiam diferenciar o
que era heresia do verdadeiro evangelho e colocavam num mesmo patamar todos os
grupos cristãos do seu tempo.
A má fama dos cristãos chegou
a tal ponto que ser um seguidor de Jesus Cristo no ano 100, era um crime
independente de qualquer outra acusação.
No momento atual vivenciamos a
mesma indignação pública em relação a fé evangélica. Alguns líderes religiosos usam
a marca cristã para se autopromoverem ou manter a sua denominação em destaque
em relação as demais. Nesse sentido praticam todo tipo de abusos, explorando a
boa-fé dos incautos, acumulando riquezas para a sua própria condenação. Esses
são aqueles que procuram de qualquer forma recriar na terra um paraíso perdido
que só será alcançado pelos servos do senhor e quando da sua segunda volta.
O nome de Cristão hoje como na
época de Judas é ridicularizado por conta desses falsos mestres que apascentam
a se mesmo, que negociam a fé de forma que incentivam o crescimento do ateísmo
mostrando um Cristo menor.
Em sua carta Judas procura
orientar seus leitores a “batalhar pela fé” (4), que foi entregue aos santos
(21), a se apiedar dos duvidosos (22) e salvar alguns da condenação eterna
(23). A carta de Judas está estruturada
da seguinte maneira:
a)
Saudação Introdutória –
Jd 1s
b)
Motivo e objetivo da
carta – Jd 3s
c)
Três exemplos de juízo
no AT – Jd 5- 7
d)
A caracterização dos
sedutores – Jd 8-16
e)
Conselho e instrução
para a igreja – Jd 17-23
f)
Doxologia final – Jd 24s
Ao comparar sua carta com a de
2Pedro notamos uma clara harmonia em sua mensagem e descrição dos falsos
mestres. Vejamos:
Temas
|
2 Pedro
|
Judas
|
Infiltração
|
2.1
|
4.12
|
Imoralidade
|
2.3,10,14, 18-19
|
4.7
|
Negação a Cristo
|
2.1
|
4
|
Movidos pela ambição
|
2.3, 14-15
|
15-16
|
Rejeição da autoridade
|
2.10
|
8.10
|
Animais Irracionais
|
2.12
|
10
|
Dominados por desejos de
pecado
|
14-15, 18
|
12, 16,18
|
Vazios, inúteis
|
2.17-19
|
12-13
|
Retribuição é certa
|
2.1,3-6, 13
|
5-7, 14-16
|
Richards (1994, p.531)
Os falsos mestre se
infiltravam na igreja de forma dissimulada. Ao ganhar a confiança da
congregação induziam ao erro alguns irmãos desatentos a doutrina apostólica. A
imoralidade (Jd 4.7) era o passo seguinte. Nesse sentido havia toda uma
justificativa com base na graça de Cristo. Para esses homens Jesus Cristo havia
anulado toda Lei, portanto, estavam livres para usar o seu corpo da forma que
bem desejasse (o prazer pelo prazer). De maneira que a graça de Deus era um
sinal verde para a pratica do pecado e não um ponto de rompimento do mesmo. Em
sua loucura desassociava o corpo do espírito, este (espírito) possuía um valor superior
a matéria (que era mal) de forma, que suas práticas carnais não o molestava
deixando-o livre do pecado e acima da Lei de Deus (eram puros aos seus próprios
olhos).
A postura desses homens levou
judas a afirmar que seus erros a semelhança de Sodoma e Gomora os conduziriam
a destruição. A liberdade que tanto propalavam na pratica era escravidão da luxuria.
A negação de Cristo como Deus
e Senhor (4) era lugar comum tanto para os agnósticos da corrente docética como
para os cerintianos. Se a matéria era má, o Messias não poderia ter encarnado
na forma humana, visto que, a santidade de Deus jamais suportaria o mal.
Judas afirma que os falsos
mestres eram pastores que se auto apascentam (12), rebeldes a qualquer tipo de autoridade
sobre suas vidas (8-10) e em especial a divina, pois se achavam justos a seus
próprios olhos, acima do bem e do mal, contudo, eram réus dignos de condenação da
Lei moral. Homens e mulheres que reagiam como animais (10), visto que, não
tinha consciência da dimensão e consequências dos seus atos, mas inchados pelos
desejos pecaminosos (12,16,18) e ansiosos por pecar não viam nada de bom em se
mesmo e nos outros.
Daí seus ensinos ser vazio
(12-13), tal qual nuvens sem chuvas, fontes sem água, incapaz de abençoar
vidas, mas agravar o estado lamentável do pecador afastando-o ainda mais de
Deus. Para tais homens e mulheres restava a condenação divina (5-7, 14-16).
Portadores de uma revelação
especial de Deus, os falsos mestres nada possuíam que pudessem aliviar os fardos
das pessoas que os procuram, pelo contrário, adicionavam novas cargas a vida do
infeliz afastando-o de Deus única esperança para os sem esperança. Judas
adverte seus leitores a se manterem longe da sua influência, do seu
encantamento, visto que não produziam frutos digno de arrependimento.
A igreja moderna é alertada
contra a ação desses pregoeiros da mentira. A semelhança dos bereiano (Atos
17.11) somos chamados a avaliar os ensinos e reter que está de acordo com a
palavra de Deus. Vivemos em dias que a doutrina cristã tende a se moldar aos
valores do mundo (casamento gay, aborto, eutanásia...) e não são poucos os
líderes “progressistas” que já desprezaram a palavra de Deus para atender a
esse apelo.
Conclusão
Testemunhar de Cristo é uma
necessidade para a expansão do reino de Deus entre os homens. Esse compromisso
tanto é individual (Jd 20-21) como coletivo (Jd 22-23). Dizer não as heresias
que assolam nossos dias, se guardar das impurezas é um dever do cristão de
todas as épocas. Ao negligenciarmos esses deveres não só estamos contribuindo
para o avanço do reino das trevas como nos colocamos em rota de colisão com Deus.
A igreja de Cristo se fortalece
na medida em que exercitamos nossa fé em meio aos embates contra o pecado e a
carnalidade que assola o mundo. Ser cristão é participar da obra de Deus, da
forma como o Senhor determinou. Persistir na vocação que fomos chamados gera
alegria nos céus e harmonia na terra. O recado de Judas foi ouvido se não por
todos os cristãos da sua época, mas por uma boa parte, de forma que chegou até
os nossos dias e continuará através das gerações futuras.
A grande sabedoria da sua obra
como também de todos os demais escritores sacros foi e sempre será de manter
uma igreja viva, atuante em seu meio social e como seu Senhor avessa ao pecado.
Nessa Carta Cristo toma seu verdadeiro lugar em detrimentos do antropocentrismo
vazio e destituído da graça divina.
Bibliografia
Richards, Lawrence O. Comentário
Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de 3. Ed. Rio de Janeiro: CPAB, 1994
Boor, Werner de. Cartas de Tiago, Pedro, João e
Judas. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2008.
Olá amigo, onde encontro mais capítulos da bíblia comentados?
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