domingo, 11 de outubro de 2020

Generosidade

 Por Roberto Vieira

“1982- O Hotel Majestic colocou Mario Quintana no olho da rua.

A miséria havia chegado absoluta ao universo do poeta.

Mario está só. Encontrava o império dos homens  sem sentimentos.

O porteiro joga um agasalho que tinha ficado no quarto.

“Toma, velho!”

Mario recita ao porteiro: A poesia não se entrega a quem a define.

Mario estava só.

Cadê os passarinhos?

A sarjeta aguardava o ancião.

Paulo Roberto Falcão soubera do acontecido.

Chega em frente ao hotel e observa aquela cena absurda, triste.

Estaciona e caminha até o poeta com as malas na calçada.

“Sr. Quintana, o que está acontecendo?”

Mario ergue os olhos e enxuga uma lágrima, destas que insistem em povoar os olhos dos poetas.

Quisera não fossem lágrimas, quisera eu não fosse um poeta, quisera ouvisse os conselhos de minha mãe e fosse engenheiro, médico, professor.

Ninguém vive de comer poesia.

Mario lhe explica que o dinheiro acabou.

Está desempregado, sem família, sem amigos, sem emprego.

Restaram apenas essas malas nas ruas de Porto Alegre.

Mario observa Falcão colocando suas malas dentro do carro em silencio.

E em silencio, Falcão abre a porta para Mario e o convida a sentar.

No silencio de duas almas na tarde fria de Porto Alegre o carro ruma na direção do infinito.

Falcão para o carro no Hotel Royal, desce as malas, chama o gerente e lhe diz:

“O Sr. Mario agora é meu hóspede!”

“Por quanto tempo, Sr. Falcão?”

Falcão observa o olhar tímido e surpreso do poeta e enquanto o abraça comovido, responde:

“POR TODA ETERNIDADE”. ( o hotel pertencia ao Falcão ).


O poeta faleceu em 1994.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente o texto e ajude-nos a aperfeiçoá-los.