Stephen J. Wellum
12 de Maio de 2016 - Salvação
De Gênesis a Apocalipse, as Escrituras são claras em dizer que a conversão é absolutamente necessária para indivíduos experimentarem a salvação e conhecerem a Deus. A menos que nos voltemos do pecado e nos voltemos para Deus, a menos que saibamos experiencialmente o que a Bíblia descreve como uma circuncisão espiritual e sobrenatural do coração (Deuteronômio 30.6; Romanos 2.25-29), não conheceremos a Deus de modo salvífico e iremos permanecer sob seu julgamento e ira (Efésios 2.1-3).
Como Tom Schreiner demonstrou em seus dois artigos (A Conversão no Antigo e Novo Testamento), a necessidade da conversão é ensinada através das Escrituras. Pode não ser o tema central das Escrituras, mas é certamente fundacional à completa história de redenção, especialmente em termos de como a redenção é aplicada ao povo de Deus. À parte da conversão, não podemos conhecer a Deus de forma salvífica. Não podemos experimentar o perdão dos pecados. Não podemos entrar no reino de Deus e no seu reinado salvífico.
Mas, ainda pode ser perguntado: Por que a conversão é necessária?
Entendimento popular x entendimento bíblico
Antes de respondermos essa questão, vale a pena esclarecer que não estamos falando sobre “conversão” no senso popular da palavra, mas no sentido bíblico. Qual a diferença?
Se você fizer uma pesquisa sobre o tema “conversão espiritual”, os resultados predominantes serão algo do tipo: conversão é a “adoção de uma nova religião” ou a “internalização de um novo sistema de crenças”. Essas definições enxergam “conversão” como uma mudança no pensamento de alguém ou de sua perspectiva que, na maioria das vezes, deixa a pessoa fundamentalmente a mesma. Isso é uma conversão não-cristã.
Em vez disso, a conversão cristã depende da obra soberana e sobrenatural do Deus triuno na vida das pessoas. Na conversão, Deus traz pessoas da morte espiritual para vida. Isso capacita-os a abominar o que uma vez amaram – seu pecado e rebelião contra Deus – e a se voltarem para Cristo e confiarem nele.
Três verdades que embasam a necessidade da conversão
Por que esse entendimento da conversão é absolutamente necessário? Três verdades fundacionais sublinham o ensino bíblico sobre conversão e nos ajudam a ver porque a conversão é tão importante nas Escrituras, na teologia e na proclamação do evangelho.
Permitam-me também destacar que essas três verdades são completamente inter-relacionadas. Uma pessoa não pode entender corretamente o que a Bíblia ensina sobre conversão à parte de apreender corretamente essas outras verdades, que é simplesmente um lembrete que nossas crenças teológicas são mutuamente dependentes uma da outra. Ter uma área da nossa teologia depreciada afetará grandemente as outras e isso é certamente verdadeiro em nosso entendimento sobre conversão.
O problema humano
A primeira verdade fundacional que firma e faz sentido ao ensino bíblico sobre conversão é a visão bíblica do problema humano. Mesmo que os seres humanos sejam criados como portadores da imagem de Deus e assim possuam incrível valor e significado, nós nos rebelamos em Adão contra nosso Criador e assim nos tornamos pecadores que estão sujeitos à ira de Deus (Gênesis 3; Romanos 5:12-21).
Quando a Bíblia fala de pecado e de humanos como pecadores, não vê isso como um problema secundário. Não é algo que pode ser remediado por autoajuda, mais educação ou mesmo resoluções pessoais de se tornar uma pessoa melhor. Tais soluções perenemente presentes subestimam muito a natureza do problema humano que as Escrituras descrevem poderosa e graficamente.
Visto biblicamente, o pecado não é somente um problema universal que nenhuma pessoa pode escapar devido nossa solidariedade em Adão como nosso representante do pacto (Romanos 3.9-12, 23; 5.12-21; 1Coríntios 15.22). Em Adão e por nossas próprias escolhas, tornamo-nos rebeldes morais contra Deus, nascidos nesse mundo de criaturas caídas. Essa é uma condição que não podemos mudar por nossa própria iniciativa e ação. E é uma condição que, tristemente, não queremos mudar, à parte da graça soberana de Deus. Em nossa situação de queda, nós não somente nos deleitamos em nosso pecado e de bom grado permanecemos em oposição ao justo reinado de Deus sobre nós, mas essa mesma disposição é evidência que estamos inaptos de nos salvar e nos mudarmos (Romanos 8.7). Como resultado, permanecemos sob o julgamento e ira de Deus (Romanos 8.1; Efésios 2.1-3) quer tomemos conhecimento ou não. Em nosso pecado, nosso estado diante do juiz do universo é de condenação e culpa (Ezequiel 18.20; Romanos 5.12, 15-19; 8.1). As Escrituras descrevem esse estado como morte, tanto em nível espiritual como, em última instância, físico (Gênesis 2.16-17; Efésios 2.1; Romanos 6.23).
Salvação, a remediação bíblica para esse problema, reverte essa situação terrível. E o ponto decisivo nessa reviravolta é a conversão.
O que precisamos é primeiramente de um salvador que possa pagar por nosso pecado diante de Deus, satisfazer os justos requerimentos de Deus e o julgamento dele contra nós. Nosso Senhor Jesus Cristo, o Deus-Filho encarnado, faz justamente isso por nós em sua obra da cruz. Ele satisfaz as demandas do próprio Deus: nosso pecado é pago totalmente (Romanos 3.21-26; Gálatas 3.13-14; Colossenses 2.13-15; Hebreus 2.5-18).
Em adição, não precisamos apenas que nosso pecado seja pago, precisamos também ser trazidos da morte espiritual para vida, que resulta numa transformação de nossa natureza por inteiro (Romanos 6.1-23; Efésios 1.18-23; 2.4-10). Precisamos que o Deus triuno nos chame da morte para vida e, pela agência do Espírito de Deus, dê-nos o novo nascimento (Efésios 1.3-14; João 3.1-8 [1] ). Precisamos de uma ressurreição dos mortos paralela a ressurreição do nosso representante da aliança para que sejamos capacitados a nos voltar do pecado de bom grado, para pôr de lado nossa oposição a Deus e seu reinado, como também para responder em arrependimento e fé ao evangelho (João 3.5; 6.44; 1 Coríntios 2.14).
Resumindo, conversão é necessária porque é parte da solução à séria natureza do problema humano tal qual é descrito pelas Escrituras.
A doutrina de Deus
A segunda verdade fundacional que firma e faz sentido ao ensino bíblico sobre a necessidade de conversão é o ensino bíblico acerca da natureza e caráter de Deus.
Como dito acima, essas duas verdades se explicam mutuamente. O problema humano é o que é por causa do que o Deus da Bíblia é. Nosso problema pode somente ser visto em suas cores verdadeiras à luz do caráter pessoal, justo e santo próprio de Deus.
Conversão é necessária porque como pecadores e criaturas rebeldes não podemos habitar na santa presença de Deus. O pecado não somente transgride o caráter de Deus, que é a lei moral do universo, mas ele também nos separa da presença pactual de Deus (Gênesis 3.21-24; Efésios 2.11-18; Hebreus 9). Nós, que fomos criados para conhecer a Deus e viver diante dele como vice-regentes, governando como pequenos reis e rainhas sobre a criação para glória de Deus, agora permanecemos sob a ira e condenação de Deus.
Portanto, sem o caráter santo de Deus sendo satisfeito na sua própria provisão sacrificial dele mesmo em seu Filho, não podemos conhecer a Deus salvificamente (Romanos 6; Efésios 4.20-24; Colossenses 3.1-14). Além disso, não é suficiente uma transação legal acontecer, importante como essa é no veredito de nossa justificação diante de Deus. Salvação também envolve a remoção interna do pecado e a transformação de nossa inteira natureza caída. Isso começa quando somos unidos a Cristo pela obra de regeneração do Espírito, que nos capacita de bom grado a nos voltarmos do pecado e descansarmos na obra consumada de Cristo nosso Senhor.
Em outras palavras, conversão é absolutamente necessária porque Deus demanda que suas criaturas sejam santas como ele é santo. Portanto, para que habitemos diante dele, devemos ser vestidos com a justiça de Cristo, transformados pelo poder do Espírito e feitos novas criações em Cristo Jesus (2Coríntios 5.17-21). Não há forma de portadores da imagem de Deus serem trazidos de volta ao proposito da sua criação e desfrutarem de todos os benefícios da nova criação sem terem seus pecados pagos completamente, sem serem nascidos novamente pelo Espírito e sem estarem unidos a Cristo pela fé.
Se falharmos em compreender alguma coisa da resplandecente santidade de Deus, sua perfeita justiça e sua exigência que suas criaturas ajam como filhos obedientes e portadores da sua imagem, nunca iremos compreender porque conversão é tão importante nas Escrituras.
Em adição, se não compreenderemos que nossa conversão somente acontece devido a iniciativa soberana do Deus triuno da graça, então nunca apreciaremos a profundidade e a largura do amor de Deus por nós, seu povo.
Conversão envolve arrependimento e fé – nosso eu holístico se voltando para Deus
A terceira verdade fundacional que nos ajuda a entender o ensino bíblico sobre conversão é que ela afeta a pessoa inteira e afeta a pessoa como um todo. Isto é, nas Escrituras, conversão envolve tanto se voltar do pecado (arrependimento) e se voltar para Deus (fé). Ambos são necessários para conversão, e assim arrependimento e fé são vistos corretamente como dois lados da mesma moeda.
Em outras palavras, conversão bíblica nunca é meramente uma mudança de perspectiva intelectual que não resulta em uma mudança na vida do indivíduo. Infelizmente, em muitas de nossas igrejas, encontramos pessoas que professam ter sido convertidas, mas que exibem meramente um assentimento intelectual do evangelho à parte de qualquer evidência de mudança real em suas vidas.
As Escrituras claramente consideram esse tipo de mero assentimento mental como falsa conversão (Mateus 7.1-23). Deus exige que a pessoa por inteiro lhe responda como suas criaturas do pacto: nosso pecado é uma rebelião da pessoa por inteiro contra Deus, e a salvação cristã é uma transformação da pessoa por inteiro, literalmente uma nova criação. Conversão envolve se voltar do pecado e se voltar para Deus. O que envolve a pessoa inteira – seu intelecto, vontade e emoções (Atos 2.37-38; 2 Coríntios 7.10; Hebreus 6.1).
Não é suficiente tirar nosso chapéu para Jesus
Conversão não é opcional. É absolutamente necessária. Não podemos entender salvação e o evangelho à parte de uma visão robusta dela.
O cristianismo nominal, que se prolifera rapidamente em nossas igrejas, não é o cristianismo bíblico. Não é suficiente tirar nosso chapéu para Jesus. Devemos experimentar a obra graciosa e soberana de Deus em nossas vidas, dando-nos nova vida e nos habilitando, por meio da obra do Espírito de Deus, a nos arrependermos e cremos no evangelho.
Nossos entendimentos defeituosos da conversão são geralmente por causa da nossa teologia defeituosa. O remédio para essa situação é retornar às Escrituras de joelhos, pedindo que nosso grande Deus possa reviver novamente sua igreja para que na proclamação do evangelho, homens e mulheres, garotos e garotas, possam se arrepender dos seus pecados e crerem em Cristo Jesus nosso Senhor.
[1]Fiquei em dúvida se houve erro de digitação no artigo original. Essa citação é de Jonas mesmo, ou seria João e eles erraram na hora de digitar?
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