AO PÉ DE UM BERÇO
A Leopoldina Monteiro.
Pensei em ti, Leopoldina, escrevendo estes versos; quero
que os cantes embalando o teu Milton.
Dorme, dorme, pequenino
Encanto de meu amor;
Que o sono doce e divino
Cerre-te as folhas, ó flor!
Fecha os olhos, meu filhinho;
E pede ao sono que leve
Ao céu, em faixas de linho.
Tu’alma da cor da neve.
Mas não demores, meu filho,
Volta nas asas do amor,
Traz a meus olhos o brilho,
Traz a meu seio o calor.
Meu coração é um ramo
Onde teci o teu ninho;
Dorme nele, gaturamo,
Ó sonho branco de arminho!
Dorme, dorme; de mansinho
Vou te embalando a cantar...
Esconde as asas no ninho,
Não quero ouvir-te chorar.
Fecha os olhos docemente
E voa longe da terra,
Dorme o teu sono inocente,
Ó nívea pomba da serra!
Dorme, santinho, as estrelas
Virão cobrir-te com um véu;
Não chores se queres vê-las
Fazer de teu berço um céu.
Foge da noite aos abrolhos
Neste celeste abandono;
Eu guardo um sonho nos olhos
Para dourar o teu sono.
Olha, meu santo, Jesus,
Que tanto amava os meninos,
Vela sorrindo da cruz
O sono dos pequeninos.
E a mãe do céu, nos espaços
Deixando de luz um trilho,
Traz o filhinho nos braços
Para beijar-te, meu filho!
Recebe o carinho amigo
E pede ao rei do Universo
Que fique a sonhar contigo,
Dormindo no mesmo berço.
Às duas mães, n’um sorriso,
Sobre o ninho velarão...
E eu direi ao Paraíso,
Baixinho, no coração:
Qual dos dois mais luz encerra,
Envoltos no mesmo véu:
O filho da mãe da terra?
O filho da mãe do Céu?
Dorme, bonina nevada,
Enquanto eu velo a cantar;
Guia-me à pátria adorada,
Ó doce estrela do Mar!
Dorme e não chores, criança!
A Lua do Céu sorri -
Na vida sem esperança
Eu hei de chorar por ti.
Fonte: http://www.jornaldepoesia.jor.br
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