domingo, 6 de novembro de 2011

Palestinos prometem batalha por Jerusalém na Unesco


Depois de conseguirem um assento como membros plenos na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), os palestinos prometem agora dar os primeiros passos para garantir o reconhecimento de pelo menos 20 locais como Patrimônios da Humanidade palestinos. A petição deve incluir Jerusalém, cidade disputada por Israel e Palestina como capital de seus respectivos Estados e que Israel considera "indivisível".

"Haverá uma batalha dentro da Unesco por Jerusalém e por cerca de 20 locais de patrimônio histórico que não foram registrados como lugares palestinos", disse Sabri Saidam, assessor do presidente palestino Mahmud Abbas.

A Basílica da Natividade, em Belém, onde Jesus teria nascido, é outro lugar que ocupa o topo da lista. Os palestinos já tinham apresentado a candidatura de Belém este ano, mas foi negada devido ao status de observador. "Também esperamos nos beneficiar das diferentes iniciativas realizadas pela Unesco, das quais estivemos privados", completou Saidam.

A Unesco oferece treinamento aos palestinos para planos de conservação dos sítios histórico-culturais desde 2002. Como estado membro, a Palestina poderá receber a partir de agora mais ajuda financeira para a manutenção do patrimônio.

Por outro lado, a Unesco terá que reorganizar seu orçamento após o anúncio da suspensão das contribuições dos Estados Unidos e do Canadá, que se posicionaram contra a entrada da Palestina na organização internacional. Só a ajuda anual dos Estados Unidos corresponde a cerca de US$ 70 bilhões, 22% do orçamento da organização.

As cidades milenares de Jericó e Hebron serão incluídas na nova lista palestina de candidaturas a patrimônios histórico-culturais da Unesco. A Caverna dos Patriarcas, em Hebron, e o Túmulo de Raquel, em Belém, considerados sagrados para os judeus religiosos, são os que devem causar mais disputa entre Israel e Palestina, depois de Jerusalém.

No ano passado, o governo do premiê Benjamin Netanyahu os incluiu na lista de projetos para a Unesco como patrimônio nacional israelense. "O Túmulo de Raquel também é parte da herança muçulmana. Israel anexou esta parte e afastou a população cristã e muçulmana de Belém de visitá-lo", disse Saidam. "Queremos preservar os locais palestinos e abri-los para todas as religiões", prometeu o assessor.

O Mar Morto, cuja extensão se divide entre Israel, Palestina e Jordânia, é atualmente um dos candidatos a nova maravilha do mundo e também será pleiteado pelos palestinos na Unesco como patrimônio natural. "É considerado território em disputa, nós temos acesso a 40km de margem sobre toda a sua longitude, e não temos pleno acesso", reclama Saidam.

Por outro lado, o Ministério do Turismo de Israel avalia que não deve haver grandes controvérsias entre israelenses e palestinos dentro da Unesco. "É muito claro para o programa da Unesco que tudo que está registrado sob o Estado de Israel é patrimônio histórico de Israel. Qualquer coisa de fora, não é nosso", diz o assessor, Mordechai Beck.

A incerteza, porém, continuaria pairando sobre Jerusalém. "No mapa de Patrimônios Históricos da Unesco, a Cidade Antiga de Jerusalém está sob um status especial. Não é de Israel, nem cidade de ninguém. É algo especial", reconhece Beck.

Represálias e estratégias

Nessa terça-feira, o governo do premiê israelense Benjamin Netanyahu anunciou a aceleração das construções em Jerusalém Oriental, reivindicada pelos palestinos para o futuro Estado e o congelamento da transferência de recursos à Autoridade Palestina (AP) por tempo indeterminado.

As medidas seriam uma represália contra o reconhecimento da Palestina na Unesco, que Israel alega ter sido uma decisão unilateral dos palestinos para evitar as negociações do processo de paz. "Vamos continuar a desenvolver Jerusalém, seus bairros e pessoas", declarou Netanyahu no Congresso (Knesset), mas destacou desta vez que não era uma punição aos palestinos, mas um "direito básico".

Por sua vez, depois da entrada na Unesco, os palestinos estudam os procedimentos de adesão a outras 16 agências da ONU. "Somos gratos a todos os nossos amigos - inclusive o Brasil, e sentimos que é uma oportunidade para aqueles que se opõem a nossa moção no Conselho de Segurança da ONU e para aqueles que se opuseram a nossa moção na Unesco para reconsiderar suas posições", afirmou o assessor de Abbas.
Saidam não descartou que os palestinos voltem às armas caso essas iniciativas não levem ao reconhecimento dos direitos dos palestinos à autodeterminação. "A Terceira Intifada seria uma das coisas que podem acontecer", concluiu

Fonte: VIVIANE VAZ
Especial para Terra



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente o texto e ajude-nos a aperfeiçoá-los.