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terça-feira, 15 de novembro de 2016

Carta de Paulo a Filemom

Segundo Hale a carta a Filemom é por natureza singular. Ela contribui para um melhor entendimento do caráter do apostolo e as intrincadas relações de poder e socioeconômicas do seu tempo.

A caracterização desta missiva dentro do gênero de cartas da prisão se dá pelas informações dadas pelo apostolo acerca da sua condição política. Assim nos versos 1, 9,10 e 23, fica claro que Paulo estava preso, contudo, não fica explicito onde e quando. Para alguns estudiosos essa prisão se deu em Roma no ano de 61. Outros afirmam que foi em Éfeso.

O propósito da carta era tratar de um tema extremamente delicado para a época e ao mesmo tempo de fácil solução no coração de um verdadeiro servo de Cristo. Onésimo escravo de Filemom havia fugido da casa do seu senhor e provavelmente levado algum bem para mantê-lo em sua jornada.

O fato é que sua condição de escravo insubmisso determinaria sua morte caso fosse descoberto. Essa era as normas que prevalecia em todo império romano. Na cidade onde se encontrava procura Paulo e pede a sua ajuda. Apesar do texto não deixar explícito, fica claro que Onésimo conhecia Paulo da casa do seu Senhor. Tal aproximação se deu muito provavelmente pela escassez de recursos. Sua descoberta era uma questão de dias.

Estando com Paulo e ouvindo a mensagem libertadora do Senhor se arrepende dos seus pecados e aceita a Cristo (“Sim, solicito-te em favor de meu filho Onésimo, que gerei entre algemas”. vv 10.).
Fico aqui a pensar. O que levou Onésimo a desconsiderar a mensagem do evangelho quando na casa do seu senhor? Será que naquela ocasião compreendia:

·         que o evangelho era algo próprio de homens livres?
·         que o evangelho não oferecia respostas para sua condição social?

O fato é que em meio a perturbação, ao medo da morte, a distância do seu senhor pela primeira vez estava livre para testar todas as hipóteses acerca da extensão da palavra de Deus e principalmente estava aberto a receber a mensagem transformadora de Jesus Cristo. Onésimo aceitou Jesus Cristo como seu novo Senhor e salvador sem se sentir pressionado ou intimidado por ninguém. Agora sabia que Deus não fazia acepção de pessoas, que mesmo um escravo tinha o direito de ouvir, compreender, aceitar e ser aceito pela família de Deus. Caramba! Essa nova condição foi tremenda na vida de Onésimo e é em nossa vida. O fato de sentisse amado e honrado por Deus e seus santos na terra, logo ele, um objeto qualquer do massacrante sistema escravocrata romano. Eita Deus Bom!

Por outro lado, Filemom era um homem de Deus, aberto aos novos desafios da fé. Paulo o mantinha como alvo das suas orações (vv 4), conhecia intimamente o seu amor e fé para com Cristo e todos os santos (vv5), de forma que muitos eram reanimados pela sua ação evangélica (vv7). Agora, mas uma vez seu caráter cristão seria posto à prova.

Dos versos 8-21, Paulo fala concretamente da situação de Onésimo. A introdução do assunto é de plena confiança mútua.

Por isso, ainda que tenha em Cristo grande confiança para te mandar o que te convém, Todavia peço-te antes por amor, sendo eu tal como sou, Paulo o velho, e também agora prisioneiro de Jesus Cristo.

Paulo poderia usar da sua autoridade, mas apela para o senso de amor cristão. O princípio da boa vontade tem livre trânsito neste assunto. Paulo deixa de certa forma Filemom a vontade para decidir o que quisesse, porém mostra o caminho certo a seguir.

·         Fala da conversão de Onésimo (10).
·         Descreve seu caráter antes e depois do evangelho (11-13).
·         Cita o benefício e a alegria de tê-lo consigo na prisão (13).

Contudo, Paulo reconhece o senhorio de Filemom e deixa em suas mãos a decisão de atendê-lo ou não na sua reivindicação.

“Mas nada quis fazer sem o teu parecer, para que o teu benefício não fosse como por força, mas, voluntário. ” (vv14)

O retorno do escravo ao seu senhor não seria o mesmo, pois não era mais o velho Onésimo, mas, o servo do Deus vivo (vv 16).

  • ·     Não como escravo, antes, muito acima de escravo, como irmão caríssimo, especialmente de mim e, com maior razão, de ti, quer na carne, quer no Senhor.
  •         Recebe-o como se fosse a mim mesmo. 
  •    Se algum dano te fez ou se te deve algum dano te fez ou se te deve alguma coisa, lança tudo na minha conta.

Paulo igualha Onésimo a um homem livre o que dificilmente seria compreendido pelo império romano que centrava toda sua força produtiva na mão-de-obra escrava. Ideias como estas eram subversivas as autoridades locais e, portanto, condenáveis. Somente alguém com o sentimento cristão é que poderia absorvê-las sem maiores assombros, talvez foi por isso que o próprio Paulo escreveu do seu próprio punho essa missiva.  

A grande lição que aprendemos com essa carta é que o Deus Altíssimo não faz acepção de pessoas e que liberta o homem de todas as suas algemas, que sejam elas quais forem.

A conclusão da carta se dá rapidamente com a citação de alguns irmãos que de certa forma estão presentes na carta de colossenses 4.7-18. Em colossenses somos informados que Tíquico era o mensageiro desta carta e quem levou Onésimo a casa de Filemom (Colossenses 4.7-9).

Bibliografia
Hale, Broaduz David. Introdução ao estudo do novo testamento. São Paulo, SP: Hagnos 2001.


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